29 setembro, 2009

A SEGUNDA VINDA DE CRISTO EM SÃO JOÃO-I

I-O JUÍZO ESTÁ EM PROCESSO

O evangelho de São João é o único que supera definitivamente o conceito de uma segunda vinda apocalíptica.

O juízo de Deus dá-se mediante o encontro com Jesus, o portador da vida nova que brota do Espírito Santo.

Cristo é o juiz por ser o Filho do Homem, isto é, o Messias glorificado no céu à maneira do Filho do Homem de Daniel (Dan 7, 12s).

Após a Sua glorificação, Jesus torna-se a fonte da vida e da ressurreição:

“O Pai tem a vida em si mesmo. Do mesmo modo concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo.
E deu-lhe o poder de julgar por ser o Filho do Homem (...).

Vai chegar a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a Sua voz. Os que tiverem praticado boas obras ressuscitarão para a vida.

Os que tiverem praticado o mal ressuscitarão para a condenação. Eu nada faço por mim mesmo. Conforme oiço é que julgo, e o meu juízo é justo porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou” (Jo 5, 26-30).

No evangelho de São João, o juízo é, pois, o reconhecimento da fidelidade de Deus. Este reconhecimento é um dom do Espírito Santo realizado no nosso coração.

Eis as palavras de Jesus: “Convém-vos que eu vá. Se eu não for, o Consolador não virá a vós. Mas se eu for, enviar-vo-lo-ei.

Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16, 7). Para o evangelho de São João, o juízo começou com a ressurreição e a glorificação de Jesus.

Foi nesta altura que o Espírito entrou na marcha da Humanidade exercendo a sua missão de defensor e consolador, introduzindo-nos na Família de Deus:

Ao dar-nos o Espírito Santo, Jesus deu-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus:

“Mas aos que o receberam, aos que acreditam nele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram do sangue, nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (Jo 1, 12-13).

Isto é possível porque o Verbo encarnou (Jo 1, 14). Por outras palavras, o divino enxertou-se no humano, afim de a Humanidade ser assumida em Deus.

Os judeus julgam segundo a carne, isto é, segundo os critérios do judaísmo. Jesus não julga assim:

“Quando vier o Consolador que vos hei-de enviar da parte do Pai, o Espírito da verdade que procede do Pai, ele dará testemunho de mim” (Jo 15-26).

A segunda vinda de Jesus no evangelho de São João não se realiza como um acontecimento cósmico e trágico, tal como acontece nos outros três evangelhos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A SEGUNDA VINDA DE CRISTO EM SÃO JOÃO-II

II-JESUS VEM PARA SALVAR, NÃO PARA CONDENAR

Jesus vem, pelo Espírito, para conduzir os eleitos Deus para a casa do Pai: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, ter-vo-lo-ia dito.

Vou preparar-vos uma morada. Depois de ter ido e vos ter preparado essa morada, virei outra vez e levar-vos-ei comigo” (Jo 14, 2-3).

O juízo é realizado pelo Espírito Santo no coração das pessoas. Isto quer dizer que o coração é o ponto de encontro com a verdade de Deus e do Homem:

“O Espírito da verdade que procede do Pai dará testemunho de mim” (Jo 15, 26b).O Espírito é a garantia da nossa união com Deus e da nossa salvação:

“Deus é Amor. Quem permanece no Amor permanece em Deus e Deus permanece nele. O Seu Amor é perfeito para connosco, a fim de que estejamos confiantes no dia do juízo (...).

No amor não há temor, pois o Amor, quando é perfeito, lança fora o temor. O temor pressupõe o castigo. O que teme não é perfeito no amor» (1Jo 4, 16b-18).

A condenação acontece apenas para os que se fecham ao dom de Deus:

“Quem acredita no Filho de Deus não é condenado. Quem não acredita nele já está condenado (...).
A causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz. Isto porque as suas obras eram más” (Jo 3, 18-19).

O juízo já está acontecer, pois o Senhor já difundiu o Espírito Santo:

“Agora é que se realiza o julgamento do mundo. É agora que o príncipe deste mundo é expulso” (Jo 12, 31).

Deus não anda à procura de razões para condenar as pessoas. Se assim fosse estávamos todos condenados.

Pelo contrário, antes de nós o amarmos já ele nos amava e sonhava com um plano salvador para todos nós.

Eis as palavras da Primeira Carta de São João: “Nós amamo-lo porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4, 19).

A verdade do juízo de Deus está precisamente nesta interacção: amor a Deus, amor aos irmãos:

“Se alguém disser: “Amo a Deus, mas odiar o seu irmão, é mentiroso”. Quem não ama o irmão que vê não pode amar a Deus a quem não vê” (1Jo 4, 20).

A missão de Cristo, diz o evangelho de São João, não é condenar, mas salvar o Homem:

“Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, não sou eu que o condeno, pois eu não vim para condenar o mundo, mas para o salvar” (Jo 12, 47).

No último dia, o homem será confrontado com a verdade da mensagem e com o modo como a aceitou ou a rejeitou:

“Quem me rejeita e não acolhe as minhas palavras tem quem o condene. A mensagem que anunciei é que há-de condená-lo no último dia” (Jo 12, 48).

Confrontar-se com a mensagem de Jesus é confrontar-se com o Espírito Santo que habita no íntimo do nosso coração:

“Quando vier o Espírito da Verdade, guiar-vos-á para a verdade total. Ele não falará de si mesmo. Dirá tudo o que tiver ouvido e anunciar-vos-á o que há-de vir.

Glorificar-me-á porque há-de receber do que é meu para vo-lo anunciar” (Jo 16, 13-14).

Ao ressuscitar, Jesus oferece ao Homem o maior de todos os dons, isto é, a possibilidade de participar na comunhão universal da Família de Deus.

Glorificar-me-á porque há-de receber do que é meu para vo-lo anunciar” (Jo 16, 13-14).

Em Jesus ressuscitado Deus oferece ao homem o maior de todos os dons, isto é, a possibilidade de participar na comunhão universal do Reino que é o mesmo que pertencer à Família de Deus.

A Salvação, portanto, é um dom. Isto quer dizer que o Homem pode aceitá-lo ou não. De outro modo não seria um dom, mas uma imposição.

O juízo de Deus joga-se nesta opção fundamental que determina a salvação ou a perdição da pessoa.

Por outras palavras, Deus não condena ninguém. As pessoas que vão para a morte eterna condenam-se por sua própria decisão.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

27 setembro, 2009

SABOREANDO OS CONTEÚDOS DA FÉ CRISTÃ



A fé capacita os crentes para olhar a vida e a História com o olhar do próprio Deus. Os conteúdos da fé cristã brotam da Palavra de Deus e não são um simples resultado do raciocínio humano.

Por terem como fundamento a Palavra de Deus a fé, a esperança e a caridade são chamadas virtudes teologais, pois brotam da acção do Espírito Santo em nós.

As virtudes teologais não se confundem das virtudes morais, as quais capacidades que emergem em nós graças ao nosso próprio esforço.

Os conteúdos da fé emergem nos crentes graças à acção do Espírito Santo que nos vai ajudando a caminhar para a Verdade da revelação de Deus.

Eis alguns dos principais conteúdos da fé que vão nascendo nos cristãos à medida que estes vão aprofundando a Palavra de Deus guiados pela luz do Espírito Santo:

Em primeiro lugar, nós acreditamos em um só Deus que é uma comunhão de três pessoas.

Acreditamos que Deus é o Criador de todo o Universo, embora a sua obra ainda não esteja concluída.

Acreditamos que, pelo mistério da Encarnação, o divino se enxertou no humano, a fim de a Humanidade ser incorporada na Família de Deus e, deste modo, divinizada.

Acreditamos que em Jesus de Nazaré se exprimiu em grandeza humana o próprio Filho Eterno de Deus.

Acreditamos que em Cristo o humano e o divino fazem uma união orgânica e dinâmica, tal como a cepa da videira e os seus ramos, como disse Jesus (Jo 15, 1-8).

Acreditamos que na união humano-divina de Cristo, o Filho Eterno de Deus e Jesus, o Filho de Maria, fazem um, mas sem se confundirem nem fundirem.

Acreditamos que a pessoa divina do Espírito Santo é o princípio animador da reciprocidade que se processa entre a pessoa de Deus Pai e a pessoa do Filho Eterno de Deus.

Acreditamos igualmente que o Espírito Santo é o princípio animador da interacção directa que existe entre o Filho Eterno de Deus e Jesus de Nazaré, o Filho de Maria.

É esta a verdade que queremos proclamar ao afirmar que o Filho de Deus encarnou pelo Espírito Santo.

Como o ser humano, só por si, não podia conhecer o mistério de Deus, nós acreditamos que Deus se revelou escolhendo, para isso, um povo para anunciar aos homens a Palavra de Deus.

Acreditamos que até Jesus Cristo o medianeiro da Revelação de Deus foi o povo bíblico.

Do mesmo modo acreditamos que, com a ressurreição de Jesus Cristo, o povo de Deus passou a ser formado pelo conjunto das Igrejas cristãs.

Acreditamos que o Novo Povo de Deus, ao contrário do Antigo, não é constituído por uma raça, uma língua, uma nação ou uma nacionalidade.

Acreditamos que o Novo Povo de Deus se edifica no interior de todas as raças, línguas, povos e nações, a fim de poder anunciar a Palavra de Deus a toda a Humanidade.


Por se edificar no interior de todas as raças, línguas, povos e nações, o Novo Povo de Deus é sinal de que o plano salvador de Deus é para todos os seres humanos.


Acreditamos que Deus é Amor omnipotente, mas que apenas pode realizar aquilo que o amor pode realizar.


Acreditamos que Deus, pelo facto de ser amor, nada pode contra o amor, pois não pode negar-se a si mesmo.


Acreditamos que Deus, pelo facto de ser amor, não condena ninguém. As pessoas que ficam privadas da Comunhão do Reino de Deus condenam-se por sua própria decisão.


Acreditamos que Deus, ao criar o Homem, interveio de modo especial através da comunicação do Espírito Santo a que o Livro do Génesis chama o hálito da vida (Gn 2, 7).


Acreditamos que o Homem é um ser em construção, tanto no aspecto físico, como psíquico, social e espiritual.


Acreditamos que a pessoa humana não se esgota na dimensão biológica e que a nossa dimensão espiritual é incorporada na Família de Deus.

Acreditamos que o núcleo da Boa Nova do Evangelho não é a simples imortalidade, mas a ressurreição das pessoas com Jesus Cristo.

Acreditamos que a humanização dos seres humanos é uma tarefa ética que só pode acontecer se dissermos sim ao amor e não ao egoísmo.


Acreditamos que o anúncio do Evangelho é um serviço fundamental para o bem da Humanidade.

Na verdade, a Palavra de Deus ajuda-nos a compreender o sentido da vida e a meta para a qual estamos a caminhar.

Acreditamos que a opção de viver e agir ao jeito de Jesus é a melhor escolha para nos realizarmos e sermos felizes.

A creditamos que Deus Pai é pai de Jesus Cristo e também nosso pai. Na verdade, nós já estamos incorporados na Família de Deus pelo Espírito Santo que nos leva a clamar “Abba”, ó Papá. (cf. Rm 8, 14-16).

Acreditamos que Deus perdoou os nossos pecados e nos reconciliou consigo através de Jesus Cristo, fazendo de nós uma Nova Criação, como diz São Paulo (2 Cor 5, 17-19).

Acreditamos que Jesus ressuscitou no próprio acto de morrer e que, no momento da sua morte, conduziu todos os que o precederam para a festa da Vida Eterna, como ele diz ao Bom Ladrão (Lc 23, 43).


Acreditamos que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos orações, dando Vida Nova aqueles em quem habita (Rm 5,5).

Acreditamos que através do baptismo passámos a formar a Igreja, povo escolhido para conhecer, celebrar e anunciar o amor salvador de Deus a todos os povos.


Acreditamos que a Igreja é o conjunto dos baptizados cujo coração é o Espírito Santo, tal como Cristo é a sua Cabeça.


Acreditamos que Cristo veio para destruir o pecado, a fim de nos libertar de tudo o que nos impede de ser felizes.

Acreditamos que a destruição do pecado acontece no nosso coração pela acção do Espírito Santo que nos faz passar do egoísmo para o amor fraterno, como aconteceu com Zaqueu (Lc 19, 1-8).


Acreditamos que a Vida Eterna consiste em fazer parte da Família de Deus: filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus (Rm 8, 14-16).


Acreditamos que Deus quer que todos os seres humanos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (1 Tm 2, 4).


Acreditamos que Jesus Cristo é um homem perfeito, unido de modo orgânico a todos nós. É graças a esta união que todos nós estamos salvos pela incorporação na comunhão da Santíssima Trindade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


22 setembro, 2009

A FONTE DA SABEDORIA É O ESPÍRITO SANTO

Entendida como capacidade de saborear a vida e os acontecimentos à luz de Deus, a sabedoria é um dom que optimiza o ser e o agir da pessoa humana.

O Livro da Sabedoria diz que o homem sábio está capacitado para saborear a beleza e a bondade de Deus na Criação.

O Insensato, pelo contrário, fixa-se nas aparências e não consegue elevar-se até ao autor da harmonia e da beleza da Criação:

“A ignorância acerca de Deus e das suas obras instalou-se no coração dos insensatos. Na verdade, o insensato não é capaz de chegar a Deus através das belezas visíveis” (Sb 13, 1).

São Paulo chama a atenção de alguns cristãos de Corinto que se tinham desviado da sabedoria de Deus, seduzidos pela falsa sabedoria das filosofias pagãs.

Muito destes cristãos acabaram por se desviar do modo viver proposto pela sabedoria do Evangelho, acabando por ignorar o essencial da fé.

Eis as suas palavras: “Alguns de vós ignoram tudo a respeito de Deus. Para vossa vergonha o digo!” (1 Cor 15, 34).

A Carta aos Efésios diz que a Sabedoria que conduz à verdade de Deus é uma revelação que acontece no coração da pessoa humana, graças à acção do Espírito Santo:

“Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, vos dê o Espírito da Sabedoria e da Revelação, a fim de poderdes conhecer o Deus da Glória” (Ef 1, 17).

A sabedoria que vem do Espírito Santo emerge no nosso coração como uma capacidade de ver as coisas com os critérios de Deus.

O evangelho de São João diz que o Espírito Santo tem a missão de nos conduzir à Verdade plena:
“Quando vier o Espírito da Verdade, ele guiar-vos-á para a Verdade completa” (Jo 16,13).

A Verdade é a compreensão e enunciação correcta e adequada da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

A sabedoria e a verdade caminham juntas, pois têm a mesma fonte. Não é difícil compreender como apenas Deus pode compreender e enunciar de modo correcto e adequado a realidade de Deus, do Homem, do Universo e da História.

É por esta razão que o evangelho de São João nos diz que o Espírito Santo é quem nos conduz à plenitude da Verdade:

“O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á tudo.
Além disso, recordar-vos-á as coisas que eu vos disse” (Jo 14,26).

Como não está em sintonia com o Espírito Santo, o mundo está privado da Verdade e da Sabedoria que vem de Deus.

Eis as palavras de Jesus no Evangelho de são João: “O Pai vai enviar-vos Espírito da Verdade que o mundo não pode receber, pois não o vê nem o conhece.

Mas vós conhecei-lo, pois ele está junto de vós e em vós” (Jo 14, 17).

Como origem da Sabedoria, Deus concede-a aos que lha pedem, sobretudo às pessoas que acolhem a sua Palavra com simplicidade de coração.

Ao aperceber-se do modo bonito como as pessoas simples acolhem a Palavra de Deus, Jesus exultou de alegria e disse:

“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos doutores e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11, 25; Lc 10, 21).

Na Carta aos Romanos, São Paulo demonstra saber muito bem o que significa saborear as coisas quando afirma:

“O Reino de Deus não é uma questão de comida e bebida, mas sim de justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14, 17).

Foi este Espírito, diz ele, que o enviou para ensinar a Sabedoria de Deus aos homens:

“Ensinamos a Sabedoria de Deus, misteriosa e oculta deste os tempos mais remotos e que Deus destinou para nossa glória” (1 Cor 2, 7).

O evangelho de São Lucas diz que Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2, 52).



Jesus diz aos Apóstolos que não precisam de estar preocupados sobre o que devem dizer nos momentos de perseguição, pois o Espírito Santo enchê-los-á de Sabedoria:

“Naquela hora dar-vos-ei eloquência e sabedoria, às quais nenhum dos vossos adversários poderá resistir nem contradizer” (Lc 21, 15).

O Livro Actos dos Apóstolos diz que Estêvão, no momento do seu martírio, estava cheio do Espírito Santo e da Sabedoria, pelo que os seus inimigos não podiam resistir-lhe (Act 6, 10).

A Segunda Carta a Timóteo diz que os textos bíblicos nos comunicam a Sabedoria que conduz à salvação em Cristo (2 Tm 3, 15).

Por seu lado, a Carta aos Efésios vai ainda mais longe quando afirma: “Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, vos encha do Espírito da Sabedoria e da revelação, a fim de bem o conhecerdes” (Ef 1, 17).

A Carta de São Tiago diz que Deus nunca nega o dom da Sabedoria àqueles que lha pedem:

“Se alguém entre vós tem falta de Sabedoria, peça-a a Deus, pois ele concede-a generosamente a todos” (Tg 1, 5).

A inveja, o ódio e o egoísmo, diz ainda a Carta de São Tiago, não procedem da Sabedoria de Deus, mas antes da sabedoria maldosa do mundo (Tg 3, 13-15).

Nesta mesma linha, São Paulo diz aos coríntios que a Sabedoria de Deus e a sabedoria do mundo são totalmente contrárias.

Eis as suas palavras: “Ninguém se iluda: se alguém de entre vós julga ser sábio aos olhos do mundo, torne-se louco, a fim de obter a Sabedoria de Deus.

Na verdade, a sabedoria do mundo é loucura diante de Deus” (1 Cor 3, 18-19).

As pessoas que cultivam a Sabedoria empenham-se seriamente na construção de uma Humanidade melhor.

Os sábios fazem o bem, conscientes de que o melhor prémio do bem que fazem é a alegria de o terem feito.

Podemos dizer que a sabedoria é o cinzel que modela os grandes mestres, dos quais, o maior foi Jesus Cristo.

Um mestre é uma pessoa que, pelo seu jeito de falar e agir, inspira os outros, ajudando-os a crescer como pessoas livres, conscientes, responsáveis e capazes de comunhão amorosa.

As pessoas que se deixam conduzir pela Sabedoria marcham no caminho da verdade, da justiça e do amor.

Para isso procuram viver segundo estes critérios: o que não é justo não deve ser feito. O que não é verdadeiro não deve ser dito. O amor é uma razão que vale tanto para viver como para morrer.

No evangelho de São Mateus Jesus louva a Deus pelo facto de conceder o dom da Sabedoria às pessoas simples:

“Eu te louvo, Pai, Senhor do Céu e da Terra porque escondestes estas coisas aos sábios e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11, 25).

São Paulo reconhece que a Sabedoria lhe foi dada por revelação de Deus, a fim de a comunicar aos seres humanos:

“Foi-me dada a sabedoria de Deus, a fim de a dar a conhecer” (Ef 3, 10).

Na Primeira Carta aos Coríntios ele diz ainda: “Ensinamos a sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, a qual foi destinada por Deus desde os tempos primordiais para nossa glória” (1 Cor 2, 7).

A Carta de Tiago diz que a sabedoria confere à vida do crente uma série de qualidades que fazem dele uma força transformadora no meio do mundo:

“A sabedoria que vem do alto é pura, pacífica, paciente, conciliadora, cheia de misericórdia e bons frutos, isenta de parcialidade e hipocrisia” (Tg 3, 17).

A Sabedoria tem a missão de iluminar e dar critérios aos homens, a fim de estes orientarem as ciências para o bem da Humanidade.

A História tem dado provas de que a ciência dos homens, sem os critérios da Sabedoria pode conduzir a Humanidade à destruição.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




18 setembro, 2009

A EFICÁCIA DA PALAVRA DE DEUS-I

I-A FORÇA CRIADORA DA PALAVRA DE DEUS

A Palavra de Deus é criadora, diz a Bíblia (cf. Gn 1, 3-28).

Nos primórdios da Criação, diz o Livro do Génesis, a Palavra actuava como força significante que sai de Deus e realiza aquilo que significa:

Deus disse: “faça-se a luz” e assim aconteceu” (Gn 1, 3).

Deus disse: “Que se faça o firmamento” e o firmamento aconteceu” (Gn 1, 5).

“Deus disse: “Reúnam-se as águas” e assim aconteceu” (Gn 1,9).

“Deus disse: “que a Terra produza verdura” e assim aconteceu” (Gn 1, 11).

“Deus disse: “haja luzeiros no firmamento dos céus, a fim de separarem o dia da noite.” E assim aconteceu” (Gn 1, 14).

“Deus disse: “que as águas sejam povoadas por multidões de seres vivos” e assim aconteceu” (Gn 1, 20).

“Deus disse: “que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos e animais selvagens segundo as suas espécies” (Gn 1, 24).

(Gn 1, 26): “Deus disse: “façamos o ser humano à nossa imagem e à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre os répteis que rastejam pela terra” E assim aconteceu” (Gn 1, 26).

Em seguida, Deus disse-lhes: “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra” (Gn 1, 28).


Em Comunhão Convosco

Calmeiro Matias

A EFICÁCIA DA PALAVRA DE DEUS-II

II-OS PROFETAS E A PALAVRA

Quando a Palavra de Deus invade o coração do ser humano, este torna-se profeta, isto é, portador de uma mensagem de Deus para os homens.

O profeta anuncia o plano de Deus para o Homem e a Criação, ao mesmo tempo que denunciam as atitudes do Homem que se opõem ou tentam bloquear a sua plena humanização.

Isto significa que a mensagem que o profeta anuncia não é sua. Ele é apenas o medianeiro que anuncia aos homens a Palavra de Deus em grandeza humana.

Por outras palavras, ao anunciar a Palavra Salvadora de Deus, o profeta está a ser salvo pela mesma Palavra que anuncia.

Ao lermos os relatos de chamamento dos profetas, podemos ter a sensação de que a Palavra de Deus se impõe aos profetas, obrigando-os a realizar a sua missão.

Este modo de falar é apenas para realçar o facto de a Palavra de Deus ser eficaz e ser ela que capacita o profeta para a missão.

Na maneira de ver dos textos sagrados, o profeta é um homem totalmente possuído pela Palavra.

É a Palavra que lhe confere a coragem para anunciar e, ao mesmo tempo, para enfrentar os príncipes e os poderosos que se opõem à sua mensagem.

O profeta sabe que esta força vem da Palavra de Deus e não de si. Por isso o chamamento do profeta aparece normalmente sintetizado de modo muito simples pela expressão:

“A Palavra do Senhor veio sobre mim”.

Podemos dizer que os gestos proféticos são realizações da força da Palavra a fazer história com o Homem.

A Palavra de Deus começa por ser um acontecimento vivo no coração do profeta. O protagonista deste Acontecimento é o Espírito Santo.

Depois de o Espírito Santo provocar o acontecimento da Palavra no coração do profeta, este nunca mais voltará a ser o que era antes.

As transformações operadas na vida do profeta e na vida das pessoas que acolhem a Palavra são a expressão da eficácia da mesma Palavra.

Como acabamos de ver, a Palavra de Deus não é um simples discurso, mas um acontecimento que inicia uma nova etapa na História.

Podemos dizer que a Palavra de Deus encarna na vida do profeta e das pessoas que a acolhem.
Isto quer dizer que os gestos dos profetas emergem do seu coração, graças à eficácia da Palavra e à acção do Espírito Santo.

A Palavra do Senhor realiza o que significa na vida das pessoas que a acolhem. Por se sentir possuído pela Palavra, o profeta tem consciência de que não está a falar em nome próprio.

É por esta razão que os profetas não hesitam em afirmar que é o próprio Deus quem fala pela sua boca: ”Assim fala Yahvé,” repetem eles.

Eis o que diz a Segunda Carta de São Pedro a este propósito: “A profecia jamais veio por vontade humana, mas os homens, movidos pelo Espírito Santo, falam como quem vem da parte de Deus (2 Pd 1, 21).

É por esta razão que o próprio profeta nunca esgota o alcance e a profundidade da mensagem que anuncia.

O facto de a Palavra ser eficaz não quer dizer que se imponha aos seres humanos. De facto, a pessoa pode opor-se a Deus.

No entanto, a rejeição da Palavra de Deus produz efeitos negativos no coração da pessoa que a rejeita, pois a vontade de Deus coincide com o que é melhor para o Homem.

A conversão é sempre uma decisão do Homem em acolher a proposta amorosa de Deus. Ao contrário do que acontecia com o legalismo dos Levitas, o pecado não é nunca uma mera transgressão.

Pelo contrário, é uma infidelidade à aliança de Deus da qual a aliança matrimonial é símbolo.

Podemos dizer que o profeta é o homem do compromisso com a transformação histórica, apontando sempre para os critérios de Deus, os quais são diferentes dos critérios dos homens.

Pela revelação sabemos que, no princípio, era o amor concretizado numa comunhão familiar de três pessoas.

Através da sua Palavra, Deus revelou-nos o grande amor com que nos criou e salvou em Cristo.

Graças ao dom da revelação nós sabemos que não estamos perdidos num mundo caótico e a caminhar para o vazio da morte.

Por si só, o Homem nunca podia chegar a esta compreensão profunda do mistério de Deus, do Homem e do sentido da História.

Apesar de não ser irracional, a Palavra de Deus transcende a simples razão humana. Podemos dizer que a revelação está para a razão, como os binóculos para os olhos:

Assim como os binóculos optimizam as capacidades dos olhos, a fé amplia os horizontes da razão.

Mas o Homem pode recusar-se a agir segundo as propostas que lhe são feitas pelo Deus da Aliança.

Levamos em nós a serpente que nos pretende fazer acreditar que as propostas de Deus não são boas para nós.

O Espírito Santo ao provocar o eco da Palavra no nosso coração, faz emergir em nós a Sabedoria que nos capacita para saborearmos a vida com os critérios de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

14 setembro, 2009

A PESSOA E A QUALIDADE DO SEU CORAÇÃO-I

I-A BONDADE DE CORAÇÃO

Jesus disse que a qualidade de uma pessoa se mede pela qualidade do seu coração.

Segundo a visão bíblica, o coração é o núcleo mais nobre da interioridade espiritual dos seres humanos.

É no coração que os seres humanos decidem as grandes opções da sua vida. São bem conhecidos os ensinamentos de Jesus sobre o coração e a bondade das pessoas:

É do coração que procedem as más acções, as quais tornam tornam o ser humano impuro (cf. Mt 15, 19).

Numa outra passagem do evangelho de São Mateus, Jesus diz: “A boca fala da abundância do coração” (Mt 12, 34).

Segundo São Mateus, Jesus pediu aos discípulos para moldarem o coração em harmonia com o seu coração:

“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).

O evangelho de São João diz que o diabo meteu no coração de Judas o plano de trair o Mestre (Jo 13, 2).

Jesus está inteiramente em sintonia com a visão bíblica segundo a qual o coração é a sede da sabedoria e o tesouro das coisas boas:

Segundo o evangelho de São Lucas, Jesus, após a sua ressurreição, repreende os discípulos de Emaús, chamando-lhes lentos de coração para acolherem o que os profetas tinham anunciado acerca do Messias (Lc 24, 25).

Na Carta aos Gálatas, São Paulo diz que Deus enviou o Espírito Santo aos nossos corações., o qual nos leva a tratar Deus por “Abba” papá (Gal 4, 6).

São Paulo pede a Deus que ilumine os olhos dos corações crentes dos cristãos de Éfeso, a fim de estes compreenderem o plano salvador de Deus e viverem de acordo com ele (Ef 1, 18).

Na cultura bíblica, o termo coração ocupa um lugar central do ser e do agir da pessoa humana.

Isto significa que o valor da pessoa não se mede pelos quilos que pesa, nem pelos centímetros que ela tem de altura.

Também não se mede pelas riquezas que a pessoa possui, nem por aquilo que ela diz, mas sim pelas suas realizações na linha do amor.

Como vemos, o coração não é um motor cego que faz leva as pessoas a agir sem critérios. Eis como São Paulo vê a origem da luz e da sabedoria que brotam no nosso coração, conduzindo-nos para o bem.

“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita nos vossos corações?” (1 Cor 3, 16).

Na Segunda Carta aos Coríntios, São Paulo éainda mais explícito quando afirma: “Não é que sejamos capazes de conceber alguma coisa por nós mesmos.

A nossa capacidade vem de Deus. É ele que nos torna aptos para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito.

Na verdade, a letra mata, mas o Espírito dá vida (2 Cor 3, 5-6).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PESSOA E A QUALIDADE DO SEU CORAÇÃO-II

II-O CORAÇÃO COMO MORADA DE DEUS

O Livro do Génesis que Deus se debruçou para beijar o barro primordial do qual saiu Adão comunicando-lhe, nesse momento, o hálito da vida (Gn 2, 7).

É isto mesmo que São Paulo quer dizer quando afirma que o Espírito santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Isto quer dizer que o Espírito Santo está em nós como uma presença que ilumina, interpela e nos convida a agir na linha do amor, a fim de se realizar como pessoa.

Nas bem-aventuranças, Jesus diz que os puros de coração verão a Deus (Mt 5, 8). Isto significa que o essencial das pessoas se vê com o coração não com os olhos do rosto.

Mas esta declaração pressupõe que o homem é responsável pela qualidade do seu coração. O Deus da revelação bíblica tem coração, pois o coração é o ponto de encontro de uma pessoa com as outras.

A bíblia afirma muitas vezes que Deus tem coração. Se o coração é o núcleo mais nobre do ser humano e o ponto de encontro com as outras pessoas, então temos de reconhecer que as pessoas divinas também têm coração.

Jesus convidou os discípulos a amar ao jeito de Deus, a fim de o seu coração se moldar cada vez mais com o de Deus:

“Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu, pois ele faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores” (Mt 5, 44-45).

Entendido como o núcleo espiritual a partir do qual emergem as decisões do ser humano, temos de reconhecer que o coração é uma dimensão essencial da pessoa.

Neste sentido, os animais não têm coração, pois não se constituem como pessoas livres, conscientes e responsáveis.

A Palavra de Deus é acolhida e no coração, pois o coração é o ponto de encontro com Deus e os irmãos.

O evangelho de São Lucas diz que Maria acolhia e meditava a Palavra de Deus e a guardava no seu coração (Lc 2, 51).

Podemos dizer que a comunicação da Palavra de Deus acontece como fruto da interacção entre o coração da pessoa humana e o Espírito Santo.

As pessoas divinas comunicam entre si interagindo de coração a coração. O mesmo acontece com as pessoas humanas quando estas comunicam em profundidade.

Como vemos, Deus não é um ser estático. A Divindade não é uma essência eternamente imutável.

Por outras palavras, graças ao facto de ter coração e ser comunhão, a Divindade é novidade permanente.

No evangelho de São Mateus, Jesus pede aos discípulos para moldarem os seus corações, inspirando-se no próprio coração de Jesus:

“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). Podemos dizer que o coração de Jesus é a fonte do amor e da fidelidade incondicional a Deus.

Foi no coração de Jesus que se deu o encontro do melhor de Deus com o melhor do Homem.
Foi no coração de Jesus que a Palavra das Escrituras teve o seu eco mais profundo.

Isto era essencial, pois foi no coração de Jesus que o Reino de Deus, isto é, a comunhão humano-divina começou a emergir.

Por isso, durante o tempo em que Jesus viveu na história, o Reino de Deus estava a brotar no meio dos homens. Isto quer dizer que Jesus estava no meio dos homens:

“Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demónios, então o Reino de Deus já está no meio de vós” (Mt 12, 28).

Mas no momento da sua morte e ressurreição, o Reino de Deus tornou-se presente às pessoas a partir de dentro.

Pelo acontecimento da sua ressurreição, Jesus entrou nas coordenadas da universalidade, tornando-se interior a tudo e a todos:

“A vinda do Reino de Deus não é observável. Não se poderá dizer ei-lo aqui ou acolá, pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17, 20-21).

Isto significa que foi no coração de Jesus que se fez a assinatura da Nova e Eterna Aliança.

Por parte da Divindade assina o Filho Eterno de Deus. Por parte da Humanidade assina Jesus de Nazaré, o Filho de Maria.

Foi no coração de Jesus que a Humanidade chegou à plenitude dos tempos, isto é, o tempo da gestação chegou à sua plenitude.

Agora começou o parto, o qual dá início ao nascimento dos filhos de Deus, diz a Carta aos Gálatas (cf. 4, 4-7).

Com efeito, a Encarnação aconteceu como enxerto do divino no humano, a fim de este ser divinizado. É aqui que radica o fundamento da Nova e Eterna Aliança.

Foi a partir do coração de Jesus que aconteceu a difusão do Espírito Santo. No momento em que o soldado trespassa com a lança o peito de Jesus, saiu sangue e Água do seu coração, diz o evangelho de São João (Jo 19, 34).

A água é a Água Viva como Jesus tinha explicado. No nosso coração, esta Água Viva dá origem a uma nascente de Vida Eterna (Jo 7, 37-39).

As pessoas que beberem desta Água, disse Jesus à Samaritana, nunca mais terão sede (Jo 4, 14).

Por seu lado, o sangue que sai do lado de Jesus é o sangue da Nova e Eterna Aliança, isto é, o Espírito Santo que é o dinamismo vital de Jesus ressuscitado.

Foi isto que Jesus disse aos judeus quando lhes explicou que a carne e sangue que nos alimenta são a dinâmica amorosa do Espírito Santo e não uma realidade de ordem biológica (Jo 6, 62-63).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

09 setembro, 2009

SER IMITADORES DE JESUS CRISTO


Imitar Jesus Cristo é uma opção de vida que implica a identificação dos nossos critérios pessoais com os critérios de Jesus Cristo.

Conseguiremos imitar tanto melhor Jesus Cristo quanto mais conseguirmos ser pessoas livres e criativas.

A imitação de Cristo exige uma grande atenção à Palavra de Deus e ao Espírito Santo que habita em nós.

A imitação de Cristo implica uma opção de vida nova, pois imitar Cristo implica ser fiel aos apelos do Espírito Santo que é fonte permanente de novidade.

A pessoa que se deixa conduzir pelo Espírito de Cristo começa a tomar uma série de atitudes que, sem serem uma cópia das de Jesus enquanto ao modo, são idênticas quanto ao jeito de viver e amar.

A imitação de Cristo conduz os crentes à plena maturidade da vida cristã, incluindo uma experiência de Deus muito profunda.

Imitar Jesus Cristo é caminhar no sentido de uma experiência de tipo familiar, tanto em relação a Deus como em relação ao Homem.

O caminho da imitação de Cristo conduz-nos ao encontro de um homem cujo coração é o ponto de encontro da Humanidade com a Divindade.

À medida que começa a imitar Jesus Cristo, o cristão começa a ter uma enorme capacidade de correr riscos.

Esta capacidade assenta no dom da fortaleza, um dos frutos do Espírito Santo no coração dos crentes.

Esta capacidade dá-nos a possibilidade de realizarmos maravilhas no sentido de realizarmos transformações que são verdadeiros milagres, como aconteceu com Zaqueu (Lc 19, 1-10).

Eis alguns passos pilares importantes para levarmos por diante a imitação de Cristo:

1-Tomar Deus e o Homem a sério (Lc 7, 29-35).

2) Cultivar uma atenção especial em relação aos outros (Jo 2, 1-10).

3) Estar sempre disposto a defender a dignidade da pessoa, sabendo que o ser humano é a menina dos olhos de Deus.


O amor de Deus pelas pessoas é tão grande que nem o pecado do Homem o consegue anular, como Jesus ensinou (cf. Lc 7, 36-50).

4) Fazer do amor a única razão válida, tanto para viver como para morrer: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei.

Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-14).

O amor ao jeito de Jesus implica a eleição dos outros como próximo, como fez o Bom Samaritano (Lc 10, 25-37).

Só o amor confere validade à vida, bem como aos cultos, sacrifícios e orações (1 Cor 13, 1-13).

São Paulo diz que a imitação de Cristo nos leva a completar em nós o que falta à paixão de Jesus Cristo.

Por outras palavras, a imitação de Cristo leva-nos a apaixonar-nos pelas mesmas causas pelas quais Jesus se apaixonou.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




05 setembro, 2009

ATITUDES QUE EDIFICAM O AMOR

Ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado. Na verdade, é o amor dos outros que nos capacita para amar.

Segundo tenha sido bem ou mal amada, a pessoa humana fica mais ou menos capacitada para amar.

Isto quer dizer que somos capacitados ou condicionados pelos outros para actuarmos como pessoas livres, conscientes, responsáveis e capazes de amar.

Eis algumas atitudes construtivas que marcam o modo de agir de uma pessoa bem-amada:
Sabe edificar na cooperação e não na concorrência.

Sabe ajudar o outro a gostar de si, valorizando as suas realizações e empenhamentos, mesmo quando não correspondem aos seus interesses.

É capaz de ajudar o outro a superar a solidão e a suportar os fardos com que a vida, por vezes, carrega as pessoas.

Sabe dar o melhor de si, a fim de facilitar o amadurecimento do outro, dando-lhe oportunidades para que se realize como pessoa e seja feliz.

O bem-amado sabe que não pode substituir o outro, pois deste modo impedi-lo-ia de ser uma pessoa livre e criadora.

A pessoa adulta na sua capacidade de amar sabe ajudar sem se sobrepor. A pessoa bem-amada sabe por experiência que é melhor dar que receber.

Saber amar é ser capaz de ficar calado quando se está magoado, esperando o momento certo para dialogar serenamente.

Amar é ser capaz de escutar e acreditar no outro sem ter a pretensão de que de que a sua opinião é a única válida.

Amar é ajudar o outro a sentir-se apreciado. É importante saber escolher para tema de conversa e passatempo assuntos agradáveis à pessoa do outro.

Amar é cultivar a arte de saber escolher como tema de conversa e passatempo assuntos agradáveis ao outro.

A pessoa bem-amada sabe reconhecer as qualidades do outro e não girar obsessivamente à volta dos seus defeitos.

É importante não esquecer que amar é ser capaz de partilhar não só o que temos, mas sobretudo o que somos.

A pessoa que capaz de compreender que estar disponível para escutar e acolher é mais importante do que oferecer presentes já chegou longe na vivência do amor.

Amar é aceitar as diferenças, a fim de deixar o outro ser como é e não pretender que ele seja uma cópia de mim mesmo.

Ama mais e melhor quem dá o primeiro passo na linha da reconciliação. Foi assim que Deus agiu para connosco em Jesus Cristo.

A pessoa que toma o amor a sério está atenta no sentido de verificar se o outro está precisando de mim.

Na verdade, não basta pensar: “quando quiser que venha ter comigo”. Amar é estar disposto a morrer a muitos dos seus gostos e planos para dar ao outro a possibilidade de se sentir acolhido e amado.

Jesus ensinou-nos a arte de levar o amor até à sua densidade máxima: “Dar a vida pelo amigo”.


O amor modela o coração da pessoa para a comunhão, a meta onde as pessoas são realmente mais fortes.

Podemos dizer com Jesus que o amor é a rocha firme sobre a qual podemos edificar com segurança a nossa casa.

Amar é a veste indispensável para participarmos no banquete da Família de Deus. O amor concretiza-se em atitudes. Não se edifica sobre meras intenções ou discursos bonitos.

O amor é um caminho que conduz à comunhão. Podemos dizer que o amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

O amor gera sempre relações criadoras de verdade, liberdade e criatividade. O amor é a calda própria para as pessoas emergirem seguras e felizes.

Podemos dizer que o amor modela e capacita o coração para o dom e a gratuidade. A pessoa que ama aceita os defeitos do outro, apesar de isso exigir renúncia e sacrifício.

A pessoa que ama é capaz de sublinhar as qualidades do outro e de se congratular com os seus sucessos.

A pessoa que ama não está sempre a exigir disponibilidade do outro, mas procura estar disponível quando este precisa de si.

Ao dar uma opinião ou um conselho, a pessoa que ama procura comunicar sempre o melhor da sua vivência e do seu saber.

A pessoa egoísta, pelo contrário, tende sempre a reservar o melhor para si. A pessoa que ama dá-se de modo discreto e gratuito, ao ponto de o outro nem se aperceber do sacrifício de certas atitudes que são tomadas em seu favor.

A pessoa que ama não se afasta do outro por causa dos seus fracassos.Eis a razão pela qual a pessoa que ama de verdade é sempre a primeira a ser recordada nos momentos de sofrimento ou dificuldades.

A pessoa que ama evita magoar, mas não deixa de dizer a verdade pelo simples facto de que o outro possa não ficar contente.

A pessoa que ama aceita o outro, apesar dos seus defeitos, pois sabe que uma pessoa não se reduz aos defeitos que tem.

Por isso o outro sente que seria mais pobre se não tivesse encontrado a pessoa que o ama.

No seu hino ao amor, São Paulo menciona algumas atitudes fundamentais para a pessoa que quer tomar o amor a sério. Eis algumas das suas afirmações:

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se eu não tiver amor sou como um sino que soa ou um címbalo que retine.

Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça toda a ciência e os mistérios, se não tiver amor de nada me aproveita (…).

O amor é paciente e prestável. O amor não é invejoso nem arrogante, nem gira sempre à volta do seu próprio interesse.

O amor não guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade.
O amor tudo desculpa. Acredita sempre. Tudo suporta e tudo espera.

O Amor jamais passará” (1 Cor 1-8).


Em comunhão Convoco
Calmeiro Matias




01 setembro, 2009

MEDITANDO SOBRE A GÉNESE DO UNIVERSO


Deus criou o Homem para ser seu colaborador na obra da Criação. Com efeito, Deus criou o Homem de modo a este se poder criar, realizando-se de modo livre, consciente e responsável.

Cada ser humano, por ser uma pessoa, estrutura-se de modo único, original e irrepetível. A identidade da pessoa humana é o seu próprio jeito de se relacionar em dinâmica de amor.

A plenitude do Homem em construção é a comunhão com a Santíssima Trindade. Esta comunhão acontece através da força salvadora do Espírito Santo (Rm 8, 14-16).

Com o aparecimento da Humanidade, a Criação atinge uma densidade pessoal e eterna. Agora, Criador e a Criação podem dar-se as mãos e fazer uma aliança de comunhão eterna.

Com o aparecimento do Homem, a Terra tornou-se uma morada onde pode acontecer amor e fraternidade.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo alimenta a comunhão humano-divina realizada em Cristo.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Deus é amor, diz a Primeira Carta de São João (1 Jo 4,8). Isto quer dizer que o Universo leva em si a marca do amor.

Ainda antes de ter início a génese criadora do Cosmos, já existia a Comunhão Familiar da Santíssima Trindade.

Foi este mesmo amor que esteve na origem da criação do Homem, diz o Livro do Génesis (Gn 1, 26-27).

Foi o amor iniciou a marcha da humanização do Homem, a qual só pode acontecer através de relações marcadas pelo amor.

Este processo aconteceu pelo amor quando o hálito da vida entrou no interior do barro primordial que deu origem a Adão (Gn 2, 7).

Nesse momento o barro tornou-se barro com coração capaz de eleger o outro como próximo e de o constituir como alvo do seu bem-querer.


A Marcha criadora do Universo é dinâmica e evolutiva. A harmonia está presente em todas as estruturas deste Cosmos em gestação.

Nada está acabado neste projecto em processo histórico de realização. Deus está presente a esta marcha criadora, possibilitando que tudo caminhe dentro de uma sequência de causas e efeito.

Por outras palavras, Deus possibilita, mas não determina.

Nesta aventura histórica, Deus está a realizar uma epopeia cheia de ritmo e harmonia. Tudo é lógico e tem sentido. Há finalidade nas obras a emergir e a estruturarem-se.

Por ser harmonioso e belo, o Cosmos é um poema vivo a escrever-se e a reinventar-se de modo gradual e progressivo.

É belo o poema da Criação a acontecer: cada galáxia é uma estrofe e cada estrela um refrão.

Como testemunho vivo da Sabedoria divina, o Cosmos revela-nos a arte e a ternura da acção criadora de Deus.

Nesta marcha evolutiva do Universo já emergiu a vida, cuja cúpula é o Homem em Construção.
Os poemas humanos cantam a dor, as paixões e o Amor.

O poema da criação canta o amor criador de Deus que sonho o Homem à sua imagem e semelhança.

O poema de Deus fala-nos de ondas, partículas, células e vida capaz de amar. O Universo sonhado por Deus é lógico. Por isso a nossa inteligência o pode compreender.

Com o aparecimento do Homem, surge um espiritual com novas possibilidades para o ser e o agir:


Vibrações musicais sublimes, pensamentos estruturados em poesia ou gestos de amor profundo.

São diversos os temas do poema que Deus está a redigir:
Átomo, planeta e Galáxia.

Sistema solar, asteróide e Estrela Polar.
Planta, animal ou ave do céu a voar.

Mas o tema central deste poema é o Homem divinizado em Jesus Cristo.

No coração deste poema está a construir-se a História da Humanidade com pessoas a amar, a sorrir, a chorar, a odiar ou a sofrer.

Neste projecto a acontecer, a surge como cúpula personalizada da Criação. Por emergir de modo concreto em cada pessoa, a Humanidade já é capaz de comungar com o Criador.

Através de Jesus Cristo Deus já colocou ao nosso alcance a possibilidade de fazermos parte Família de Deus.

Esta possibilidade é-nos dada através da Encarnação, o enxerto do divino no Humano, a fim de este ser divinizado (Jo 1, 12-14).

O Homem em construção ainda está inacabado. Deus quis que fôssemos colaboradores seus na tarefa da nossa própria realização.

Com efeito, Deus criou o Homem de modo a este se poder criar, realizando-se de modo livre, consciente e responsável.

Cada ser humano, por ser uma pessoa, estrutura-se de modo único, original e irrepetível. A identidade da pessoa humana é o seu próprio jeito de se relacionar em dinâmica de amor.

A plenitude do Homem em construção é a comunhão com a Santíssima Trindade. Esta comunhão acontece através da força salvadora do Espírito Santo (Rm 8, 14-16).

Com o aparecimento da Humanidade, a Criação atinge uma densidade pessoal e eterna. Agora, Criador e a Criação podem dar-se as mãos e fazer uma aliança de comunhão eterna.

Com o aparecimento do Homem, a Terra tornou-se uma morada onde pode acontecer amor e fraternidade.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo alimenta a comunhão humano-divina realizada em Cristo.

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Deus é amor, diz a Primeira Carta de São João (1 Jo 4,8). Isto quer dizer que o Universo leva em si a marca do amor.

Ainda antes de ter início a génese criadora do Cosmos, já existia a Comunhão Familiar da Santíssima Trindade.

Foi este mesmo amor que esteve na origem da criação do Homem, diz o Livro do Génesis (Gn 1, 26-27).

Foi o amor iniciou a marcha da humanização do Homem, a qual só pode acontecer através de relações marcadas pelo amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro0 Matias