28 outubro, 2009

PENTECOSTES E A UNIVERSALIDADE DA FÉ



Apesar de na Igreja nascente haver tensões e dificuldades em relação ao acolhimento dos pagãos, o Espírito Santo foi conduzindo os Apóstolos e as comunidades no sentido de aceitarem os gentios
em pé de igualdade com os judeus.

O Espírito Santo foi abrindo os horizontes dos cristãos de origem judaica, a fim de eles compreenderem que o plano Salvador de Deus se destina aos homens de todas as raças, línguas, povos e nações.

O Pentecostes surge assim como o impulso universalista da ressurreição de Cristo. Os cristãos começam a dar-se conta que o baptismo no Espírito é a dinâmica da salvação a acontecer no coração das pessoas.

Os evangelhos sublinham claramente a diferença essencial que existe entre o baptismo de João, rito de purificação, e o baptismo iniciado com a ressurreição de Jesus, isto é, o baptismo no Espírito.

Depois de mim virá alguém que é maior que eu dizia João Baptista pois eu nem sou digno de levar as suas sandálias. Será ele quem vos baptizará no Espírito Santo e no Fogo (Mt 3, 11).

O Espírito Santo é o protagonista da salvação e habita em nós como num templo, diz São Paulo:
“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

O Espírito Santo é o impulso libertador da salvação de Deus a actuar no nosso coração: “Onde está o Espírito de Cristo ressuscitado aí está a liberdade” (2 Cor 3, 17).

Após a sua ressurreição, Jesus ordena aos Apóstolos para permanecerem em Jerusalém, a fim de receberem o Espírito Santo que os vai qualificar para anunciarem o Evangelho até aos confins da terra (Act 1, 8).

Foi o Espírito Santo que ressuscitou Jesus. É este mesmo Espírito que faz germinar em nós a Fé e nos capacita para proclamar a Boa Nova da ressurreição.

São Paulo diz que a sua pregação não se apoia na sabedoria humana ou em palavras persuasivas, mas na manifestação do Espírito Santo (1 Cor 2, 4-5).

Tudo isto é a realização da profecia do profeta Joel, como diz o Livro dos Actos dos Apóstolos:
“Depois disto derramarei o meu Espírito sobre toda a Humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão.

Os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões. Naquele dia também derramarei o meu Espírito sobre vossos servos e servas” (Jl 3, 1-2; cf. Act 2, 16-21).

Os frutos da presença do Espírito Santo em nós, diz a Carta aos Gálatas são: paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, gentileza e auto controle.

Não existe Lei contra este novo jeito de viver que o Espírito Santo difunde por todos nós (Gal 5, 22-23).


E foi assim que Jesus Cristo, ao ressuscitar, nos fez passar da aliança da letra que mata, para a Aliança do Espírito que dá Vida (2 cor 3, 6).

A Carta aos Efésios vai nesta mesma linha quando afirma que o Homem Novo nasce do Espírito e não da letra:

“No que toca à vossa conduta, deveis despir-vos do homem velho, corrompido por desejos enganadores.

Renovai-vos de acordo com a acção do Espírito que anima as vossas mentes, revestindo-vos do Homem Novo criado em conformidade com Deus na justiça e na santidade verdadeiras” (Ef 4, 22-24).

Graças ao baptismo no Espírito Santo os mistérios de Deus são-nos revelados de modo gradual e progressivo:

“Foi ainda em Cristo que vós ouvistes a Palavra da verdade, o Evangelho que vos salva.
Foi neste Evangelho que acreditastes e, por isso, fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido, o qual é a garantia da herança que receberemos no dia da redenção” (Ef 1, 13-14).

É pelo Espírito Santo, diz Jesus no evangelho de São João que nós seremos conduzidos à verdade. Ele é “O Espírito da Verdade que o mundo não pode receber, pois não o vê nem o conhece.

Vós conhecei-lo porque Ele está convosco e em vós” (Jo 14, 17). Pelo baptismo no Espírito, os crentes têm um guia e um mestre que os conduz para a Verdade plena:

“Fui-vos revelando estas coisas enquanto permanecia convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e recordar-vos-á tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 25-26).

Apesar de ser judeu, São Paulo viveu a experiência do baptismo no Espírito, o qual fez que lhe caísse dos olhos uma espécie de escamas que o impediam de ver o mistério de Cristo:

“Então Ananias partiu, entrou na casa indicada, impôs as mãos sobre ele e disse: “Saulo, meu irmão, foi o senhor que me enviou, esse Jesus que te apareceu no caminho, a fim de recobrares a vista e ficares cheio do Espírito Santo”.

Nesse mesmo instante caíram-lhe dos olhos uma espécie de escamas e recobrou a vista. Depois, levantou-se e recebeu o baptismo” (Act 9, 17-18).

Foi esta experiência que levou São Paulo a dizer que Cristo nos ajuda a passar da aliança da letra que mata para a Aliança do Espírito que vivifica (2 Cor 3, 6).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

25 outubro, 2009

A ARTE DE RENASCER PELO ESPÍRITO SANTO



A Divindade é relações e a Humanidade também. Quanto mais a Humanidade interage com a Divindade, mais as relações humanas são optimizadas pelo amor de Deus.

A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

O Espírito Santo ama com um jeito maternal que, por ser fecundo, gera filhos e filhas para Deus Pai. A primeira Carta de São João diz que ele é a semente de Deus no nosso íntimo (1 Jo 3, 9).

Ao gerar a vida de Deus em nós faz-nos exultar, clamando Abba, isto é, Pai Querido (Gal 4, 4-6).

Todos os que se deixam conduzir pelo Espírito Santo, diz São Paulo, são introduzidos na Família de Deus: Filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus (Rm 8, 14-15).

Como o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo optimizou o amor maternal de Maria, a fim de realizar a sua missão de Mãe do Filho de Deus (Lc 1, 35).

Uma pessoa animada pelo Espírito Santo é incapaz de negar Jesus Cristo, diz a Carta aos Romanos.

Do mesmo modo, ninguém é capaz de reconhecer Jesus como o Senhor ressuscitado, a não ser pelo Espírito Santo (Rm 12, 3).

Por ter a plenitude do Espírito Santo, Jesus deu início ao baptismo no Espírito (Mc 1, 8; Lc 3, 16).

Foi o Espírito Santo que consagrou Jesus para anunciar a Boa Nova aos pobres, Dar vista aos cegos.

Foi ele que capacitou Jesus para fazer caminhar os coxos e iniciar a plenitude dos tempos em que pode acontecer a dinâmica da graça no coração dos seres humanos (Lc 4, 18-21).

Por vezes, Jesus exultava de alegria sob a acção do Espírito Santo, dando início a diálogos maravilhosos com Deus Pai (Lc 10, 21).

Após a sua ressurreição, Jesus consagra os discípulos com a força do Espírito Santo que é que é a Força do Alto (Lc 24, 49).

Para tomarmos parte na plenitude do Reino de Deus, disse Jesus, temos de nascer de novo pela acção do Espírito Santo (Jo 3, 6).

De tal maneira a sua acção é central no projecto salvador de Deus que o pecado contra o Espírito Santo é o único que não tem perdão (Mt 12, 31-32, Mc 3, 29; Lc 12, 10-12).

Pecar contra o Espírito Santo significa bloquear a sua acção salvadora no interior da nossa vida.

Pecar contra o Espírito Santo é negar a evidência dos factos e atribuir a forças maléficas o que resulta da sua acção na vida das pessoas.

A pessoa que chega a uma situação destas anula qualquer possibilidade de encontro e comunhão com Deus e os irmãos.

O pecado contra o Espírito Santo e situação de inferno são uma e a mesma coisa: a oposição sistemática e incondicional às propostas do amor.

Jesus disse que é o Espírito Santo quem nos conduz à Verdade plena e total (Jo 14, 26). O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que as pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito Santo anunciam as maravilhas de Deus com toda a coragem (Act 4, 31).

São Lucas diz no Livro dos Actos dos Apóstolos que os judeus que martirizaram o diácono Estêvão não conseguiam resistir à sabedoria do Espírito Santo que falava nele (Act 6, 10).

Na verdade, os primeiros cristãos viviam repletos da consolação do Espírito Santo diz o Livro dos Actos dos Apóstolos (Act 9, 31).

Utilizando a simbologia do profeta Joel, a Carta a Tito diz que fomos purificados pelo poder regenerador do Espírito Santo que Cristo derramou abundantemente sobre nós (Tit 3, 5-6).


São Paulo diz que a sua pregação era eficaz, não por ser fruto de qualquer ciência humana, mas por ser uma demonstração do Espírito Santo (1 Cor 2, 4).


Ele é, diz a Carta aos Efésios a garantia da nossa salvação. Eis as suas palavras: “Não contristeis o Espírito Santo com o qual fostes selados para o dia da Salvação (Ef 4, 30).


Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como filhos e a Deus Filho que nos recebe como irmãos.


Ele é o hálito da vida que Deus Pai introduziu no barro primordial a partir do qual criou Adão (Gn 2, 7).


Com a sua ternura maternal, o Espírito Santo facilita em nós a tarefa da nossa humanização, inspirando gestos e atitudes, decisões e realizações inspirados pelo amor.


Ele é o fruto da Árvore da Vida plantada no centro do Paraíso (cf. Gn 3, 22-23). É também o sangue de Deus a circular em nós, alimentando e robustecendo em nós a vida divina.


São Paulo diz que ele é a força ressuscitadora de Cristo a actuar no nosso coração (Rm 8,11). Ele é o coração da Nova Aliança assente, não na letra que mata, mas no Espírito que vivifica (2 Cor 3, 6).


É o Espírito Santo que confere ritmo e harmonia à génese grandiosa do Universo em gestação. É também a semente de Deus a gerar vida divina nosso íntimo, como diz a primeira Carta de São João (1 Jo 3, 9).


É o dom da plenitude dos tempos que Deus Filho nos concede pelo beijo da Encarnação. Após o pecado de Adão ele inicia a marcha da História Humana, a qual vai culminar na plenitude dos tempos, isto é, no parto que dá lugar ao nascimento do Homem Novo.


Ele é o princípio da Vida Nova que não se degrada. Mesmo que o nosso ser exterior se vá degradando e envelhecendo, diz São Paulo, o nosso interior vai-se robustecendo cada dia mais graças à acção do Espírito Santo (2 Cor 4, 16).


É ele que nos coloca em interacção com a Comunhão dos Santos que habita a morada de Deus.

A morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas e que constitui a interioridade máxima do Universo.


Elegeu o nosso coração como ponto de encontro entre nós, a Comunhão Universal dos eleitos cujo coração é a Santíssima Trindade.


Na Primeira Carta aos Coríntios, São Paulo diz que ele habita no nosso coração como num templo (1 Cor 6, 19).


Com o seu jeito maternal de amar ele optimiza as relações de amor entre os seres humanos.
Isto quer dizer que, no nosso íntimo, o Espírito Santo é santo e santificador.


Ele está presente a todas as interacções amorosas que formam o entretecido da Comunhão Amorosa Universal do Reino de Deus.


É a força que vai estruturando a Nova Criação, isto é, a Humanidade reconciliada com Deus através de Cristo (2 Cor 5, 17-19).


O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que é o Espírito Santo que ilumina os corações dos não cristãos, capacitando-os para acolher a Palavra de Deus quando esta lhes é proclamada (Act 10, 44-45).


Só com a iluminação do Espírito Santo podemos antecipar na esperança a felicidade que nos espera no Reino de Deus.


Com a sua luz inspiradora, ele faz-nos saborear a verdade do Evangelho, esse tesouro inesgotável que é sempre antigo e sempre novo.


É ele quem nos ensina a discernir as coisas de Deus, capacitando-nos para separarmos, no nosso coração, a luz das trevas.


Sem o Espírito Santo, a palavra evangelizadora não passava de um conjunto de sons sem conteúdo de vida e força transformadora.


É ele que confere sabor à vida, convidando as pessoas a realizarem-se como seres livres, conscientes e responsáveis. Em Comunhão Convosco

Calmeiro Matias




21 outubro, 2009

INTERAGIR COM DEUS PARA BEM O CONHECER

“Esta é a vida eterna: Que te conheçam, Pai, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).

O conhecimento de Deus, segundo o Novo Testamento, não é uma questão meramente intelectual.

Conhecer Deus é algo que implica uma comunhão orgânica com ele, animada pelo Espírito Santo:

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.

Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor.” (1 Jo 4, 7-8).

O amor a Deus, portanto, não é uma realidade separada do amor aos irmãos. Por outras palavras, o amor aos irmãos é o caminho seguro para atingirmos o conhecimento de Deus como diz a Primeira Carta de São João:

“A Deus nunca ninguém o viu. Mas se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós” (1 Jo 4, 12).

E logo a seguir acrescenta: “Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso, pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê.

Nós recebemos de Jesus este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão” (1 Jo 4, 20-21).

São Paulo diz que todo o que ama a Deus é conhecido pelo próprio Deus, no sentido bíblico de constituir uma interacção amorosa e fecunda.

“ Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Deus!” (1 Cor 8, 3). O conhecimento de Deus, diz São Paulo, não é uma mera questão de ciência humana: “A ciência incha, mas o amor edifica” (1 Cor 8, 1).

Na verdade, só pelo amor se pode chegar ao verdadeiro conhecimento de Deus: O Espírito Santo é a pessoa que anima e fortalece a comunhão amorosa entre Deus e os irmãos.

“Nós damo-nos conta de que permanecemos em Deus e ele em nós, pois ele fez-nos participar do Espírito Santo” (1 Jo 4, 13).

São Paulo vai nesta mesma linha ao afirmar que ninguém pode conhecer e saborear o mistério de Cristo ressuscitado a não ser pelo Espírito Santo:

“Ninguém é capaz de Dizer: “Cristo é o Senhor ressuscitado” a não ser pelo Espírito Santo” (1 Cor 12, 3).

No fundo é isto que São Paulo quer dizer quando afirma que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Conhecer Cristo é fazer com ele uma união orgânica, dinâmica e fecunda, semelhante à união que existe entre a cepa da videira e os seus ramos (Jo 15, 4-5).

É uma união deste tipo que dinamiza a relação de Cristo com o seu Pai, como Jesus diz no evangelho de São João (Jo 6, 54-57).

Numa outra passagem do evangelho de São João, Jesus afirma que ele e o Pai fazem um (Jo 10, 30).

A comunhão, na Eucaristia, é um momento privilegiado para os cristãos exprimirem e fortalecerem esta união com Cristo e através dele com o Pai (Jo 6, 55-56).

Comer a carne de Cristo significa unir-se ao Senhor ressuscitado mediante o Espírito Santo.

Alimentar-se da Carne e do Sangue de Cristo é ser dinamizado pelo Espírito Santo, pois a vida vem do Espírito e não da carne que não presta para nada disse Jesus (Jo 6, 62-63).

São Paulo diz que a nossa união orgânica a Cristo significa fazer parte do Corpo de Cristo:
“Comemos um só pão porque formamos um só Corpo (1 Cor 10, 17).

Ou então: “Vós sois corpo deCristo e seus membros, cada um na parte que lhe toca” (1 Cor 12, 27).

O princípio que estrutura e dinamiza este Corpo de Cristo, diz a Primeira Carta aos Coríntios, é o Espírito Santo:

“Fomos baptizados no mesmo Espírito, a fim de formarmos o Corpo de Cristo (1 Cor 12, 13).
Eis Como Jesus exprimiu estemistério no evangelho de São João:

“Permanecei em mim que eu permaneço em vós. Assim como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas apenas permanecendo na videira, assim acontecerá convosco se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer.” (Jo 15, 4-5).

Jesus Cristo é o grande revelador do rosto de Deus, como Jesus disse ao Apóstolo Filipe: “Há tanto tempo que estou convosco, Filipe, e ainda não me conheces? Quem me vê, vê o Pai.” (Jo 14, 18).



A meta é a união do Homem com Cristo e através dele a união com o Pai: “Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo J0 14, 20).

O sacramento da Eucaristia explicita este mistério da união orgânica da Humanidade com a Divindade como o próprio Jesus disse:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também aquele que me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

A meta desta união é a Comunhão Universal do Reino de Deus: “Pai, não rogo apenas por eles, mas igualmente por todos os que hão-de acreditar em mim por meio da sua palavra, a fim de que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti.

Pai, faz que eles permaneçam em nós, a fim de o mundo ver e acreditar que tu me enviaste. Pai Santo, eu dei-lhes a glória que me deste, a fim de que todos sejam um, como nós somos um.

Eu neles e tu em mim, a fim de eles chegarem à perfeição da unidade (…). Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu conheci-te e estes reconheceram que tu me enviaste.

Eu dei-lhes a conhecer quem tu és e continuarei a tornar-te conhecido, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu esteja neles também” (Jo 17, 20-26).

Ao avivar em nós a Palavra de Deus, o Espírito Santo põe-nos em interacção com o Pai e o Filho, a fim de melhor conhecermos o seu mistério e o seu plano de salvação para nós.

Eis as palavras de Jesus: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26).

Ao ressuscitar, Jesus comunicou-nos a possibilidade de interagir de modo intrínseco com o Espírito Santo, a fim de participarmos da mesma interacção que existe entre o Pai e o Filho:

“Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão, mas um Espírito que faz de vós filhos adoptivos.

É por este Espírito que clamamos “Abba”, Pai Querido” (Rm 8, 14-15; cf. Ga 4, 4-7). Nenhum ser humano entra isoladamente na comunhão familiar de Deus.

Na verdade, nós somos incorporados nesta comunhão familiar, graças ao facto de formarmos um todo orgânico com Cristo.

A Carta aos Gálatas diz que todos nós somos apenas um em Cristo (Ga 3, 29). Ao falar do seu conhecimento e da sua união com Cristo, São Paulo diz o seguinte:

“Já não sou eu que vivo mas Cristo que vive em mim” (Ga 2, 10). Conhecer Cristo, diz a Carta aos Colossenses, implica despir-se do homem velho configurado com Adão e revestir-se do homem novo, configurado com Cristo ressuscitado:

“Não mintais uns aos outros, já que vos despistes do homem velho, com as suas acções, e vos revestistes do homem novo.

Para chegar ao conhecimento do seu Criador, este Homem Novo não cessa de se renovar à imagem de Deus.

No Homem Novo já não há grego nem judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro, cita, escravo ou homem livre, mas apenas Cristo que é tudo em todos e está em todos nós” (Col 3, 9-11).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

18 outubro, 2009

O REINO DE DEUS COMO INTERIORIDADE


Ao ressuscitar, Jesus passou da face exterior da realidade para a sua face interior, ficando a relacionar-se connosco a partir de dentro.

A dimensão interior é a interioridade máxima da realidade, o ponto de encontro e comunhão da Humanidade com a Divindade.

A casa de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções e que é o ponto de encontro onde se realiza o face a face com Deus, como Jesus diz no evangelho de São João:

“Não vos deixarei órfãos, pois eu voltarei a vós (…). Nesse dia compreendereis que eu estou no meu Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 18-20).

Ser assumidos neste face a face com Deus significa ser integrado dfe modo orgânico na Família da Santíssima Trindade.

Este face a face no interior da realidade é o coração da comunhão universal de todas as pessoas a que damos o nome de Comunhão dos Santos e da qual também fazem parte todos os nossos seres queridos que já passaram da faceexterior da realidade, para a sxua face interior.

Nesta Comunhão intereior e Universal as pessoas vivem nas coordenadas da universalidade e da equidistância.

Isto quer dizer que na comunhão familiar do Reino de Deus as pessoas estão todas presentes umas às outras, pois já não há distância nem afastamento.






Quando dizemos que o Filho Eterno de Deus, pela Encarnação veio até nós, estamos a afirmar, não que ele se tenha deslocado.

Na realidade tudo se passou entre a interioridade espiritual humana de Jesus e a interioridade divina do Filho de Deus, as quais passaram a interagir de modo directo pelo Espírito Santo.

No momento da ressurreição de Jesus, esta comunhão humano-divina que existia no coração de Jesus, universalizou-se (Jo 7, 37-39).

E foi assim que o Reino de Deus passou para o nosso interior, pois o sangue Jesus ressuscitado, isto é, o Espírito Santo, passou a circular nas “veias” da nossa interioridade espiritual.

São Paulo explicita este mistério, dizendo que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Esta dinâmica interior do Reino de Deus é explicitada de modo sacramental pela Eucaristia:
“Quem como a minha carne e bebe o meu sangue

tem a viva eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele.

Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também aquele que me come viverá
por mim” (Jo 6, 54-57).

Em Comunhão Convosco
calmeiro Matias




15 outubro, 2009

A PALAVRA DE DEUS COMO FONTE DA VERDADE-I

I-O HOMEM E A VERDADE

Estamos talhados para comunicar na verdade. Mas como a verdade não é evidente, a fé facilita enormemente a comunicação das pessoas.

Na verdade, estamos constantemente a comunicar experiências ou factos que não são evidentes, não podem ser comprovados e, no entanto, as pessoas aceitam as experiências ou vivências que comunicamos como verdadeiras.

Por outras palavras, se as pessoas exigissem umas às outras a comprovação daquilo que comunicam e não é evidente, as relações humanas tornavam-se impossíveis.

No seu sentido mais amplo e pleno, a verdade é o que está de acordo com a realidade de Deus, do Homem da História e do Cosmos.

Neste sentido pleno, só Deus possui a verdade, pois só ele conhece a realidade total das coisas.

Podemos dizer que a pessoa humana possui a verdade na medida em que compreende e enuncia de modo adequado e correcto a realidade de Deus, do Homem, da História e do Cosmos.

É por esta razão que o Novo Testamento diz que o Espírito Santo, como fonte da Verdade, vai conduzindo as pessoas de modo gradual e progressivo para a verdade plena.

Por outras palavras, o Espírito Santo é o Espírito da Verdade, diz Jesus no evangelho de São João:

“Quando ele vier, o Espírito da Verdade, há-de conduzir-vos para a Verdade Plena” (Jo 16, 13).

Por possuir a plenitude da Palavra, Jesus chama-se a Verdade: “Eu sou a Verdade, o Caminho e a Vida” (Jo 14, 6).

O evangelho de São João diz que a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17, 17). Além disso, a Verdade que brota da Palavra de Deus liberta as pessoas.

Por outras palavras, os que acolhem a Palavra de Deus, diz Jesus, pertencem à Verdade e a Verdade os tornará livres (Jo 8, 31-32).

A transparência é a calda para a verdade crescer e se fortalecer, pois a Verdade não se coaduna com as águas turvas.

Eis as palavras de Jesus: “Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não” (Mt 5, 37).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PALAVRA DE DEUS COMO FONTE DA VERDADE-II

II-O EVANGELHO E A VERDADE

A vontade de Deus é que os seres humanos cheguem à Verdade e à Salvação, diz a Primeira Carta a Timóteo:

“Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2,4).

São Paulo dizia que a sua missão era anunciar o Evangelho que é a Palavra da Verdade (Col 1, 5).

Face à atitude de desconfiança de São Pedro para em relação aos pagãos, leva são Paulo a enfrentá-lo e a dizer-lhe que ele não estava a caminhar segundo a Verdade do Evangelho (Gal 2, 14).

Aqueles que dizem conhecer Jesus mas não guardam os seus mandamentos, diz a Primeira Carta de São João, são mentirosos e a verdade não está neles (1 Jo 2, 4).

A mente e o coração dos seres humanos estão moldados para a verdade. A bíblia diz que o ser humano, ao agir de acordo com a verdade, estrutura-se como pessoa verdadeira.

A inteligência, orientada pelas ciências e a filosofia, é capaz de atingir aspectos importantes da verdade.

Mas não basta a inteligência para atingirmos a verdade que edifica a liberdade e o amor. A Palavra de Deus faz emergir no coração das pessoas que a acolhem aquilo a que São Paulo chama a Sabedoria que vem do Alto.

Trata-se da capacidade de saborear a realidade com os critérios do Espírito Santo que habita no nosso coração.

Podemos dizer que a ciência sem a sabedoria é ambígua e pode até ser fonte de desumanização da História da Humanidade.

De facto, a História demonstra que a ciência sem a luz da Sabedoria, já serviu para destruir muitos milhões de seres humanos.

Sem a Sabedoria a ciência carece de critérios para olhar o Homem a História e o cosmos como um projecto talhado para o amor.

A verdade, como vimos acima, é a compreensão e enunciação adequada da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

Isto quer dizer que o Homem, só por si, não consegue atingir a verdade plena. Graças à luz da revelação, o Homem já pode saborear o pleno sentido da Vida humana e do Cosmos no projecto criador e salvador de Deus.

A primeira Carta aos Coríntios diz que os senhores do mundo se fecharam à revelação, acabando por ficar privados da Verdade de Deus.

“Nós ensinamos a sabedoria de Deus, diz São Paulo, mistério oculto e que Deus, antes dos séculos, predestinou para nossa glória.

Nenhum dos senhores deste mundo a conheceu, pois se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória.

Mas como está escrito, o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração humano não pressentiu, Deus o preparou para aqueles que o amam.

A nós porém, Deus o revelou por meio do Espírito Santo, pois o Espírito tudo penetra, mesmo as profundidades de Deus” (1 Cor 2, 7-10).

Pilatos perguntou a Jesus o que é a Jesus o que é a verdade. Jesus não respondeu, pois Pilatos tinha a verdade mesmo diante dos olhos e não a reconheceu.

Jesus disse de si mesmo: “Eu sou o Caminho a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6). Pilatos não tinha o coração preparado para acolher a Sabedoria que conduz à Verdade.

Jesus disse aos Apóstolos que após a ressurreição o Espírito Santo os ajudaria atingir o horizonte mais profundo da Verdade:

“Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não sois capazes de as compreender por agora.

Quando ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa” (Jo 16, 12-13).

Jesus não deu esta resposta a Pilatos, pois este pertencia aos senhores do mundo, os quais não têm acesso pleno à verdade.

A Verdade acontece em dinâmica de relações, pois trata-se não apenas de compreensão, mas também de enunciação e interacção.

Jesus disse aos judeus que acreditaram nele: “ Se permanecerdes na minha Palavra sereis meus discípulos.

Então conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres” (Jo 8, 31-32). Jesus é o Verbo de Deus.

Ao contrário do substantivo estático, o Verbo é dinâmico e vai estruturando as pessoas de acordo com o que significa.

O evangelho de São João diz que a Graça e a Verdade nos vieram por Jesus Cristo (Jo 1, 14. 17).
A graça é, naturalmente o dom do Espírito que nos dá a Vida Nova.

Por outras palavras, a Verdade é a Palavra que, no evangelho de São João se identifica com o próprio Jesus Cristo (Jo 1, 1-3).

A primeira Carta de Pedro diz que a Palavra da Verdade nos purifica do pecado (1 Pd 1, 22).

Jesus garante aos discípulos que eles estão limpos graças à Palavra que lhes foi comunicada e eles acolheram:

“Quem tomou banho não precisa de lavar senão os pés, pois está todo limpo. Vós estais limpos, mas não todos, devido à Palavra que vos anunciei” (Jo 13, 10).

A pessoa que se conduz pela Verdade está em sintonia com Deus: As pessoas que se conduzem pela Verdade, diz o evangelho de São João, aproximam-se da luz, a fim de que as suas obras possam ser vistas, pois são feitas em Deus (Jo 3, 21).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

12 outubro, 2009

DIALOGANDO COM DEUS SOBRE CRISTO


Pai Santo,
O Livro dos Actos dos Apóstolos conseguiu resumir em meia dúzia de frases e de forma genial a missão messiânica de Jesus Cristo. Eis as suas palavras:

“Sabeis o que ocorreu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou:

Como Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo, o qual andou de lugar em lugar fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelas forças do mal, pois Deus estava com ele” (Act 10, 37-39).

Estas palavras são fruto da acção reveladora do Espírito Santo, pois é ele o narrador da vida e missão de Jesus de Nazaré.

Eis o que Jesus disse a este propósito: “Quando vier o Espírito da Verdade vai conduzir-vos para a verdade plena.

Ele não falará de si próprio, mas há-de dar-vos a conhcer tudo o que viu e ouviu e anunciar-vos-á o que há-de vir.

Ele manifestará a minha glória, pois anunciará o que é meu e vo-lo dará a conhecer” (Jo 16, 13-14).

No evangelho de São Lucas Jesus diz que foi este mesmo Espírito Santo que o consagrou para anunciar a Palavra de Deus:

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista.

Enviou-me a mandar em liberdade os oprimidos e a proclamar o ano favorável da parte do Senhor” (Lc 4, 18-19).

Depois de ter lido este texto de Isaías na sinagoga da sua terra, Jesus disse para as pessoas que estavam na sinagoga:

“Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem que acabastes de ouvir” (Lc 4, 21).

Pai Santo
Jesus afirmou que o seu jeito de amar é em tudo semelhante ao teu. Na verdade, o seu jeito de acolher os pobres e perdoar aos pecadores era a expressão humana do teu amor por todos nós.

Por isso ele podia dizer: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). Por isso é que Jesus, no evangelho de São João diz: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).

Pelo mistério da Encarnação Jesus de Nazaré e o o teu Filho Unigénito formaram uma união orgânica e interactiva, animada pelo Espírito Santo.

Isto quer dizer que em Jesus Cristo o Humano e o Divino fazem um, mas sem se confundirem ou
fundirem.
Por ser um homem em tudo igual a nós, Jesus fazia parte de uma raça e de uma nação. Como esteve sujeito ao processo de crescimento e amadurecimento humano construiu uma história pessoal que podíamos resumir assim:

A sua grande paixão era fazer a vontade de Deus. Amava a simplicidade das crianças e defendia com coragem os que não eram capazes de se defender.

Deixava mais felizes as pessoas que tinham a sorte de o encontrar. Partilhava com as pessoas a sua vida e os bens. Amava a todos, mas preferia acompanhar com os mais pobres.

Como habitava nele a totalidade do Espírito Santo nunca foi cobarde. Inaugurou o Baptismo no Espírito, a fim de renovar o coração das pessoas, fazendo-as passar do egoísmo para o amor fraterno.

Como se deu totalmente, tornou-se o alicerce da Nova Humanidade incorporada na Família de Deus.

Graças à sua capacidade de amar e querer o bem de todos os seres humanos, Deus confiou-lhe uma missão com um alcance universal.

Levou o amor à sua profundidade máxima, isto é, até dar a vida pelos outros. Como se deu inteiramente aos outros, agora, a sua vida é também de todos nós!

Eis a razão pela qual, ao ressuscitar, difundiu para nós o Espírito Santo que nos introduz na Família de Deus.

Os seus inimidos mataram-no, mas Deus restaurou a sua vida, ressuscitando-o e fazendo dele o alicerce do Homem Novo.

Partilhou tudo: os bens, a vida e a tua Palavra, Pai Santo. Após a sua ressurreição tornou-se a cepa da videira cujos ramos somos todos nós.

Deu-nos o Espírito Santo que é a seiva da videira que vem dele para nós, vivificando-nos e tornando-nos ramos fecundos (Jo 15, 4-5).
Aleluia!
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias



09 outubro, 2009

MEDITANDO SOBRE O MISTÉRIO DO CÉU


À luz do Evangelho, o Céu tem sabor a festa. O Céu não é um lugar, mas um encontro universal de amor cujo coração é a comunhão da Santíssima Trindade.

São Paulo diz que o Reino de Deus não é uma questão de comida ou bebida, mas sim de paz, justiça e alegria no Espírito Santo (Rm 14, 17).

Com estas palavras, São Paulo quer dizer que o Céu não é um lugar mas um estado de plenitude.

No Céu, as pessoas sentem-se seguras e em paz, pois ninguém deseja o mal do outro. Também não há preocupações com necessidades de ordem material:

Ninguém se preocupa com a roupa que vai vestir ou os alimentos que vai comer. O egoísmo e a inveja já não existem e por isso ninguém quer ser mais importante do que os outros.

No Céu, a alegria das pessoas está em dar o melhor de si para que os outros sejam felizes.

Ninguém é infeliz, pois a felicidade, no Céu, está mais em dar do que em receber. Na verdade, ao dar-se, a pessoa não se perde, mas possui-se de modo mais pleno, pois as pessoas recebem na medida em que dão.

Ao ensinar os discípulos a orar, Jesus mandou-os dizer assim:

“Pai-nosso que estás no Céu, santificado seja o teu nome, venha a nós o teu Reino.
Faça-se a tua vontade, assim na Terra como no Céu” (Mt 6, 9-10).

No Céu, as pessoas humanas são membros da Família de Deus: Filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus.

O Espírito Santo é o laço maternal que une e dinamiza as relações da Família de Deus. O jeito de ser do Espírito Santo é actuar como princípio maternal de comunhão orgânica e animador de relações de amor.

É esta razão pela qual São Paulo diz que todos os que se deixam conduzir pelo Espírito Santo são filhos de Deus Pai e irmãos do Filho de Deus (Rm 8, 14. 16)

Tudo é de graça na festa da Família de Deus. Ninguém pretende sobrepor-se aos outros, pois todos se sentem irmãos.

Tudo aquilo de que as pessoas precisam lhes é dado de modo gratuito e em abundância. As pessoas estão todas saciadas, pois a ternura de Deus circula por todos como nascente de Vida Eterna.

No Céu ninguém tem medo, pois já não existe a violência, mas só a comunhão amorosa. Ninguém está saturado, pois o amor é a fonte da qual brota a novidade constante das relações e do encontro amoroso.

E se ainda houver alguma memória dos sofrimentos desta vida, Deus passa amorosamente com um lenço branco limpando o vestígio das nossas lágrimas.

Depois dá-nos o beijo da felicidade, isto é, o Espírito Santo, o qual nos faz esquecer para sempre a lembrança dos sofrimentos da vida terrena.

O Céu é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas. Isto quer dizer que o Céu é por natureza uma festa.


Eis o modo como o Livro do Apocalipse descreve a festa do Céu:

“Eis a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles e eles serão o seu povo. Deus estará com eles e será o seu Deus.

Enxugará todas as lágrimas dos seus olhos e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram” (Apc 21, 3-4).

Ninguém é capaz de se sentir feliz fechando-se à comunhão. Por isso a felicidade está em comungar com os demais.

É isto que a Carta aos Romanos quer dizer quando afirma que o Céu não é uma questão de comida ou bebida, mas sim de justiça, paz e alegria no Espírito Santo.

Na Comunhão Universal da Família de Deus já ninguém sofre por ter saudades de alguém que esteja longe.

Na verdade, os habitantes do Céu habitam as coordenadas da universalidade e da equidistância.

Por outras palavras, as pessoas que habitam na morada de Deus estão presentes a tudo e a todos.

O amor circula e difunde-se por todos os que fazem parte desta grande comunhão. A bíblia diz que há um rio de Água Viva que atravessa o centro do Paraíso. Esta Água Viva é o Espírito Santo, como diz o evangelho de São João (Jo 7, 37-39).

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo conduz-nos ao regaço amoroso de Deus Pai.
As pessoas que têm sede entram no rio da Água Viva e bebem.

Um dia Jesus disse à Samaritana: “Eu tenho uma Água Viva para dar. Aquele que beber desta Égua nunca mais terá sede” (Jo 4, 14).

Jesus referia-se ao dom do Espírito Santo que é o sangue da Nova Aliança a circular nos nossos corações.

Os rosto dos que entram no rio e bem da Água Viva fica a brilhar como brilha o rosto de Cristo ressuscitado.

Todas as pessoas que purificaram o seu coração, acolhendo a Palavra de Deus, têm direito a beber no rio da Água Viva e a comer o fruto da Árvore da Vida.

Eis as palavras do Apocalipse: “O Espírito diz: “Vem!”. Digam também todos os que escutam a Palavra de Deus: “Vem!”.

O que tem sede que se aproxime e beba gratuitamente a Água da Vida” (Apc 22, 17). Deus não nos criou para a morte mas para a Vida Eterna.

Foi por esta razão que Jesus, ao ressuscitar, difundiu para a Humanidade o grande dom do Espírito Santo, a fim de saciar a nossa fome de plenitude e nos incorporar na grande Família do Céu.


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

06 outubro, 2009

DEUS E A DIGNIDADE HUMANA-I

II-DEUS CAMINHA CONNOSCO

A morada do Homem acabado e perfeito está no futuro, não no passado. Isto quer dizer que o futuro dos seres humanos é o que lhes falta para se encontrarem plenamente realizados.

Na verdade, o Homem não se define pelo modo como apareceu (evolução a partir da vida animal), mas pela plenitude que o aguarda.

Estamos a caminhar para a condição de pessoas assumidas e incorporadas de modo orgânico na comunhão com as pessoas divinas.

O Paraíso, esse jardim primordial onde os seres humanos existiam como pessoas perfeitas e acabadas nunca existiu.

O Paraíso entendido como morada do Homem pleno e perfeito foi inaugurado com a morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Foi isto que o próprio Jesus declarou ao Bom Ladrão no momento de morrer e ressuscitar:

“Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). A inauguração do Paraíso representa um salto de qualidade na História do Homem em construção.

Na verdade, o acontecimento histórico de Jesus Cristo representa a plenitude dos tempos. Por outras palavras, com a ressurreição de Cristo, os tempos da gestação da Humanidade chegaram ao seu fim, dando lugar ao parto com o qual nascem os filhos de Deus (cf. Gal 4, 4-7).

Deus não criou o Homem acabado, a fim de lhe dar a possibilidade de tomar parte na sua realização e, deste modo, ser tal e como deseja para toda a eternidade.

Na verdade, a pessoa humana está chamada a ser autora de si, mas a partir dos talentos que recebeu de Deus através dos outros.

Isto quer dizer que o ser humano está chamado a atingir a sua plena realização, construindo-se a partir do que recebeu como possíveis.

A maneira de aceitar os talentos que Deus nos concede é pô-los a render, realizando as possibilidades que ele nos concedeu, como diz Jesus no evangelho de São Mateus (Mt 25, 14-30).

Deus respeita profundamente a dignidade do Homem e por isso nunca se impõe.

O Homem está em processo de realização história. A Humanidade está a emergir no concreto de cada pessoa de modo único, original e irrepetível.

À medida que o ser humano emerge como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de amar, converge para a comunhão universal da Família de Deus.

Ao iniciar a criação da Humanidade, Deus quis que esta tivesse uma dignidade semelhante à dignidade da própria Divindade.

Com efeito, Deus é pessoas em relações e o Homem também. Mas enquanto as pessoas divinas são infinitamente perfeitas, as pessoas humanas estão em realização histórica.

Isto quer dizer que a identidade espiritual da pessoa humana emerge e fortalece-se de modo gradual e progressivo através do amor.

Mas como o ser humano não é capaz de amar antes de ter sido amado, o amor de Deus era fundamental para a Humanidade iniciar a dinâmica da humanização.

É esta a lei do amor: Ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado. É o amor dos outros que nos capacita para amar. É por esta mesma razão que os mal-amados ficam a amar mal, isto é, com bloqueios e limitações, apesar de não terem culpa.

É verdade que ninguém nos pode substituir na tarefa da nossa humanização. Nem o próprio Deus o pode fazer por nós.

Mas também é verdade que ninguém se pode humanizar sozinho. Isto quer dizer que precisamos dos outros e do dinamismo amoroso do Espírito Santo para nos construirmos como pessoas.

São Paulo entendeu isto muito bem e por isso ele diz na Carta aos Romanos que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

O ser humano reconhece a sua condição de pessoa e, como tal, alguém talhado para a transcendência.

Deus transcende o Homem e este transcende os animais. Por outras palavras, a pessoa é um ser capaz de se distanciar da natureza e dos animais, descobrindo o sentido e a funcionalidade destas realidades.

O livro do Génesis exprime esta verdade dizendo que Deu fez passar os animais diante do Homem, a fim de este lhes dar um nome (Gn 2, 19-20).

Dar um nome significa dominar uma realidade atribuindo-lhe uma função e um sentido.
É esta a razão pela qual a bíblia diz que o Homem não é capaz de dar um nome a Deus.

A pessoa humana sente que transcende as capacidades e as possibilidades dos animais e tem consciência de que os transcende.

É verdade que os animais sabem muitas coisas, mas não sabem que sabem, isto é, não são conscientes.

A pessoa humana, pelo contrário, é um ser consciente: sabe e sabe que sabe. Deus reconhece e respeita a dignidade da pessoa e por isso se dispõe a fazer história connosco, embora sem nunca nos substituir.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DEUS E A DIGNIDADE HUMANA-II

II-DEUS E A DIGNIDADE DA PESSOA

A dignidade da pessoa começa no facto de não nascer determinada, como acontece com os animais.

O ser humano nasce com um leque de talentos que lhe possibilitam uma diversidade enorme de opções, escolhas, decisões e compromissos.

Isto quer dizer que a pessoa é realmente imagem de Deus, pois está chamada a ser autora de si própria.

Pela sua condição de pessoa livre, consciente, responsável e capaz de amar que o ser humano se liga à transcendência divina.

Deus é três pessoas em comunhão amorosa. Isto quer dizer que a vida pessoal foi primeiro:

Ainda antes de o Universo ter iniciado a sua génese criadora, já existia uma dinâmica de comunhão amorosa.

Deus é amor. O amor é extremamente criador. Foi deste dinamismo amoroso que emergiram os possíveis que deram origem ao big bang que inicia a marcha criadora do Universo.

A vida pessoal está primeiro e nunca há-de terminar, pois tem densidade espiritual. Sem vida com densidade pessoal não existe vida imortal. Na verdade, só a vida pessoal tem densidade de vida eterna.

Por outras palavras, a vida pessoal ou é divina ou é proporcional a Deus. A pessoal é a cúpula da Criação. O seu crescimento não é uma questão de quantidade.

Não se mede ao quilo, nem sem avalia pelo volume. Não se mede ao metro, nem se analisa pelo método das superfícies.

Só se pode valorizar pela qualidade das suas relações e pelo seu jeito de amar. Além disso, a plenitude de uma pessoa não está em si, mas na comunhão amorosa.

Ao dar-se, a pessoa não se perde. Pelo contrário, encontra-se mais plenamente. Por ser livre, a vida pessoal não emerge necessariamente. Não é uma fatalidade ou destino.

Isto quer dizer que a realização pessoal é uma tarefa de amor. Emerge como processo histórico e como novidade constante.

Os seres pessoais pertencem à cúpula da Vida. A vida pessoal, por ser espiritual, não vem de fora para dentro.

Pelo contrário, emerge no interior do ser humano. Na verdade, não nascemos como almas feitas, mas como seres em processo de espiritualização.

Ao atingir a densidade pessoal, a vida atinge a imortalidade, pois o espiritual não morre. Mas a vida espiritual só se torna sucesso eterno mediante a assunção e incorporação na Comunhão da Família de Deus através de Cristo ressuscitado.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias



01 outubro, 2009

O SEU NOME ERA JESUS DE NAZARÉ

Nasceu entre os pobres e viveu a condição da gente simples da Galileia. A sua grande paixão era conduzir a Humanidade para a comunhão da Família de Deus.

Contra o que era costume no seu meio, tratava Yahvé por Abba, isto é, Papá.

Ensinava as pessoas a falar com Deus como um filho fala com seu pai, dizendo: Pai-Nosso que estais no Céu.

Era corajoso e punha-se sempre do lado dos marginalizados e dos oprimidos. Tomava partido pelos que não eram capazes de se defender, tornando-se a voz dos que não tinham força para defender os seus direitos.

Deixava mais felizes os que tinham a sorte de comunicar com ele em Profundidade. Nunca ninguém ficou mais pobre pelo facto de o ter encontrado.

Defendia a partilha dos bens como caminho seguro para se chegar à abundância. Se abrirmos o coração à fraternidade e seguirmos o caminho da partilha, ensinava ele, os bens da terra chegarão para todos e ainda vai sobrar.

Foi isto que ele quis ensinar com o milagre dos três pães e dos dois peixes partilhados, os quais chegaram para alimentar uma multidão.

Os três pães chegaram para todos e ainda sobraram vários cestos cheios de pedaços. Sentia-se bem entre os simples e os que tinham um coração capaz de acolher os outros.

Apreciava muito a companhia dos pobres, pois estes têm uma grande capacidade de partilhar.

Jamais defendeu a marginalização dos pecadores, apesar de se opor sempre ao pecado.

Na verdade, o seu sonho era banir o pecado da História Humana, pois este é a fonte da violência e do ódio e das guerras que atormentam as sociedades e os povos.

Apesar de se opor ao pecado nunca defendeu a morte dos pecadores, como faziam os sacerdotes e os fariseus do seu tempo.

Foi esta a razão pela qual ele tomou partido pela mulher adúltera, apesar de ser contra o adultério.

A destruição do pecado, segundo a sua maneira de entender, acontece no íntimo do coração humano pela acção do Espírito Santo.

Na verdade, só o Espírito Santo é capaz de renovar os nossos corações, fazendo-nos passar do egoísmo para o amor fraterno.

Dirigindo-se aos sacerdotes e aos doutores da Lei, um dia disse-lhes que eles pretendiam dominar o povo simples impondo-lhes normas e preceitos que não passam de invenções humanas.

Os que o escutavam com atenção encontravam sempre razões novas para viver. Não fazia publicidade dos seus gestos de generosidade, pois ele amava sem fazer alarde.

A Palavra de Deus era o grande amor da sua vida e exultava de alegria no Espírito Santo quando sentia que as pessoas compreendiam e acolhiam a sua mensagem.

Os detentores do poder e das riquezas não queriam que ele vivesse, pois a sua mensagem minava os sistemas caducos e as estruturas opressivas da sociedade em que vivia.

Como é costume nestes casos, os poderosos começaram a deturpar a sua mensagem e a verdade da Palavra de Deus, a fim de justificarem os seus planos para destruir a vida dos profetas.

O seu nome era Jesus de Nazaré. Denunciava o pecado, pois este mutila o Homem. Mas não sentia ódio pelos pecadores.

Foi por esta razão que no momento da sua morte, pediu a Deus que perdoasse o pecado dos seus assassinos.

Justificava o seu modo de actuar dizendo ser essa a vontade de Deus. O meu alimento, dizia ele, é fazer a vontade do Pai que me enviou.


Numa noite fria e escura os seus inimigos invadiram a sua casa, deixando-a vazia.

Fizeram-no desaparecer da companhia dos que o amavam. Mas Deus tomou partido por ele, ressuscitando-o.

De facto, Deus não permite que as pessoas que gastam a vida pelas causas do amor, acabem no vazio do cemitério.

O amor não pode terminar na morte, pois Deus é amor. Teve a sorte dos profetas, isto é, foi morto pelos inimigos da verdade e do bem.

Apesar de morrer rodeado de inimigos o seu coração estava tranquilo, pois tinha a certeza de que Deus ia restaurar a sua vida.

Eis a razão pela qual ele passou a vida a fazer bem a toda a gente e a pregar que a meta da nossa vida é a comunhão universal da Família de Deus.

Ele tinha a certeza de que nenhum homem pode destruir o projecto de amor que Deus sonhou para a Humanidade.

Foi para conduzir a Humanidade para esta meta feliz que ele viveu e morreu. No início da sua missão, o Espírito Santo consagrou-o, a fim de ele ter a força necessária para ser fiel até ao fim.

Eis a razão pela qual ele se sentia segura e tinha força para enfrentar as forças negativas que tentam desumanizar as pessoas e as sociedades.

Tinha a missão de inverter a dinâmica destrutiva do pecado de Adão. Com a sua infidelidade ao plano de Deus, Adão colocou a Humanidade no caminho do fracasso.

Jesus de Nazaré, com a sua fidelidade incondicional à vontade de Deus, colocou-nos no caminho que leva a fraternidade universal e à nossa incorporação na festa da Família Divina.

Ele é o Novo Adão, pois coube-lhe a missão de libertar o Homem das distorções operadas pelo Antigo Adão.

Eis as palavras de São Paulo a este respeito: “Assim como pela falta de um só veio a condenação e a morte, assim também, pela vida justa de um só veio para todos a Graça que dá a vida” (Rm 5, 18).

Levou o amor até à sua densidade máxima, dando a sua vida por todos nós, a fim de fazer de nós irmãos seus e filhos do seu Pai do Céu.

O seu nome era Jesus de Nazaré. Ensinava as pessoas a amarem-se umas às outras, a fim de se realizarem e serem felizes.

Ensinou aos seus discípulos que a profundidade máxima do amor se atinge quando uma pessoa dá a vida por alguém.

Eis as palavras que ele usou para fazer do amor o seu único mandamento: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (15, 12-13).

Ao morrer por nós, partilhou totalmente o seu ser, ao ponto de a sua vida se tornar um património comungável por todos os seres humanos.

Por outras palavras, como se deu totalmente, a sua vida deixou de ser apenas sua. Eis a razão pela qual, ao ressuscitar, difundiu por todos o Espírito Santo, essa Água Viva que gera vida eterna no nosso íntimo.

Após a sua ressurreição ficámos organicamente unidos a ele. Por isso ele nos transmite a semente da vida Nova, isto é, o Espírito Santo (1 Jo 3, 9).

Ele é, diz o evangelho de São João, a cepa da videira cujos ramos somos nós (Jo 15, 1-8). Uma vez ressuscitado tornou-se o coração da Comunhão Universal que une de modo definitivo o Homem com Deus.

Os seus inimigos, pensaram destruir a sua morada e, deste modo, bani-lo do nosso meio.
Na verdade, forçaram a as portas da sua habitação terrena matando-o.

Mas Deus restaurou-o, fazendo dele a coluna que sustenta o edifício da Nova Humanidade. Após a sua ressurreição ficou mais unido a nós do que antes, pois o ponto de encontro e comunhão com ele passou a ser o nosso coração.

Como um pão que se reparte para alimentar a vida dos outros, assim foi a sua vida. Por isso nos deixou a Eucaristia, onde se dá a todos na linguagem do pão partilhado.

Como tomava Deus e o Homem a sério, reuniu as condições perfeitas para ser o nosso Salvador e o condutor da caminhada que conduz ao nascimento do Homem Novo.

Ele é, como diz São Paulo, a cabeça da Nova Criação reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19).

Unidos a toda a Humanidade nós queremos proclamar o grande dom da salvação e a nossa
entrada na Família de Deus graças à doação de Jesus Cristo!
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias