14 julho, 2008

REINO DE DAVID E A SEGUNDA VINDA DE CRISTO-I

I-JESUS E O REINO DE DAVID

O messianismo bíblico nasceu com a expectativa de um rei glorioso que viria restaurar o reino de David seu pai (2Sam 7, 12-16).

Os profetas associam normalmente a vinda do Messias com a casa de David. O Messias pertence à casa de David (Is 9, 9; 11, 1; Miq 5, 1-3; Jer 23, 5; 33, 17).

São Paulo está na linha da teologia dos profetas. Eis a razão pela qual ele diz expressamente que Jesus é o descendente de David segundo a carne (Rm 1, 3).

Os discípulos acompanhavam Jesus convencidos de estar a seguir o futuro rei de Israel (Mc 10, 35-43).

Após a experiência pascal, continuam a fazer uma leitura davídica da realeza de Jesus.
Enquanto acompanhavam com Jesus, os discípulos pensavam que Jesus subiria ao trono durante a Sua vida terrena.

Alguns fazem mesmo pedidos a Jesus no sentido de ocuparem os primeiros lugares na corte messiânica (Mc 10, 35s).

Antes da Páscoa, os discípulos falavam de Jesus como o Messias, o descendente de David cuja entronização era preciso preparar.

Era esta perspectiva que Jesus rejeitava (Mt 16, 22-23). Por outras palavras, a visão que Jesus tinha da sua missão e a visão dos discípulos não correspondi.

Por isso Jesus chama Satanás a Pedro, pois este só entende estas coisas segundo a visão terrena dos judeus (Mt 16, 23).

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Calmeiro Matias

REINO DE DAVID E A SEGUNDA VINDA DE CRISTO-II

II-O SONHO DOS DISCÍPULOS

A visão que os discípulos tinham na cabeça correspondia à visão do profeta Jeremias quando escreveu:

“ Naqueles dias, a casa de Judá unir-se-á à de Israel. Virão juntamente para a terra que dei em herança a vossos pais» (Jer 3, 18).

Esta profecia de Jeremias referia-se à junção das doze tribos, condição fundamental para acontecer a restauração do reino de David.

Agora podemos compreender a razão pela qual Jesus escolheu os doze Apóstolos. Depois da Páscoa, os discípulos começam a anunciar a segunda vinda de Jesus como rei messiânico.

O dia da sua vinda como rei e juiz será um dia de tragédia para os que O rejeitaram (Lc 19, 27).
Os sumos-sacerdotes hão-de ver o dia do Filho do Homem.

Ele surgirá sentado vindo da direita do poder de Deus, isto é, como rei, vindo sobre as nuvens do céu (Mt 26, 64).

Jesus anuncia o Reino de Deus, o qual tem como alicerce o dom do Espírito Santo e a filiação divina dos seres humanos.

Jesus declara-se Messias, até pelo facto de chamar a Deus seu Pai, pois o Messias seria filho de Deus (2 Sam 7, 12-16).

Apesar do símbolo doa Doze Apóstolos e de chamar Pai a Deus, Jesus nunca se autoproclamou Messias davídico.

É este o significado da rejeição duríssimo por parte de Jesus em relação a Pedro (Mt 16, 22-23).
No entanto, esta era a maneira de os discípulos entenderem a missão messiânica de Jesus.

Os reis davídicos eram filhos de Deus Isto quer dizer que exerciam o poder real em nome de Deus (Sal 89, 21-27).

A unção e coroação do rei era feita no Templo e era considerada uma celebração litúrgica de primeira grandeza.

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Calmeiro Matias

REINO DE DAVID E A SEGUNDA VINDA DE CRISTO-III

III-O MESSIAS COMO PESSOA SAGRADA

A partir do momento da coroação o filho de David passava a ser filho de Deus, diz o salmo dois (Sal 2, 6-7).

Por outras palavras, a unção real fazia do rei uma pessoa sagrada: “Deus me guarde de jamais cometer este crime, estendendo a mão contra o ungido do meu Senhor. Ele é o consagrado ao Senhor” (1Sam 24, 7).

Após a unção real, o Espírito do Senhor apoderava-se do ungido tal como aconteceu com Saul (1Sam 10, 9-10) e David (1Sam 16, 13).

Atentar contra o ungido do Senhor é atrair a ira de Deus (1Sam 26, 9). Segundo a teologia da unção real, o rei recebia directamente o poder através da unção sagrada:

“Encontrei David, meu servo, e com óleo sagrado o ungi (...). Ele invocar-me-á: Vós, meu pai, meu Deus e rochedo da minha salvação” (Sal 89, 21; 27).

Deus é o único que é verdadeiramente rei e Senhor. Os reis davídicos exercem a sua missão em nome de Deus.

Esse poder é-lhe conferido pelo Senhor mediante a unção e a entronização. O rei deve ser fiel à Aliança de Deus, pois só a Deus pertence a realeza (Is 52, 7).

Segundo o profeta Zacarias a missão do rei é implantar a paz universal. A grandeza do rei messiânico radica na sua humildade e dedicação à causa da paz:

“Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém. Eis que o teu rei vem a ti.

Ele é justo, vitorioso e humilde. Monta um jumento, filho de uma jumenta. Destruirá os carros de guerra e os cavalos de Jerusalém.

O arco de guerra será quebrado. Ele proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar a outro e do rio às extremidades da terra (Zac 9, 9-10).

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Calmeiro Matias

REINO DE DAVID E A SEGUNDA VINDA DE CRISTO-IV

IV-A VINDA DE JESUS COMO REI MESSIÂNICO

A cena da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém é nitidamente uma encenação do Novo Testamento para dizer que Ele é o Messias.

Jesus é o descendente de David, o Messias prometido, o rei de Israel (Mt 21, 1-10). Ao elaborar o relato da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, o evangelho de São Mateus cita a profecia de Zacarias que fala do rei humilde que monta o jumentinho.

Com Este modo de proceder, São Mateus quer sublinhar que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas (Mt 21, 4-5).

Após a experiência pascal, os discípulos anunciam que Jesus é o rei messiânico entronizado no Céu à direita de Deus (Act 2, 32-34).

A missão messiânica de Jesus tem um alcance universal. Entronizado como Messias, ele vai julgar o universo, dizem os Actos dos Apóstolos:

“Deus fixou um dia em que julgará o Universo com justiça por intermédio de um homem que ele determinou” (Act 17, 31a).

O tempo intermédio entre a ressurreição e a segunda vinda de Jesus é um tempo de refrigério, de perdão incondicional (Act 3, 20).

Os judeus devem arrepender-se, dizem o Actos dos Apóstolos. O povo preparado pelos profetas para acolher o Messias, acabou por rejeitá-lo.

Rejeitam o enviado de Deus, matando-o, embora tenham agido sobretudo por ignorância (Act 3, 17).

É importante que aproveitam agora o tempo de refrigério que Deus lhes concede, aceitando o perdão que lhes está a ser oferecido (Act 3, 19).

Devido às aparições do Senhor ressuscitado, os discípulos são testemunhas da messianidade de Jesus:

“Saiba toda a casa de Israel com toda a certeza que Deus estabeleceu como Senhor e Messias esse Jesus por vós crucificado” (Act 2, 34-36).

Ele é o Salvador prometido, o libertador de Israel: “Suscitou-nos um poderoso salvador na casa de David, seu servo.

Realizou o que tinha dito pela boca dos santos profetas de outrora” (Lc 1, 69-70). No Templo, as crianças proclamaram Jesus como Filho de David (Mt 21, 15).

A razão da primeira vinda de Jesus, foi o perdão e a filiação divina. O tempo intermédio é o ano da graça do Senhor (Lc 4, 19).

A segunda vinda é o dia da vingança. Só os que aceitarem Jesus escaparão à ira que está para chegar (1Tess 1, 10).

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Calmeiro Matias

REINO DE DAVID E A SEGUNDA VINDA DE CRISTO-V

V-SEGUNDA VINDA DE CRISTO E SALVAÇÃO

Quando mais a missão messiânica de Cristo se desvinculava da ideia do Reino de David, mais a segunda vinda de Cristo é visto como um acontecimento salvador.

Para a Carta aos Hebreus a razão decisiva da segunda vinda de Cristo é conduzir os eleitos para a salvação.

O Senhor vai vir para salvar, não para condenar: “Está determinado que os homens morram uma só vez. A seguir, vem o juízo.

Assim também Cristo se ofereceu uma só vez pelo perdão dos pecados de muitos. Aparecerá uma segunda vez àqueles que o esperam, não por causa do pecado, mas para lhes dar a salvação” (Heb 9, 27-28).

Uma vez que o pecado foi perdoado em Jesus ressuscitado, já não há necessidade de oferecer ritos e sacrifícios pelo perdão do pecado:

“Onde há remissão dos pecados já não há necessidade de oferenda pelos pecados” (Heb 10, 18).
Depois acrescenta: “Os sacrifícios, as ofertas e os holocaustos pelo pecado não te agradaram” (...).

Disse em seguida: “Eis que venho para fazer a Tua vontade”. Aboliu assim o primeiro culto para estabelecer o segundo” (Heb 10, 8-9).

O pecado que conduz à destruição final é a recusa em viver segundo a dinâmica comunitária da fraternidade e comunhão para a qual o Espírito santo nos conduz.

O evangelho de São João vê a segunda vinda de Cristo exclusivamente para salvação da Humanidade.

O juízo e a condenação estão a acontecer agora no coração das pessoas pela acção do Espírito Santo.

Após a Sua glorificação, Jesus torna-se a fonte da vida e da ressurreição: “O Pai tem a vida em si mesmo. Do mesmo modo concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo.

E deu-lhe o poder de julgar por ser o Filho do Homem (...). Vai chegar a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a Sua voz.

Os que tiverem praticado boas obras ressuscitarão para a vida. Os que tiverem praticado o mal ressuscitarão para a condenação.

Eu nada faço por mim mesmo. Conforme oiço é que julgo, e o meu juízo é justo porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou” (Jo 5, 26-30).

O juízo realizado é o reconhecimento da verdade e da fidelidade de Deus. Este reconhecimento é realizado em nós pelo Espírito Santo:

“Convém-vos que eu vá. Se eu não for, o Consolador (Paráclito) não virá a vós. Se eu for, enviar-vo-lo-ei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16, 7).

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Calmeiro Matias

12 julho, 2008

A NOVA JERUSALÉM NO LIVRO DO APOCALIPSE-I

I-A CRIAÇÃO DE UM MUNDO NOVO

Segundo o esquema milenarista do Apocalipse, a ressurreição dos maus dá-se apenas após o reino messiânico dos mil anos.

A ressurreição dos maus coincide com a libertação momentânea de Satanás. Em seguida dá-se a batalha final entre os bons e os maus, cujos vencedores é Jesus Cristo e os eleitos.

Satanás, a besta e os maus são finalmente condenados e laçados ao lago do enxofre ardente.
O reino messiânico da terra termina com esta luta.

Surge então a Nova Jerusalém, isto é, a família de Deus constituída por um povo de reis e sacerdotes.

A nova Jerusalém é elevada ao céu onde permanecerá eternamente. Surge assim um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra desapareceram. O mar já não existe (Apc 21, 1).

A nova Jerusalém não foi edificada pelos homens, mas pelo Espírito de Deus. Desceu do céu. É bela. Parece uma esposa adornada e preparada para receber o seu esposo (Apc 21, 2).

A Nova Jerusalém é o Reino dos Céus. Deus habitará com os seres humanos que formam o seu Povo.

Estes serão os filhos de Deus com os quais o Senhor Deus habitará para sempre (Apc 21, 3). A partir de agora não haverá mais dor, nem sofrimento, nem pranto, pois Deus enxuga as lágrimas dos olhos dos Seus filhos.

Está inaugurado o Mundo Novo. As primeiras coisas passaram (Apc 21, 4). A todos os que reinam consigo dá a beber a água viva, isto é o Espírito Santo (Apc 21, 6).

O evangelho de São João diz que esta Agua Viva seria dada por Jesus no momento da sua ressurreição (Jo 7, 37-39).

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Calmeiro Matias

A NOVA JERUSALÉM NO LIVRO DO APOCALIPSE-II

II- A REALEZA UNIVERSAL DE CRISTO

Para o Apocalipse a glorificação de Jesus acontece ao assumir a realeza universal. O Cristo do Apocalipse é realmente o “Pantocrator”, isto é, o Rei do Universo.

O Alicerce da Nova Jerusalém é o resto fiel dos justos do Antigo e do Novo Testamento. A cidade tem doze portas. Em cada porta está escrito o nome de uma das doze tribos de Israel (Apc 21, 12).

As muralhas da cidade estão assentes sobre doze colunas. Cada uma destas colunas está marcada com o nome de um dos doze Apóstolos (Apc 21, 14).

A teologia do Apocalipse é marcadamente judaica. Está na linha da teologia do evangelho de São João segundo a qual a salvação vem dos judeus (Jo 4, 22).

A teologia do Apocalipse tem subjacente a profecia de Natã a David (2 Sam 7, 12-16). Segundo o profeta Natã, o descendente de David devia construir um templo para Deus (2Sam 7, 13).

No Livro do Apocalipse, Jesus aparece como o prometido a David que constrói o templo que Deus quer, isto é, a comunhão com Deus.

Já o evangelho de São João acentuava que o templo, o culto e os adoradores que Deus quer, situam-se no nível pneumático.

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Calmeiro Matias

A NOVA JERUSALÉM NO LIVRO DO APOCALIPSE-III

III-A MORADA DE DEUS COM OS ELETOS

O lugar não o elemento decisivo (Jo 4, 21). É em Espírito e verdade que Deus que ser adorado pelos seus adoradores (Jo 4, 23-24).

O novo culto supõe um novo templo. Segundo a teologia joanina, o novo templo é Cristo ressuscitado.

Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João: “Jesus respondeu: destruí este santuário e eu reedificá-lo-ei em três dias (...).

Jesus falava do santuário do Seu Corpo. Por isso, quando ressuscitou dos mortos, os discípulos recordaram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra que Jesus dissera” (Jo 2, 19-22).

A nova Jerusalém tem as medidas do novo templo anunciado pelo Apocalipse de Ezequiel (Ez 41, 21; 42, 16; 45, 2; 48, 16).

A nova Jerusalém é a cidade dos ressuscitados, tal como o profeta Ezequiel tinha visto nos seus sonhos (Apc 21, 16).

É este o templo para onde acorrem as riquezas fabulosas segundo a visão do profeta Zacarias a respeito da Jerusalém messiânica (Apc 21, 18-21; cf. Zac 2, 4-8).

O templo do Senhor é a comunhão dos seus eleitos. Deus habita no coração dos eleitos. A nova Jerusalém não tem templo algum, pois Deus habita no meio dos seus eleitos que formam o templo de Deus e do Cordeiro (Apc 21, 22).

Todos têm acesso ao Senhor e comungam directamente com Ele. A Primeira Carta de São Pedro diz que os crentes são as pedras vivas do templo do Senhor (1Ped 2, 5).

Do mesmo modo, São Paulo diz que a comunidade cristã é o templo do Senhor: “Nós somos o templo do Deus vivo, diz o próprio Deus:

Habitarei e andarei entre eles. Serei o seu Deus e eles serão o Meu povo (...). Serei para vós um Pai e vós sereis para mim filhos e filhas» (2Cor 6, 16-18).

Os crentes são o templo de Deus porque Cristo lhes comunicou o Espírito Santo. É por esta razão que os crentes já não se pertencem a si (1Cor 6, 19).

Por outras palavras, a Nova Jerusalém é a comunhão dos salvos com Deus no Espírito Santo.
Já não existe o Sol nem a Lua na Nova Jerusalém.

Na morada dos eleitos, isto é, na Nova Jerusalém, a iluminação é a glória de Deus. Tudo se fez novo.

Na Nova Jerusalém já não há noite. Deus está permanentemente no meio dos seus eleitos.
Por isso o dia é permanentemente dia (Apc 21, 25).

Apenas os que estão inscritos no Livro da Vida que o Cordeiro possui, têm morada na Nova Jerusalém (Apc 21, 27).

O Pai e o Cordeiro são a nascente do rio da vida, isto é, o Espírito Santo. Este rio é resplandecente como o cristal (Apc 22, 1).

Os seus habitantes reinarão pelos séculos dos séculos (Apc 22, 5). Ninguém é mais que os outros. Todos são irmãos, quer se trate dos anjos, dos santos ou dos profetas (Apc 22, 9).

O que tiver sede venha e beba gratuitamente a água da vida (Apc 22, 17; cf. Jo 7, 37). Os crentes devem consolar-se e animar-se uns aos outros, diz o Livro do apocalipse, pois estas coisas estão próximas.

Animados pelo Espírito Santo, os eleitos gritam: “Ámen! Vem, Senhor Jesus” (Apc 22, 20b).
Trata-se de uma fórmula litúrgica usada pelas comunidades primitivas que revela bem a expectativa da Segunda vinda de Cristo nestas comunidades.

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Calmeiro Matias

10 julho, 2008

APOCALIPSE E O REINO DOS MIL ANOS-I

I-REINO MESSIÂNICO E RESTAURAÇÃO DO PARAÍSO

Entronizado no Céu como Messias, Jesus vai voltar de novo, a fim de instaurar sobre a terra o reino messiânico.

Segundo a simbologia do Livro do Apocalipse, o reino messiânico sobre a terra será a restauração do paraíso terrestre destruído pela inveja de Satanás (Gn 3, 1-5).

O novo paraíso terrestre durará mil anos, tempo este em que Satanás estará acorrentado.
Os maus estarão todos mortos, devido à destruição da vida sobre a terra.

Esta destruição não é mais que uma purificação operada pelo fogo. Nos apocalipses do novo Testamento a segunda vinda de Jesus tem como finalidade a restauração do reino de David.

O Apocalipse acrescenta ainda esta novidade de entender o reino messiânico como a restauração do Paraíso primordial.

Segundo o Livro do Génesis, o Paraíso foi fechado devido ao pecado de Eva que se deixou seduzir pela serpente (Gn 3, 22-24).

O Livro do Apocalipse diz que o Paraíso foi fechado devido às ciladas do antigo dragão que conduziu Eva à perdição.

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Calmeiro Matias

APOCALIPSE E O REINO DOS MIL ANOS-II


II-O MILENARISMO NO APOCALIPSE

Durante os mil anos de duração do reino messiânico, Satanás está amarrado, a fim de não voltar a fazer o que fez com Eva.

Ao fim dos mil anos, Satanás será solto por algum tempo (Apc 20, 2). Cristo e os eleitos tomarão parte no reino messiânico e todos reinarão com Cristo durante os mil anos (Apc 20, 4).

Entretanto os discípulos, sentados em tronos, recebem o poder de julgar (Apc 20, 4). Por seu lado, os maus que foram destruídos pelos flagelos purificadores que precederam a vinda de Cristo, permanecerão na morte durante estes mil anos.

Com a vinda de Cristo só os justos ressuscitam, a fim de tomarem parte no reino de Cristo (Apc 20, 5).

Os pecadores vivos serão mortos. Os pecadores vivos serão todos mortos e são destruídos. O milenarismo é uma elaboração feita a partir de uma leitura deturpada dos apocalipses anteriores.

Em primeiro lugar faz uma interpretação incorrecta da passagem da Segunda Carta de São Pedro, segundo a qual um dia para Deus é como mil anos (2Ped 3, 8).

O autor da Carta de Pedro está a citar o Salmo 89, 4 onde se fala da eternidade de Deus e da brevidade da vida humana.

Citando o salmo, o autor desta carta pretende animar os cristãos dizendo-lhes que, se a vinda de Cristo está a tardar mais do que se imaginava isso deve-se à misericórdia de Deus.

Com esta demora, Deus quer dar mais tempo aos pecadores para que se possam arrepender (2Ped 3, 9).

Mas o dia do Senhor vai chegar como um ladrão, para frisar que o Senhor virá de surpresa (2Ped 3, 10).

Pegando neste texto o Apocalipse interpreta a expressão de um dia igual a mil anos, como uma afirmação sobre o tempo em que duraria o reino messiânico.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

APOCALIPSE E O REINO DOS MIL ANOS-III

III-OS NOVOS CÉUS E A NOVA TERRA

O profeta Isaías falava de novos céus e uma nova terra (Is 65, 17). O Apocalipse diz Deus vai criar novos céu e um nova terra quando se der a segunda vinda de Cristo.

No reino messiânico os justos formam o conjunto dos convidados das bodas do cordeiro (Apc 19, 6-9).

Os adornos da esposa do cordeiro são as virtudes dos santos (Apc 19, 8). Todos os habitantes do reino messiânico estão marcados pela testemunha de Jesus, isto é, o Espírito Santo (Apc 19, 10; cf. Act 5, 32).

O Apocalipse fala de uma segunda morte. Trata-se de uma referência à condenação. A segunda morte não terá qualquer poder sobre os justos.

Passados os mil anos, os justos julgarão os pecadores juntamente com Cristo. “Chegou o momento de começar o julgamento pela casa de Deus. Refere-se aos sofrimentos dos mártires e às perseguições dos crentes.

Se o julgamento começa por nós, qual será a sorte dos que não obedecem ao Evangelho? E se o justo a custo se salva (dificuldade das perseguições), que será do ímpio e do pecador?

Os que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas vidas ao criador fiel, praticando o bem” (1Ped 4, 17-19).

Segundo o Apocalipse, os justos que participam do reino messiânico são numerosos como as areias do mar (Apc 20, 9a).

Realiza-se assim a Aliança que Deus fizera com Abraão: “Abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e a areia das praias do mar.

Todas as nações na terra serão abençoadas na tua descendência” (Gn 22, 17-18).

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Calmeiro Matias

APOCALIPSE E O REINO DOS MIL ANOS-IV


IV-A LUTA FINAL

Após os mil anos do Reino messiânico, o Demónio é solto e dar-se-á a segunda ressurreição.
Trata-se da ressurreição dos que vão ser condenados, pois os justos já tinham ressuscitado no dia da vinda de Cristo.

Após a segunda ressurreição cai fogo do céu e devora os pecadores (Apc 20, 9b). Satanás é lançado no fogo de enxofre onde será atormentado em conjunto com a besta e o falso profeta (Apc 20, 10).

A multidão dos pecadores cujos nomes não estavam escritos no Livro da Vida são julgados e lançados neste fogo que constitui a segunda morte (Apc 20, 11-15).

Inspirando-se nesta encenação trágica, a Idade Média vai elaborar as terríveis imagens do Inferno que chegaram até nós.

É a partir desta teologia trágica que a Idade Média vai elaborar o terrível canto litúrgico do “Dies irae”.

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Calmeiro Matias

08 julho, 2008

APOCALIPSE E A SUBIDA DE CRISTO AO TRONO-I

I-A VISÃO DO APOCALIPSE

O autor do Apocalipse não é o mesmo que escreveu o evangelho de São João. Isto é evidente sobretudo porque o autor do Livro do Apocalipse tem uma visão apocalíptica e milenarista que de modo algum existe no evangelho de São João.

De facto, a segunda vinda de Cristo tal como é descrita no Apocalipse nada tem a ver com a visão do juízo e da justiça realizada pelo Espírito Santo do evangelho de São João.

No entanto, os dois escritos pertencem à escola teológica de São João. O Apocalipse é uma síntese genial dos apocalipses do Antigo e do Novo Testamento.

O autor parece ter tido a preocupação de fazer um apanhado total dos apocalipses bíblicos e com eles fazer o cenário da Segunda Vinda de Cristo e da plenitude do Reino de Deus ou Nova Jerusalém.

É por esta razão que o livro não traz grandes novidades em relação aos diversos apocalipses do Antigo e do Novo Testamento, excepto o facto de os aplicar de modo genial ao mistério de Cristo.

O Apocalipse pertence a uma fase tardia dos tempos apostólicos. É por esta razão que utiliza a maior parte dos relatos do Novo Testamento.

Utiliza alguns acontecimentos eclesiais anteriores como prenúncios da iminente vinda do Filho do Homem.

O Livro do Apocalipse tem a intenção de consolar e dar força aos crentes, pois muitos deles estão a ser vítimas de perseguições felizes.

É por esta razão que ele é tão duro para com os grandes inimigos da fé.

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Calmeiro Matias

APOCALIPSE E A SUBIDA DE CRISTO AO TRONO-II


II-A VINDA DO SENHOR E O RESTO FIEL

O Livro do Apocalipse convida os crentes a ser fortes e corajosos, pois o Senhor vai chegar muito em breve.

O dia do Filho do Homem é o dia da ira anunciado pelos profetas como o dia da tragédia universal.

Só o resto fiel, isto é, o conjunto dos eleitos escapará à destruição definitiva. As condições essenciais para a vinda do Senhor estão criadas, pois o sangue dos mártires clama por vingança urgente.

Embora não pertença ao mesmo autor do quarto evangelho, o Livro do Apocalipse já tem uma visão preexistente do Filho de Deus.

Por outras palavras, Jesus Cristo é o Verbo Incarnado, o cordeiro, o princípio e o fim. Estes elementos confirmam que o Livro do Apocalipse é tardio, mesmo posterior ao quarto evangelho.

O autor interliga os dados apocalípticos do Antigo e do Novo Testamento. Podemos dizer que o Livro do Apocalipse é um apocalipse de apocalipses.

O autor faz convergir todo o seu trabalho para o reino messiânico.O autor tem uma visão milenarista, o que o leva a imaginar que o Reino Cristo sobre a terra durará mil anos.

A vitória final de Cristo acontecerá no fim dos mil ano. Só o resto fiel escapará à tragédia da destruição final.

O autor aplica à segunda vinda de Cristo os apocalipses dos profetas (cf. Is 10, 21; 8, 11-13; Am 3, 12; 9, 8-10; Jer 23, 3-6; Miq 2, 12-13; Zac 3, 8; Rm 9, 19; 9, 27-29).

A salvação de Deus não é apenas para o resto dos justos que ainda vivam quando o Senhor vier.
Segundo o Livro do Apocalipse o resto fiel é constituído por todos os justos do povo bíblico.

Segundo o simbolismo dos números utilizado pelo Apocalipse, o número dos que escaparão à destruição final é cento e quarenta e quatro mil, um múltiplo de doze para significar as doze tribos.

Os cento e quarenta e quatro mil significam o resto fiel, o qual é constituído por hebreus pertencentes às doze tribos de Israel.

O resto fiel é a mediação de que Deus se serve para salvar a multidão dos pagãos. Os Doze Apóstolos também tinham um valor simbólico para Cristo, pois significavam as doze tribos reunificadas, a fim de formar o Reino de David.

O resto fiel de Israel, portanto, é uma mediação para Deus poder realizar a salvação universal da Humanidade.

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Calmeiro Matias

APOCALIPSE E A SUBIDA DE CRISTO AO TRONO-III

III-JESUS CRISTO COMO REI UNIVERSAL

O Messias é o Filho do Homem, isto é, o rei entronizado no Céu ao qual foi concedido uma soberania Universal, como diz o profeta Daniel (Dan 7, 12s)

Jesus Cristo foi constituído como rei Messiânico entronizado ao subir para junto de Deus. Foi este Jesus que, através de uma revelação (Apocalipse), mostrou a João que o dia do juízo está próximo (Apc 1, 1).

João escreve esta revelação para animar e consolar os justos que estão em sofrimento: Estes justos formam um povo eleito no qual todos são sacerdotes e reis (Apc 1, 5-6; cf. 2Ped 2, 9; Ex 19, 6).

O dia do Senhor está iminente (Apc 1, 3). O Messias vai chegar sobre as nuvens do céu. Todos os povos O verão, incluindo aqueles que o trespassaram (Apc 1, 7; cf. Mt 24, 30; Zac 12, 10).

Jesus, entronizado no Céu como Filho do Homem, conheceu a morte, mas agora vive por todos os séculos.

Tem domínio sobre a morte e o “Sheol”, isto é, a morada dos mortos (Apc 1, 18). O Senhor quer consolar os que sofrem pelo nome de Jesus e por isso lhes garante que ele vai chegar em breve (Apc 2, 3).

Os que decaíram no fervor devem reanimá-lo, pois o dia está próximo (Apc 2, 4-5). Os que são perseguidos pelos judeus animem-se. Deus vai julgar esses falsos hebreus que formam a Sinagoga de Satanás (Apc 2, 9).

Paulo argumenta que os verdadeiros judeus, filhos de Abraão, não são os que circuncidam o prepúcio.

Judeu diz ele, é aquele que o é no interior. A verdadeira circuncisão é a do coração, segundo o Espírito e não segundo a letra.

O seu louvor não vem dos homens, mas de Deus (Rm 2, 29).
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Calmeiro Matias

APOCALIPSE E A SUBIDA DE CRISTO AO TRONO-IV

IV-A POSSE DA VIDA ETERNA

O autor do Apocalipse garante a todo aquele que vencer no meio das presentes tribulações que vão receber das mãos do Senhor o fruto da Árvore da Vida, quando o Paraíso for reaberto (Apc 2, 7).

Uma vez restabelecido, o Paraíso terrestre será o reino terrestre do Messias, o qual durará mil anos.

O que come do fruto da Árvore da Vida não experimentará a segunda morte (Apc 2, 11). Este comerá o verdadeiro maná e será marcado com um nome novo para habitar na cidade celeste de Deus: a nova Jerusalém (Apc 2, 17).

Mas isto só é concedido aos que se afastam da heresia (Apc 2, 14-15). Os cristãos de Tiatira estão fora do caminho da salvação, pois praticam ritos pagãos, entre os quais a prostituição sagrada, convivendo com uma falsa profetisa (Apc 2, 20).

Estes cristãos, se não se converterem, sofrerão a ira. Só o que vencer no meio das tribulações tomará parte no poder real do Messias.

Os que permanecerem fiéis exercerão o poder sobre todas as nações (Apc 2, 26). Como rei messiânico, Jesus exercerá as funções de juiz supremo, pois tem a chave de David (Apc 3, 7).

Os vencedores são as colunas do templo de Deus e as pedras vivas da nova cidade de Jerusalém (Apc 3, 12; cf. 1Ped 2, 5).

Assim como Jesus, vencendo, se sentou no trono do pai, os que vencerem sentar-se-ão no trono de Jesus (Apc 3, 21).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

05 julho, 2008

A NOSSA IDENTIDADE NO REINO DE DEUS-I

I-OS RESSUSCITADOS COMO SERES ESPIRITUAIS

A ressurreição não é uma restauração biológica, pois os ressuscitados não voltam ao estado em que se encontravam antes de morrer.

Mas a identidade espiritual da pessoa permanece a mesma na Comunhão Universal do Reino de Deus.

Por identidade espiritual devemos entender o jeito de a pessoa amar e se relacionar com os outros.

Isto quer dizer que a ressurreição é um acontecimento de ordem espiritual e não uma restauração biológica.

Os evangelhos insistem em que a nossa identidade profunda, por ser espiritual, permanecerá a mesma na comunhão do Reino de Deus.

Ao mesmo tempo insistem que a pessoa humana, após a ressurreição, permanece como grandeza de ordem meramente espiritual.

Eis o que Jesus disse aos saduceus, isto é, a um grupo de homens ligado a um movimento que religioso que não acreditava na ressurreição:

“Acerca da ressurreição estais enganados, pois desconheceis as Escrituras e o poder de Deus.
Na ressurreição nem os homens terão mulheres, nem as mulheres, maridos.

Serão como anjos no Céu” (Mt 22, 29-30). Com esta forma de falar, Jesus queria dizer que, na Comunhão dos ressuscitados em Cristo, a condição das pessoas é puramente espiritual.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A NOSSA IDENTIDADE NO REINO DE DEUS-II

II-A EMERGÊNCIA DO HOMEM ESPIRITUAL

O ser humano começa por ser uma realidade de ordem meramente biologia, isto é, um ovo. O nosso ser espiritual é uma realidade a emergir no nosso íntimo como o pintainho vai emergindo dentro do ovo.

Na verdade, começamos por ser um corpo terreno, diz São Paulo, mas ressuscitamos como corpo espiritual (1 Cor 15, 44). São Paulo faz esta afirmação referindo-se tanto à realidade de Jesus ressuscitado como à nossa.

Na verdade, a nossa condição é a mesma de Jesus, pois a nossa ressurreição acontece pelo facto
de fazermos uma união orgânica com Cristo ressuscitado.

Ele é a cabeça de um corpo, do qual nós somos os membros, diz São Paulo (1 Cor 10, 17; 12, 27).
O evangelho de São João diz que nós somos os ramos da videira da qual Jesus é a cepa (Jo 15, 1-8).

Jesus desenvolve este exemplo, dizendo que os ramos apenas viver e dar fruto se estiverem unidos à videira (Jo 15, 4-5).

Ao falar do corpo dos ressuscitados, a fé afirma que o corpo dos ressuscitados não é uma realidade física, mas sim uma realidade espiritual.

Isto significa que a nossa identidade no Céu coincide com o nosso jeito de amar e comungar com os irmãos.

De facto, no Reino de Deus todos os eleitos dançam o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito que foi adquirindo na história.

Este jeito de dançar o ritmo do amor foi treinado e adquirido através da nossa marcha na história.

No Reino de Deus os seres humanos só encontram a sua plenitude de pessoas realizadas e felizes na comunhão com os outros.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A NOSSA IDENTIDADE NO REINO DE DEUS-III

III-UNIDOS ORGANICAMNETE A CRISTO

Como acabámos de ver, só na comunhão nos podemos sentir realizados e felizes. A solidão asfixia a pessoa, bloqueando todas as suas possibilidades de felicidade.

Por outras palavras, fora da comunhão, a pessoa não se possui nem conhece plenamente. O ser humano está talhado para a relação. Somos imagem de Deus que é uma comunhão de três pessoas.

Eis a razão pela qual a pessoa só se possui plenamente dando-se. O sangue que alimenta a vida e a nossa união dos membros do Corpo com a sua cabeça é o Espírito Santo.

O Espírito Santo é, na verdade, o sangue da Nova Aliança. Ele é a seiva que vem da cepa, fortalecendo e tornando fecundos os ramos da videira que somos nós.

Como diz o evangelho de João, o Espírito Santo é a Água Viva que faz jorrar rios de Vida Eterna no nosso coração (Jo 4, 14; 7, 37-39).

A comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, na Eucaristia, tem a ver com o Espírito Santo.
Na verdade, diz o evangelho de São João, não se trata de uma realidade biológica (células ou hemoglobina), mas sim do Espírito Santo.

Eis as palavras do evangelho de São João: “O Espírito é que dá vida. A carne não serve para nada. As palavras que vos disse são Espírito e Vida” (Jo 6, 63).

A carne e o sangue, diz São Paulo, não podem participar no Reino de Deus (1 Cor 15, 51). A nossa realidade interior é espiritual. Mas é histórica, pois emerge de modo gradual e progressivo no nosso interior.

Na base da nossa realização pessoal está uma cadeia enorme de decisões, opções, escolhas, atitudes e realizações orientadas no sentido do amor.

É esta rede de realizações que forma a nossa identidade pessoal, isto é, o nosso jeito de amar e nos relacionarmos com os outros.

É verdade que ninguém se pode realizar sozinho. Mas é igualmente verdade que ninguém nos pode substituir na tarefa da nossa realização pessoal.

Somo realmente seres em construção, tarefa na qual ninguém nos pode substituir. Mas ninguém se pode realizar sozinho, pois o ser humano só pode realizar-se em relações de amor.

Eis a razão pela qual, a pessoa, à medida em que se realiza, se constitui como ser unido e interligado aos demais.

É esta a raiz da união orgânica e dinâmica que liga as pessoas humana umas com as outras. Tal como a Humanidade, também a Divindade é uma união orgânica e dinâmica de três pessoas.

É verdade que os outros são mediações para nos realizarmos, mas não podem programar nem executar a nossa realização.

Nem Deus nos substitui nesta tarefa da nossa realização pessoal, a fim de podermos ser livres, conscientes, responsáveis e termos património pessoal a comungar com os outros.

Deus está sempre connosco, mas não está nunca em nosso lugar. Os outros seres humanos podem favorecer ou condicionar a nossa realização pessoal, mas a última palavra é sempre nossa.
É aqui que radica o fundamento da nossa dignidade pessoal e também a responsabilidade da nossa realização.

Podemos dizer que a nossa realização pessoal é o conteúdo da nossa identidade histórica. Agora já podemos compreender como a nossa realização pessoal é o conteúdo da nossa identidade histórica.

À medida em que se realiza, a pessoa está a edificar-se como um ser livre, consciente, responsável, único, original, irrepetível e capaz de comunhão amorosa.

Resumindo o que acabámos de afirmar podemos dizer que seremos eternamente a pessoa que realizarmos agora na história.

Seremos eternamente aquilo que realizarmos agora na história. Através de Cristo, Deus diviniza o que somos como realização humana.

Mas a humanização é tarefa nossa. Isto quer dizer que será eternamente mais divino quem mais se humanizar na história.

Deus criou-nos inacabados e deu-nos a missão histórica de nos criarmos completando, deste modo, a sua obra.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias



A NOSSA IDENTIDADE NO REINO DE DEUS-IV

IV-ESPÍRITO SANTO E VIDA ETERNA

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos guiando, a fim de nos conduzir nesta tarefa delicada da nossa realização.

Apenas os que bebem a Água Viva que Cristo nos oferece, isto é, o Espírito Santo, participam da plenitude da ressurreição, diz Jesus no evangelho de São João (Jo 4, 21-23; 7, 37-39).

Podemos dizer que Cristo ressuscitado é a Árvore da Vida que estava no centro do Paraíso cujo fruto, o Espírito Santo, nos dá a Vida eterna.

Devido ao pecado de Adão, diz o Livro do Génesis, a Humanidade ficou privada da vida Eterna (Gn 3, 22-24).

Mas Deus que é rico em misericórdia, enviou-nos Cristo como Novo Adão, diz São Paulo (Rm 5, 17-19).

No momento da sua morte e ressurreição, o Novo Adão reabriu-nos as portas do Paraíso e a Humanidade ficou com acesso ao fruto da Vida Eterna.

No momento da sua morte sobre a cruz, Jesus disse ao Bom Ladrão: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

Por outras palavras, o Senhor ressuscitado é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo que ele nos comunica ao ressuscitar:

“No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: “Se alguém tem sede, venha a mim e quem crê em mim que sacie a sua sede!

Como diz a Escritura, hão-de correr rios de Água Viva do seu coração. Jesus disse isto referindo-se ao Espírito santo que iam receber os que acreditassem nele.

Com efeito, o Espírito ainda não tinha vindo, pois Cristo ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 37-39).

O Espírito Santo, diz São Paulo, incorpora-nos na Família de Deus onde somos inseridos como Filhos em relação a Deus Pai e como irmãos em relação a Deus Filho.

É por este Espírito Santo, acrescenta São Paulo, que nós clamamos “Abba”, Ó Pai (Rm 8, 14-16; Ga 4,4-7).

Como vemos, a identidade da pessoa humana, na Comunhão Universal da Família de Deus, não é anulada mas optimizada.

A simples imortalidade não é o centro da Boa Nova trazida por Cristo. No coração do Evangelho está a ressurreição, a qual implica a assunção, ou seja, a incorporação na Comunhão da santíssima Trindade.

À luz da ressurreição, a morte natural é o parto final, isto é, a derradeira possibilidade de nascermos para a plenitude da vida eterna.

Por outras palavras, a morte é o acontecimento que nos possibilita o nascimento total. Nesta perspectiva, o amor surge como a única razão válida para construir a vida.

O amor vale tanto para viver como para morrer. Uma pessoa que morreu para salvar outra não se suicidou. Pelo contrário atingiu a plenitude do amor.

Estamos a tocar um mistério que consiste nisto: a pessoa possui-se, dando-se, pois é dando-se que ela que recebe.

Não basta ser imortal para atingir a plenitude da vida. As pessoas que estão em estado de inferno são imortais, mas não estão na plenitude dos ressuscitados com Cristo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

02 julho, 2008

VIDA ESPIRITUAL E NOVA HUMANIDADE-I

I-VIDA ESPIRITUAL E LIBERDADE

Ninguém é capaz de fazer de nós uma pessoa espiritualmente adulta e comprometida. A maturidade espiritual é uma tarefa cujos agentes principais são a própria pessoa ajudada pela luz a força do Espírito Santo que a habita e trabalha em nós.

No mundo estonteante em que vivemos os critérios de maturidade e sucesso humano estão sufocados por milhares de solicitações e mentiras publicitárias.

Na verdade, os valores essenciais para atingir a maturidade espiritual são bastante ignorados e desconhecidos.

Somos constantemente bombardeados por uma visão superficial da vida e dos acontecimentos que impedem o amadurecimento da vida espiritual.

As relações fraternas são fundamentais para o crescimento espiritual e a maturidade. As pessoas dominadas pelo activismo quase não têm tempo para o silêncio, a oração e a meditação.

No entanto, é na oração e na meditação que a pessoa carrega a bateria para se aproximar dos outros com uma força capaz de gerar comunhão amorosa.

Quando encontra uma pessoa espiritualmente predisposta para a paz e a comunhão, o Espírito Santo começa a actuar nela, a fim iluminar a sua vida com as propostas que a Palavra de Deus nos faz para transformar o mundo em que vivemos.

A razão de isto ser assim é porque uma pessoa é tanto mais livre quanto maior for o seu crescimento e maturidade espiritual.

É verdade que ninguém nos pode tornar livres. Nem o próprio Deus. Mas também é certo que não nos podemos tornar pessoas livres sem os demais e sem a acção do Espírito Santo em nós.

Isto é assim para todas as pessoas, mesmo para aquelas que nem sabem que o Espírito Santo existe.

A liberdade é a capacidade de a pessoa se relacionar de modo fraternal com os outros e interagir criativamente com as situações e os acontecimentos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

VIDA ESPIRITUAL E NOVA HUMANIDADE-II

II-REALIZAÇÃO PESSOAL E LIBERDADE

É importante não confundir liberdade com livre arbítrio. Na verdade o livre arbítrio é a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal.

O livre arbítrio é a capacidade de nos tornarmos livres, mas não é ainda a liberdade. A liberdade emerge na medida em que optamos no sentido das propostas do bem ou do amor.

É em dinâmica de amor que a pessoa emerge e se realiza espiritualmente. De facto, realizar-se como pessoa é emergir como ser livre, consciente, responsável e capaz de amor e comunhão.

A pessoa não se pode tornar livre sem exercitar o livre arbítrio. Mas não basta exercitar o livre arbítrio para o ser humano se tornar uma pessoa livre.

Deus é infinitamente livre e, no entanto, não tem livre arbítrio, pois não é capa de optar pelo mal.
Pelo facto de não nascer livre, o ser humano precisa do livre arbítrio.

Mas quando atingir a plenitude da liberdade já não precisará do livre arbítrio, pois a liberdade, como capacidade de se relacionar em dinâmica de amor, é a dinâmica da plenitude.

Na caminhada do crescimento espiritual, a pessoa que aprofunda o sentido da vida chega mais longe, pois a maturidade espiritual não é um processo espontâneo.

A pessoa que não cultiva o sentido da vida e as razões para viver de modo comprometido acaba por ficar vazia.

Estas pessoas conhecem-se bem, pois a sua maneira de falar é semelhante à do papagaio que fala muito mas não sabe nem mede o alcance daquilo que diz.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

VIDA ESPIRITUAL E NOVA HUMANIDADE-III

III-A FORÇA CRIADORA DA PALAVRA DE DEUS

Uma vida demasiado agitada e ruidosa sufoca a voz do Espírito Santo, impedindo-o de fazer ouvir no nosso íntimo a Palavra de Deus e as suas propostas de crescimento espiritual.

O contrário de uma coração espiritualmente amadurecido é o coração vazio e superficial.
A meditação põe-nos em sintonia com a voz do Espírito Santo.

É esta a razão pela qual a meditação e a oração são tão fecundas. São Paulo diz que a Palavra de Deus gera em nós a Sabedoria que vem do Alto, a qual se opõe à sabedoria do mundo, isto é, aos critérios mundanos que se opõem à humanização do Homem.

Eis as suas palavras: “A minha palavra e a minha pregação não têm os argumentos persuasivos próprios da sabedoria humana.

Pelo contrário, é uma demonstração do poder do Espírito Santo, a fim de a vossa fé não se apoiar na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.

No entanto, foi de sabedoria que falámos no vosso meio. Falámos de uma sabedoria que não é deste mundo, nem dos senhores deste mundo, os quais caminham para o fracasso da morte.

Nós ensinamos a sabedoria de Deus, a qual inclui um mistério oculto que Deus, desde tempos antigos, predestinou para nossa alegria e felicidade.

Os senhores deste mundo não conheceram esta sabedoria (…), mas foi-nos revelada a nós por meio do Espírito Santo.

O Espírito Santo penetra até às profundidades do mistério de Deus. Como sabemos, só o espírito de uma pessoa sabe o que vai no íntimo dessa pessoa.

Do mesmo modo, só o Espírito Santo, por ser o Espírito de Deus, é o único que sabe o que vai no interior de Deus.

Na verdade, nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito de Deus, a fim de podermos conhecer o mistério gratuito da sua salvação.

Nós não falamos deste mistério com a linguagem e a sabedoria mundana, mas segundo a inspiração do Espírito Santo (…).

O homem velho, como é terreno, não aceita as palavras que vêm do Espírito de Deus, pois estas palavras parecem-lhe uma loucura (…). Mas nós temos o pensamento de Cristo” (1 Cor 2, 4-16).

Este texto é um testemunho magnífico do pensamento de São Paulo sobre a originalidade cristã no mundo e a força transformadora da maturidade cristã.

A Palavra de Deus ensina-nos a arte de moldarmos a vida com o jeito do amor. Na verdade, o amor é uma razão que vale tanto para viver como para morrer.

Podemos dizer com toda a verdade que a sem amor não é plenamente humana, pois o amor é a força da humanização.

Não é por acaso que a bíblia nos diz que Deus é Amor (1 Jo 4, 7). O amor é uma dinâmica que tem como origem as pessoas e como meta a comunhão.

Para ser humana, a vida precisa de ser inventada, programada e executada. O amor torna a vida fecunda, pois é capaz de fazer de cada dia um acontecimento criador e gerador de vida nova.

Um ser humano que passe pela história sem assumir a vida, construindo-a de acordo com os apelos do amor não se realiza como pessoa.

Podemos dizer que apenas soube viver e morrer com dignidade a pessoa que gastou a vida amando os outros.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

VIDA ESPIRITUAL E NOVA HUMANIDADE-IV


IV-AMOR E RFENOVAÇÃO DO MUNDO

O ser humano não é capaz de amar se não for livre. Esta é a razão pela qual ninguém é capaz de nos obrigar a amar.

Só o amor nos dá um olhar com a profundidade necessária para compreendermos os outros na essência do seu ser.

O amor é uma dinâmica criadora e humanizante que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

Na verdade, só as pessoas que agem movidas pela força do amor são capazes de ser agentes transformadores da História.

Podemos dizer que o amor é mais forte do que as armas. Na defesa da vida humana, por exemplo, o verdadeiro vencedor é o que ganha a batalha do amor.

Só o amor é capaz de fazer que o nosso inimigo se converta em nosso irmão. Só o Amor Pode Criar Uma Terra de Justiça e Paz.

Por ser criativo, o amor agita o mundo velho, esforçando-se para que ele dê lugar a um mundo novo.

Jesus Cristo é o maior exemplo do poder criador e transformador do amor. As pessoas em cujo coração habita a sabedoria não encontram descanso enquanto não começam a transformar as estruturas injustas do mundo, sobretudo do seu meio.

É este o modo de o amor fazer que a paz e a justiça venham habitar a terra dos homens.
Conduzido pela força do Espírito Santo, Jesus inaugurou uma frente de fraternidade empenhada em combater o egoísmo e a injustiça.

Vivemos num mundo onde a violência não cessa de aumentar. Os homens que se opõem aos projectos do amor fabricam cada vez mais armas de destruição.

O ódio gera violência e nunca será capaz de extirpar a exploração e o ódio. Como mestre da sensatez e da libertação, Jesus convida-nos a caminhar pelos trilhos do amor e da não violência.
O Espírito Santo é o grande protagonista da Nova Humanidade a emergir da justiça e da fraternidade.

É por esta razão que ele suscita profetas e apóstolos que trabalham para que os opressores deixem de o ser.

Jesus disse que os que trabalham para acabar com esta situação terão uma participação especial na comunhão Deus:

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5, 6). O grande sonho da Sabedoria é edificar a fraternidade universal e facilitar o bem de todos.

Na verdade, o Espírito Santo olha as coisas com o olhar do amor, a única maneira de chegar à essência da realidade humana.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

VIDA ESPIRITUAL E NOVA HUMANIDADE-V

V-OS PROFETAS E A NÃO-VIOLÊNCIA

Todos sabemos quer as pessoas são todas distintas. Mas a Palavra de Deus diz-nos que, na sua essência, todos os seres humanos são iguais em dignidade e direitos.

É nesta igualdade das pessoas humanas na sua dignidade nos seus direitos que assenta o princípio da fraternidade Universal.

A proposta do amor universal é fundamental para salvarmos a Humanidade. De facto, ou aprendemos a viver como irmãos ou caminhamos para a destruição global.

Não podemos ser neutros neste ponto. Por outras palavras, não podemos deixar de tomar partido na questão da fraternidade universal.

Os profetas que o Espírito Santo suscita são pessoas não violentas. Mas todos eles denunciam as raízes da violência: a injustiça e a opressão.

É por esta razão que os profetas são incómodos e, muitas vezes são perseguidos, maltratados e martirizados.

Os profetas não têm medo de ser rotulados de radicais, pois sabem que estão a beber na mesma fonte da qual bebeu Jesus Cristo: O Espírito Santo e a Palavra de Deus.

Os profetas são não violentos. Mas ser não violento não significa ser neutro ou passivo. Os que aceitam passivamente as situações de injustiça e violência não merecem o nome de não violentos, pois vivem em paz com a violência instituída.

Por outras palavras, os profetas denunciam a violência precisamente por serem não violentos.
Fazem-no por um imperativo de consciência, apesar de saberem que estão correndo o perigo da perseguição e do martírio.

O Espírito Santo fá-los compreender que a qualidade de uma vida não vale pelos anos da sua duração, mas pela densidade espiritual e fecundidade amorosa que esta venha a atingir.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias