26 fevereiro, 2009

O ROSTO MATERNAL DO ESPÍRITO SANTO-I

I-O ESPÍRITO LIBERTADOR

O Espírito Santo é uma pessoa divina cujo jeito de amar é maternal. Assim como a primeira pessoa da Santíssima Trindade ama com um jeito paternal, o Espírito Santo ama com ternura maternal.

Do mesmo modo o Filho Eterno de Deus ama com um jeito filial em relação às pessoas divinas e de modo fraternal em relação às pessoas humanas.

São Paulo diz que o Espírito Santo habita nos nossos corações como num templo (1 Cor 3,16).

Isto quer dizer que a missão do Espírito Santo se passa no interior das pessoas facilitando a nossa caminhada para o amor que é o caminho para Deus.

O amor é por excelência um poder criativo e, como tal, libertador, pois a liberdade e a criatividade caminham sempre juntas.

Com efeito, a liberdade é a capacidade de se relacionar amorosamente com os outros e de interagir criativamente comas coisas e os acontecimentos.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo capacita-nos para realizarmos a grande tarefa da nossa humanização mediante o amor e a liberdade.

Só o amor é capaz de fazer surgir o novo e o diferente, fazendo emergir novos horizontes para a vida e capacitando-nos para melhorarmos a marcha da História Humana.

Eis a razão pela qual não podemos ser livres sem a cooperação do Espírito Santo. Eis a maneira como Jesus descreve o jeito com que o Espírito Santo o consagrou para a sua missão de Messias Libertador:

“O Espírito de Deus está sobre mim porque me consagrou para anunciar o Evangelho aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação dos presos e a mandar em liberdade os oprimidos” (Lc 4,
18).

Ninguém se pode tornar livre sem tomar decisões e fazer escolhas na linha do amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O ROSTO MATERNAL DO ESPÍRITO SANTO-II

II-A FECUNDIDADE DO ESPÍRITGO SANTO

Sempre que decidimos amar os outros estamos a responder a um apelo do Espírito Santo no mais íntimo do nosso ser.

O pecado é sempre uma oposição ao amor. Isto quer dizer que o pecado nunca torna a pessoa livre.

Eis o que Jesus diz acerca disto: “Se permanecerdes na minha palavra sereis meus discípulos, conhecendo a verdade e a verdade vos libertará (…).

Quem comete o pecado é escravo (…). Se o Filho de Deus vos libertar, sereis realmente livres” (Jo 8, 31-36).

A Carta aos Romanos vai nesta mesma linha quando afirma: “O Espírito Santo é o Espírito da Vida em Cristo Jesus.

Foi ele que nos libertou da lei do pecado e da morte” (Rm 8, 2). Jesus Cristo libertou-nos, dando-nos uma nova possibilidade de comunicarmos com o Espírito Santo como diz São Paulo:

“Cristo ressuscitado é um ser espiritual. Onde está o Espírito Santo, isto é, o Espírito do Senhor ressuscitado, aí está a liberdade” (2 Cor 3, 17).

Quando entre os seres humanos acontece uma relação de amor e comunhão fraterna, o Espírito Santo está presente para optimizar e conferir plenitude a essa relação.

Como é uma pessoa divina, o Espírito Santo não pode ser substituído por nenhum ser humano.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O ROSTO MATERNAL DO ESPÍRITO SANTO-III

III-ESPÍRITO QUE DIVINIZA

Graças ao Espírito Santo somos assumidos na comunhão Trinitária como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos em relação ao Filho de Deus.

Ele é a força que une e dinamiza o enxerto do divino no humano em Jesus Cristo. O Espírito Santo é o coração do mistério da Encarnação, tal como Cristo é a sua Cabeça.

Ele é a força amorosa que, no nosso íntimo, faz emergir uma nascente de Água Viva a jorrar Vida Eterna nos nossos corações (Jo 7, 37-39).

Foi o Espírito Santo que, com seu jeito maternal de amar, capacitou o coração maternal de Maria, a fim de ela amar o Filho de Deus com densidade divina.

Na verdade, ele é o amor de Deus derramado nos nossos corações, como diz a Carta aos Romanos (Rm 5,5).

O Espírito Santo é o beijo que Deus deu ao barro primordial do qual brotou Adão. São Paulo diz que as pessoas que se deixam mover pelo Espírito Santo são membros da Família Divina e podem dirigir-se a Deu Pai, dizendo, “Abba, ó Pai!” (Rm 8, 14-16).

E se nós permitirmos a sua acção no nosso coração actuar e dinamizar as nossas vidas, vai-nos moldando de acordo com Cristo ressuscitado.

A sua presença em nós é a certeza de que estamos salvos. O seu ser é exclusivamente espiritual. Por isso transcende as limitações do espaço e do tempo.

Habita as coordenadas da universalidade, isto é, está presente a tudo e a todos com a sua sabedoria infinita.

O termo hebraico Ruah (Espírito) significa vento, brisa, sopro e espírito. O Livro do Génesis diz que o Espírito Santo pairava sobre a escuridão do caos tenebroso, fecundando as águas primordiais, a fim de as tornar fecundas (Gn 1, 1-2).

Isto quer dizer que o Espírito Santo é a fonte da vida e que o seu amor maternal é o princípio da fecundidade universal.

O evangelho de São João diz que as pessoas humanas, para entrarem na plenitude da vida eterna têm de nascer de novo através da sua acção:

“Em verdade te digo, disse Jesus: quem não nascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no Reino de Deus.

Aquilo que nasce da carne é carne e aquilo que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3, 5-6). Nascer da água, no evangelho de são João, significa nascer do Espírito Santo que é a Água Viva que realiza o baptismo no Espírito (Jo 7, 39; 4, 14).

Eis o que diz o evangelho de São Mateus sobre o baptismo no Espírito: “No momento em que Jesus saiu das águas, após o seu baptismo, o Céu abriu-se e Jesus viu o Espírito de Deus vir sobre ele em forma de pomba (Mt 3, 16).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

23 fevereiro, 2009

JESUS CRISTO E O DOM DA ÁGUA VIVA-I

I-A ÁGUA DA VIDA ETERNA

Falando com a Samaritana junto ao poço de Jacob, Jesus disse-lhe que a Salvação acontece no coração das pessoas, graças à Água Viva que ele nos dá.

Eis as palavras de Jesus: “Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é aquele que te está a pedir água, tu é que lhe pedirias e ele dar-te-ia Água Viva” (Jo 4, 10).

Como portador da Água Viva, Jesus é o portador da Vida Eterna: “Jesus replicou: “Todo aquele que bebe da água deste poço voltará a ter sede.

Mas quem beber da Água que eu tenho para dar nunca mais terás sede. Na verdade, a Água que eu tenho para dar vai tornar-se naquele que a beber der um manancial de vida eterna” (Jo 4, 13-14).

Alguns séculos antes de Cristo, o profeta Jeremias repreendeu duramente o povo bíblico devido à sua ingratidão para com Deus.

O povo com o seu mau procedimento voltou as costas a Deus que é a fonte da Água Viva. A Água viva, diz o evangelho de São João, é o Espírito Santo (Jo 7, 39).

O evangelho de São João diz que a Água Viva é o Espírito Santo que gera no nosso coração uma vida nova, isto é, a vida de Deus.

São Paulo diz que o Espírito Santo é como uma Água que bebemos e faz de nós o Corpo de Cristo.

Eis as suas palavras: “Todos nós fomos baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo, tanto judeus como gregos, escravos ou livres.

Todos bebemos de um mesmo Espírito” (1 Cor 12, 13).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO E O DOM DA ÁGUA VIVA-II

II-ÁGUA VIVA E NOVA ALIANÇA

O Espírito Santo é uma Água que bebemos e faz de nós membros do Corpo de Cristo Ressuscitado.

Referindo-se à Eucaristia, o evangelho de São João diz que a carne e o sangue de Jesus ressuscitado é o alimento da vida eterna.

Como a Samaritana não estava a ver o alcance da mensagem da Água Viva, Jesus decide esclarece-la, dizendo-lhe que a Água Viva não é como a Água do poço.

O poço de Jacob representa a Antiga Aliança. A Água Viva, pelo contrário, representa o grande dom da Nova Aliança, isto é, o Espírito Santo.

A Água do poço de Jacob precisa de um balde, isto é, a multidão das normas, leis e preceitos dos judeus.

Para a Água Viva basta a Fé e aceitação da Palavra de Deus que Jesus nos traz. Além disso, quem bebe da água do poço de Jacob volta a ter sede.

A Água Viva mata a sede para sempre, isto é, dá-nos a vida eterna: “Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede.

Mas aquele que beber da Água que eu lhe der nunca mais terá sede, pois esta Água converter-se-á nele em Fonte de Vida eterna” (Jo 4, 13-14).

Esta Água, disse Jesus, é o Espírito Santo que viria a ser difundido no momento da ressurreição de Cristo.

Eis o que diz o evangelho de São João: “No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou:

“Se alguém tem sede venha a mim. Quem crê em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração nascentes de Água Viva.

Jesus disse isto referindo-se ao Espírito Santo que iam receber os que acreditassem nele. Com efeito, o Espírito ainda não tinha vindo, pois Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 37-39).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS CRISTO E O DOM DA ÁGUA VIVA-III

III-A BEBIDA DA NOVA ALIANÇA

Os que bebem a Água Viva tornam-se templos do Espírito Santo, diz São Paulo: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 2, 16).

Eis como o profeta Ezequiel descreve a força da Nova Aliança no coração do Homem: “Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um Espírito Novo:

Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Porei o meu Espírito no vosso íntimo, fazendo que sejais fiéis às minhas leis e preceitos” (Ez 36, 26-27).

A Carta aos Efésios diz que os cristãos não se devem embriagar com vinho mas encher-se, pelo contrário, com a força do Espírito Santo (Ef 5, 18).

São Paulo queria dizer que o Espírito Santo é a bebida da Nova Aliança (1 Cor 12,13). O profeta Isaías, muitos séculos antes de Cristo já tinha falado do Espírito Santo como sendo uma água que mata a sede e faz desabrochar a vida espiritual:

“Vou derramar água sobre o que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida. Vou derramar o meu Espírito e as minhas bênçãos sobre os vossos filhos e filhas.

Irrigados pelas águas que vou derramar sobre eles, os vossos filhos crescerão como plantas junto das fontes e como salgueiros junto das águas dos rios e ribeiros” (Is 44, 3-4).

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). O Livro dos Actos dos Apóstolos afirma que a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes,
significava a realização das antigas profecias:

“Estes homens não estão embriagados como imaginais, mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel” (Act 2, 15-16).

Eis os frutos do Espírito Santo no coração daqueles que o acolhem: Amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio” (Gal 5, 22-23). Depois, São Paulo acrescenta: “Se vivemos no Espírito, sigamos também o Espírito” (Gal 5, 25).

Na verdade, diz São Paulo, “Quem semear no Espírito do Espírito colherá a vida eterna” (Gal 6, 9). Isto quer dizer que o Espírito Santo gera vida eterna no nosso coração.

Como nascente da Água Viva, Deus é a Fonte da vida eterna: “Este é o Deus da minha Salvação, dizia o profeta Isaías.

Por isso estou confiante e nada temo, pois escolhi Deus como a minha força e o meu canto. Ele é a minha Salvação.

Cheios de alegria, todos poderão tirar água das fontes da Salvação (Is 12, 2-3).

Em Comunhãp Convosco
Calmeiro Matias

18 fevereiro, 2009

JESUS E O MANDAMENTO DO AMOR-I

I-JESUS E O MANDAMENTO DO AMOR

Jesus sabia muito bem que o amor é a única dinâmica capaz de ajudar a pessoa a realizar-se de modo equilibrado e feliz.

Foi esta a razão pela qual ele fez do amor o seu mandamento. O judaísmo do tempo de Jesus tinha uma multidão de mandamentos, normas e preceitos, ao ponto de os próprios sacerdotes e os doutores da Lei se sentirem confusos perante esta multiplicidade de leis e preceitos.

Jesus era um excelente conhecedor de Deus e do Homem. Ao aperceber-se da inutilidade de tantos mandamentos e preceitos Jesus resolveu resumi-los a um só um mandamento:

“O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13).

São Paulo entendeu muito bem esta atitude de Jesus perante a Lei judaica e por isso declara que esta não tem qualquer valor para a salvação:

“Nós acreditamos em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei. Na verdade, ninguém é justificado pelas obras da Lei” (Gal 2, 16).

No evangelho de São Mateus, Jesus diz que ele não veio anular a Lei, mas cumpri-la plenamente.
Com estas palavras, ele queria dizer que a maneira de realizar o que a Lei tem de bom é amar os irmãos (Mt 5, 17).

Na Carta aos Gálatas, São Paulo vai exactamente nesta linha quando afirma: “Amar o próximo como a si mesmo resume e cumpre toda a Lei ” (Rm 13, 8).

E logo a seguir afirma que o amor é o pleno cumprimento da Lei (Rm 13, 10).

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Calmeiro Matias

JESUS E O MANDAMENTO DO AMOR-II

II-SÃO PAULO E O MANDAMENTO DO AMOR

Inspirado nos ensinamentos de Jesus sobre o amor, São Paulo compôs um hino sobre o amor que é das coisas mais belas que alguém escreveu sobre este tema:

“Ainda que eu fale as línguas dos anjos e dos homens, diz ele, se não tiver amor não passo de um bronze que soa e faz barulho.

Mesmo que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência. Ainda que tenha uma fé tão grande que possa mover montanhas, se não tiver amor, nada sou.

Mesmo que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita.

O amor é paciente e prestável. O amor não é invejoso nem arrogante. O amor não é orgulhoso, não faz nada de inconveniente e não gira sempre à volta do seu interesse.

O amor não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade.

O amor desculpa tudo e acredita sempre. Espera tudo e tudo suporta. O amor jamais passará” (1 Cor 13, 1-8).

Jesus convida os cristãos a amar ao jeito de Deus, isto é, a viver o amor como caridade. Eis a proposta de Jesus: “Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”.

Eu, porém, digo-vos: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”.Fazendo assim, acrescenta Jesus, tornar-vos-eis filhos do vosso pai que está nos Céus, o qual faz com que o sol se levante todos os dias sobre bons e maus e faz cair a chuva sobre justos e pecadores (…).

Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5, 43-48). O jeito de Jesus amar era em tudo semelhante ao jeito de Deus amar.

De tal modo ele amava ao jeito de Deus Pai que um dia afirmou: “Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conheceis, Filipe? Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).

Jesus queria dizer que havia uma perfeita união entre ele e o seu Pai do Céu.Para confirmar esta verdade, Jesus disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS E O MANDAMENTO DO AMOR-III

III-ESTAMOS TALHADOS PARA AMAR

Amar ao jeito de Deus significa amar a todos sem distinção. Eis a razão pela qual este modo de amar nos torna cada vez mais semelhantes Ao próprio Deus.

Por outras palavras, o amor caridade faz de nós imagens mais perfeitas de Deus. Por ter sido criado à imagem de Deus, a pessoa humana tem esta capacidade de querer bem aos outros e ajudá-los a ser felizes.

Mas os cristãos, graças à Palavra de Deus e à acção do Espírito Santo são capacitados para amar com amor caridade, isto é, ao jeito de Deus.

Amando assim, os cristãos tornam-se um sinal de Deus para o mundo. Jesus ensinou os cristãos a amar ao jeito de Deus, a fim de se tornarem no mundo um sal que dá sabedoria à vida e uma luz que confere sentidos para viver.

Olhando para o vosso novo modo de amar e estar na vida, diz Jesus, os homens darão glória ao vosso Pai que está nos Céus (Mt 5, 13- 17).

Isto quer dizer que o amor faz dos cristãos são sinais do amor e da presença de Deus. Além disso, o amor e o bem que fazemos ao próximo é sentido por Jesus como tendo sido feito à sua pessoa, diz o evangelho de São Mateus (Mt 25, 40).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS E O MANDAMENTO DO AMOR-IV

IV-AMOR AOS IRMÃOS E AMOR A DEUS

A densidade do amor com que amamos os irmãos modela o nosso coração para comungar com Deus.

Jesus disse que a Lei e os profetas se resumem neste princípio único: “Fazer aos outros o que gostaríamos que eles nos fizessem a nós” (Mt 7, 12).

Podemos dizer que aprofundar o mistério do amor é aprofundar o mistério de Deus e do Homem.

A bíblia diz que Deus é amor (Jo 4,7). E o Homem, por ter sido criado como imagem de Deus está moldado para o amor.

O amor é a única dinâmica capaz de estruturar de modo equilibrado a pessoa humana. Quando amamos o irmão, este apercebe-se de que uma porta se abriu para si.

Nasce nele uma nova força, pois começa a sentir que tem alguém com quem pode contar.Quando se sente amado, o ser humano sente-se mais forte e cresce nele a confiança.

Muitos dos seus problemas começam a encontrar solução. Na verdade, o amor é profundamente libertador, pois possibilita a realização da pessoa.

Quando o nosso amor se torna universal, começamos a eleger os outros como irmãos para lá da língua, da raça, da cultura e da nacionalidade.

Quando isto acontece, o nosso coração adquire uma qualidade nova que nos capacita para participarmos de modo mais perfeito na comunhão universal do Reino de Deus.

Jesus pede-nos para amar com este sentido de universalidade, a fim de todos caberem nas nossas atitudes de bem-querer.

Eis alguns dos ensinamentos que Jesus nos faz no evangelho de São Mateus: “Se amais apenas os que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos também fazem o mesmo.

Se saudais apenas os da vossa raça e língua que fazeis de extraordinário? Não fazem assim também os pagãos? Sede perfeitos no vosso modo de amar, tal como o vosso Pai do Céu é perfeito” (Mt 5, 46-48).

O amor caridade é uma dinâmica de bem-querer com uma medida universal. Torna-nos semelhantes a Deus, pois é este o jeito de Deus amar.

Quem não ama os irmãos, diz a primeira Carta de São João, não é capaz de conhecer a Deus, pois Deus é Amor:

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus.

Aquele que não ama não chega a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (Jo 4, 7-8). O amor conduz sempre a gestos e atitudes concretas para com os irmãos.

A nossa identidade espiritual é o nosso modo de amar.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

16 fevereiro, 2009

SABOREANDO A PRESENÇA CRIADORA DE DEUS


Esta manhã pensei em Deus e fiquei feliz. Foi um jeito especial de pensar. Quase me parecia um sonho!

Entrei nessa experiência original pela mediação do canto das aves que iniciavam o seu canto matinal!

Quando o Sol estava a irromper, a luz brilhante daquela manhã fez-me lembrar o início da Criação!

Surgiu na minha mente a passagem do Livro do Génesis que diz o seguinte: “Deus disse: “Faça-se a luz”. E a luz surgiu. E Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas” (Gn 1, 3-4).

O aparecimento da luz no início de cada novo dia faz lembrar o início da criação:

As plantas revestem-se de verde e o Céu ganha de novo a cor azul. As aves surgem com seus cantos matinais e, pouco a pouco, as crianças aparecem a saltitar.

Para mim, aquela manhã tinha um sabor divino. Na verdade, eu sentia-me predisposto para acolher o Deus que tudo criou por amor.

Lembrei-me, então, dessa explosão majestoso do big beng que deu início à génese do Universo.

Louvei a grandeza do Deus que fez explodir essa singularidade primordial, início das realidades criadas.

Comecei a saborear a presença de Deus na marcha da criação.

Possibilita tudo, mas não manipula nada. Na verdade, tudo acontece segundo uma sequência de causas e efeitos.

Deus está presente, mas apenas dinamizando a marcha da criadora do Universo.

Esta presença divina é tão real e eficaz hoje, como foi nos primórdios da criação.

Nesse momento compreendi que o Deus Criador não é um mágico que faz aparecer as coisas através de uma acção automática, retirando-se em seguida.

Esta meditação trouxe à minha mente a ideia de que os ritmos e a harmonia da Criação têm a sua origem nas relações amorosas da Santíssima Trindade.

Depois alegrei-me com a gratuidade de Deus ao fazer avançar o processo criador.
Perante esta visão de horizontes quase infinitos, o meu coração dilatou-se para acolher as bênçãos que o Criador difunde pela vastidão do Universo.
Isto fez-me lembrar que, afinal, a felicidade está ao nosso alcance, pois Deus habita em nós!

Vi com grande nitidez que a possibilidade de sermos felizes, afinal, existe, pois Deus é, realmente o Emanuel!

Nesse momento compreendi melhor que os seres humanos podem marcar encontro com a fonte da Vida sem terem de se deslocar para muito longe.

Depois de ter saboreado tudo isto dei por mim a cantar um cântico novo.

Em seguida pareceu-me ouvir no meu interior uma espécie de voz suave que me interpelou, dizendo: “Vai, e não te esqueças dos teus irmãos!”
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

14 fevereiro, 2009

A ÁGUA VIVA E A NOVA HUMANIDADE-I

I-O DINAMISMO DA ÁGUA VIVA

Jesus disse à Samaritana que o dom da Salvação acontece no interior da pessoa, graças à acção da Água Viva:

“Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é aquele que te está a pedir água, tu é que lhe pedirias e ele dar-te-ia Água Viva” (Jo 4, 10).

O profeta Jeremias acusa o povo das suas infidelidades, ao ponto de voltar as costas a Deus que é a fonte da Água Viva.

O evangelho de São João esclarece que a Água Viva é o Espírito Santo, esse manancial da Vida Eterna a botar no nosso coração (Jo 7, 39).

O Espírito Santo é o amor maternal de Deus, tal como Deus Pai é o amor paternal e o Filho é o amor filial divino.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo introduz-nos na comunhão familiar de Deus:
Eis as palavras de São Paulo: “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes com medo, mas sim um Espírito de adopção graças ao qual clamamos “Abba”, papá.

É o próprio Espírito que dá testemunho no nosso íntimo de que somos filhos de Deus. Se somos filhos, somos igualmente herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8, 14-17).

São Paulo associa o Espírito Santo à Água que os crentes bebem: “Todos nós fomos baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo, tanto judeus como gregos, escravos ou livres.
Todos bebemos de um mesmo Espírito” (1 Cor 12, 13).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ÁGUA VIVA E A NOVA HUMANIDADE-II

II-A ÁGUA QUE SACIA PARA SEMPRE

Como Água Viva, o Espírito Santo fertiliza e alimenta a união misteriosa que faz de nós membros do Corpo de Cristo.

É por ele, diz São João, que nós somos inseridos na comunhão orgânica do Pai, com o Filho no Espírito Santo.

Como sacramento da Salvação, a Eucaristia explicita de modo muito claro esta nossa união orgânica com Cristo e, através dele com o Deus Comunhão (cf. Jo 6, 54-55).

O evangelho de São João diz que a comunhão da Eucaristia explicita uma união com Cristo animada pelo Espírito Santo e não uma união de tipo carnal ou biológico (Jo 6, 62-63).

Em relação às dúvidas da Samaritana a propósito da Água Viva, Jesus diz-lhe que á Água Viva não é como a água do poço de Jacob, a qual não mata a sede de modo definitivo:

“Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da Água que eu lhe der, nunca mais terá sede, pois esta Água converter-se-á nele em Fonte de Água que concede a Vida eterna” (Jo 4, 13-14).

Esta Água como diz o evangelho de João no capítulo sétimo é o Espírito Santo que seria difundido no momento da ressurreição de Cristo:

“No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: “Se alguém tem sede venha a mim. Quem crê em mim que sacie a sua sede!

Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de Água Viva. Jesus disse isto referindo-se ao Espírito Santo que iam receber os que acreditassem nele.

Com efeito, Jesus ainda não tinha vindo, pois Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 37-39).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ÁGUA VIVA E A NOVA HUMANIDADE-III

III-O Espírito Santo é a Bebida da Nova Aliança

Segundo a simbologia usada por São João no relato das Bodas de Caná, a água das lavagens judaicas é transformada por Jesus em vinho de qualidade superior (Jo 2, 6-10).

No pensamento de São João a alta qualidade deste vinho simboliza o salto de qualidade da Nova Aliança em relação à Antiga.

O Espírito Santo é o princípio animador da Nova Aliança e que é fonte de Vida Nova. A Antiga aliança, pelo contrário, assenta na letra e nos ritos que conduzem à morte, diz São Paulo:

“Cristo é quem nos capacita para sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito.

Com efeito, a letra mata, mas o Espírito dá vida” (2 Cor 3, 6). Associando o Espírito Santo com a Eucaristia, podemos dizer que o Espírito Santo é a Bebida da Nova Aliança:

“Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue, o qual vai ser derramado por vós” (Lc 22, 20).

O profeta Isaías compara o Espírito Santo a uma água que mata a sede e faz desabrochar em nós vida em abundância.

Eis as suas palavras: “Vou derramar água sobre o que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida.

Vou derramar o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção sobre os teus descendentes.

Estes crescerão como plantas junto das fontes e como salgueiros junto das águas correntes” (Is 44, 3-4).

Os que bebem a Água Viva tornam-se templos do Espírito Santo, a nascente da qual brota a Vida Eterna no nosso coração:

“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 2, 16).

Por seu lado, o profeta Jeremias anunciou a Nova Aliança como o tempo da acção do Espírito Santo:

“Dias virão em que firmarei uma Nova Aliança com a casa de Israel e a casa de Judá (…). Esta será a Aliança que estabelecerei depois destes dias com a casa de Israel, oráculo do Senhor:

Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jer 31, 31-33).

O Profeta Jeremias queria dizer que ao chegar a Nova Aliança, Deus purificará o coração dos homens com o Espírito Santo.

O profeta Isaías via os tempos messiânicos como a idade de oiro em que todos teriam acesso às fontes da salvação.

Eis as suas palavras: “Este é o Deus da minha Salvação! Estou confiante e nada temo, pois o Senhor é a minha força e o meu canto. Ele é a minha Salvação.

Cheios de alegria todos irão tirar Água às fontes da Salvação (Is 12, 2-3). Os ritos de purificação foram inúteis, pois eram um mero rito exterior.

A verdadeira pureza dizia Jesus, acontece no interior das pessoas e não em meras lavagens exteriores:

A Água Viva da Nova Aliança está no coração das pessoas e não em vasos de barro. A Carta aos Efésios apela os crentes no sentido de não se embriagarem com vinho, mas a encher-se do Espírito Santo (Ef 5, 18).

A primeira Carta aos Coríntios diz que o Espírito Santo é a bebida da Nova Aliança (1 Cor 12,13).
Jesus ia nesta mesma linha quando fez as seguintes afirmações:

“Se alguém tem sede venha a mim e beba” (Jo 7, 37). Ou então: “Aquele que beber da Água que eu lhe der nunca mais terá sede” (Jo 4, 14).

Os Actos dos Apóstolos vêem no acontecimento do Pentecostes o cumprimento da profecia do profeta Joel.

Face ao entusiasmo dos apóstolos, os judeus acusam-nos dizendo que estarem bêbedos. Os Apóstolos respondem dizendo que a bebida que os faz exultar assim é a realizações das profecias messiânicas:

“Não, estes homens não estão embriagados como imaginais, pois apenas vamos na terceira hora do dia. Tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel” (Act 2, 15-16).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A ÁGUA VIVA E A NOVA HUMANIDADE-IV

IV-A ÁGUA VIVA E A PLENITUDE DOS TEMPOS

É muito sugestiva a maneira como o profeta Ezequiel descreve a dinâmica da Nova Aliança no coração do Homem:

“Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um Espírito Novo: Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne.

Ao falar do coração de pedra, o profeta Ezequiel está a referir-se às pedras da Lei dadas por Deus a Moisés.

Porei o meu Espírito no vosso íntimo, fazendo que sejais fiéis às minhas leis e preceitos” (Ez 36, 26-27).

O profeta Joel via os tempos messiânicos como a plenitude da grande difusão do Espírito Santo sobre a Humanidade:

“Depois disto, derramarei o meu Espírito sobre toda a Humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão e os vossos anciãos terão visões.

Também derramarei o meu Espírito sobre os vossos servos e servas naqueles dias” (Jl 3, 1-2).

O Espírito Santo é a Água Viva que Jesus ressuscitado nos dá, a fim de alimentar a união
orgânica que nos liga a ele, como diz a Carta aos Romanos:

“Vós não estais sob o domínio da carne, mas sob o domínio do Espírito, pressupondo que o Espírito de Deus está em vós.

Mas os que não possuem o Espírito de Cristo não lhe pertencem (…). E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos está em vós, ele que ressuscitou Jesus também dará vida aos vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vós” (Rm 8, 9-11).

Isto quer dizer que o Espírito Santo é a força ressuscitadora de Cristo a actuar em nós. O Espírito Santo no nosso íntimo torna-nos criadores e fecundos.

São Paulo apresenta uma lista dos frutos que o Espírito Santo produz em nós: “Eis os frutos do Espírito: Amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e auto-domínio” (Gal 5, 22-23).

“Se vivemos Segundo o Espírito Santo, acrescenta São Paulo, sigamo-lo fielmente” (Gal 5, 25).
A vida eterna brota desta presença dinâmica do Espírito Santo em nós:

“Quem semear na carne, da carne colherá a corrupção. Mas quem semear no Espírito do Espírito Santo colherá a vida eterna” (Gal 6, 9).

É assim a dinâmica do Espírito Santo a conduzir-nos para a plenitude do Reino de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

10 fevereiro, 2009

TORNAR-SE IMAGEM DE DEUS EM RELAÇÕES-I


I-SÓ EM COMUNHÃO O HOMEM É IMAGEM DE DEUS

A bíblia apresenta o Homem como imagem de Deus, mas na medida em que este vive a dinâmica das relações.

O Deus da Aliança é uma comunidade de pessoas que comunicam e dialogam. Foi esta a razão pela qual ele imprimiu o jeito das relações no Homem que criou à sua imagem e semelhança (Gn 1, 26-27).

O Livro do Génesis diz que a imagem de Deus é constituída pelo varão e a mulher em relações (Gn 1, 26-27).

Isto quer dizer que o ser humano é imagem de Deus na medida em que é uma pessoa aberta ao diálogo e à comunhão:

“Quando Deus criou o ser humano, fê-lo à sua imagem e semelhança. Criou-os homem e mulher e abençoou-os. Chamou-lhes ser humano no dia em que os criou (Gn 5, 1-2).

Ao dizer que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, a Bíblia está a afirmar a condição totalmente original do Homem no conjunto das outras criaturas.

A Humanidade concretiza-se em pessoas interligadas de modo orgânico. Isto quer dizer que a Divindade é pessoas e a Humanidade também.

Interiormente o ser humano é animado pelo Sopro Divino, isto é, o Espírito Santo, que o vai modelando à imagem e semelhança de Deus.

Isto não significa que o Espírito Santo nos substitui na tarefa da nossa humanização. Pelo contrário, quer dizer que o ser humano não é capaz de se humanizar sem uma intervenção especial de Deus.

Esta intervenção acontece no interior da consciência como iluminação e apelo no sentido de agir de acordo com as exigências do amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

TORNAR-SE IMAGEM DE DEUS EM RELAÇÕES-II

II-A IMAGEM DE DEUS COMO TAREFA

Como imagem de Deus, o Homem foi colocado por Deus à frente da Criação. O Criador concedeu ao Homem soberania sobre as demais criaturas.

O Livro do Génesis afirma esta soberania do Homem sobre as demais criaturas dizendo que ele ia pondo nome aos animais.

Segundo a mentalidade bíblica dar nome aos animais significa exercer a soberania sobre eles (cf. Gn 2, 20).

Por outras palavras, o Homem está acima dos animais e domina sobre eles (Gn 1, 26-30). O Livro de Ben Sira diz que Deus criou o Homem à sua imagem e deu-lhe domínio sobre os animais (Sir 17, 2-3).

A imagem de Deus no Homem não é uma marca ou um carimbo estático, mas uma realidade em construção.

É como pessoa que o ser humano é imagem de Deus. No íntimo de cada pessoa, o Espírito Santo convida-a a fazer opções na linha do amor, a fim de se realizar como pessoa livre consciente, responsável e capaz de amar.

À medida que se vai realizando, as impressões digitais de Deus vão-se tornando mais explícitas no interior da pessoa humana.

Para se realizar, a pessoa não pode ignorar os apelos do Espírito Santo na sua consciência. O Novo Testamento também vê a questão da imagem de Deus de modo dinâmico: A configuração da imagem de Deus é um processo que se realiza demo do histórico.

Eis algumas afirmações sugestivas de São Paulo a este propósito: “E nós com o rosto descoberto reflectimos a glória de Deus que nos vai configurando pelo Espírito Santo na sua própria imagem” (2 Cor 3, 18).

O grande protagonista nesta a tarefa de esculpir o Homem como imagem de Deus é o Espírito Santo.

Mas nós somos chamados a colaborar com ele, pois o Espírito Santo não nos modela sem nós termos parte com ele nessa tarefa.

A imagem de Deus acontece ao nível do homem interior, o qual é pessoal e espiritual. Apesar de o homem exterior envelhecer, diz São Paulo, o interior vai-se renovando progressivamente pela acção do Espírito Santo:

“Por isso não desfalecemos. E mesmo se em nós o homem exterior vai caminhando para a ruína, o interior renova-se dia após dia” (2 Cor 4, 16).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

TORNAR-SE IMAGEM DE DEUS EM RELAÇÕES-III

III-O HOMEM EXTERIOR E O HOMEM INTERIOR

O homem exterior nasce da carne. O interior, pelo contrário, tem de nascer pelo Espírito, diz o evangelho de São João (Jo 3, 3-6).

Sem deixarmos de ser filhos dos pais humanos, vamo-nos tornando de modo gradual e progressivo mais filhos de Deus.

Isto quer dizer que a paternidade humana e a divina não são concorrentes, pois não se passam ao mesmo nível.

Com efeito, a paternidade humana passa-se ao nível bio-psíquico, cultural e genealógico.
A paternidade divina, pelo contrário, passa-se ao nível espiritual.

Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João: O que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3, 6).

Como imagem de Deus, a pessoa humana está chamada a fazer parte da família divina. Eis as palavras de São Paulo:

“De facto, todos os que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para cairdes no temor.

Pelo contrário, recebestes um Espírito que faz de vós filhos adoptivos. É este Espírito que vos faz clamar ‘Abba’, papá, o qual testemunha no nosso interior que realmente somos filhos de Deus.

Ora se somos filhos somos também herdeiros: herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus” (Rm 8, 14-16).

Deus criou o homem tendo como protótipo o próprio Jesus Cristo, diz a Carta aos Romanos:

“Porque aqueles que Deus conheceu previamente também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, a fim de ele ser o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 29).

Pela Encarnação foi-nos dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus, diz o evangelho de São João (Jo 1, 12-14).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

TORNAR-SE IMAGEM DE DEUS EM RELAÇÕES

IV-IMAGEM DE DEUS E HUMANIZAÇÃO-IV

A configuração e estruturação da Imagem de Deus coincide com a tarefa da humanização da pessoa.

O ser humano só pode humanizar-se em relações de fraternidade e comunhão. Isto que dizer que os seres humanos se estruturam como imagem de Deus, não de modo isolado, mas em comunhão orgânica cujo coração é Jesus Cristo.

Quem está em Cristo é uma nova criação, diz São Paulo (2 Cor 5, 17). Graças à sua fidelidade incondicional, Jesus é a imagem perfeita de Deus, diz a Carta aos Filipenses (Flp 2, 6-7).

Tendo sido criado à imagem de Deus, Adão deixou-se dominar pelo orgulho e reivindicou ser igual a Deus.

Jesus que é a imagem perfeita de Deus, continua a Carta aos Filipenses, mas assumiu de modo fiel a sua condição de servo sofredor.

Por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de qualquer outro (Flp 2, 6-1 0).

Adão, pelo contrário, foi humilhado. A Carta aos Colossenses diz que o nosso ser interior é realmente o homem novo que não cessa de se configurar constantemente como imagem do seu Criador (Col 3, 10).

Podemos dizer que o ser humano, isolado, não é uma perfeita imagem de Deus. Isto quer dizer que a imagem de Deus é dinâmica e orgânica.

Cristo é a imagem perfeita de Deus e nós, quanto mais unidos estivermos a ele, melhor nos realizamos como imagem de Deus.

Ele é, de facto, o primogénito dos mortos, pois todos ressuscitam nele e ninguém sem ele, adquire a plenitude da vida (Col 1, 18).

São Paulo diz que Deus nos vai configurando com Cristo, afim de ele ser o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

O ser humano atinge a condição perfeita de imagem de Deus ao ser incorporado e assumido na Família Divina como filho em relação a Deus Pai e irmão em relação ao Filho de Deus.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos introduzindo na Família de Deus (Rm 8, 14-16).

Por outras palavras, unidos a Cristo de modo orgânico, o Espírito Santo vai-nos incorporando na comunhão familiar da Santíssima Trindade (cf. Jo 17, 21-23).

Podemos dizer que o ser humano é tanto mais imagem de Deus quanto mais se realiza como uma pessoa integrada na comunhão com os irmãos.

Na verdade, a realização da pessoa como imagem de Deus tem a ver com a sua estruturação em contexto de comunhão.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

06 fevereiro, 2009

AS COORDENADAS DA COMUNHÃO UNIVERSAL-I

I-VIDA ETERNA, UNIVERSALIDADE E OMNIPRESENÇA

Na comunhão universal do Reino de Deus cada pessoa é um ponto de encontro e uma possibilidade de comunhão amorosa.

Por estar em coordenadas de universalidade e em estado de plenitude, as aspirações da pessoa têm realização imediata.

Isto quer dizer que as aspirações de encontro, diálogo, e reciprocidade amorosa da pessoa tornam-se realidade no me próprio instante em que surgem.

Isto deve-se ao facto de a pessoa, no Reino de Deus, estar assumida e incorporada na comunhão dos santos cujo coração é a Santíssima Trindade.

Na verdade, a Vida Eterna acontece em coordenadas de universalidade. Na plenitude da salvação a pessoa está realmente presente a tudo e a todos.

Não por se deslocar a velocidades superiores às da luz, mas porque os desejos do seu coração têm emergência e realização simultâneas.

Tudo isto acontece assim porque as pessoas se encontram dentro da organicidade e dinamismo de uma comunhão universal.

Enquanto está em realização na História, o ser humano habita as coordenadas do espaço e do tempo.

Deus, pelo contrário, não habita nas coordenadas da espacio-temporalidade, pois está em coordenadas de omnipresença e equidistância.

Na verdade, Deus está presente ao Universo mediante uma relação criadora. Com efeito, o Universo surge a partir do diálogo e comunhão da Trindade Divina.

Não como um prolongamento necessário, mas como a realização de um projecto que brotou do diálogo amoroso das pessoas divinas.

Mediante a morte, o ser humano liberta-se das coordenadas biológicas, psíquicas, rácicas, linguísticas e espacio-temporais.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

AS COORDENADAS DA COMUNHÃO UNIVERSAL-II

II-INCORPORAÇÃO NA FAMÍLIA DEDEUS

À luz da Fé, a morte surge como o parto final através do qual a pessoa atinge a sua plenitude nas coordenadas de Deus.

Ao ser incorporada na comunhão familiar da Santíssima Trindade, a pessoa humana é divinizada.

Isto quer dizer que a divinização não acontece como coisa individual, mas como resultado da assunção da pessoa na comunhão orgânica da Família de Deus.

Esta incorporação do Homem na Família Divina assenta sobre dois pilares fundamentais: a Encarnação do Filho de Deus e a ressurreição de Cristo.

Pela Encarnação, o divino enxerta-se no humano: a interioridade divina do Filho de Deus e a interioridade humana de Jesus de Nazaré passam a interagir de modo directo.

Graças a esta união humano-divina de Cristo, os seres humanos ficam com a possibilidade de se tornarem filhos de Deus, como diz o evangelho de São João:

“Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.

Estes não nasceram dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

E o Verbo encarnou e habitou entre nós” (Jo 1, 12-14). O outro momento fundamental da nossa divinização é a morte e ressurreição de Cristo:

“No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: “Se alguém tem sede venha a mim.
Quem crê em mim que sacie a sua sede, pois como diz a Escritura, do seu coração hão-de correr rios de Água viva”.

Jesus disse isto referindo-se ao Espírito Santo que iam receber os que acreditassem nele. Com efeito, o Espírito Santo ainda não tinha vindo em virtude de Jesus não ter sido glorificado” (Jo 7, 37-39).

É verdade que o Espírito Santo actuava no mundo desde a criação do homem. A primeira intervenção histórica do Espírito Santo aconteceu com a comunicação primordial do Espírito Santo que fez do Homem um ser vivente, como diz o Livro do Génesis (Gn 2, 7).

Mas o Senhor ressuscitado comunica o Espírito de maneira divinizante, isto é, de forma intrínseca, de tal modo que o Espírito Santo faz de nós um todo orgânico com Cristo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

AS COORDENADAS DA COMUNHÃO UNIVERSAL-III


III-SALVOS EM COMUNHÃO

O Novo Testamento diz que a nossa união com Cristo é de tipo orgânico. Jesus é a cepa da videira, diz o evangelho de São João, e nós somos os ramos que recebem a seiva vital dessa cepa (Jo 15, 1-8).

São Paulo diz esta mesma verdade, afirmando que todos nós somos os membros de um corpo cuja cabeça é Jesus Cristo (1 Cor 10, 17; 12, 27).

E isto acontece pelo dom pascal do Espírito Santo: “De facto, fomos baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo.

Tanto os escravos como os homens livres, todos bebem de um só Espírito” (1 Cor 12, 13). É por esta razão que São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Graças ao dinamismo do Espírito Santo em nós, somos acolhidos por Deus Pai como filhos e por Deus Filho como irmãos.

Eis o que diz São Paulo a este propósito: “De facto, todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito que vos escravize. Pelo contrário, recebestes o Espírito Santo que faz de vós filhos adoptivos.

É por este Espírito que clamamos “Abba”, ó pai. O próprio Espírito Santo dá testemunho no mais íntimo do nosso espírito de que somos realmente filhos de Deus.

Ora, se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus” (Rm 8, 14.17).

Temos de reconhecer que só um Deus capaz de amar de modo infinito e incondicional podia sonhar um projecto com esta ternura e beleza em favor da Humanidade!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

03 fevereiro, 2009

O AMOR HUMANO É OPTIMIZADO EM DEUS-I

I-CRIADOS PARA O AMOR

A vida natural não pode subsistir sem água. Do mesmo modo a pessoa humana, privada de amor, não pode emergir no melhor das suas possibilidades, acabando por definhar e morrer.

Na verdade, o amor não é uma questão secundária, pois é o fundamento de toda a realidade.

Ao pensarmos que Deus é amor, estamos a entrar no coração da essência divina (1 Jo 4, 7-8; 16).
Dizer que Deus é amor, significa que Deus é relações familiares de perfeição infinita.

Talhado para a comunhão com Deus, o ser humano pode emergir e crescer sempre como capacidade de amar.

Humanizar-se é, entre outras coisas, estruturar-se como pessoa capaz de amar. A dignidade humana começa no facto de a pessoa não nascer determinada.

Temos de ser nós a realizarmo-nos, ninguém nos pode substituir na tarefa da nossa humanização.

De facto, somos semelhantes a Deus. Na medida em que se realizam em contextos de comunhão amorosa, as pessoas humanas são realmente parecidas com as divinas.

A vida pessoal em comunhão precedeu todas as realidades criadas. Com efeito, no princípio só existia Deus, três pessoas em perfeita comunhão familiar.

Ainda não tinha sido iniciada a génese das galáxias, e já existia a Divindade como comunidade amorosa.

O amor confere às relações interpessoais uma força criadora. Na verdade, só em relações de amor a pessoa humana se pode estruturar de modo equilibrado e feliz.

Como Deus é amor, a génese do universo foi iniciada pela força criadora do Amor. Se a Divindade é comunhão de pessoas, então Deus é vida em plenitude, pois a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão amorosa.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O AMOR HUMANO É OPTIMIZADO EM DEUS-II


II-O AMOR FOI PRIMEIRO

Isto quer dizer que o amor e a vida espiritual precederam o Universo. Ainda antes de acontecer a explosão primordial que deu início à génese do Universo, já existia o Amor.

Por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, a Humanidade está a emergir e a concretizar-se em pessoas, as quais são uma realidade proporcional à própria Divindade.

Com o aparecimento da vida pessoal-espiritual, a evolução criadora atingiu o limiar da eternidade.

Depois, ficou esperando por Cristo, a fim de atingir a plenitude da divinização. Crescer como pessoa significa crescer em densidade espiritual e capacidade de comungar amorosamente.

A vida pessoal não é uma questão de quantidade. Não se mede ao quilo nem se avalia pelo volume.

Não se mede ao metro nem se analisa pelo cálculo das superfícies. Apenas podemos conhecer a qualidade e a grandeza da vida pessoal, analisando o seu jeito de amar.

Na verdade é o jeito de amar que revela a qualidade do coração e a densidade da sua humanização.

O jeito de amar de uma pessoa constitui a essência da sua identidade. No Reino de Deus seremos eternamente conhecidos e identificados, pelo modo de dançar o ritmo do amor.

O amor é o critério para conhecermos no céu a história da realização de uma pessoa. É mediante o amor que a pessoa Possui Deus e os outros, pois possuímo-nos a nós, a Deus e aos outros na medida em que nos damos.

Ao dar-se, a pessoa não se perde. Pelo contrário, encontra a sua plenitude. Devido à qualidade espiritual da sua vida, as pessoas humanas já pertencem à cúpula da Vida Constituída em densidade definitiva.

A humanização, portanto, implica um processo de espiritualização. Com o acontecimento de Cristo, a Humanidade foi divinizada e inserida na Família de Deus.

Ao criar-nos, Deus talhou-nos para amar. Eis a razão pela qual a nos, a solidão nos asfixia. De tal modo o amor está no centro da vida pessoal que os seres humanos que se recusam a amar não servem para a vida eterna.

Com o seu modo maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos moldando e configurando com Cristo.

Ele é, como diz São Paulo o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias