29 março, 2010

JESUS CRISTO E A PLENITUDE DOS TEMPOS

Graças ao acontecimento de Jesus Cristo, o Homem deu um salto de qualidade, entrando na plenitude dos tempos, isto é, na fase do nascimento dos filhos de Deus.

Os milénios que precederam o acontecimento de Cristo foram os tempos da gestação.

A plenitude dos tempos representa o parto através do qual nascem os filhos de Deus pela difusão do Espírito operada por Jesus Cristo ressuscitado.

Eis o que diz São Paulo nas Carta aos Gálatas: “Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, a fim de resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de receberem a adopção de Filhos.
E porque sois filhos Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: “Abba, Pai querido.

Deste modo já não somos escravos mas filhos e, portanto, herdeiros pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

O conteúdo fundamental da plenitude dos tempos, portanto, implica a incorporação da Humanidade na Comunhão Familiar da Santíssima Trindade, mediante o Espírito Santo.

Eis como a Carta aos Romanos exprime este mistério: “Todos os que são movidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus” (Rm 8, 14).

A expressão “Plenitude dos Tempos” leva consigo um sentido de entrada no limiar dos acabamentos do projecto humano, isto é, a sua divinização.

É a última etapa, isto é, a fase final da marcha histórica da Humanidade a caminhar para a plenitude da comunhão Familiar de Deus.

Por outras palavras, o projecto humano está na fase dos acabamentos que é, como vimos, a sua divinização.

Isto quer dizer que a marcha histórica da Humanidade deu um salto de qualidade, graças ao mistério da Encarnação.
Mas foi com a ressurreição de Cristo que a condição divina de Jesus de Nazaré se difundiu pela Humanidade.

Ao ressuscitar, Jesus Cristo entrou nas coordenadas da universalidade, isto é, da equidistância e da comunhão universal.

Nesse momento o Senhor ressuscitado tornou-se o coração do Homem Novo assumido de modo orgânico na comunhão da Santíssima Trindade, com a qual estamos unidos e interactivos para sempre.

Jesus é, na verdade, o ponto de encontro do Humano com o divino.

Se olharmos atentamente as Sagradas Escrituras verificamos que é enorme a cadeia dos acontecimentos que conduziram a Humanidade até Cristo que é o início e a plenitude da Humanidade.

Para o Antigo Testamento, o Messias é alguém que havia de vir para realizar a intervenção decisiva de Deus, condição para a Humanidade atingir a meta da comunhão com a Divindade.

Através do Messias, o descendente de Abraão, viria a bênção universal que atingirá todas as famílias da terra, diz o Livro do Génesis (Gn 12, 3).

O Novo Testamento apresenta Jesus Cristo como a realização das esperanças que foram brotando ao longo do Antigo: Jesus é o único medianeiro entre Deus e o Homem (1 Tm 2, 5.

Em Jesus ressuscitado, a Humanidade pecadora é definitivamente reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19).

São Paulo diz que Jesus Cristo é o Novo Adão que repara as distorções provocadas no tecido da Humanidade pelo primeiro (Rm 5, 17-19).

O evangelho de São João diz que Jesus é o único caminho para chegarmos ao Pai (Jo 14, 6).

O caminho foi aberto pela ressurreição do Senhor. São Mateus explicita esta verdade dizendo que no momento da morte e ressurreição de Jesus, o véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mt 27, 51).

O véu do templo separava o santuário onde estava o povo e o Santo dos Santos onde Deus se tornava presente.
Ninguém tinha acesso ao Santo dos Santos a não ser o sumo-sacerdote, a fim de obter as bênçãos de Deus para o povo.

Com a ressurreição de Jesus, o véu do templo rasgou-se de alto a baixo e, portanto, todos ficam com acesso directo a Deus como membros da Família Divina, diz São Paulo (Rm 8, 14-17).

Graças ao facto de termos sido divinizados por Cristo, diz a Primeira Carta aos Coríntios, Deus habita nos nossos corações e nós somos o Novo templo de Deus (1 Cor 3, 16).

No evangelho de São João, Jesus diz que a nossa vida será fecunda na medida em que estejamos organicamente unidos a Cristo como os ramos da videira estão unidos à cepa, isto é, de modo orgânico (Jo 15, 4-6).

O Novo Testamento é o testemunho da Nova Aliança e a garantia de que a fase final da História está inaugurada.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matiaas


25 março, 2010

O REINO DE CRISTO É UM POVO DE REIS

A Carta aos Romanos diz que Jesus, ao ressuscitar, foi ungido com o Espírito Santo, sentando-se em seguida à direita de Deus Pai como rei do Universo (Rm 1, 3-5).

Por outras palavras, Cristo rei é a cabeça e a meta de toda a Criação. No entanto ele é um rei que não se impõe pela força, mas pela sua grandeza e perfeição.

Eis as palavras da Carta aos Colossenses: “Ele é a imagem perfeita do Deus invisível e a cúpula de toda a Criação.

Ele é o irmão mais velho de todos nós. Na verdade, foi nele que todas as coisas foram criadas, nos céus e na terra, tanto as visíveis como as invisíveis (…).

Ele é anterior a todas as criaturas e todas permanecem por meio dele. Ele é a cabeça do corpo da Igreja e o princípio de tudo.
Ele é o primogénito dos ressuscitados, pois ninguém ressuscitou antes dele.
Foi do agrado de Deus que habitasse nele a medida perfeita de todas as criaturas, tanto das que existem na terra, como das que habitam no Céu.

Foi fiel até à morte de cruz e por isso levou a Criação à sua plena perfeição. Graças à fidelidade plena à sua missão, todos nós fomos reconciliados com Deus” (Col 1, 15-20).

Com este texto magnífico, a Carta aos Colossenses proclama Jesus Cristo como rei e salvador de toda a Humanidade.

Uma vez constituído rei universal, Jesus Cristo decidiu reinar com todos nós.

Ele é um rei que nos deu uma Lei Nova com um só mandamento, isto é o Mandamento do Amor.
Se Deus é amor Se o Reino de Jesus Cristo assenta sobre o amor, então todos fomos chamados a reinar com ele através do amor.

Eis as suas palavras: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei.
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13).

Na verdade, quando a força de um reino é o amor, todos reinam, pois o amor gera comunhão entre as pessoas.

Antes da morte e ressurreição de Jesus, o Reino de Deus estava no meio das pessoas, diz o evangelho de São Lucas (Lc 17, 21).

Isto significa que durante a vida terrena de Jesus, o Reino de Deus estava apenas a nascer e a crescer no coração de Jesus

É esta a dinâmica da Encarnação. Depois de Jesus ressuscitar a interacção entre Deus e o Homem passou do interior de Jesus para toda a Humanidade.

Jesus ensinou isto dizendo que tinha uma Água viva para dar, a qual ia fazer brotar uma fonte de Vida Eterna no coração das pessoas (Jo 7, 37-39).

Deste modo a união orgânica entre Deus e o homem que existia no coração de Jesus Cristo, passou do interior de Jesus para o nosso interior.

Com efeito, foi no coração de Jesus que a Divindade se enxertou na Humanidade. Era isto que eu queria dizer quando afirmei que o Reino de Deus começou primeiro a desabrochar no coração de Jesus.

No momento da sua ressurreição o Espírito Santo faz quer o Reino de Deus cresça no coração de todos os seres humanos.

Portanto, após a ressurreição de Jesus Cristo, o Reino de Deus tornou-se uma realidade interior a todos nós, pois Jesus ressuscitado, agora, aproxima-se sempre de nós através do Espírito Santo que ele nos comunica.

Por outras palavras, com a ressurreição de Jesus o Reino de Deus ficou tão perto das pessoas que está ao alcance de todos nós.

Basta fazer silêncio e entrar no nosso interior para nos encontrarmos com Cristo Rei. Isto significa que o nosso coração é o ponto de encontro com Cristo Rei e com a Comunhão Universal do Reino de Deus.

Eis o que diz São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

E mais à frente acrescenta: “Não sabeis que sois templo do Espírito Santo que habita em vós porque o recebestes de Deus e que vós já não vos pertenceis?” (1 Cor 6, 19).

O Espírito Santo é o princípio que dinamiza no nosso coração a interacção amorosa com a Comunhão do Reino de Deus.

É precisamente isto que São Paulo quer afirmar quando diz que “O Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações” (Rm 5, 5).
A Comunhão Universal do Reino de Deus é, portanto, uma realidade interior a todos nós, pois é a morada de Deus com toda a Humanidade.

Ma morada de Deus, como sabemos não é um lugar ou uma realidade física. Por outras palavras, a morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, a qual constitui a interioridade máxima do Universo.

A Carta aos Colossenses diz que pela ressurreição de Jesus, Deus libertou-nos do reino exterior das trevas e transferiu-nos para o Reino de seu amado Filho, o qual é interior a tudo e a todos (Col 1, 13).

Era precisamente isto que Jesus quer dizer no evangelho de São João quando afirma a Pilatos que o seu Reino não é deste mundo.

Isto significa que o Reino de Deus é universal e interior a todos que têm um coração aberto ao amor.

O Reino de Deus do qual Jesus é o rei é portanto, um povo de reis no qual todos têm o poder de reinar que não é mais que a capacidade de amar.

A Primeira Carta de São Pedro diz que o Reino de Cristo é constituído por um povo de reis. Eis as suas palavras:

“Vós, porém, sois uma linhagem escolhida, um povo de reis e sacerdotes, uma nação santa. Vós sois um povo escolhido, uma propriedade santa cuja missão é anunciar as maravilhas do Deus que vos chamou das trevas para a sua luz admirável” (1 Pd 2, 9).

Ao ressuscitar, Jesus tornou-se nosso irmão, a fim de reinar connosco e formar um reino sacerdotal e um povo de reis onde existe apenas a lei do amor:

Após a ressurreição, Jesus disse a Maria: “Não me detenhas, pois ainda não subi para o meu Pai.

Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: “Subo para o meu Pai que é também vosso Pai, para o meu Deus que é também vosso Deus” (Jo 20, 17).

O Reino de Deus, portanto, assenta nos pilares da comunhão e do amor. Jesus disse que o seu reino é uma comunhão orgânica, onde a força é a união do amor: “Permanecei em mim que eu permaneço em vós.

Tal como o ramo da videira não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

O Livro do Apocalipse diz que o Reino de Deus é a Nova Jerusalém, a morada de todos os que reinam com Cristo. Deus está junto de todos como um Pai bondoso está junto dos seus filhos:

“Vi então um Novo Céu e uma Nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido. E o mar também já não existia!

E vi descer do Céu, de junto de Deus, a cidade santa, a Nova Jerusalém, preparada como uma noiva enfeitada para receber o seu esposo.

Depois ouvi uma voz forte que vinha do trono de Deus, dizendo: “Esta é a morada de Deus entre os homens”. Deus habitará com os seres humanos e estes serão o seu povo.

Deus estará com todos, enxugando as lágrimas dos olhos, pois não há morte, nem luto, nem pranto, nem medo, nem dor, pois as primeiras coisas passaram!” (Apc 21, 1-4).

Depois o Livro do Apocalipse acrescenta: “Todos os que vencerem vão herdar estas coisas. Eu serei o seu Deus e eles serão meus filhos” (Apc 21, 7).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

21 março, 2010

A NOSSA CONFIGURAÇÃO ESPIRITUAL

A Carta aos Efésios diz que Deus pensou no Homem ainda antes de iniciar a criação do Universo:
“Deus escolheu-nos em Cristo antes da fundação do mundo, a fim de sermos santos e irrepreensíveis na sua presença e vivermos no amor.
Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com a sua vontade” (Ef 1, 4-5).

Isto quer dizer que Deus sonhou desde toda a eternidade, o seu plano de salvação para o Homem, o qual inclui a Nova e Eterna Aliança.

A Carta aos Efésios diz que este plano esteve oculto durante milénios, mas Deus deu-o a conhecer na plenitude dos tempos:

“Agora podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, o qual não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, em gerações passadas, como agora foi revelado aos seus santos Apóstolos e Profetas pelo Espírito Santo” (Ef 3, 4-5).
A Nova e Eterna Aliança representa a plenitude de um projecto querido por Deus ainda antes de ele ter iniciado a génese da Criação.

A Antiga Aliança foi um degrau para Deus conduzir a Humanidade até Jesus Cristo. Mas o seu plano criador tinha como meta e cúpula da Criação a Nova e Eterna Aliança.

A Antiga Aliança foi o sinal da acção pedagógica do Espírito Santo que foi preparando a Humanidade para a plenitude dos tempos:

“Com efeito, Cristo é a nossa paz. De dois povos fez um só, anulando o muro da separação que os dividia: a Lei de Moisés com suas normas, preceitos e leis, a fim de criar um só Homem Novo com judeus e pagãos.
Portanto, os pagãos já não são estrangeiros nem imigrantes, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2, 14.19).

O Novo Testamento diz várias vezes que a Antiga Aliança estava em função da Nova e Eterna Aliança:

“Antes de chegar a plenitude da Fé estávamos prisioneiros da Lei de Moisés. Por isso era preciso que a Fé se revelasse.
A Lei tornou-se o nosso pedagogo até Cristo, a fim de sermos justificados pela Fé. Agra já sois filhos de Deus, por isso não estais sob o domínio do pedagogo. Já não há judeu ou grego.
Não há escravo ou homem livre. Não há homem ou mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gal 3, 23-29).
A antiga Aliança tinha como alicerce a Lei de Moisés, a qual se multiplicava em normas, preceitos, ritos e mandamentos que não tinham qualquer eficácia para a obtenção da salvação, diz a Carta aos Hebreus.

A Nova Aliança, pelo contrário, tem como alicerce o dom do Espírito, o qual realiza em nós a obra da salvação, diz São Paulo:

“Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8, 14).
Viver a dinâmica da Nova aliança significa deixar-se conduzir pelo Espírito Santo, sugere a Carta aos Gálatas:

“Eis os frutos do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e auto-domínio. Contra tais coisas não há Lei” (Ta 5, 22).

A Antiga Aliança foi superada pela Nova e Eterna Aliança, tal como as metas que estão em função de um objectivo são superadas quando o objectivo é atingido.

A Nova Aliança não é uma simples continuidade em relação à Antiga, tal como Cristo não está apenas numa linha de continuidade em relação a Moisés.

Pelo contrário, a Nova e Eterna Aliança representa um salto de qualidade em relação à Antiga Aliança.

Com efeito, a divinização do Homem realizada pela Encarnação, não está numa simples continuidade em relação à libertação da escravidão do Egipto.
A libertação realizada pela Nova e Eterna Aliança tem o alcance de uma salvação definitiva, a qual implica a assunção e incorporação da humanidade na Família da Santíssima Trindade (Jo 1, 12-14).

Já no livro do profeta Ezequiel Deus promete ao povo uma Nova aliança, a qual será mais perfeita do que a Antiga:

“Lembrar-me-ei da Aliança que fiz contigo, no tempo da tua juventude e estabelecerei contigo uma Aliança Eterna.

Estabelecerei contigo a minha Aliança e então saberás que eu sou o Senhor, a fim de que te lembres de mim” (Ez 16. 60-63).

O profeta Jeremias diz que a Nova aliança assenta em novos alicerces, pois terá como fundamento um coração renovado pelo dom do Espírito Santo:

“Dias virão em que estabelecerei uma Nova Aliança com a casa de Israel e a casa de Judá, oráculo do Senhor.
Não será como a Aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para os fazer sair da terra do Egipto.

Apesar de eu ser o seu Deus, eles não cumpriram a Aliança que eu fiz com eles, oráculo do Senhor.

Esta será a aliança que estabelecerei com a casa de Israel, depois desses dias, oráculo do Senhor:

Imprimirei a minha Lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” (Jer 31, 31-33).

A Nova Aliança, não é escrita em tábuas de pedra, como a Antiga, mas foi impressa pelo Espírito Santo no coração das pessoas.

São Paulo diz aos membros a comunidade de Corinto que eles são uma carta de Cristo escrita pelo Espírito Santo pois pertencem à Nova Aliança:

“A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos vossos corações, conhecida e lida por todos os homens.

Sois uma carta de Cristo confiada ao nosso ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo.
Escrita, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações. Na verdade, é Deus que nos torna aptos para sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito, pois a letra mata, enquanto o Espírito dá vida” (2 Cor 3, 2-6).

Segundo o plano da Nova e Eterna Aliança, nós recebemos, através da ressurreição de Cristo, o dom definitivo da Salvação: o Espírito Santo que nos incorpora na Família de Deus (Rm 8, 14-17).

O Filho de Deus que era único, ao tornar-se nosso irmão tornou-se o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


17 março, 2010

JESUS E O CONHECIMENTO DO AMOR

Jesus tinha um conhecimento perfeito da dinâmica do amor, pois conhecia o mistério de Deus em profundidade.

Ele sabia que Deus é amor e que o amor está no início da génese criadora do Universo. Tinha uma consciência perfeita de que o amor é o alicerce de uma estruturação equilibrada da pessoa humana.

De facto, a experiência diz-nos que a pessoa bem-amada está capacitada para amar bem, ao passo que o mal-amado ama mal.

Foi por esta razão que Jesus fez do amor o seu mandamento. A religião judaica do seu tempo estava enredada numa multidão de mandamentos, normas e preceitos que até os sacerdotes e os doutores se sentiam hesitantes no meio de tanta confusão.

Jesus apercebeu-se de que este emaranhado de leis e preceitos não ajudava as pessoas a amar a Deus e aos irmãos.

Foi então que ele decidiu substituir a multidão das normas e preceitos por um mandamento a que ele deu o nome de “Um Mandamento Novo”.

Eis as suas palavras no evangelho de São João: “ Dou-vos um mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. As pessoas saberão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 3, 34-35).


São Paulo compreendeu muito bem a importância a importância desta decisão de Jesus que levou Jesus a pôr o amor em lugar em lugar de uma multidão de ritos, cultos e preceitos sem valor.

Eis as palavras de São Paulo na Carta aos romanos: “Na verdade, amar o próximo como a si mesmo resume e cumpre toda a Lei de Moisés” (Rm 13, 8).

Depois acrescenta: “Com efeito, o amor é o pleno cumprimento de toda a Lei (Rm 13, 10). Foi isto mesmo que Jesus quis dizer quando afirmou que ele não veio anular os mandamentos a Lei, mas cumpri-la até ao último ponto.

Com estas palavras, Jesus quis dizer que a sua decisão de amar as pessoas, fazendo bem a toda a gente era o modo concreto de realizar a meta do amor universal, às qual os mandamentos e normas da Lei não conseguiam realizar.

Inspirado nos ensinamentos de Jesus, São Paulo compôs um hino que é dos poemas mais belos que a Humanidade já escreveu sobre o amor:

“Ainda que eu fale as línguas dos anjos e dos homens, se não tiver amor não passo de um bronze que soa e faz barulho.

Mesmo que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, se não tiver amor não me vale de nada.

Ainda que eu tenha uma fé capaz de deslocar montanhas, se não tiver amor, nada sou. Mesmo que eu distribuísse todos os meus bens pelos pobres e me entregasse para ser martirizado, se não tiver amor, de nada me aproveita.

O amor é paciente e prestável. O amor não é invejoso. Não é arrogante nem orgulhoso. O amor nada faz de inconveniente nem gira sempre à volta do seu interesse.

Também não se irrita nem guarda ressentimentos. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade.

O amor desculpa tudo e acredita sempre. Espera tudo e tudo suporta. O amor jamais passará” (1 Cor 13, 1-8).

São Paulo foi o maior teólogo do Século Primeiro. Como era judeu, podia compreender de modo privilegiado a opção de Jesus pelo amor.

Jesus compreendia as propostas do amor no seu alcance mais profundo. Foi por isso que ele pediu aos discípulos para imitarem a profundidade e amplitude universal do amor ao jeito de Deus.

Eis como São Mateus descreve o ensinamento e a proposta que Jesus fez aos discípulos:

“Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Eu, porém, digo-vos: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”.

Fazendo assim, acrescenta Jesus, sereis realmente filhos do vosso Pai que está nos Céus, o qual faz que o sol se levante todos os dias sobre bons e maus e a chuva caia sobre justos e pecadores (…).

Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai do Celeste é perfeito” (Mt 5, 43-48). O modo de amar de Jesus era de tal modo semelhante à maneira como Deus ama que Jesus um dia disse ao Apóstolo Filipe:

“Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conheceis, Filipe? Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).

Era isto mesmo que Jesus queria afirmar quando disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). Nos seus ensinamentos sobre o amor, Jesus insinuava que quanto mais formos capazes de amar a todos, mais semelhantes somos de Deus.

Na linguagem cristã, o amor ao jeito de Deus chama-se caridade.
O facto de termos sido criados à imagem de Deus proporcionou-nos esta capacidade maravilhosa de amar, isto é, de querer bem e querer o bem dos outros, facilitando a sua realização e felicidade.

Amando assim, disse Jesus, os cristãos tornam-se um sinal de Deus para o mundo (Jo 13, 35).

Amando ao jeito de Deus, diz Jesus no evangelho de São Mateus, os discípulos tornam-se um sal que dá sabor e uma luz que dá sentido à vida e aos acontecimentos deste mundo.

Após a ressurreição de Jesus, os discípulos foram fortalecidos com a força do Espírito Santo, ficando capacitados para amar com amor caridade, isto é, ao jeito do próprio Deus.

Eis as palavras de Jesus: “Olhando para o vosso jeito especial de amar, os homens darão glória ao vosso Pai que está nos Céus (Mt 5, 13- 17).

Por outras palavras, o amor faz dos cristãos sinais da bondade de Deus e do seu amor na História.

De tal modo o amor aos irmãos está unido ao amor de Deus que Jesus considera o nosso amor aos irmãos como sendo amor à sua pessoa.

Quando o nosso amor se torna universal, isto é, direccionado para todos, começamos a eleger os outros como irmãos para lá das línguas, das raças, das culturas e das nacionalidades.

Jesus ensinou os discípulos a amar com uma amplitude universal, a fim de a nossa mente e o nosso coração se abrirem à Humanidade inteira.

Eis algumas afirmações de Jesus que vão neste sentido:

“Se amais apenas os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Os publicanos também fazem o mesmo.

Se saudais apenas as pessoas da vossa raça e língua que fazeis de extraordinário? Não fazem assim também os pagãos?
Sede perfeitos no vosso amor, tal como o vosso Pai do Céu é perfeito” (Mt 5, 46-48).

Por outras palavras, o amor optimizado pela força do Espírito Santo e da Palavra de Deus torna-se amor ao jeito de Deus, isto é, amor caridade.

Eis as palavras da Primeira Carta de São João: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus.

Aquele que não ama não chega a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4, 7-8). Isto quer dizer que a nossa identidade espiritual é o nosso jeito de amar e comungar com Deus e os irmãos.

Na Festa dos ressuscitados com Cristo todos dançaremos o ritmo do amor mas cada qual com o jeito que treinarmos agora na História.

Jesus disse que a maneira concreta de a pessoa atingir a perfeição sonhada pela Lei de Moisés, é o amor a Deus e aos irmãos (Mt 5, 17).

Na verdade, pela maneira como viveu e falou do amor, Jesus deu provas de entender muito bem o mistério de Deus e do Homem.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


14 março, 2010

JESUS CRISTO E O MISTÉRIO DA ÁGUA VIVA

No relato do encontro de Jesus com a Samaritana, Jesus diz que a Salvação acontece no interior da pessoa, graças à da Água Viva que ele tem para Á Humanidade.

Eis a suas palavras: “Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é aquele que te está a pedir água, tu é que lhe pedirias e ele dar-te-ia uma Água Viva” (Jo 4, 10).

A associação da Água Viva à realidade de Deus já vinha dos profetas. O profeta Jeremias repreendeu o povo pela sua ingratidão, pois voltou a costas a Deus que é a fonte da Água Viva.

O evangelho de São João diz expressamente que a Água Viva é o Espírito Santo, o qual faz emergir nos nossos corações nascentes de vida eterna (Jo 7, 39).

São Paulo diz que todos os que se deixam conduzir pelo Espírito Santo são filhos e herdeiros de Deus:

“Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Nós não recebemos um espírito de escravidão para andarmos com medo, mas sim um Espírito de adopção graças ao qual clamamos “Abba”, Pai Querido.

É o próprio Espírito que dá testemunho no nosso íntimo de que somos filhos de Deus.
Ora, se somos filhos, somos igualmente herdeiros: Somos herdeiros de Deus pai e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8, 14-17).

A Primeira Carta aos Coríntios diz que o Espírito Santo é como uma Água Viva que bebemos. A Água do baptismo é um símbolo das Água Viva que geram em nós a Vida Eterna:

“Todos nós fomos baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo, tanto judeus como gregos, escravos ou livres.

Na verdade, todos nós bebemos de um mesmo Espírito” (1 Cor 12, 13).
Graças à acção do Espírito Santo no nosso coração, nós formamos com Cristo um corpo espiritual do qual Jesus é a cabeça e nós somos os membros.

Referindo-se à Eucaristia, o evangelho de São João diz que a carne e o sangue de Jesus Cristo ressuscitado são o alimento da vida eterna, isto é, o Espírito Santo.

No capítulo sexto do evangelho de São João, Jesus diz expressamente que a carne e o sangue do Senhor ressuscitado são o Espírito Santo e não uma realidade de tipo biológico:

“Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? O Espírito é quem dá a vida, a carne não serve para nada. As palavras que eu vos disse são Espírito e Vida” (Jo 6, 62-63).

Jesus explicou à Samaritana que a Água viva que ele tem para nos dar não é como a água do poço de Jacob junto ao qual Jesus se tinha sentado.

O poço de Jacob representa a antiga Aliança. A Água Viva, pelo contrário, representa o grande dom da Nova Aliança, isto é, o Espírito Santo.

Para ter acesso à Água do poço de Jacob é preciso um balde, isto é, uma multidão de normas, leis, preceitos e ritos.

Para termos acesso à Água Viva basta fé na Palavra de Deus e a aceitação do Espírito que nos vem de Cristo ressuscitado.
As pessoas que bebem do poço de Jacob, disse Jesus à Samaritana que as pessoas que bebem do poço de Jacob voltam a ter sede.
A Água Viva, pelo contrário, mata a sede para sempre, isto é, dá-nos a vida eterna. Eis as suas palavras:

“Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da Água que eu lhe der, nunca mais terá sede, pois esta Água, no seu coração, torna-se uma nascente de Vida Eterna” (Jo 4, 13-14).

Esta Água, acrescentou Jesus, é o Espírito Santo que foi difundido no momento da ressurreição de Cristo.

Eis o que Jesus diz no evangelho de São João: “No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou:

“Se alguém tem sede venha a mim. Quem crê em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, hão-de emergir dos seus corações rios de Água Viva.

Jesus disse isto referindo-se ao Espírito Santo que iam receber os que acreditassem nele. Com efeito, o Espírito ainda não tinha vindo porque Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 37-39).

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Na Primeira Carta aos Coríntios ele diz que nós somos templos do Espírito Santo:
“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 2, 16).

Ao profetizar sobre os tempos da salvação, o profeta Ezequiel descreve a força da Nova Aliança no coração do Homem dizendo o seguinte:

“Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um Espírito Novo:

Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Porei o meu Espírito no vosso íntimo, fazendo que sejais fiéis às minhas leis e preceitos” (Ez 36, 26-27).

A Carta aos Efésios que os crentes não se devem embriagar com vinho mas encher-se com a força do Espírito Santo (Ef 5, 18).

Com estas palavras, São Paulo queria dizer que o Espírito Santo é a bebida da Nova Aliança, isto é, a Água Viva (1 Cor 12,13).

O profeta Isaías já tinha falado do Espírito Santo como sendo uma água que mata a sede e faz desabrochar a vida espiritual em abundância.

“Vou derramar água sobre o que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida. Vou derramar o meu Espírito e as minhas bênçãos sobre os vossos filhos e filhas.

Por isso eles vão crescer como plantas junto das fontes e como salgueiros junto das águas dos rios e ribeiros” (Is 44, 3-4).

No relato do Pentecostes, o Livro dos Actos dos Apóstolos diz que o Espírito Santo veio com toda a força sobre os crentes, realizando deste modo o que as Antigas profecias tinham prometido:

“Estes homens não estão embriagados como imaginais, mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel” (Act 2, 15-16).

O Novo Testamento identifica o Espírito Santo com o Espírito de Cristo ressuscitado. Como estamos unidos a Cristo, temos o mesmo Espírito que o ressuscitou e faz dele a Cabeça do Homem Novo.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


11 março, 2010

A TERNURA MATERNAL DO ESPÍRITO SANTO

Falar do Espírito Santo é falar de uma pessoa divina que tem um jeito maternal de amar.

Por outras palavras, assim com Deus Pai tem um jeito paternal de amar, o ser e agir do Espírito Santo revelam-nos a o mistério da ternura maternal de Deus.

Por seu lado, o Filho Eterno de Deus ama com um jeito filial em relação a Deus e com um jeito fraternal em relação, pois ele é, como a Carta aos Romanos, o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

De tal modo o seu jeito fraternal de nos amar é fiel e verdadeiro que partilhou connosco a sua herança de Filho único:

“Ora se somos filhos de Deus somos também seus herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, o Filho de Deus” (Rm 8, 17).

Dizer que o Espírito Santo tem um jeito maternal de amar significa que ama com um matiz feminino.

São Paulo compreendeu muito bem este mistério quando disse que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

O evangelho de São João diz que a presença do Espírito Santo em nós é geradora de vida divina em nós. É por esta razão que temos de nascer de novo pelo Espírito Santo (Jo 3, 6).

São Paulo quer dizer isto mesmo quando afirma que todos os que se deixam conduzir pelo Espírito Santo são filhos de Deus do Espírito Santo no nosso interior, o Espírito Santo (Rm 8, 14).

No nosso interior, o Espírito Santo uma nascente de amor e liberdade. Com efeito, o amor e a liberdade caminham sempre juntos: ser livre é ser capaz de viver relações de amor com os irmãos e de interagir criativamente com as coisas e os acontecimentos.

Animado com a força do Espírito Santo, Jesus iniciou a sua missão dizendo que tinha foi ungido com o Espírito Santo, a fim de enviar presos em liberdade e fazer bem a toda a gente:

“O Espírito Santo está sobre mim porque me ungiu. Consagrou-me para anunciar o Evangelho aos pobres, proclamar a libertação dos presos e mandar em liberdade os oprimidos” (Lc 4, 18).

Ninguém é capaz de se tornar livre sem tomar decisões e fazer escolhas na linha do amor.
Sempre que as nossas opções se orientam na linha do amor, estamos a responder ao amor com que fomos amados e aos apelos do Espírito Santo nos nossos corações.

Ser livre é também estar capacitado para interagir de modo criador com as coisas e os acontecimentos.

O amor é uma fonte permanente de novidade. Dá-nos horizontes novos para a vida e inspira-nos planos para melhorarmos o nosso mundo e a nossa História.

Quando os projectos humanos não se orientam na linha da justiça e da salvação da terra que Deus nos deu, temos de reconhecer que esses projectos não são obra do amor.

O pecado, isto é, as nossas resistências ao amor não fazem de nós pessoas livres. Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João: “Se permanecerdes na minha palavra sereis meus discípulos, conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará (…).

Quem comete o pecado é escravo (…). Mas se o Filho de Deus vos libertar, sereis realmente livres” (Jo 8, 31-36).

São Paulo está a ver as coisas nesta mesma linha quando afirma: “O Espírito Santo é o Espírito da Vida Nova em Cristo Jesus. É ele que nos liberta da lei do pecado e da morte” (Rm 8, 2).

Eis outra afirmação onde São Paulo proclama de modo muito bonito a acção libertadora do Espírito Santo no nosso coração:

“Cristo ressuscitado é um ser espiritual. Onde está o Espírito Santo, isto é, o Espírito do Senhor ressuscitado, aí está a liberdade” (2 Cor 3, 17).

No íntimo da comunhão trinitária, o Espírito Santo anima a comunhão que existe entre Deus Pai e seu Filho Eterno.

Quando entre os seres humanos acontece uma relação de fraternidade e comunhão, o Espírito Santo está sempre presente, optimizando essas relações de fraternidade.

Quando uma pessoa decide amar os irmãos facilitando a sua realização e felicidade, esta pessoa está a ser mediação do amor maternal do Espírito Santo.

Na verdade, os gestos do amor humano encontram no Espírito Santo a sua raiz mais profunda.

Sem a presença inspiradora do Espírito Santo no coração dos crentes, as Sagradas Escrituras não passariam de letra morta como diz São Paulo: “A letra mata, mas o Espírito Santo dá vida (2 Cor 3, 6).

É o Espírito Santo que vivifica as relações dos cristãos na comunidade, unindo-os de modo orgânico, a fim formarem o Corpo de Cristo (1 Cor 12, 13; 12, 27).

O Espírito que ressuscitou Jesus é o mesmo que nos ressuscita a nós, diz São Paulo:
“Se o Espírito que ressuscitou Jesus está em vós, então ele fará que vivais para sempre” (Rm 8, 11).

É o Espírito Santo quem dinamiza a interacção do divino com o humano no coração de Jesus Cristo.

Com seu jeito maternal de dar vida, o Espírito Santo está no centro do mistério da Encarnação. Na verdade, o Verbo encarnou pelo Espírito Santo (Jo 1, 14).

Foi a ternura maternal do Espírito Santo que optimizou o coração de Maria, a fim de ela amar o Filho de Deus com o jeito divino do Espírito Santo.

O sopro de Deus no barro primordial do qual saiu Adão não é mais que a acção maternal do Espírito Santo fazendo que o barro se torne barro com coração capaz de eleger os outros como alvo de amor (cf. Gn 2, 7).

Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos recriando e configurando com Cristo ressuscitado, a fim de ele ser o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

O Livro do Génesis diz que, no princípio, a terra era uma massa informe, caótica, envolvida numa escuridão total.

Mas eis que Deus decide fazer da terra o berça da vida e a morada do Homem. Nesse momento inicial, diz a Bíblia, o Espírito Santo começa a pairar sobre as águas, a fim delas o berço fecundo da vida primordial (Gn 1, 1-2).

E foi assim que a fecundidade maternal do Espírito Santo iniciou a génese da Vida sobre a terra.

Falando da Vida espiritual humana, Jesus diz no evangelho de São João que as pessoas humanas têm de nascer de novo através do Espírito Santo, a fim de poderem entrar na Vida Eterna:

“Em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus.
Aquilo que nasce da carne é carne e aquilo que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3, 5-6).

Nascer da água, no evangelho de são João, significa nascer do Espírito Santo, o qual é a Água Viva (Jo 4, 14).

São João diz que Cristo ressuscitado nos dá uma Água Viva que faz brotar em nós nascentes de Vida Eterna (Jo 7, 37-39).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


07 março, 2010

DEUS E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A dignidade da pessoa começa no facto de poder realizar-se através de relações e opções na linha do amor.
Os animais nascem determinados e não podem deixar de ser aquilo que a natureza lhes determinou.

As pessoas humanas, pelo contrário, podem escolher realizar-se de uma determinada maneira ou de outra muito diferente.

Podemos dizer que a dignidade da pessoa humana reside no facto de estar chamada a ser autora de si própria, a partir do que recebeu através dos outros.

É verdade que todos nós começámos por ser aquilo que os outros fizeram de nós. Com efeito, não escolhemos a raça, a nacionalidade, a língua ou o século em que queríamos nascer.

Estes dados são os talentos, isto é, a matéria-prima que recebemos para nos construirmos. No entanto, o mais importante não são os talentos que recebemos, mas a maneira como os realizamos.

Jesus diz que a felicidade das pessoas na Festa da Família de Deus depende da maneira como elas foram fiéis aos talentos recebidos.

Segundo o ensinamento de Jesus sobre os talentos a pessoa, ao chegar ao fim da realização histórica, será assumida e optimizada na Festa do Reino de Deus de acordo com o modo como foi fiel aos seus talentos.

Eis as palavras de Jesus: “A pessoa que no começo recebeu cinco talentos aproximou-se de Jesus e entregou outros cinco, dizendo:
“Senhor, tu entregaste-me cinco talentos. Aqui estão outros cinco que eu ganhei com eles.

O Senhor respondeu-lhe: “Muito bem, servo bom e fiel. Uma vez que foste fiel nas coisas comuns, muito te vou dar em troca: entra na festa da Vida e da comunhão com o teu Senhor!” (Mt 25, 20-21).

O punhado de talentos que recebemos à partida dá-nos a possibilidade de orientarmos a nossa realização segundo o que acharmos o melhor para nós.

Deus é autor de si mesmo, mas nunca recebeu possibilidades ou talentos de alguém. Deus é amor e o amor é causa de si mesmo.

A pessoa humana também está chamada a ser autora de si, mas a partir do amor que recebeu dos outros.

De facto, o ser humano não é capaz de amar antes de ser amado. Depois de ter sido amado, o ser humano já capaz de fazer maravilhas com o amor, isto é, os talentos que recebeu dos outros.
Podemos dizer que a maravilha da dignidade humana radica no facto de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus.

Desde toda a eternidade que a família humana foi sonhada por Deus para pertencer à Família Divina.

Ainda a Terra não girava à volta do Sol. Ainda o Céu não era azul, nem existia ainda a luz do dia e já existia uma divindade constituída por três pessoas que tinha o plano de criar o Homem à sua imagem e semelhança e incorporá-lo na sua comunhão familiar.

Ser pessoa significa ter uma vida com uma qualidade imensamente superior à vida dos animais.
Na sua dimensão mais profunda, a vida pessoal é espiritual.
Emerge como vida livre, consciente, responsável e capaz de interagir com os outros numa comunhão de amor.

Isto significa que a vida pessoal humana é imortal e proporcional à vida das pessoas divinas.
Com efeito, a Humanidade é constituída por pessoas e a Divindade também.

É esta a razão pela qual as pessoas humanas estão convidadas a comungar com Deus. É por esta razão que Deus, ao criar o Homem, talhou-o para a comunhão com a Família Divina.

As pessoas divinas estão no início da Criação e as pessoas humanas surgem na cúpula do processo criador.

Por serem pessoas em construção, os seres humanos estão a caminhar para a plenitude do amor e da comunhão.

Quanto mais aprofundamos o mistério da pessoa humana, melhor vamos conhecendo o mistério de Deus.

A pessoa é tanto mais capaz de comungar com Deus quanto maior for a sua capacidade de amar.

Por se estar a estrutura como ser único, original, livre, responsável, e capaz de comunhão amorosa, ninguém pode substituir a pessoa na tarefa da sua realização.

Os outros podem facilitar a nossa realização pessoal, mas não podem colocar-se em nosso lugar. Nem o próprio Deus nos substitui na tarefa da nossa construção.

Só assim nos podemos realizar como pessoas livres, conscientes, responsáveis e capazes de comunhão amorosa.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




04 março, 2010

ESPÍRITO SANTO E A HUMILDADE DE CORAÇÃO

Espírito Santo,

Jesus convidou-nos a imitá-lo, construindo um coração idêntico ao seu: “Aprendeu de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).

Dá-nos a força para sabermos adoptar as atitudes correctas e necessárias, a fim de sabermos moldar um coração de homens novos.

Não podemos moldar um coração de homens novos sem cultivarmos a humildade, assumindo as nossas limitações e os nossos erros.

Na verdade, os homens de coração novo não estão sempre a culpar os outros das suas culpas, insatisfações e fracassos.

É um excelente sinal de humildade a pessoa saber aceitar as próprias limitações e procurar realizar-se com os seus talentos reais.

Ser humilde é ser verdadeiro em relação a si e aos outros. É também reconhecer que uma pessoa, para se realizar, precisa dos outros, pois a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade da comunhão.

Para moldar um coração humilde, a pessoa deve aprender a escutar o irmão e aceitá-lo assim como ele é.

As pessoas demasiado enredadas em si não conseguem escutar os outros. Eis a razão pela qual não são capazes de sintonizar e comungar com os outros.

A pessoa humilde reconhece o seu pecado. A pessoa de coração novo procura não julgar os outros.

Jesus disse que o coração é a fonte da qual emergem as boas e as más decisões. A pessoa que procura ser amável e serena nas relações com os irmãos já está a viver a bênção prometida aos mansos, os quais possuirão a terra, como diz Jesus no evangelho de São Mateus (Mt 5, 5).

A amabilidade desmonta as agressividades com que os outros pretendem muitas vezes agredir-nos.

Ter a gentileza de dar a primazia é uma atitude de que não passa despercebida dos outros e ajuda-nos a moldar um coração atento e fraterno.

A pessoa humilde sabe reconhecer os momentos oportunos para falar e as melhores ocasiões para escutar é sinal de sabedoria.

É um excelente sinal de amor fraterno saber evitar argumentos inúteis que só servem para exaltar os ânimos.

É um excelente sinal de humildade saber reconhecer quando o outro tem razão.
O alicerce da humildade é a sabedoria que capacita a pessoa para se analisar com critérios de verdade, interagir

A pessoa humilde confia em Deus, fazendo dele o rochedo sólido para edificarmos a nossa casa.

A pessoa humilde treina-se na arte de facilitar a realização dos outros, não se esquecendo de que o importante é aceitá-los por eles serem o que são e não por fazerem o que nós queremos.

Nos seus diálogos, a pessoa humilde procura comunicar sempre numa linha de verdade e autenticidade.

No trato com os irmãos não está sempre a olhar só para os seus interesses, tentando sobrepor-se aos outros.

A pessoa humilde recorda-se de que os outros são um dom de Deus, pois são mediações para a ela se poder realizar.

Por outras palavras, a pessoa humilde tem consciência de precisar dos outros, pois sabe que ninguém pode ser feliz sozinho.

Isto torna-se ainda mais claro à luz da fé, pois a Palavra de Deus diz-nos que apenas com os outros podemos formar a Família de Deus.

A pessoa humilde tem consciência de que ninguém é bom em tudo e que nenhuma pessoa é a medida dos outros.

A pessoa humilde é agradecida, sobretudo quando sente que os outros estão a ser atentos e respeitadores da sua originalidade e diferenças.

De facto, a pessoa que tenta controlar e manipular os outros nunca conseguirá ter um coração de homem novo, pois está a impedir que os outros possam emergir como pessoas livres, conscientes e responsáveis.

As pessoas humildes procuram pôr o amor e a fraternidade em primeiro plano e por isso são uma mediação privilegiada do amor de Deus para os irmãos.

A pessoa humilde tenta amar o outro, apesar dos seus defeitos, impedindo assim que ele seja marginalizado apesar das suas imperfeições.

A pessoa humilde tem a capacidade de se alegrar com o com os sucessos dos outros como se fossem seus.

A pessoa humilde nunca se afasta do outro pelo facto de ele ter sofrido revezes e fracassos.

A pessoa humilde não alimenta ressentimentos ou planos de vingança no seu coração.

A sabedoria que serve de alicerce à humildade é um dom do Espírito Santo, o grande arquitecto do Homem de Coração Novo.

A pessoa humilde é disponível e procura alicerçar as suas atitudes e opções no pilar da gratuidade.


Espírito Santo,

São Paulo diz que tu és o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5). Ajuda-nos, nós te pedimos, a moldar em nós um coração manso e humilde como o de Jesus.

Com o teu jeito maternal de amar faz que as nossas atitudes sejam geradoras de paz e harmonia, afim de os nossos corações se configurem com o coração de Jesus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias