13 julho, 2009

AO ENCONTRO DE DEUS NOSSA META-I

I-A CAMINHO DE DEUS NOSSA META

Podemos dizer que a plenitude do humano é o divino. Estamos habitados por uma fome imensa de plenitude.

Pouco a pouco vamos compreendendo que esta fome só pode ser saciada através do amor:
Precisamos do amor dos outros para sermos capazes de amar.

Depois precisamos de amar para crescermos em maturidade pessoal e espiritual. Somos seres talhados para o dom. Os seres humanos são imagens, das três pessoas divinas em comunhão amorosa.

O amor dos outros dá-nos segurança e o nosso amor aos demais dilata o nosso coração conduzindo-nos à plenitude da comunhão.

Na verdade, a pessoa que se dá não se perde. Pelo contrário, encontra-se e possui-se. Isto quer dizer que somos seres talhados para o dom e a comunhão.

Com efeito, a pessoa é um mistério, isto é, uma realidade que não é evidente mas que se revela gradualmente.

A fome de felicidade que levamos connosco tem uma direcção e uma densidade espiritual.
Estamos talhados para o encontro e a comunhão com as pessoas humanas e as divinas.

A pessoa, seja qual for a sua natureza, é um ser que se constitui como interioridade livre, consciente, responsável, única, original, irrepetível e capaz de comunhão amorosa.

Para oferecer resposta à fome de plenitude que nos invade, Deus sonhou e planeou o mistério da Encarnação do seu Filho.

Pela Encarnação, a Divindade enxerta-se na Humanidade, a fim de esta ser assumida e incorporada na Família Divina, onde cada pessoa encontra a sua plenitude.

O grau de plenitude que a pessoa encontra na comunhão amorosa da Família de Deus é proporcional à sua capacidade de amar e comungar.

Na sua identidade espiritual, a pessoa situa-se ao nível do ser, não do ter. É por esta razão que a pessoa, quando se dá, não se perde.

Isto faz-nos compreender como a pessoa não vale pelo tem, mas pelo que é.

O cristão sabe que o pão para matar a fome espiritual e a água para matar a sede de vida plena são-nos dados por Cristo Ressuscitado.

Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como filhos e ao Filho de Deus que nos abraça como irmãos.

É ele, também que alimenta a fraternidade humana universal. O Espírito Santo é o pão que Cristo nos dá e gera em nós a vida eterna:

“Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também quem me come, viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu” (Jo 6, 57-58).

O Espírito Santo é também a Água viva que faz emergir uma fonte da qual brota a vida eterna (Jo 7, 37-39).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

AO ENCONTRO DE DEUS NOSSA META-II


II-COLABORANDO COM O ESPÍRITO QUE NOS HABITA

São Paulo diz que fomos baptizados num mesmo Espírito, a fim de fazermos um só corpo (1 Cor 12, 13).

Isto significa que participamos do mesmo Espírito de Cristo ressuscitado a quem estamos unidos de modo orgânico.

O Espírito Santo é o pão espiritual que comemos e faz de nós corpo de Cristo (1 Cor 10, 17).
A fome de felicidade e plenitude que se faz sentir no mais íntimo do nosso ser é um apelo a aminhar na linha da fraternidade e da comunhão.

Não fomos feitos para estar sós. A morte espiritual é igual a solidão radical. É isto o que, em linguagem cristã, se chama o estado de inferno.

Cristo Ressuscitado comunica-nos o Espírito Santo, não como algo que lhe é exterior, mas como uma realidade intrínseca ao seu ser humano-divino.

Por outras palavras, é o Espírito Santo que alimenta e robustece a interacção que acontece entre a interioridade de Jesus Nazaré com a interioridade da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Com efeito, Cristo é apenas um, apesar de humano-divino. Ele é homem connosco e Deus com o Pai e o Espírito Santo.

O Espírito Santo, com o seu jeito maternal de amar, introduz-nos na família divina como filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação a Deus Filho (Rm 8, 14-16).

Com Jesus Cristo a história humana deu um salto de qualidade. A Humanidade passou do estado de não divina, para a condição de divina e incorporada na Família de Deus.

O mistério da Encarnação significa a plenitude dos tempos. Durante cerca de trinta anos só um homem, Jesus de Nazaré, foi divino, pois estava incorporado de modo orgânico na comunhão da Santíssima Trindade.

Com Jesus Cristo, a Humanidade entrou na fase dos acabamentos. Antes de Cristo, o Homem estava apenas em processo de humanização.

Como a morte e ressurreição de Cristo, a Humanidade entra na dinâmica da divinização, mediante a sua incorporação na comunhão orgânica da Santíssima Trindade.

Esta incorporação acontece pela acção do Espírito Santo que nos é comunicada de modo orgânico por Cristo ressuscitado.

O ser humano é capaz de comungar com Deus e os irmãos na medida em que se tenha humanizado. una medida em
que está humanizado. Isto quer dizer que será eternamente mais divino quem mais se tiver humanizado na história. É

Utilizando uma imagem de que gosto muito, diria que, no Reino de Deus, dançaremos eternamente o ritmo do amor e da comunhão com o jeito que tivermos treinado na história.

A festa do Reino de Deus é a superação total da solidão e a conquista definitiva da felicidade que só pode acontecer na comunhão.

Somos nós que construímos aquilo que será plenificado por Deus. Podemos dizer que o futuro histórico de cada pessoa é o leque de possíveis de humanização que ainda temos para realizar.

Este futuro pode acontecer ou não, depende de nós. Demos um exemplo: O ovo da galinha fecundado está cheio de possíveis capazes de dar um pintainho.

Mas estes possíveis podem realizar-se ou não. Se estrelarmos este ovo não teremos pintainho.
Isto quer dizer que a humanização do ser humano não é uma fatalidade.

Depende de nós. Só acontece através de um encadeamento de opções, decisões, escolhas e realizações na linha do amor.

Somos o resultado personalizado da história que construímos com os talentos que recebemos dos outros. É este o mistério do Homem em construção.

De facto, fazemo-nos, fazendo história. Por outro lado, a história que construímos estruturou o nosso ser pessoal-espiritual, o qual é eterno.

Ninguém pode ser substituído nesta tarefa, mas também ninguém se pode humanizar sem os outros.

O mesmo se passa em relação à presença do Espírito Santo em nós: Com seu jeito maternal de amar, ele gera vida espiritual em nós, faz-nos nascer de novo, como diz o evangelho de São João (Jo 3, 3-6).

A maneira correcta de reconhecer e aceitar a presença dinâmica e fecunda do Espírito Santo em nós implica a seguinte atitude:

“Contar com Deus, sempre. Tentar a Deus, nunca”. Tentar a Deus significa não fazer o que depende de nós, pretendendo que Deus o faça em nosso lugar.

A maneira fiel de colaborar com Deus é esta: “agir como se tudo dependesse de nós, sabendo que o essencial é obra de Deus”.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias






10 julho, 2009

QUANDO A BÍBLIA FALA DO HOMEM CARNE

A bíblia vê a Humanidade como uma realidade orgânica, interactiva e dinâmica. Isto significa que as pessoas não são ilhas. Com efeito, o ser humano apenas encontra a sua plenitude na comunhão com os outros.

Reduzida à condição de ilha, a pessoa humana está em estado de perdição. Na verdade, o estado de inferno é a pessoa enroscada em si.

Não tem ninguém que lhe diga “gosto de ti! Dá-me a tua mão e vamos fazer uma festa”.

Quando fala do Homem carne, a bíblia não está a utilizar conceitos biológicos, mas está a ver a Humanidade como uma grandeza orgânica, interactiva e fecunda (cf. Jo, 15, 4-5).

Ao falar do matrimónio, o Livro do Génesis diz que no casal humano o homem e a mulher formam uma só carne (Gn 2, 24).

Com esta expressão o Livro do Génesis não quer dizer que o marido e a mulher têm a mesma estrutura genética, mas que formam um união orgânica, interactiva e fecunda.

Do mesmo modo os crentes são baptizados no mesmo Espírito Santo, a fim de formarmos um só corpo com Cristo (1Cor 12, 13).

Na comunidade cristã, os crentes são membros do Corpo de Cristo, cada qual com uma função própria (1Cor 12, 27).

Ao falar da Eucaristia, São Paulo diz que comemos do mesmo pão, a fim de formarmos um só corpo (1Cor 10, 17).

Também a Humanidade forma uma união orgânica, interligada como um todo interactivo. Por um só homem o pecado e a morte, diz São Paulo, entraram no mundo, atingindo a todos (Rm 5, 12).

Através de Cristo, o Novo Adão, Deus introduziu a força restauradora do Espírito no tecido humano, vencendo a morte e o pecado.

“Os maridos devem amar as mulheres como os seus próprios corpos. Aquele que ama a mulher ama-se a si mesmo. De facto, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne.

Eis o que diz a Carta aos Efésios: O homem deixará pai e mãe, ligar-se-á à sua mulher e passarão a ser uma só carne” (Ef 5, 28-31).

Utilizando o modelo de Cristo como cabeça da comunidade, a Carta aos Efésios, diz que o marido é a cabeça da mulher:

“O marido é a cabeça da mulher como Cristo é a cabeça da Igreja, seu corpo, e da qual é o Salvador” (Ef 5, 23).

Na carta aos Filipenses, São Paulo fala das razões de se gloriar na carne, cujo conceito nada tem a ver com a biologia:

“Também eu poderia confiar na carne. Se os outros o fazem, quanto mais eu poderia fazê-lo. Fui circuncidado ao oitavo dia. Sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim.Sou hebreu, filho de hebreus. Quanto à Lei, fui fariseu. Quanto a zelo, persegui a Igreja de Deus.





No que se refere à justiça da Lei vivi irrepreensivelmente” (Flp 3, 4-6). Jesus chamou Satanás a Pedro por este entender a missão messiânica de Jesus segundo a carne e não segundo o Espírito Santo (Mt 16, 23).

Ao abençoar a fé de Pedro, Jesus diz-lhe que não foi a carne nem o sangue quem lho revelou, mas o Pai que está nos céus (Mt 16, 16-17).

A ressurreição não é um acontecimento biológico mas espiritual: “Semeia-se na corrupção e ressuscita-se na incorruptibilidade.

Semeia-se na ignomínia e ressuscita-se na glória. Semeia-se na fraqueza e ressuscita-se na força.
Semeia-se corpo natural e ressuscita-se corpo espiritual.

O que digo, irmãos, é que a carne e o sangue não podem tomar parte no Reino de Deus, pois a corrupção não herdará a incorruptibilidade.” (1Cor 15, 42-50).

Ao falar da Eucaristia, o evangelho de São João revela já a preocupação de se defender a Igreja da acusação de antropofagia.

Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.

Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e ressuscitá-lo-ei no último dia.

Na verdade, a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é uma verdadeira bebida.

Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica em mim eu nele. (Jo 6, 32-63). Comer a carne de Cristo e beber o seu sangue significa entrar em reciprocidade de comunhão orgânica.

Por isso Jesus afirma: “A carne (biologia) não serve para nada. O Espírito é que dá vida. Ora, as palavras que vos disse são Espírito e Vida.” (Jo 6, 63)

“Que todos sejam um como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti. Que também eles sejam um em nós” (Jo17, 21).

Os profetas e os reis foram ungidos com o Espírito de Deus. Cristo, pelo contrário, possui a plenitude do Espírito:

“Aquele que Deus enviou refere as palavras de Deus, pois Deus não Lhe dá o Espírito por medida” (Jo 5, 34).

No interior dos que bebem do Espírito começa a brotar uma fonte de vida eterna (Jo 4, 14).

Temos de nascer de novo, mediante o Espírito (Jo 3, 3). O que nasce da carne é carne, o que nasce do Espírito é espírito (Jo 3, 6).

O Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). No nosso íntimo, o Espírito Santo é o poder de nos tornarmos filhos de Deus. Não pela vontade do Homem nem pelos impulsos da carne, mas pelo querer de Deus (Jo 1, 12-13).

A noção de carne no evangelho de São João é profundamente bíblica. Significa o ser humano como interioridade relacional e genealogicamente interligado a toda a Humanidade.

Ao dizer que o Verbo encarnou, São João está a pensar que o Filho eterno de Deus se relaciona e comunica connosco em grandeza humana através de Jesus.

O homem Jesus e o Filho eterno de Deus fazem um, pois formam uma unidade orgânica. Do mesmo modo, o Filho Eterno de Deus faz um com Deus Pai, embora sem se confundirem nem fundirem (Jo 10, 30).

Os que aderem a Cristo passam igualmente a fazer um com o Pai e o Filho (Jo 17, 21). Esta unidade, diz Jesus no evangelho de São João, é semelhante à que existe entre a cepa da videira e os seus ramos (Jo 15, 1-8).

A seiva, neste caso, é a força ressuscitadora e fecunda do Espírito que Cristo comunicou aos Homens no momento da sua morte e ressurreição (Jo 7, 37-39).


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




07 julho, 2009

AO MORRER, CRISTO RESTAUROU A NOSSA VIDA-I

I-A RESSURREIÇÃO COMO VITÓRIA SOBRE A MORTE

Com o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo, a humanidade deu um salto qualitativo:

Os seres humanos passaram de não divinos a pessoas divinizadas, isto é, organicamente assumidas e incorporadas na comunhão familiar da Santíssima Trindade.

Este salto de qualidade aconteceu no próprio momento da morte e ressurreição de Jesus sobre a cruz.

Ao morrer, Jesus Cristo venceu a morte não apenas para si como também para nós. Enquanto, sobre a cruz, ia morrendo o que no homem é mortal, o imortal ia sendo glorificado e incorporado na comunhão familiar de Deus Pai com o Filho Eterno de Deus e o Espírito Santo.


Isto quer dizer que ao acabar de morrer, Jesus estava plenamente ressuscitado. Ao morrer o último elemento do que no Homem é mortal, o imortal estava totalmente ressuscitado, isto é, assumido e incorporado em Deus.

O processo de morrer em Jesus Cristo correspondeu exactamente ao processo do parto mediante o qual nasceu o Homem Novo glorificado e assumido em Deus.

Isto significa que Jesus venceu a morte no próprio acto de morrer. Referindo-se à oração de Jesus no Jardim das Oliveiras, a Carta aos Hebreus diz que Cristo fez orações àquele que o podia libertar da morte e foi atendido, devido à sua piedade (Heb 5, 7).

Deus libertou Jesus da morte ressuscitando-o, afirma a Carta aos Hebreus. Mas se a ressurreição fosse algo posterior ao acto de morrer, Jesus não tinha vencido a morte.

Mas a Carta aos Hebreus diz que Jesus pediu ao Pai que o libertasse da morte e foi atendido.

Esta libertação deve ser entendida como uma vitória de Jesus sobre a própria morte. Isto quer dizer que a ressurreição de Jesus é um processo simultâneo ao próprio processo de morte.

Por outras palavras, Jesus não esteve um só momento sob o domínio da morte. O protagonista desta vitória de Cristo sobre a morte foi o Espírito Santo.

Graças ao dinamismo ressuscitador do Espírito Santo, o Senhor da vida não ficou um só segundo sob o domínio da morte.

Podemos dizer com a liturgia pascal: “Morrendo, Jesus destruiu a nossa morte. Ressuscitando, restaurou e conduziu à plenitude a nossa vida.

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

AO MORRER, CRISTO RESTAUROU A NOSSA VIDA-II


II-CRISTO E O PLANO DE DEUS PAI

Apesar do pecado, o plano de assumir o Homem na comunhão familiar de Deus continuou intacto.
O plano divino de Deus não foi abolido. São Paulo diz que a vontade de Deus é que todos os seres humanos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (1 Tim 2, 4).

A Nova Criação é obra do amor redentor de Deus: “Em Cristo Deus reconciliou consigo a Humanidade não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 18-19).

A ressurreição de Cristo inaugura verdadeiramente a plenitude do tempo. Se o tempo chegou ao fim é a hora de dar à luz. A criação já está a sentir as dores do parto. O Homem Novo já começou a nascer.

Ao vencer o pecado e a morte, Jesus inaugura a Nova Humanidade. Eis as palavras de São Paulo: “Mas quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher.

Nasceu sob o domínio da Lei, a fim de resgatar os que estavam sob o domínio da Lei e, deste modo, pudéssemos ser filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que, no nosso íntimo clama: “Abba, Pai”.

Deste modo já não és escravo, mas filho. Ora, se és filho também és herdeiro por graça de Deus.” (Gal 4, 4-7).

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo realiza no coração dos seres humanos este parto que nos faz passar para a condição humano-divina.

É isto que diz o evangelho de São João quando afirma que temos de nascer pelo Espírito Santo, a fim de tomarmos parte no Reino:

“Quem não nascer da Água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. Aquilo que nasce da carne é carne e aquilo que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3, 5-6).

A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

É nesta dinâmica que se vai estruturando em nós a Nova Criação. A Segunda Carta aos Coríntios diz que apesar de o homem exterior envelhecer e se ir degradando, o interior vai-se robustecendo pela acção do Espírito santo (2 Cor 4, 16).

O homem interior é a nossa dimensão espiritual. O exterior é o homem individual que envelhece, se vai degradando até terminar na morte.

Por outras palavras, o nosso ser interior emerge em nós como o pintainho emerge no interior do ovo.

O pintainho nascerá no dia em que se parta a casca do ovo. A morte representa esse dia em que o nosso ser exterior se parte, dando origem ao nascimento definitivo do nosso ser interior.

Em Jesus Cristo esse momento foi o início da vitória sobre a morte para ele e para toda a Humanidade com a qual ele faz um todo orgânico, isto é, interactivo e dinâmico.

Por ser pessoal, o nosso ser interior é proporcional às próprias pessoas divinas.

É verdade que as pessoas humanas não são iguais às divinas, mas são-lhe proporcionais. Isto quer dizer que já pode acontecer comunhão amorosa entre as pessoas divinas e as humanas.

Segundo o exemplo de Jesus no evangelho de São João a nossa união com ele e, através dele, com a Santíssima Trindade é orgânica e geradora de vida.

Trata-se de uma união semelhante à que existe entre a cepa da videira e os seus ramos. A nossa vida é fecunda na medida na medida em que somos ramos unidos à cepa, diz Jesus (Jo 15, 4-5).

A seiva que vem da cepa para os ramos é o Espírito Santo. Adão, com o seu pecado, colocou a Humanidade no caminho do fracasso.

Cristo, com a sua fidelidade a Deus, introduziu-nos no caminho que conduz à comunhão com Deus que é a fonte da Via Eterna.

Assim como todos morrem em Adão, diz a Carta aos Romanos, todos ressuscitam em Cristo, o Novo Adão (Rm 5, 17).

Pertencemos à Nova Humanidade na medida em que o amor seja a dinâmica que move as nossas vidas:

“Quem ama o seu irmão permanece na luz e na luz caminha” (1 Jo 2, 10). A nossa comunhão com Deus é proporcional à nossa comunhão com os irmãos.

A Nova Criação é a Humanidade restaurada por Cristo ressuscitado. Depois de ter afirmado que veio para fazer a vontade do Pai, Jesus acrescentou:

“A vontade de meu Pai é que nenhum destes pequeninos se perca” (Mt 18, 14).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

03 julho, 2009

A PESSOA HUMANA COMO SER ESPIRITUAL


A pessoa humana é um ser a emergir, tanto a nível somático, como psíquico ou espiritual.

O amor é o dinamismo fecundo que faz emergir a interioridade espiritual do ser humano. Isto quer dizer que na pessoa humana nada está acabado.

Assim, por exemplo, não existem almas que entram no interior dos corpos humanos como realidades feitas e acabadas.

A nível interior, a pessoa é uma realidade espiritual a emergir como ser livre, consciente, responsável e capaz de amar.

O ser humano nasce hominizado, mas não humanizado. A humanização é a vocação fundamental de todos os seres humanos.

O Espírito Santo é o grande facilitador deste processo de humanização, convidando-nos a agir em harmonia com as propostas do amor.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

A plenitude da humanização é a divinização. As pessoas que precederam Jesus Cristo na história atingiram a plenitude da divinização no momento preciso da sua morte e ressurreição.

Nesse momento abriram-se as portas dos Paraíso, disse Jesus ao Bom Ladrão (Lc 23, 43). Nesse momento os túmulos começam a abrir-se e os justos começam a ressuscitar (Mt 27, 52-53).

Nesse momento, os pagãos começam a reconhecer Jesus como salvador: O Centurião reconhece que Jesus é o Messias, o Filho de Deus (Mt 27, 54).

Nesse momento sai sangue e água do coração de Cristo, isto é, o Espírito Santo que se difunde pela Humanidade (Jo 19, 34)

Nesse momento o véu do templo rasga-se de alto a baixo, pondo fim aos cultos inúteis do judaísmo e abrindo o acesso à comunhão directa com Deus no coração das pessoas.

Nesse momento, o coração do homem torna-se templo do Espírito Santo (1 Cor 3, 16).

Nesse momento o Espírito Santo passa a actuar como o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Nesse momento Jesus vai à morada dos mortos, a fim de lhes comunicar a força ressuscitadora do Espírito Santo e incorporando-nos na comunhão universal da Família de Deus (1 Ped 3, 19-20).

Nesse momento, os que viveram antes de Cristo entram na plenitude da comunhão com Deus.

Isto não significa que tenham mudado de lugar, mas antes que atingiram uma nova densidade espiritual, pois foram optimizados pelo Espírito de Cristo ressuscitado.



São Paulo diz que o nosso coração é templo do Espírito Santo: “Nós é que somos o templo do Deus vivo, como disse o próprio Deus: "Habitarei e caminharei no meio deles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Cor 6, 16).

Na primeira Carta aos Coríntios São Paulo também desenvolve esta ideia quando afirma: “Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (…). O templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 16-17).


Isto quer dizer que é a partir do nosso íntimo que se constitui a união orgânica que nos incorpora na Família de Deus:


“Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que está em vós e que recebestes de Deus? “ (1 Cor 6, 19).

“Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 16-17).

A Humanidade está entretecida com Jesus, homem perfeito e, através dele, faz uma união interactiva e fecunda com a comunhão familiar da Trindade Divina.


O livro do Apocalipse descreve a comunhão orgânica do Homem afirmando: “E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia:

“Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com os homens e eles serão o seu povo.
O mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos e não haverá mais morte nem pranto nem dor”. (Apc 21, 3-4).

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias