27 outubro, 2008

ESPÍRITO SANTO E ORIGINALIDADE CRISTÃ-I


I-A ACÇÃO DE DEUS NA HISTÓRIA

Os evangelhos chamam a atenção para a diferença essencial que existe entre o baptismo de João Baptista e o baptismo no Espírito que Jesus vinha inaugurar.

O baptismo de João Baptista era apenas um rito de purificação como tantos outros existentes no mundo judaico do tempo de Jesus.

Os evangelistas fazem notar que o baptismo no Espírito inaugurado por Jesus representa uma diferença qualitativa em relação ao baptismo de João Baptismo.

Eis o que o próprio João Baptista diz no evangelho de São Marcos: “Depois de mim virá alguém que é maior do que eu. Eu nem sequer sou digno de levar as suas sandálias.

Esse é que vos baptizará no Espírito Santo e no Fogo” (Mt 3, 11). O Espírito Santo ocupa um lugar central na dinâmica da divinização do Homem, a qual acontece pela incorporação na Família de Deus.

As pessoas divinas têm missões diferentes na prossecução no projecto criador e salvador da Humanidade.

O filho de Deus, por exemplo, tem a missão histórica de enxertar o divino no humano, a fim de este ser divinizado.

Esta missão aconteceu pelo mistério da Encarnação, da vida histórica e ressurreição de Cristo.

Graças à missão histórica do Filho de Deus, foi-nos concedido o poder de nos tornarmos filhos de Deus. Não pelos impulsos da carne ou pela vontade do Homem, mas sim pela vontade de Deus (Jo 1,12-14).

Deus Pai, por seu lado, acolhe-nos como seus filhos no abraço que ele dá ao seu Filho e com o qual nós fazemos um toso orgânico (cf. 1 Cor 12, 27; Jo 15, 1-8).

Isto quer dizer que Deus está presente e activo na marcha da História humana. É verdade que as pessoas divinas não nos substituem, mas o dinamismo da sua presença na História da Humanidade é fundamental.

Por outras palavras, Deus está connosco na marcha histórica da nossa humanização, mas não está em nosso lugar.

Nem podia ser doutro modo, pois Deus é amor e, como sabemos, o amor propõe-se, mas nunca se impõe.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E ORIGINALIDADE CRISTÃ-II

II-A MISSÃO HISTÓRICA DO ESPÍRITO SANTO

A missão histórica do Espírito Santo começa logo nos primórdios da criação do Homem.O Espírito Santo é o hálito vital que Deus introduz no barro primordial do qual sairia Adão (Gn 2, 7).

Esta comunicação do hálito da vida é o impulso inicial da emergência espiritual da pessoa humana, a qual se prolonga ao longo de toda a vida da pessoa humana.

É graças a esta presença permanente do Espírito Santo no interior do ser humano que a pessoa é um processo histórico de espiritualização.

Por outras palavras, o ser humano é um processo de espiritualização, não uma alma acabada metida dentro de um corpo.

Servindo-nos das imagens bíblicas, diríamos que o homem é uma obra-prima feita de barro em cuja interioridade está a emergir outra obra-prima feita de espírito.

Esta obra-prima espiritual dá-se através de um novo nascimento do qual o Espírito Santo é o grande protagonista.

Mas a missão histórica do Espírito Santo não terminou com a intervenção especial de Deus na criação do Homem.

A seguir surge outro limiar igualmente básico para o Homem encontrar o sentido da sua existência dentro de um plano coerente.

O novo limiar da acção de Deus na história do Homem é o processo histórico da revelação. O Homem não podia conhecer o sentido da Vida, da História e do universo se Deus o não revelasse.

E foi o que aconteceu com o processo histórico da revelação. A marcha da revelação de Deus acontece através de um povo constituído pelos filhos de Abraão.

A revelação de Deus destina-se a iluminar o sentido da vida, da História e do universo para a Humanidade.

A mediação deste dom do Espírito Santo é o Povo de Deus. A revelação é obra do Espírito Santo que vai conduzindo o homem no sentido de o ajudar a conhecer a verdade de Deus, do Homem, da História e do universo.

Por isso a Palavra de Jesus coincidia sempre com a verdade de Deus, como diz o evangelho de São João:

“A graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo” (Jo 1, 17). Jesus diz a Pilatos que a sua missão é comunicar a verdade:

“Para isto nasci e para isto vim ao mundo: dar testemunho da Verdade. Quem é da Verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 37-38).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E ORIGINALIDADE CRISTÃ-III

III-ESPÍRITO SANTO E PLENITUDE DA VERDADE

A verdade no seu sentido mais pleno é a compreensão e enunciação adequada e correcta da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

Isto quer dizer que só Deus pode possuir a Verdade no seu sentido pleno. Tudo isto nos ajuda a compreender a necessidade fundamental e a importância da revelação de Deus.

Por outras palavras, sem os horizontes da Palavra de Deus, o Homem não consegue atingir o sentido profundo de Deus, do Homem, da História e do universo.

A ciência é um caminho para a descoberta da verdade, mas sem os horizontes da Sabedoria que emerge da Palavra de Deus, a ciência sofre de uma ambiguidade perigosa:

Na verdade, a ciência já serviu para destruir muitos milhões de seres humanos. Este procedimento brota do mistério da iniquidade ou seja, do conjunto de forças negativas que se opõe ao amor.

É no coração do Homem que a Sabedoria lança as suas raízes, as quais acabam por moldar as opções e os projectos humanos de acordo com os critérios da Palavra de Deus.

A Palavra de Deus ajuda-nos a compreender o sentido da realidade e o lugar do Homem no plano de Deus.

Na primeira Carta aos Coríntios, São Paulo diz que os senhores do mundo, por se fecharem à verdade da revelação, não puderam saborear a profundidade do mistério de Deus e do Homem.

Na verdade, as pessoas que fecham a mente à Palavra de Deus e o coração à acção do Espírito Santo impedem que o Homem Novo possa emergir nelas.

Os cristãos têm a missão de anunciar a verdade à humanidade, a fim de o Homem caminhar em harmonia com o projecto que Deus sonhou para ele.

Eis o que são Paulo diz a este respeito: “Nós ensinamos a sabedoria, mistério oculto que Deus, antes dos séculos, preparou para nossa felicidade.

Nenhum dos senhores deste mundo a conheceu, pois se a tivessem conhecido não teriam crucificado o Senhor da glória.

Mas como está escrito, o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração humano não pressentiu, Deus o preparou para aqueles que o amam.

A nós porém, Deus o revelou por meio do Espírito Santo, pois o Espírito tudo penetra, mesmo as profundidades de Deus” (1 Cor 2, 7-10).

O Homem Novo só pode nascer no interior das pessoas que têm um coração aberto à Verdade de Deus.

O coração dos Apóstolos só ficou plenamente preparado para acolher a Verdade com o dom pascal do Espírito Santo.

A Verdade emerge no nosso coração pela acção do Espírito Santo, o amor de Deus derramado nos nossos corações, como diz São Paulo (Rm 5, 5).

Jesus garantiu aos discípulos que após a sua ida para junto do Pai, o Espírito Santo ficaria connosco para nos conduzir à verdade.

Eis as suas palavras: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade que procede do Pai, e que eu vos enviarei, ele dará testemunho em meu favor” (Jo 15, 26).

Com efeito, só após a ressurreição de Jesus, os discípulos, guiados pelo Espírito Santo, atingirão a raiz mais profunda da verdade.

O evangelho de São João diz que Jesus tinha plena consciência de que os discípulos só atingiriam a o sentido profundo do plano salvador de Deus após a sua morte e ressurreição:

“Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas vós não sois capazes de as compreender por agora.

Quando ele vier, o Espírito da Verdade, ele há-de guiar-vos para a Verdade completa” (Jo 16, 12-13).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E ORIGINALIDADE CRISTÃ-IV

IV-O ESPÍRITO SANTO COMO FORÇA DE EVANGELIZAÇÃO

São Paulo tem uma grande sensibilidade à presença habitual do Espírito Santo no coração do ser humano.

Eis o que ele diz na Primeira Carta aos Coríntios: “Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

Antes de subir aos Céus, Jesus ordena aos Apóstolos que permaneçam em Jerusalém, a fim de receberem o Espírito Santo para poderem testemunhar o Evangelho até aos confins da terra (Act 1, 8).

São Paulo diz que a sua pregação não se apoia na sabedoria humana ou em palavras persuasivas, mas na manifestação do Espírito Santo.

Por isso a fé das comunidades que ele ia fundando não se apoiava na sabedoria dos homens, mas na sabedoria do Espírito Santo e no poder de Deus (1 Cor 2, 4-5).

Já o profeta Joel tinha anunciado que os tempos messiânicos seriam tempos marcados pela abundância do Espírito:

“Depois disto derramarei o meu Espírito sobre toda a Humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão.

Os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões. Naquele dia também derramarei o meu Espírito sobre vossos servos e servas” (Jl 3, 1-2).

O Livro dos Actos dos Apóstolos vai interpretar a presença abundante do Espírito Santo como a realização desta profecia de Joel (cf. Act 2, 16-21).

São Paulo diz que as pessoas que não têm o Espírito Santo não pertencem a Cristo (Rm 8, 9).
Ter o Espírito Santo não significa ter uma coisa estática dentro de nós.

Pelo contrário, o Espírito é uma pessoa cuja característica fundamental é ser animador de relações e vínculo de comunhão orgânica.

Ter o Espírito Santo significa ser dinamizado com o próprio dinamismo vital de Deus. Segundo a Carta aos Gálatas, o Espírito Santo confere um jeito à nossa vida, fazendo que as nossas sejam de amor, de alegria, de paz, de paciência, de amabilidade, de bondade, de fidelidade, de gentileza e auto-controle (Gal 5, 22-23).

Podemos dizer que o Espírito Santo cria em nós um coração de Homem Novo. Na verdade, o Espírito Santo é dinamismo, isto é, uma força que nos impele para um jeito novo de viver.

A carta aos Filipenses tendo presente esta força recriadora do Espírito Santo diz que tudo podemos na força do Espírito que nos anima (Flp 4, 13).

O evangelho de São João diz que temos de renascer pelo Espírito Santo, pois o que nasceu da carne é carne e o que nasce do Espírito é espiritual (Jo 3, 3-6).
Em ComunhãoConvosco
Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E ORIGINALIDADE CRISTÃ-V

V-O BAPTISMO NO ESPÍRITO SANTO

O baptismo no Espírito não é mais que a dinâmica pentecostal a acontecer de modo permanente na vida dos crentes, fazendo emergir na pessoa o Homem Novo.

Eis o que diz a Carta aos Efésios: “No que toca à vossa conduta, deveis despir-vos do homem velho, corrompido por desejos enganadores.

Renovai-vos de acordo com a acção do Espírito Santo que anima as vossas mentes. Revesti-vos do Homem Novo, criado segundo o plano de Deus na justiça e na santidade verdadeiras” (Ef 4, 22-24).

É pelo baptismo no Espírito que os mistérios de Deus nos são revelados, como diz a Carta aos Efésios:

“Por Jesus Cristo vós ouvistes a Palavra da verdade, o Evangelho que vos salva. Foi neste Evangelho que acreditastes e, por isso, fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido, o qual é a garantia da herança que receberemos no dia da redenção, para louvor da sua glória” (Ef 1, 13-14).

O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que São Paulo encontrou um grupo de pessoas que tinham sido baptizadas por João Baptista, mas ainda não conheciam a Boa Nova de Jesus Cristo.

Isto queria dizer eles ainda não estavam a viver o baptismo no Espírito. Foi esta a razão pela qual São Paulo os baptizou em nome de Jesus e lhes impõe as mãos para que possam entrar na dinâmica do baptismo no Espírito (Act 19, 1-6).

O baptismo no Espírito é um processo que tem início quando o Espírito Santo explicita a Palavra de Deus no coração da pessoa humana.

Isto pode acontecer ainda antes de a pessoa ter sido baptizada segundo o rito baptismal da água.
Na verdade, um adulto, para ser baptizado, já tem de estar a viver a dinâmica da fé cujo início coincide com o início do baptismo no Espírito.

Foi isto que aconteceu na casa de Cornélio, um pagão ao qual Pedro foi anunciar a Palavra de Deus:

“Ainda Pedro estava a falar, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra.

Os fiéis circuncisos que tinham vindo com Pedro ficaram estupefactos, ao verem que o dom do Espírito Santo fora derramado também sobre os pagãos, pois ouviam-nos falar línguas e glorificar a Deus.

Pedro, então, declarou: ‘poderá alguém recusar a água do baptismo aos que receberam o Espírito Santo como nós? E ordenou que fossem baptizados em nome de Jesus Cristo” (Act 10, 44-48).

Também em Paulo o baptismo no Espírito teve início antes do rito do baptismo (Act 9, 18). O baptismo no Espírito começa a partir do momento em que a Palavra de Deus faz germinar a vida teologal de Fé, Esperança e Caridade no coração de uma pessoa.

A vida teologal é a única originalidade do cristão. Os não cristãos também têm acesso ao dom da salvação, mas estes não estão na dinâmica do baptismo no Espírito e, portanto, não vivem os horizontes da vida teologal.

Eis o que diz o evangelho de São João: “O Espírito da Verdade não pode ser recebido pelo mundo, pois este não o vê nem o conhece.

Vós conhecei-lo porque Ele está convosco e em vós” (Jo 14, 17). Na verdade, graças ao baptismo no Espírito, os crentes têm um guia e um mestre que os conduz para a Verdade plena:

“Fui-vos revelando estas coisas enquanto permaneci convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 25-26).

São Paulo, apesar de teólogo judeu, viveu também a experiência do baptismo no Espírito.
Foi graças ao baptismo no Espírito que lhe caíram dos olhos uma espécie de escamas que o impediam de ver o mistério de Cristo.

Eis as palavras dos Actos dos Apóstolos: “Então Ananias partiu, entrou na casa indicada, impôs as mãos sobre ele e disse: “Saulo, meu irmão, foi o senhor que me enviou, esse Jesus que te apareceu no caminho, a fim de recobrares a vista e ficares cheio do Espírito Santo”.

Nesse mesmo instante caíram-lhe dos olhos uma espécie de escamas e Saulo recobrou a vista. Depois, levantou-se e recebeu o baptismo” (Act 9, 17-18).

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Calmeiro Matias

23 outubro, 2008

A PRESENÇA DE MARIA NA IGREJA NASCENTE-I

I-MARIA E O RESTO FIEL

A teologia do resto fiel de Deus atravessou toda a tradição profética, desde o profeta Elias até aos últimos profetas.

Devido às suas infidelidades, Israel será disperso no meio dos outros povos e ficará reduzido a um pequeno resto que se voltará para o Senhor (Dt 4,27).

Com este resto Deus, que é rico em misericórdia vai renovar com a sua Aliança, fazendo deste resto o grupo dos seus eleitos (Dt 4,31).

O Profeta Isaías diz que Deus só conta com um pequeno resto que se voltará para o Senhor:

“Naquele dia o resto de Israel e os sobreviventes de Jacob não farão alianças com os inimigos do Senhor, mas apoiar-se-ão com confiança no Deus forte.

Ainda que o teu povo, ó Israel, fosse tão numeroso como os grãos de areia das praias do mar, apenas um pequeno resto voltará (10, 18-22).

Os judeus que regressaram do exílio de Babilónia estavam convencidos de ser eles o resto anunciado pelos profetas (Zac 3, 8-9).

Face ao modo como os judeus rejeitaram Jesus Cristo, São Paulo vê nos poucos judeus que se converteram à fé, o resto anunciado pelo profeta Isaías no texto que vimos acima” (Rm 9, 19; 27-29).

Ao longo da História da Salvação, Deus foi renovando a sua Aliança sempre com um pequeno resto:

O núcleo familiar de Noé (Gn 6, 9). O resto de um grupo de homens que, no tempo do profeta Elias, se manteve fiel ao Senhor (1 Rs 9, 10, 18).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PRESENÇA DE MARIA NA IGREJA NASCENTE-II

II-MARIA E AS APARIÇÕES DE JESUS RESSUSCITADO

O Novo Testamento vê em Maria e no grupo dos discípulos o resto fiel anunciado pelos profetas.

Este resto, unido a Cristo ressuscitado e animado pelo Espírito Santo é o fermento da Nova
Criação realizada em Cristo ressuscitado (2 Cor 5, 17-19).

A última passagem do Novo Testamento que nos fala de Maria é o relato da comunidade apostólica primordial, logo após o Pentecostes.

Depois de referir o nome dos onze discípulos, Lucas acrescenta: “E todos unidos pelos mesmos sentimentos, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e seus irmãos” (Act 1, 14).

Após a Páscoa, Maria e os discípulos formavam o resto fiel reunido em nome de Jesus de Nazaré, o Messias de Deus.

Segundo os Actos, o resto fiel era constituído pelos onze discípulos, pela mãe de Jesus e seus irmãos e por um grupo de cerca de cento e vinte pessoas (Act 1, 15).

Ao fazer a síntese das aparições de Jesus ressuscitado, São Paulo declara estar a repetir exactamente o que os Apóstolos lhe comunicaram, pois ele, nessa altura, ainda não fazia parte do grupo dos cristãos.

Depois de mencionar a aparição do Senhor a Pedro, aos doze, e a mais de quinhentos irmãos, São Paulo fala de uma aparição a Tiago.

Este Tiago não é o irmão de João, pois este estava incluído no grupo dos doze, mas sim Tiago, o irmão de Jesus que, na altura em que São Paulo escreveu o texto era o chefe da comunidade de Jerusalém.

Na Carta aos Gálatas, São Paulo fala deste Tiago, dizendo tratar-se do irmão do Senhor. Além do encontro com São Pedro, São Paulo não viu mais ninguém a não ser Tiago:

“Passados três anos subi a Jerusalém para conhecer Pedro e fiquei com ele durante quinze dias.
Mas não vi nenhum outro Apóstolo a não ser Tiago, o irmão do Senhor.

O que vos escrevo, digo-o diante do Senhor, não estou a mentir” (Gal 1, 19). O relato das aparições do Senhor ressuscitado Tiago é mencionado entre os que tiveram uma aparição própria (cf. 1 Cor 15, 3-9).

Como se pode comprovar no relato das pessoas beneficiadas com uma aparição do Senhor não há nenhum nome de mulher.

Isto revela como este texto é antigo. Ainda estamos em pleno contexto judaico, onde a mulher não podia servir de testemunha.

Se na lista das pessoas que viram o Senhor ressuscitado houvesse nomes de mulher, em vez de Tiago teríamos naturalmente o nome de Maria.

Agora já podemos ler o relato das aparições, tal como os Apóstolos o transmitiram a Paulo.
Eis as palavras do Apóstolo na Primeira Carta aos Coríntios:

“Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras.

Foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as mesmas Escrituras. Apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida pareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. Depois apareceu a Tiago” (1 Cor 15, 3-7)

Este texto dá-nos a garantia de que Maria e o seu núcleo familiar mais íntimo foram beneficiados com uma aparição do Senhor ressuscitado.

O evangelho de João diz de maneira muito sugestiva que Maria, após a hora de Jesus, isto é, a sua morte e ressurreição passa a fazer parte do resto fiel continuando a sua missão de mãe do Messias, mas agora como mãe da comunidade apostólica que é o Corpo de Cristo (1 Cor 12,27).

Maria foi, pois, uma mediação privilegiada do Espírito Santo, ajudando o resto fiel com o qual o Espírito Santo ia fundar a Igreja:

“Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria, a mulher de Cléofas e Maria Madalena.

Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que ele amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!”

Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” E desde aquela hora, o discípulo acolheu-a em sua casa” (Jo 19, 25-27).

Seria errado pensar que Jesus entregou Maria a João, a fim de esta não ficar só e abandonada.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PRESENÇA DE MARIA NA IGREJA NASCENTE-III

III-MARIA E A IGREJA NASCENTE

Os Actos dos Apóstolo testemunham que Maria, após a Páscoa, se fazia acompanhar do seu núcleo familiar a que o Novo Testamento chama irmãos de Jesus (Act 1, 14).

O texto de João, utilizando um simbolismo muito bonito, diz que Maria, após a Páscoa, continua a sua missão maternal de mediação especial do Espírito Santo no interior do resto fiel.

O Novo Testamento, de modo especial o Livro dos Actos dos Apóstolos e os escritos de São Paulo vêem neste resto fiel o embrião do Novo povo de Deus.

Como sabemos, a dinâmica do amor maternal é básica para o desenvolvimento de qualquer embrião.

A teologia do resto fiel vem associada à ideia de um castigo que deixará o povo de Deus reduzido a um pequeno resto.

Esse dia será trágico, pois os pecadores vão ser aniquilados. Só escapará o resto fiel o qual se apoiará sobre uma Nova aliança assente, não na letra das tábuas de pedra dadas a Moisés no Monte Sinai, mas no dom do Espírito Santo.

O dia do Senhor está próximo, dizia o profeta Ezequiel. Aproxima-se o tempo: o Senhor vai derramar a sua cólera. Nesse dia o ouro e a prata não poderão salvar (Ez 7, 5-19).

Os justos vão ser assinalados, a fim de escaparem à ira do Senhor, formando assim o resto fiel.
Todos serão exterminados, excepto os assinalados na fronte, os quais constituem o pequeno resto que Deus vai poupar. (Ez 14, 22).

Deus vai conceder um coração e um espírito novos aos que restarem fiéis. Estes serão reconduzidos para Jerusalém onde encontrarão a felicidade, a paz e a prosperidade (Ez 11, 17-19).

Os poderosos vão ser humilhados. Os simples e pobres vão ser exaltados. As coisas vão mudar, pois o humilde será exaltado e o que está no alto será humilhado (Ez 21, 30-31).

São Lucas via em Maria um membro eminente deste resto fiel. É por esta razão que ele põe na boca de Maria o hino do Magnificat composto com estas palavras do profeta Ezequiel (Lc 1, 46-56).

O Novo Testamento vê a Igreja nascente como o pequeno resto, o pequeno rebanho à frente do qual o Senhor vai colocar um pastor que sairá da casa de David, como disse o profeta Ezequiel (Ez 34, 11-25).

O evangelho de São Lucas põe na boca do anjo da anunciação uma síntese destas palavras de Ezequiel:

“Ele será grande e será chamado filho do Altíssimo, pois vai herdar o trono de seu pai David.
Ele vai reinar para sempre sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim” (Lc 1, 32-33).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PRESENÇA DE MARIA NA IGREJA NASCENTE-IV

IV-MARIA E A NOVA ALIANÇA

Maria era um membro do povo judeu. Isto quer dizer que ela pertencia à Antiga Aliança. São Paulo reconhece que Maria, apesar de nascer como membro da Antiga Aliança, teve a nobre missão de ser a ponte para a Nova.

NaCartaaos Gálatas, São Paulo atribui a Maria o privilégio de ser a aurora da plenitude dos tempos:

“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da antiga Lei.

Deste modo Deus resgatou os que se encontravam sob o domínio, a fim de receberem a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações os Espírito de seu Filho que clama: “Abba, Papá!”

Deste modo já não és escravo, mas filho. E se és filho, és também herdeiro pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

Apesar de ter nascido como membro da Antiga Aliança, Maria tornou-se uma figura central na emergência histórica do Povo da Nova Aliança.

Nos pronunciamentos dos profetas, a teologia do resto fiel estava associada ao juízo final, também chamado o dia da ira.

Nesse dia, só o resto fiel escaparia à tragédia que Deus ia enviar sobre a Humanidade. Os discípulos consideravam-se o resto que escaparia ao dia da ira como os profetas tinham anunciado.

No dia do juízo, diz o evangelho de São Mateus, haverá menos rigor para Sodoma do que para os que rejeitarem a mensagem de Jesus (Mt 11, 24).

O juízo universal é associado à segunda vinda de Cristo, a qual iria a acontecer muito em breve, pensavam os discípulos.

Eis o que diz São Paulo na Primeira Carta aos Tessalonicenses: “Vós sabeis perfeitamente que o dia o Senhor virá como um ladrão vem pela calada da noite (…).

Vós não andais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão” (1 Ts 5, 2-4).

Maria ocupa um lugar de destaque no conjunto deste pequeno resto fiel, pois continua a sua missão de mediação privilegiada do Espírito Santo:

O evangelho de São João diz que Jesus, no momento da sua morte, entrega Maria a João, a fim de ela ser a mãe do resto fiel do qual vai emergir o Povo da Nova Aliança (Jo 19, 25-27).

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Calmeiro Matias

19 outubro, 2008

O NOSSO DEUS É FIEL E VERDADEIRO-I


I-FIDELIDADE DE DEUS E ESPERANÇA

O Nosso Deus é fiel e Verdadeiro. É o Deus da aliança que realiza o que promete. O livro do Deuteronómio diz que a fidelidade de Deus passa de geração em geração ao longo dos séculos:

“Fica a saber que o Senhor teu Deus é o único Deus. Ele é Deus fiel que mantém a sua aliança de amor com aqueles que o amam e guardam os seus mandamentos ao longo de milhares de gerações” (Dt 7, 9).

Isaías, perante o triste espectáculo do povo exilado na Babilónia, continua a anunciar a fidelidade do Deus de Israel que vai fazer sair os filhos de Abraão da Babilónia, tal como os fez sair do da escravidão do Egipto:

“Eis o que diz o Senhor, o Redentor e Santo de Israel, ao povo desprezado e abandonado pelas gentes, ao escravo dos tiranos:

Muitos reis vos verão e se levantarão, príncipes verão e curvar-se-ão por causa do Senhor, o qual é fiel, o Santo de Israel que vos escolheu” (Is 49, 7).

São Paulo garante aos Coríntios que o Deus que os chamou para à salvação é fiel e por isso não devem duvidar de que a salvação em Cristo é também para eles (1 Cor 1, 9).

O Deus fiel, não permitirá que sejam tentados acima das suas forças: “Não sofrestes nenhuma tentação além das que são comuns aos mortais.

Deus, que é fiel, não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças. Quando fores tentado, Deus suscitará um modo de sair da tentação, a fim de a vencerdes” (1 Cor 10, 13).

Na segunda carta aos Tessalonicenses São Paulo volta a insistir neste ponto: “Deus é fiel e, portanto, podes confiar que ele te fortalecerá e te protegerá do mal” (2 Tes 3, 3).

A primeira carta de São João vê na fidelidade de Deus a garantia do perdão do nosso pecado:
“Se reconhecermos e lhe confessarmos os nossos pecados, Deus é fiel e justo e, portanto, perdoará os nossos pecados e nos purificará das nossas injustiças e iniquidades” (1 Jo 1, 9).

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Calmeiro Matias

O NOSSO DEUS É FIEL E VERDADEIRO-II

II-FIDELIDADE DE DEUS E SALVAÇÃO

A fidelidade na bíblia significa manter-se firme, ser digno de confiança. O homem que se mantém fiel à aliança de Deus receberá como prémio as bênçãos de Deus e a plenitude da vida:

“O Senhor respondeu: muito bem, servo bom e fiel! Uma vez que foste fiel em pequenas coisas, vou conceder-te domínio sobre coisas grandes.

Vem e partilha a felicidade do teu Senhor” (Mt 25, 23). A fidelidade de Deus, diz a Carta aos Hebreus, manifesta-se no facto de o próprio Deus manter inalterável a sua aliança e o seu amor para connosco.

“Conservemo-nos firmes na esperança, pois aquele que fez a promessa é fiel” (Heb 10, 23).
A fidelidade de Deus é maior que o nosso pecado. Por isso, nem o pecado dos homens consegue anular a fidelidade de Deus.

O profeta Jeremias convida o povo exilado na Babilónia a manter viva a esperança, pois o amor de Deus é incondicional:

“Israel e Judá não foram esquecidos pelo Deus Altíssimo, apesar de a sua terra estar cheia de culpa e iniquidade diante do Santo de Israel” (Jer 51, 5).

A Segunda Carta a Timóteo diz que apesar das nossas infidelidades, Deus continuará a ser fiel, pois não pode negar-se a si mesmo (2 Tim 2, 13).

O amor de Jesus pela Humanidade é uma expressão do amor incondicional e da fidelidade de Deus.

Graças a esta fidelidade temos a certeza de que Jesus permanecerá connosco até ao fim do mundo, como ele mesmo nos garantiu (Mt 28, 20).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O NOSSO DEUS É FIEL E VERDADEIRO-III

III-FIDELIDADE DE DEUS E NOVA HUMANIDADE

A presença de Jesus em nós concretiza-se pela acção do Espírito Santo o qual, como diz são Paulo, é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

É por este mesmo Espírito que somos incorporados na Família de Deus como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos em relação ao Filho de Deus.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo coloca-nos em interacção com o Pai que nos acolhe como filhos e com o Filho que nos acolhe como irmãos (Rm 8, 14-17).

Por isso, diz São Paulo, se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. Passou o que era velho. Eis que tudo se fez novo.

Isto vem de Deus que nos reconciliou consigo em Cristo, não levando mais em conta os nossos pecados (2 Cor 5, 17-19).

Deus é fiel. Apesar da infidelidade do Homem, o seu plano de incorporar a Humanidade na Família da Santíssima Trindade realizou-se.

Já somos da família de Deus e já podemos clamar “Abba”, Papá (Gal 4, 4-7). É esta a razão pela qual temos de nascer de novo, diz o evangelho de São João (Jo 3, 3).

O novo nascimento acontece pelo Espírito Santo, condição para fazermos parte da família de Deus (Jo 3, 6).

A primeira Carta de Pedro diz que renascemos para Deus, não por uma semente qualquer, mas por uma incorruptível, isto é, o Espírito Santo que nos restaura pela Palavra de Deus (1 Pd 1, 23).

A primeira Carta de São João diz que levamos no nosso íntimo a semente de Deus, isto é, o Espírito Santo (1 Jo 3, 9).

Isto quer dizer que o Espírito Santo é nos gera e incorpora na Família de Deus. São Paulo não se cansa de afirmar que estamos salvos graças ao facto de Deus ser fiel:

“Aquele que nos confirma juntamente convosco em Cristo é Deus. Foi ele que nos marcou com o seu selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito Santo” (2 Cor 1, 21-22).

Os evangelhos dão testemunho de que a fidelidade de Deus foi plenamente realizada em Cristo como dom definitivo e eterno:

“Os Céus e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13, 31). A prova de que Deus é fiel é que a sua promessa de estabelecer uma Nova Aliança e reconciliar consigo a Humanidade se realizou em Jesus Cristo.

Eis o que diz a Carta aos Romenos: “Esta será a minha Aliança com eles, quando eu os libertar dos seus pecados” (Rm 11, 27).

Segundo o plano de Deus esta reconciliação e salvação aconteceram, como Deus prometera, quando chegou a plenitude dos tempos (Gal 4, 4-7).

A Nova Aliança assenta na comunicação do Espírito Santo que é a semente da Vida Nova.

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O NOSSO DEUS É FIEL E VERDADEIRO-IV

IV-FIDELIDADE DE DEUS E NOVA ALIANÇA

A Vida Eterna não consiste num mero cumprimento de normas, preceitos ou leis, mas em ser incorporado na Família de Deus.

Os cristãos são chamados por Deus a testemunhar este plano de amor no interior de todas as raças, línguas, povos e nações:

“Foi Deus quem nos tornou aptos para sermos ministros de uma Aliança Nova, não da letra, mas do Espírito.

De facto, a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2 Cor 3, 6). É o Espírito Santo que torna eficaz a fidelidade de Deus nas nossas vidas. Por ser definitiva, a fidelidade de Deus concretiza-se numa Nova Aliança que tem valor eterno e definitivo.

O profeta Jeremias, chocado com a infidelidade do Povo à Aliança que Deus fez com Moisés, fala de uma Nova Aliança, a qual não assenta em leis ou preceitos escritos em pedra, mas na comunicação do Espírito Santo.

Por isso esta Nova Aliança será eterna, pois não será escrita num coração de pedra, mas num coração de carne:

“Dias virão em que firmarei um Nova aliança com as casas de Israel e de Judá, oráculo do Senhor.

Não será como a aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para ao fazer sair da terra do Egipto.

Apesar de eu os tomar pela mão, eles foram infiéis à Aliança que fiz com eles oráculo do Senhor.
Esta será a Aliança que vou estabelecer naqueles dias com a casa de Israel, oráculo do Senhor:

Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo.

Ninguém precisará de ensinar o seu próximo dizendo: conhece o Senhor! Na verdade, todos me conhecerão desde o maior ao mais pequeno.

A todos perdoarei as suas faltas e não mais me lembrarei os seus pecados” (Jer 31, 31-34).
Segundo a Carta aos Hebreus, a dinâmica restauradora da Nova Aliança começa com a morte e ressurreição de Cristo:

“O Deus da paz, que fez subir de entre os mortos aquele que se tornou o grande Pastor das ovelhas, nosso Senhor Jesus Cristo, vos torne aptos para todo o bem, a fim de realizar o seu plano” (Heb 13, 20-21).

E acrescenta: “Jesus Cristo tornou-se a garantia de uma Aliança melhor” (Heb 7, 22). Ao estabelecer a Nova Aliança, Deus revelou a grandeza do seu amor pela Humanidade.

O seu plano salvador é em favor de todos os homens e não apenas em favor dos judeus, como diz a carta aos Efésios:

“E também vós fostes incluídos em Cristo uma vez que ouvistes a palavra da verdade, o Evangelho da vossa salvação.

Tendo acreditado, fostes marcados em Cristo com um selo, isto é, o Espírito Santo prometido, o qual é a garantia da vossa salvação” (Ef 1, 13-14).



Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

16 outubro, 2008

ESPÍRITO SANTO E NOVA CRIAÇÃO-I

I-O ESPÍRITO SANTO COMO TERNURA MATERNAL

O Livro do Génesis diz que o Homem criado à imagem e semelhança de Deus tem uma face masculina e outra feminina.

Por outras palavras, o varão, só por si, não é uma imagem perfeita de Deus, pois Deus criou o Homem à sua imagem como varão e mulher.

Eis as palavras do Livro do Génesis: “Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança. Ele os criou homem e mulher como imagem de Deus” (Gn 1, 27).

O masculino e o feminino são qualidades que implicam perfeições complementares. Ora, como sabemos, as perfeições inscritas nas obras da Criação existem em grau de perfeição infinita no Criador.

Não devemos reduzir o masculino à condição de macho e feminino com a condição de fêmea. Na realidade trata-se de dois modos de interagir e comungar que, no seu grau de realização mais elevada têm densidade espiritual.

No Reino de Deus, diz Jesus, os seres humanos já não têm dimensão biológica, no entanto, mantêm a sua identidade espiritual, a qual é histórica:

“Jesus respondeu aos saduceus: “Estais enganados porque desconheceis as Escrituras e o poder de Deus.

Na ressurreição nem os homens terão mulheres nem as mulheres terão maridos, mas serão como os anjos no Céu” (Mt 22, 29-30).

Os ressuscitados continuam a ter a sua identidade masculina ou feminina, mas esta é totalmente espiritual.

O mesmo diz São Paulo ao referir-se ao corpo espiritual dos ressuscitados, o qual nada tem a ver com o corpo biológico. Eis as suas palavras:

“Assim também acontece com a ressurreição dos mortos: “Semeado corruptível, o corpo é ressuscitado incorruptível.

Semeado na desonra, é semeado na glória. Semeado na fraqueza é ressuscitado na força.
Semeado corpo terreno é semeado corpo espiritual. Na verdade, se há corpo terreno, também há corpo espiritual” (1 Cor 15, 42-44).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E NOVA CRIAÇÃO-II

II-O MASCULINO E O FEMININO EM DEUS

As pessoas divinas nunca tiveram um corpo e, no entanto, Deus pai ama com um jeito masculino, como o Espírito Santo tem um jeito feminino de amar.

Na verdade, foi o Espírito Santo que, com seu jeito maternal de amar optimizou o Coração de Maria, a fim de ela poder amar o Filho de Deus com um jeito divino.

É neste sentido que devemos entender as palavras que São Lucas põe na boca do anjo da anunciação quando ele diz a Maria:

“O anjo respondeu a Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra.

Por isso aquele que vai nascer é santo e será chamado Filho de Deus” (Lc 1, 35). O Espírito Santo é uma pessoa divina. Tem a sua identidade única, original, irrepetível e capaz de amar como todas as pessoas.

Deus, como sabemos, é uma comunhão familiar de três pessoas. Por outras palavras, Deus não é um sujeito isolado e sem igual, mas uma comunhão amorosa.

O Espírito Santo é uma pessoa divina. Isto quer dizer que não é um Deus, mas umas das três pessoas que constituem a comunhão familiar divina.

Por outras palavras, o Espírito Santo é Deus com o Pai e o Filho. São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

É por ele que nós nos tornamos filhos de Deus Pai, diz a Carta aos Romanos e irmãos do filho de Deus (Rm 8, 14-17).


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Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E NOVA CRIAÇÃO-III

III-ESPÍRITO SANTO E EVANGELIZAÇÃO

Uma pessoa animada pelo Espírito Santo é incapaz de negar Jesus Cristo, diz São Paulo. Do mesmo modo, acrescenta ele, ninguém é capaz de reconhecer Jesus como Salvador a não ser pelo Espírito santo (1 Cor 12,3).

Foi o Espírito Santo que consagrou Jesus para anunciar a Boa Nova aos pobres, dar vista aos cegos, fazer caminhar os coxos (Lc 4, 18-19).

Foi por Cristo ressuscitado que o Espírito Santo deu início ao ano da graça, isto é, a plenitude dos tempos em que já podemos clamar “Abba, ó Pai” (Gal 4, 4-7).

Era o Espírito Santo que fazia Jesus exultar de alegria e louvar o Pai pela sua ternura paternal (Lc 10, 21).

Após a sua ressurreição, Jesus consagra os Apóstolos para a missão, pondo-os sintonizar com o Espírito Santo que é a Força do Alto (Lc 24, 49).

Ele é, diz o evangelho de São João, a Água Viva que faz brotar uma nascente de Vida Eterna no nosso coração (Jo 7, 37-39).

É pelo Espírito Santo que nós nascemos de novo, a fim de podermos tomar parte na plenitude do Reino de Deus (Jo 3, 3, 6).

De tal maneira a missão do Espírito Santo é central no projecto salvador de Deus que o pecado contra o Espírito Santo é o único que não tem perdão (Mt 12, 31-32, Mc 3, 29; Lc 12, 10-12).

Pecar contra o Espírito Santo é negar a evidência do bem e da verdade, atribuindo-os às forças do mal.

O evangelho diz que é o Espírito Santo que nos conduz à Verdade plena (Jo 14, 26).

Em Comunhão Covosco
Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E NOVA CRIAÇÃO-IV

IV-ESPÍRITO SANTO E A NOVA HUMANIDADE

A Carta aos Gálatas diz que o amor é um dom do Espírito Santo: “São estes os frutos do Espírito Santo:

Amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, auto-domínio (Gal 5, 22).
Segundo o Livro dos Actos dos Apóstolos, os judeus não podiam resistir à sabedoria do Espírito Santo que falava nele (Act 6, 10).

Depois acrescenta que os primeiros cristãos viviam repletos da consolação do Espírito Santo, apesar das perseguições que sofriam (Act 9, 31).

Segundo a Carta a Tito o Homem foi purificado pelo poder regenerador do Espírito Santo que Cristo derramou com abundância sobre todos nós (Tt 3, 5-6).

Associando o seu trabalho de evangelizador com a acção do Espírito Santo, São Paulo diz que a sua pregação foi eficaz, não por ser fruto do saber humano, mas por ser uma demonstração do Espírito Santo (1 Cor 2, 4).

O Espírito Santo é o sangue de Cristo a circular em nós, fazendo emergir a vida divina no nosso interior.

Ele é, também, a força ressuscitadora de Cristo a actuar no nosso coração, diz a Carta aos Romanos (Rm 8,11).

O Espírito Santo é o coração da Nova Aliança assente, não na letra que mata, mas no Espírito que vivifica (2 Cor 3, 6).

É ele que alimenta a Vida Eterna no nosso íntimo. Ele é também a semente de Deus a gerar vida divina nosso íntimo, diz a primeira Carta de João (1 Jo 3, 9).

É o dom da plenitude dos tempos que Deus Filho nos concede pelo beijo da Encarnação. Mesmo que o nosso ser exterior se vá degradando e envelhecendo com a idade, diz São Paulo, o nosso interior vai-se robustecendo cada dia mais graças à acção do Espírito Santo (2 Cor 4, 16).

O Espírito Santo elegeu o nosso coração como ponto de encontro connosco. Na verdade, ele decidiu habitar no nosso coração como num templo, diz a Primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 3, 16).

Com o seu jeito maternal de amar ele actua no nosso íntimo como princípio vínculo de união orgânica e princípio animador de relações de amor.

O Espírito Santo é uma presença santificadora no nosso coração. Ele é a força que vai estruturando a Nova Criação, isto é, a Humanidade reconciliada com Deus através de Cristo ressuscitado (2 Cor 5, 17-19).

A sua presença inspiradora, ele faz-nos saborear a verdade do Evangelho, esse tesouro inesgotável que é sempre antigo e sempre novo.

É ele quem nos ensina a discernir as coisas de Deus, capacitando-nos para separarmos a luz das trevas.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ESPÍRITO SANTO E NOVA CRIAÇÃO-V

V-ESPÍRITO SANTO E LIBERDADE

A Segunda Carta aos coríntios diz que onde está o Espírito Santo aí está a Liberdade (2, 3, 17).

Por seu lado, a Carta aos Romanos diz que nós não recebemos um espírito de escravidão para andarmos com medo.

Pelo contrário, recebemos um Espírito de adopção graças ao qual chamamos “Abba” ó Pai (Rm 8, 15).

Como princípio animador de relações de amor, a presença do Espírito Santo no nosso íntimo é o impulso primordial do nosso processo de humanização.

Podemos dizer com toda a verdade que a terceira pessoa da Santíssima Trindade é, no nosso coração, uma dinâmica libertadora.

A Carta aos Efésios diz-nos que devemos tomar em grande consideração a pessoa do Espírito Santo, pois ele habita em nós.

O nosso agir deve processar-se em conformidade com a vontade de Deus, a fim de não causarmos desgosto ao Espírito Santo.

Isto quer dizer que o Espírito Santo é quem nos convida a actuar de acordo com a vontade de Deus, a qual coincide com a nossa plena libertação.

Eis as palavras da Carta aos Efésios: “Não contristeis o Espírito Santo pelo vosso modo de agir.
Lembrai-vos que ele é o selo que vos marca para o dia da salvação, quando a libertação do pecado atingir a sua plenitude” (Ef 4, 30).

É certo que o Espírito Santo não nos substitui, mas a sua presença no nosso coração é extremamente activa, iluminando-nos e convidando-nos a agir de tal modo que possamos crescer como pessoas livres.

É certo que a pessoa humana não nasce livre. Mas vai-se tornando livre agindo em harmonia com o amor.

A liberdade é a capacidade de a pessoa comunicar com os outros em relações de amor e interagir criativamente com as coisas e os acontecimentos.

Isto quer dizer que a liberdade vai acontecendo como processo de libertação, em cuja dinâmica está muito presente o Espírito Santo.

Não devemos confundir liberdade com livre arbítrio, pois este é apenas a possibilidade de podermos ser livre.

O livre arbítrio é a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal. Só as opções que fazemos na linha do bem são humanizantes e, portanto, criadoras da liberdade.

Deus é infinitamente livre e, no entanto, não tem livre arbítrio, pois não pode optar pelo mal.

As pessoas humanas, ao contrário das divinas, estão em processo histórico de realização e, como tal, vão-se tornando livres de modo gradual e progressivo. Mas isto não acontece de modo automático.

É verdade que as pessoas humanas não podem tornar-se livres sem o exercício do livre arbítrio.
Mas não basta exercitar o livre arbítrio para a pessoa se torne livre.

Por outras palavras, as pessoas só se tornam livres na medida em que decidem agir de acordo com o amor.

Podemos dizer que a liberdade é uma conquista do Homem em construção, a qual emerge como resultado de uma vida comprometida com o bem.

Por ser amor, o Espírito Santo liberta-nos do medo. É isto que nos ensina a primeira Carta de São João quando diz:

“No amor não há temor. Na verdade, quando o amor é perfeito exclui o medo. O temor pressupõe o castigo. Eis a razão porque aquele que vive com medo ainda não é perfeito no amor.

Nós amamos porque Deus nos amou primeiro” (1 Jo 4, 18). Animado com a força do Espírito Santo, Jesus iniciou a sua missão dizendo que tinha sido ungido pelo Espírito Santo, a fim de libertar os cativos e enviar os presos em liberdade.

Eis as palavras de Jesus: “O Espírito Santo está sobre mim porque me consagrou para anunciar o Evangelho aos pobres.

Enviou-me a proclamar a libertação aos prisioneiros e a mandar em liberdade os oprimidos” (Lc 4, 18).

O Amor liberta-nos. É verdade que o Espírito Santo não ama por nós, mas que optimiza a nossa capacidade de amar.

O pecado é sempre uma recusa ao amor. É por esta razão que o pecado não nos torna livres.

Eis o que Jesus diz no evangelho de São João: “Se permanecerdes fieis à minha palavra sereis meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (…).

Quem comete o pecado é escravo (…). Se o Filho de Deus vos libertar, sereis realmente livres” (Jo 8, 31-36).

São Paulo reconhece que foi o Espírito Santo que o libertou da sua antiga condição de fariseu oprimido:

“O Espírito Santo, que é o Espírito de Vida em Cristo Jesus, libertou-me da lei do pecado e da morte” (Rm 8, 2).

E na Segunda Carta aos Coríntios, acrescenta: “Onde está o Espírito Santo aí está a liberdade” (2 Cor 3, 17).

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo actua em nós de modo a optimizar a nossa comunicação fraterna e, deste modo, atingirmos a plenitude da nossa humanização.

O Espírito Santo tem a possibilidade de realizar uma presença de amor universal, pois está presente a todos como dinamismo interior.

Na verdade, Deus é a interioridade máxima da Humanidade e do Universo. Sempre que uma pessoa decide facilitar a felicidade dos irmãos, está a ser mediação do amor maternal do Espírito Santo.

O Espírito Santo foi a força ressuscitadora de Jesus Cristo. É também o princípio amoroso que nos dinamiza e ressuscita.

Eis as palavras de São Paulo: “E se o Espírito Santo que ressuscitou Jesus está em vós, também ele fará que os vossos corpos vivam por meio deste mesmo Espírito que vive em vós” (Rm 8, 11).

Isto significa que o Espírito Santo nos liberta do poder da morte tal como libertou Jesus ao ressuscitá-lo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

14 outubro, 2008

CRIADOS PARA A VERDADE E O AMOR-I

I-O NASCIMENTO DO HOMEM NOVO

Com a ressurreição de Jesus, a Humanidade deu um salto de qualidade. O evangelho de São João diz que ao ressuscitar Jesus difunde para a Humanidade a Água viva que faz brotar uma nascente de Vida Eterna no coração dos seres humanos (Jo 7, 37-39).

O Homem Novo, portanto, emerge e robustece-se no interior da pessoa humana. Esta emergência acontece através de um novo nascimento (Jo 3, 6).

O homem puro não é uma questão de ritos, alimentos ou quaisquer outras coisas exteriores.
Jesus opôs-se frontalmente ao farisaísmo que fazia consistir a pureza do coração em meras questões exteriores:

“Não entendeis que nada do que o homem come o torna impuro, pois não penetra no coração mas sim no ventre e depois é expelido em lugar próprio? Deste modo Jesus declarava todos os alimentos como coisas puras.

Depois acrescentou: o que sai do homem é que o torna impuro. Na verdade, é do coração dos homens que saem os maus pensamentos, as prostituições os roubos, assassínios, adultérios, ambições, perversidade, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho e desvarios.
Todas estas maldades saem do interior do homem e tornam-no impuro” (Mc 7, 18-23).

O Homem velho ou carnal, diz a primeira Carta aos coríntios, não aceita o que vem do Espírito Santo, pois como não o pode compreender parece-lhe uma loucura (1 Cor 2, 14).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRIADOS PARA A VERDADE E O AMOR-II

II-O HOMEM NOVO FACE AO HOMEM VELHO

O cristão sabe que a mensagem de Jesus o convida a morrer ao homem velho, a fim de que vá renascendo o Homem Novo, o qual nasce pelo Espírito:

“O que nasce da carne é carne. O que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3, 6). Eis o que diz a este propósito a Carta aos Efésios:

“Em Cristo aprendestes a morrer ao vosso modo de vida anterior, o homem velho que se corrompe ao sabor das más inclinações.

Em Cristo, pelo contrário, aprendestes a renovar-vos pela transformação segundo o Espírito Santo, revestindo-vos do Homem Novo criado segundo Deus, na justiça e santidade verdadeiras” (Ef 4, 21-24).

Movidos pelo Espírito que vem de Cristo ressuscitado, o homem velho, diz a carta aos Romanos, foi crucificado com Cristo, a fim de não nos deixarmos escravizar pelo pecado (Rm 6, 6).

Animado pelo Espírito Santo, o cristão caminha em direcção à plenitude da vida que é a comunhão orgânica com Cristo ressuscitado.

A segunda Carta aos Coríntios fala do Homem Novo como uma emergência de vida interior que se vai robustecendo de modo gradual e progressivo:

“Ainda que em nós o homem carnal se vá degradando pelo envelhecimento, o homem espiritual vai-se robustecendo cada vez mais pela acção do Espírito Santo” (2 Cor 4, 16).

São Paulo dizia sentir-se perturbado pela tensão que sentia devido à luta entre as forças contrárias do homem velho e do Homem Novo:

“Eu sei que na minha carne habitam as forças do mal. Deste modo, desejar o bem está ao meu alcance, mas realizá-lo, não.

Deste modo não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” (Rm 7, 18-19). Os cristãos estão a transformar-se mediante a renovação das suas mentes e do seu coração.

No coração renovado habita a sabedoria, isto é, a capacidade de saborear a vida, as coisas e os acontecimentos e as coisas com os critérios de Deus.

Estes critérios vão sendo moldados na nossa mente pela Palavra de Deus. No coração renovado habita o Espírito Santo que nos vai inspirando e convidando a agir em conformidade com o amor.

O Homem Novo emerge na medida em que a pessoa se deixa transformar pela Palavra e pelo Espírito Santo.

Jesus deixou-nos a garantia de que, após a sua partida para o Pai, o Espírito Santo viria continuar a sua missão junto de nós:

“Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26).

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Calmeiro Matias

CRIADOS PARA A VERDADE E O AMOR-IIII

III-O HOMEM CRIADO PARA A VERDADE

O Homem Novo emerge em conformidade com Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6).

Graças ao facto de fazer uma união orgânica connosco, Jesus Cristo é o alicerce e a cúpula da Nova Humanidade.

O Espírito Santo é o vínculo maternal que anima esta organicidade. O plano sonhado por Deus desde toda a eternidade realizou-se em Jesus Cristo.

Por isso a Palavra de Jesus coincidia sempre com a verdade de Deus, como diz o evangelho de São João:

“A graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo” (Jo 1, 17). Jesus diz a Pilatos que a sua missão é comunicar a verdade:

“Para isto nasci e para isto vim ao mundo: dar testemunho da Verdade. Quem é da Verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 37-38).

A verdade no seu sentido mais pleno é a compreensão e enunciação adequada e correcta da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

Isto quer dizer que só Deus pode possuir a Verdade no seu sentido pleno. Tudo isto nos ajuda a compreender a necessidade fundamental e a importância da revelação de Deus.

Por outras palavras, sem os horizontes da Palavra de Deus, o Homem não consegue atingir o sentido profundo de Deus, do Homem, da História e do universo.

A ciência é um caminho para a descoberta da verdade, mas sem os horizontes da Sabedoria que emerge da Palavra de Deus, a ciência sofre de uma ambiguidade muito perigosa.

Como sabemos, a ciência já serviu para destruir muitos milhões de seres humanos. Este procedimento brota do mistério da iniquidade, conjunto de forças negativas que se opõe ao amor.

É no coração do Homem que a Sabedoria lança as suas raízes, as quais acabam por moldar as opções e os projectos humanos de acordo com os critérios da Palavra de Deus.

A Palavra de Deus ajuda-nos a compreender o o sentido da realidade e o lugar do Homem no plano de Deus.

Na primeira Carta aos Coríntios, São Paulo diz que os senhores do mundo, por se fecharem à verdade da revelação, não puderam saborear a profundidade do mistério de Deus e do Homem.

Na verdade, as pessoas que fecham a mente à Palavra de Deus e o coração à acção do Espírito Santo impedem que o Homem Novo possa emergir nelas.

Os cristãos têm a missão de anunciar a verdade aos seres humanos, a fim de o Homem caminhar em harmonia com o projecto que Deus sonhou para ele.

Eis o que são Paulo diz a este respeito: “Nós ensinamos a sabedoria, mistério oculto que Deus, antes dos séculos, preparou para nossa felicidade.

Nenhum dos senhores deste mundo a conheceu, pois se a tivessem conhecido não teriam crucificado o Senhor da glória.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRIADOS PARA A VERDADE E O AMOR-IV

IV-O HOMEM, O AMOR E O ESPÍRITO DA VERDADE

Mas como está escrito, o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração humano não pressentiu, Deus o preparou para aqueles que o amam.

A nós porém, Deus o revelou por meio do Espírito Santo, pois o Espírito tudo penetra, mesmo as profundidades de Deus” (1 Cor 2, 7-10).

O Homem Novo só pode nascer no interior das pessoas que têm um coração aberto à Verdade de Deus.

O coração dos Apóstolos só ficou plenamente preparado para acolher a Verdade com o dom pascal do Espírito Santo.

A Verdade emerge no nosso coração pela acção do Espírito Santo, o amor de Deus derramado nos nossos corações, como diz São Paulo (Rm 5, 5).

Jesus garantiu aos discípulos que após a sua ida para junto do Pai, o Espírito Santo ficaria connosco para nos conduzir à verdade.

Eis as suas palavras: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade que procede do Pai, e que eu vos enviarei, ele dará testemunho em meu favor” (Jo 15, 26).

Com efeito, só após a ressurreição de Jesus, os discípulos, guiados pelo Espírito Santo, atingirão a raiz mais profunda da verdade.

O evangelho de São João diz que Jesus tinha plena consciência de que os discípulos só atingiriam a o sentido profundo do plano salvador de Deus após a sua morte e ressurreição:

“Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas vós não sois capazes de as compreender por agora.

Quando ele vier, o Espírito da Verdade, ele há-de guiar-vos para a Verdade completa” (Jo 16, 12-13).

Esta resposta não a deu Jesus a Pilatos quando este lhe perguntou o que era a verdade. Com efeito, Pilatos pertencia aos senhores do Mundo, os quais não têm acesso pleno à verdade.

Segundo o Novo Testamento, o alicerce da verdade são as relações de amor. Deus é amor, diz a Primeira Carta de São João (1 Jo 4,7).

Depois acrescenta que a lente adequada para conhecer Deus é o amor. Isto quer dizer que o contexto adequado para a verdade emergir e crescer é o amor.

São Paulo diz isto de modo muito bonito quando afirma: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine.

Ainda que eu tenha o dom a profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, mesmo que tenha uma fé capaz de transportar montanhas, se não tiver amor nada sou (…).

Agora permanecem estas três coisas: a Fé, a Esperança e o Amor. Mas a maior de todas é o amor” (1 Cor 13, 1-13).

Jesus disse aos judeus que acreditaram nele: “ Se permanecerdes na minha Palavra sereis meus discípulos.

Então conhecereis a Verdade e a Verdade vos tornará livres” (Jo 8, 31-32). O evangelho de São João diz que Jesus é a Palavra de Deus (Jo 1,1).

Isto quer dizer que a vida e a mensagem de Jesus eram a expressão perfeita do sentir de Deus pelo Homem, como o próprio São João afirma mais à frente:

“A graça e a Verdade vieram a nós por Jesus Cristo (Jo 1, 14; 1, 17). Quem age de acordo com a verdade, acrescenta São João, aproxima-se da luz, a fim de que se veja que as suas obras são feitas em Deus (Jo 3, 21).

Jesus deu provas inequívocas que o Deus que ele anunciava é um Deus fiel e verdadeiro. Por outras palavras, encontrar Jesus Cristo é encontrar o rosto do Deus fiel e verdadeiro.

A primeira Carta a Timóteo exprime de maneira muito bonita a meta para a qual Deus criou o Homem:

“A vontade de Deus é que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade” (1 Tim 2, 4).

Depois acrescenta que Jesus Cristo é o único medianeiro entre Deus e o Homem, isto é, o caminho para nos encontrarmos com a Verdade de Deus e do Homem (1 Tim 2, 5).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRIADOS PARA A VERDADE E O AMOR-IV

11 outubro, 2008

SOFRIMENTOS DE CRISTO E SALVAÇÃO-I

I-O HOMEM COMO UMA TOTALIDADE

Graças ao acontecimento da Encarnação, o Divino enxertou-se no Humano, a fim de este ser divinizado.

Deste modo, a Humanidade e a Divindade ficaram unidas de modo orgânico e definitivo. As pessoas, tanto as humanas como as divinas não são ilhas.

A Divindade, tal como a Humanidade formam uma união orgânica. A plenitude das pessoas encontra-se, não na pessoa em si, mas na reciprocidade desta comunhão.

Isto quer dizer que existe apenas uma Divindade constituída por três pessoas, tal como existe uma única Humanidade constituída por muitos biliões de pessoas.

Podemos dizer que este modo bíblico de entender o Homem é profundamente realista. Com efeito, quando a criança se começa a habitar, isto é, a ter consciência, já está habitada por todos aqueles que a foram moldando e incutindo nela os valores.

Por outras palavras, as pessoas que nos foram moldando ficam a habitar-nos ao longo da nossa vida.

A pessoa humana, portanto, não é uma ilha. Somos seres em permanente interacção com os outros.

Agora já podemos compreender que o bem e o mal que as pessoas fazem não as afecta apenas a elas, mas a todo o tecido orgânico que forma a Humanidade.

Somos possibilitados pelo bem que os outros fazem, tal como os outros são condicionados pelo mal que nós fazemos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SOFRIMENTOS DE CRISTO E SALVAÇÃO-II

II-DEUS NÃO SUPORTA O SOFRIMENTO DOS JUSTOS

Esta compreensão da Humanidade como um tecido orgânico e interactivo, aparece muito clara no relato de Isaías sobre o sofrimento como causa redentora dos pecadores merecedores da humilhação e do castigo que estavam a sofrer na Babilónia (Is 52, 13-53, 12).

Até este período, século quinto antes de Cristo, o povo bíblico pensava que os justos não podiam sofrer.

Se o sofrimento é provocado por Deus para punir os pecadores, o justo não pode sofrer, pois Deus não seria justo se fizesse sofrer os inocentes.

O sofrimento das crianças era entendido como uma punição dos pecados dos pais. O evangelho de São João relata um episódio que revela bem como este tipo de mentalidade ainda subsistia no tempo de Jesus:

“Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe, então:
“Rabi, quem pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?”

Jesus respondeu: “Nem pecou ele nem os seus pais. Isto aconteceu para se manifestarem nele as obras de Deus (Jo 9, 1-3).

O acontecimento do exílio levou os escritores bíblicos a reformular esta mentalidade, pois era evidente que, na escravidão do exílio, havia justos que ainda sofriam mais que os pecadores.

A saída encontrada pelo livro de Isaías é esta: o justo, por fazer um todo orgânico com o povo pecador, sofre com ele as perseguições e violências.

Mas Deus, como é justo, vai tomar partido pelo justo, libertando-o da terrível humilhação da servidão a um povo pagão.

Mas como o povo é uma realidade orgânica, ao libertar o justo, Deus liberta também os pecadores.

Deste modo, o sofrimento do justo torna-se redentor para os pecadores. Não se trata, como é evidente, de que Deus exigisse o sofrimento dos justos para perdoar aos pecadores.

Pelo contrário, os pecadores são libertos porque Deus não suporta ver o justo sofrer. Graças ao facto de o povo um todo orgânico, o relato passa facilmente do justo sofredor para o conceito global de povo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SOFRIMENTOS DE CRISTO E SALVAÇÃO-III

III-O SOFRIMENTO DO JUSTO E A REDENÇÃO DO POVO

O povo de Deus, segundo a visão bíblica faz uma união orgânica, interactiva e dinâmica. A pessoa humana é um ser estruturado e talhado para o face a face com os outros.

Por outras palavras, a pessoa vive na medida em que convive. Isto quer dizer que a pessoa humana apenas se possui no convívio e na relação com os outros.

O povo forma uma união orgânica, a qual inclui tanto os justos como os pecadores. Eis a razão pela qual o sofrimento do justo tem efeitos redentores para os pecadores.

Na verdade Deus, ao libertar o justo das situações de opressão e sofrimento, liberta também os pecadores, pois estes estão unidos aos pecadores.

Eis a beleza do texto onde o autor fala da redenção dos pecadores graças ao sofrimento do Servo Sofredor:

“O meu servo terá êxito, pois será engrandecido e exaltado. Muitos povos ficaram espantados diante dele, ao verem o seu rosto desfigurado e o seu aspecto disforme.

Do mesmo modo, muitos povos e reis vão ficar espantados ao verem as coisas maravilhosas e inauditas que vão acontecer (a libertação da Babilónia) (…).

O servo cresceu diante do Senhor sem figura e sem beleza, como um rebento ou uma raiz em terra árida (o exílio).

Vimo-lo sem aspecto atraente, desprezado pelos homens. Era como um homem de dores, habituado ao sofrimento.

Era de facto um ser desprezado e desconsiderado, diante do qual se tapa o rosto. Na verdade ele tomou sobre si as nossas doenças e carregou as nossas dores.

Nós o reputávamos como um leproso ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por causa dos nossos pecados, esmagado por causa das nossas iniquidades.

O castigo que nós merecíamos caiu sobre ele e nós fomos curados nas suas chagas. Andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada qual seguindo o seu caminho.

Mas o Senhor carregou sobre ele os nossos crimes (perdoando-nos por causa dele). Foi maltratado e humilhado.

Tal como o cordeiro que é lavado ao matadouro ou a ovelha emudecida nas mãos do tosquiador, ele não abriu a boca.

Sem defesa nem justiça levaram-no à força e ninguém se preocupou com o seu destino! Foi ferido por causa dos pecados do meu povo e suprimido da terra dos vivos.

Deram-lhe sepultura entre os ímpios (pagãos caldeus) e uma tumba entre malfeitores. Apesar de não ter cometido qualquer crime nem praticado qualquer fraude, aprouve ao Senhor esmagá-lo com sofrimento.

Mas a sua vida tornou-se um sacrifício de reparação. Por isso terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias.

O desígnio do Senhor (a libertação do exílio) realizar-se-à por meio dele (…). O Justo justificará a muitos, pois carregou com os crimes do povo.

Por esta razão terá uma multidão como herança (o povo resgatado do exílio). Receberá muita gente como despojos, pois entregou a sua vida à morte.

Foi contado entre os pecadores, pois tomou sobre si os pecados de muitos, sofrendo pelos culpados” (Is 52, 13-53,12).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias