II-DEUS NÃO SUPORTA O SOFRIMENTO DOS JUSTOS
Esta compreensão da Humanidade como um tecido orgânico e interactivo, aparece muito clara no relato de Isaías sobre o sofrimento como causa redentora dos pecadores merecedores da humilhação e do castigo que estavam a sofrer na Babilónia (Is 52, 13-53, 12).
Até este período, século quinto antes de Cristo, o povo bíblico pensava que os justos não podiam sofrer.
Se o sofrimento é provocado por Deus para punir os pecadores, o justo não pode sofrer, pois Deus não seria justo se fizesse sofrer os inocentes.
O sofrimento das crianças era entendido como uma punição dos pecados dos pais. O evangelho de São João relata um episódio que revela bem como este tipo de mentalidade ainda subsistia no tempo de Jesus:
“Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe, então:
“Rabi, quem pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?”
Jesus respondeu: “Nem pecou ele nem os seus pais. Isto aconteceu para se manifestarem nele as obras de Deus (Jo 9, 1-3).
O acontecimento do exílio levou os escritores bíblicos a reformular esta mentalidade, pois era evidente que, na escravidão do exílio, havia justos que ainda sofriam mais que os pecadores.
A saída encontrada pelo livro de Isaías é esta: o justo, por fazer um todo orgânico com o povo pecador, sofre com ele as perseguições e violências.
Mas Deus, como é justo, vai tomar partido pelo justo, libertando-o da terrível humilhação da servidão a um povo pagão.
Mas como o povo é uma realidade orgânica, ao libertar o justo, Deus liberta também os pecadores.
Deste modo, o sofrimento do justo torna-se redentor para os pecadores. Não se trata, como é evidente, de que Deus exigisse o sofrimento dos justos para perdoar aos pecadores.
Pelo contrário, os pecadores são libertos porque Deus não suporta ver o justo sofrer. Graças ao facto de o povo um todo orgânico, o relato passa facilmente do justo sofredor para o conceito global de povo.
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