29 maio, 2009

A NOVIDADE PERMANENTE DE DEUS-I

I-O DEUS SEMPRE NOVO

No livro do Êxodo, Deus define-se como Aquele que é, ou seja, o Deus que está sempre a ser. Deus é amor e o amor é a causa de si mesmo.

Eis as palavras do Livro do Êxodo: “Deus disse a Moisés: “Eu sou aquele que sou”. E acrescentou: “Dirás aos filhos de Israel: “ O Eu Sou manda-me a vós!” (Ex 3, 14).

Se Deus é um “Eu Sou”, isto quer dizer que é um Deus que está sempre a ser de maneira nova.
Por outras palavras, Deus é uma realidade sempre a acontecer como presente.

Podemos dizer que a Divindade é uma emergência permanente de três pessoas de perfeição infinita em convergência total de comunhão amorosa.

Este rosto trinitário de Deus é a cúpula da revelação, isto é, o ponto de chegada, não o ponto de partida.

Mas isto não significa que Deus não tenha sido comunhão trinitária desde toda a eternidade. No entanto, a revelação de Deus é uma dinâmica histórica e progressiva.

Deus Começou por revelar a sua unicidade divina: “Eu sou o único Deus. Fora de mim não há outros deuses”.

Depois de Deus ter revelado a sua unicidade divina a revelação começa a progredir no sentido do Deus relações.

Finalmente chega à comunhão familiar de três pessoas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A NOVIDADE PERMANENTE DE DEUS-II


II-DEUS É UM MISTÉRIO DE RELAÇÕES

A nossa fé diz-nos que há um só Deus mas Deus não é um ser enredado em solidão. O Uno em Deus é a comunhão, o plural são as pessoas.

Neste mistério de comunhão nenhuma das pessoas precede a outra.

Com seu jeito paternal de amar (amor ágape), Deus Pai descobre-se como Pai porque se encontra no face a face com o filho Eterno de Deus (amor eucarístico).

Este face a face de Deus Pai com o Filho Eterno de Deus está a acontecer de maneira permanente e sempre nova.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo anima esta reciprocidade sugerindo novos motivos de novidade agápica e eucarística.

Neste mistério de reciprocidade familiar, o Filho de Deus é gerado, mas não procriado nem criado.

Isto quer dizer que em Deus há geração eterna, a qual não implica procriação. Na reciprocidade amorosa da Santíssima Trindade, as pessoas emergem em simultâneo como sujeitos diferentes cuja identidade consiste no jeito próprio de cada pessoa amar.

De facto, Deus é uma emergência permanente e eterna de três pessoas de perfeição infinita em total convergência de comunhão amorosa.

O jeito de o Espírito Santo ser pessoa é animar as relações de amor de Deus Pai com Filho de Deus, e estreitar o vínculo de comunhão.

Como o amor de Deus Pai é uma novidade constante, Deus Filho está constantemente a ser gerado.

Deus não é nem será nunca um passado. Na verdade, Deus é um presente eterno. Isto quer dizer que o Filho de Deus não foi gerado num passado longínquo.

Por outras palavras, neste mistério do “Eu Sou” (Ex 3, 14), o Filho de Deus está sempre a ser gerado.

Deus Pai ama de modo paternal e totalmente gratuito. É realmente o amor ágape na sua perfeição máxima.

Do mesmo modo, o Filho de Deus ama de modo filial e totalmente fiel à vontade do Pai: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34). É o amor eucarístico na sua perfeição total.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo encontra-se no coração desta reciprocidade amorosa.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A NOVIDADE PERMANENTE DE DEUS-III

III-O AMOR COMO LENTE PRÓPRIA PARA CONHECER DEUS

Se Deus é uma comunhão familiar, então o coração de Deus é um dinamismo de interacções amorosas.

De facto, a morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas em cujo núcleo actua o Espírito Santo.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo é o grande suscitador de novidade na interacção amorosa da Santíssima Trindade.

A bíblia diz que Deus é amor e que só podemos chegar ao conhecimento de Deus, amando (1 Jo 4, 7-8; 16).

Com o acontecimento da ressurreição de Cristo, a Humanidade foi assumida de modo orgânico pelo mesmo Cristo.

Isto significa que o Homem e Deus passaram a interagir de modo orgânico e intrínseco com o Espírito Santo.

Ele é o amor de Deus derramado nos nossos corações, diz São Paulo (Rm 5, 5). Graças ao jeito maternal de amar do Espírito Santo, nós somos incorporados por ele na Família de Deus.

São Paulo diz que nós somos filhos e herdeiros de Deus Pai, bem como irmãos e co-herdeiros com Jesus Cristo (Rm 8, 14-16).

A Primeira Carta de São João diz que Deus é amor e que só através do amor podemos conhecer a realidade de Deus (1 Jo 4, 8; 16).

O conhecimento de Deus, portanto, não é uma mera actividade mental de tipo teórico, mas um jeito de nos relacionarmos com as pessoas divinas mediante a oração e a comunhão com Deus e os irmãos.

Eis as palavras da Primeira Carta de São João: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus.

Quem não ama não pode conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4, 7). Deste modo ficamos a saber que o conhecimento de Deus é sobretudo uma actividade do coração, e não um mero acto intelectual.

Do mesmo modo, o conhecimento profundo das pessoas não se consegue através de um acto intelectual, mas sim através de relações de amor e comunhão.

Deus é amor. O amor é gerador de uma novidade permanente. Isto quer dizer que a melhor maneira de sintonizarmos com o coração de Deus, é ter a mente e o coração aberto à novidade.

Eis o que Deus diz no Livro do Apocalipse: Eis que vou fazer novas todas as coisas (Apc 21, 5).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

27 maio, 2009

O CORAÇÃO COMO FONTE DE VIDA ESPIRITUAL

Quando a bíblia fala do coração do homem, está a pensar numa realidade espiritual. O coração é uma realidade dinâmica que se vai moldando com as decisões e escolhas que a pessoa vai fazendo.

Na Carta aos Romanos, São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

E na Primeira Carta aos Coríntios, diz: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

Neste sentido, as três pessoas divinas também têm coração. Deus Pai tem um coração cheio de ternura por todos nós.

Deus Filho tem um coração cheio de ternura fraternal para connosco. Por seu lado, o Espírito Santo tem um coração cheio de ternura maternal.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo está sempre disposto a criar laços de comunhão entre nós.
O coração das pessoas humanas pode ser bom ou mau., segundo as decisões e escolhas que faz face ao amor.

O orgulho e a inveja fazem o coração mau, diz o Livro do Êxodo. O coração do Faraó, como era orgulhoso, endurecia-se cada vez mais, apesar dos sinais e mensagens que Deus lhe enviava através de Moisés:

“O coração do Faraó endureceu-se e não fez caso de Moisés e Aarão, tal como Deus tinha predito” (Ex 7, 13).

A bondade de umas pessoas, às vezes, endurece ainda mais o coração das pessoas que optam pelo mal.

O coração é um ponto de encontro com a Palavra de Deus e com o Espírito Santo. Livro do Deuteronómio diz que os profetas, os apóstolos e os santos meditam os mistérios de Deus no seu coração.

Isto quer dizer que o coração humano se configura com os critérios de Deus à medida que acolhe a Palavra e se deixa conduzir pelo Espírito Santo.

Eis o que diz o Livro do Deuteronómio: “Reconhece hoje e medita no teu coração: Yahvé é o único Deus. Tanto no alto dos Céus como em baixo, na terra, não existe outro Deus” (Dt 4, 39).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matis

O CORAÇÃO COMO FONTE DE VIDA ESPIRITUAL

O CORAÇÃO COMO FONTE DE VIDA ESPIRITUAL


Como o nosso coração é o ponto de encontro com Deus, o Senhor conhece muito bem os corações dos homens, diz o profeta Jeremias:

“ Eu, Yahvé, penetro o coração dos homens, a fim de dar a cada qual segundo a sua forma de agir” (Jer 17, 10).

Se o Deus é amor, então o coração é a sede do conhecimento de Deus. Eis o que diz o profeta Jeremias: “Dar-lhes-ei um coração capaz de me conhecer, pois eu sou Deus” (Jer 24, 7).

O profeta Daniel anuncia que, quando vier o Messias, Deus vai retirar do peito das pessoas o coração de pedra, isto é, endurecido, substituindo-o por um coração fiel a Deus.

Eis as palavras de Daniel: “Dar-lhes-ei um coração íntegro e colocarei no íntimo deles um espírito novo.

Tirar-lhes-ei do peito o coração de pedra e dar-lhes-ei um coração de carne” (Ez 11, 19). Os projectos maus são elaborados no coração, diz o profeta Zacarias:

“Não oprimas a viúva e o órfão, o estrangeiro e o pobre. Que ninguém, no seu coração, trame o mal contra o seu irmão” (Zac 7, 10).

Jesus disse que as pessoas falam daquilo que lhes vai no coração (Mt 12, 34). As palavras podem ser vazias e falsas. A verdade da vida manifesta-se no que brota do coração:

“Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15, 8). As pessoas são boas quando têm um coração bom.

As pessoas más, pelo contrário, têm um coração mau: O que torna o homem puro ou impuro são as coisas que saem da boca vêm do coração.

São essas que tornam o homem puro ou impuro” (Mt 15, 18). Jesus diz que é do coração que brotam as iniquidades e projectos maus, tais como “Crimes, adultérios, imoralidade, roubos, falsos testemunhos, calúnias” (Mt 15, 19).

Jesus diz-nos para imitarmos o seu jeito de viver, pois Ele é manso e humilde de coração.
Procedendo assim encontraremos paz e descanso para as nossas vidas (Mt 11, 29).

A terra boa são as pessoas que, ouvindo a Palavra de Deus com coração bom e generoso, conservam-na, põem-na em prática, dando assim muito fruto (Lc 8, 15).

Deus conhece os corações dos seres humanos e por isso escolhe algumas pessoas para missões especiais, como dizem os Actos dos Apóstolos:

“Depois fizeram a seguinte oração: Senhor, tu que conheces o coração de todos, mostra-nos qual destes dois escolheste” (Act 1, 24).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

23 maio, 2009

CRIADOS PARA A LIBERDADE-I

I-O DEUS DA LIBERDADE

O Deus de Jesus Cristo é o Deus da liberdade! Em nome deste Deus, Jesus Cristo denunciou as pessoas e os sistemas que impediam os seres humanos de crescer e ser livres.

Ao ressuscitar, Jesus deixou-nos o Espírito Santo que continua a consagrar-nos para anunciar a paz e a liberdade.

De entre os Apóstolos, São Paulo foi o que melhor compreendeu o alcance da acção libertadora de Jesus.

Por isso ele escreveu: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes e não vos sujeiteis de novo ao jugo da escravidão.

Reparai, sou eu, Paulo, que vos digo: Se vos circuncidardes, Cristo de nada vos servirá” (Gal 5, 1-2).

A Palavra de Deus e o Espírito Santo são as duas asas que Deus nos dá para podermos voar em direcção em direcção à liberdade!

Na verdade, Jesus Cristo é o grito de liberdade mais perfeito que a História Humana já ouviu.

Como continuador da missão libertadora de Jesus, o Espírito Santo continua a consagrar homens e mulheres, a fim de continuarem a ser no mundo uma frente de fraternidade e libertação.

A liberdade é a capacidade de uma pessoa se relacionar amorosamente com as outras e de interagir de modo criador com as coisas.

O Espírito Santo ajuda-nos a discernir a força criadora que faz emergir o Homem Novo configurado com Cristo.

Também nos ajuda a não confundir liberdade com livre arbítrio, pois este é apenas a possibilidade de chegarmos a ser livres.

Com efeito, o livre arbítrio não é mais que a capacidade psíquica de optar, decidir e escolher.
Ninguém pode chegar a ser livre sem exercer o livre arbítrio.

Mas não basta exercer o livre arbítrio para a pessoa se tornar livre. O Espírito Santo está presente ao impulso primordial de qualquer dinâmica geradora de liberdade.

Os movimentos geradores de liberdade são as opções, escolhas, decisões e projectos que fazemos na linha do amor.

De facto, a liberdade é a capacidade de a pessoa se relacionar amorosamente com os outros e interagir de modo criativo com as coisas e os acontecimentos.

Isto quer dizer que o amor está na base de todo o processo libertador. O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

O amor é, na verdade, o termómetro que indica o nível de liberdade de uma pessoa.

Por outras palavras, o amor é a dinâmica que gera liberdade, pois capacita tanto o que ama como o que é amado para amar mais e, portanto, ser mais livre.

A lei do amor é esta: Ninguém é capaz de amar sem antes ter sido amado e o mal amado ama mal.

O amor é o gerador da Vida Nova que é a vida do Homem configurado com Cristo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




CRIADOS PARA A LIBERDADE-II


II-A LIBERDADE NUNCA É UM MAL

Quando Deus pensou em criar a pessoa humana, estava a pensar numa obra-prima. Uma das características fundamentais da pessoa é o facto de ter a possibilidade de ser livre.

Como já vimos, é importante não confundir liberdade com livre arbítrio, pois o livre arbítrio, como vimos, é a capacidade psíquica de a pessoa optar.

De facto, o ser humano não nasce feito. Faz-se, fazendo. Realiza-se, realizando. Constrói-se, construindo.

Por outras palavras, Deus não criou o Homem feito, a fim deste poder ter parte na sua própria realização.

Este facto é condição essencial para que a pessoa chegar a ser livre. Na verdade, a pessoa humana não nasce livre, mas sim com a possibilidade de se tornar livre, graças ao livre arbítrio.

Mas não basta exercitar o livre arbítrio para que a pessoa se torne livre. É preciso optar no sentido do amor.

Isto quer dizer que a liberdade é uma conquista do Homem em construção. De facto, a liberdade é resultado de uma vida vivida como processo de libertação.

Podemos dizer que a liberdade é sempre um bem. Já não podemos afirmar do livre arbítrio, a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal.

Deus é infinitamente livre, mas não possui livre arbítrio, pois não pode optar pelo mal. Na verdade, as pessoas divinas são infinitamente livres e não uma liberdade em construção.

Muitas vezes, ao tentar falar da liberdade, as pessoas estão simplesmente a falar do livre arbítrio.

À medida que cresce como pessoa, o ser humano emerge como ser livre, consciente, responsável, e capaz de amar.

No evangelho de São João, Jesus faz a seguinte afirmação: “O que comete o pecado é escravo” (Jo 8, 34).

À luz do Novo Testamento, o Espírito Santo é o grande protagonista do processo da libertação humana.

Embora não nos substitua, o Espírito Santo optimiza as nossas capacidades de agir segundo os apelos do amor.

Deste modo, ele se torna em nós e connosco, o grande protagonista da libertação humana.
Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Lucas:

“O Espírito do Senhor está sobre mim porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres e a libertação aos cativos” (Lc 4, 18).

São Paulo diz que Cristo nos libertou para sermos realmente livres (Gal 5, 1).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRIADOS PARA A LIBERDADE-III

III-LIBERDADE E AMOR

As escolhas pessoais na linha do amor exprimem o grau da liberdade de uma pessoa. Por outras palavras, o grau de liberdade de uma pessoa não é evidente, mas revela-se pela qualidade das suas escolhas, opções e realizações na linha do amor.

Do mesmo modo, a capacidade de amar de uma pessoa não é evidente, mas revela-se na qualidade das suas relações com os outros.

Podemos ter a certeza de que quanto mais rica for a capacidade de amar de uma pessoa, mais livre essa pessoa será.

Isto quer dizer que, ao contrário do que muitas vezes se ouve, a nossa liberdade não é inimiga da liberdade dos outros, tal como a liberdade dos outros não é inimiga da nossa.

Pelo contrário, a nossa liberdade possibilita a liberdade dos outros e a dos outros possibilita a nossa, pois a liberdade é a capacidade de a pessoa se relacionar em amor e comunhão.

Quando se diz que a nossa liberdade termina onde começa a dos outros as pessoas estão a falar do livre arbítrio.

Tratando-se da orientação egoísta do livre arbítrio, temos de dizer que a legitimidade nossas escolhas egoístas terminam no ponto onde começam os direitos dos outros.

Em comunhão convosco
Calmeiro Matias

20 maio, 2009

O LUGAR CENTRAL DO AMOR NO UNIVERSO-I

I-O HOMEM E O MISTÉRIO DO AMOR

Assim como a vida natural não pode subsistir sem água, também a pessoa humana, privada de amor, não pode emergir no melhor das suas possibilidades de vida espiritual.

A experiência ensina-nos que a vida humana, privada de amor, acaba por definhar e morrer.

O amor não é nunca uma questão secundária, pois Deus é amor e Deus é o fundamento da realidade.

A afirmação da essência amorosa do ser de Deus é das mais importantes da Bíblia (cf. 1 Jo 4, 7-8; 4,16).

Dizer que Deus é amor, significa que a Divindade é relações de comunhão infinitamente perfeita.

A bíblia diz também que o Homem é imagem e semelhança de Deus. Isto que dizer que a tarefa histórica da humanização do Homem é uma tarefa de amor.

A pessoa humana nasce com um feixe original de possibilidades para se humanizar.Estas possibilidades ou talentos, como Jesus lhes chamou, possibilitam ao Homem uma diversidade enorme de opções, escolhas e compromissos de vida.

A dignidade da pessoa está na sua vocação a ser autora de si própria. A grandeza e dignidade da pessoa humana começa no facto de não nascer determinada.

A natureza não nos humaniza. A tarefa da humanização tem de ser realizada por nós. Ninguém nos pode substituir nesta tarefa.

Por outras palavras, ninguém nos pode realizar como pessoa humana. É verdade que a pessoa não se pode realizar sozinha, mas os outros não a podem realizar.

Nem o próprio Deus nos pode substituir nesta tarefa. Sabemos que deus está connosco, mas não está em nosso lugar.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O LUGAR CENTRAL DO AMOR NO UNIVERSO-II

I-O HOMEM E O MISTÉRIO DO AMOR

Assim como a vida natural não pode subsistir sem água, também a pessoa humana, privada de amor, não pode emergir no melhor das suas possibilidades de vida espiritual.

A experiência ensina-nos que a vida humana, privada de amor, acaba por definhar e morrer.

O amor não é nunca uma questão secundária, pois Deus é amor e Deus é o fundamento da realidade.

A afirmação da essência amorosa do ser de Deus é das mais importantes da Bíblia (cf. 1 Jo 4, 7-8; 4,16).

Dizer que Deus é amor, significa que a Divindade é relações de comunhão infinitamente perfeita.

A bíblia diz também que o Homem é imagem e semelhança de Deus. Isto que dizer que a tarefa histórica da humanização do Homem é uma tarefa de amor.

A pessoa humana nasce com um feixe original de possibilidades para se humanizar. Estas possibilidades ou talentos, como Jesus lhes chamou, possibilitam ao Homem uma diversidade enorme de opções, escolhas e compromissos de vida.

A dignidade da pessoa está na sua vocação a ser autora de si própria. A grandeza e dignidade da pessoa humana começa no facto de não nascer determinada.

A natureza não nos humaniza. A tarefa da humanização tem de ser realizada por nós. Ninguém nos pode substituir nesta tarefa. Por outras palavras, ninguém nos pode realizar como pessoa humana.

É verdade que a pessoa não se pode realizar sozinha, mas os outros não a podem realizar. Nem o próprio Deus nos pode substituir nesta tarefa. Sabemos que deus está connosco, mas não está em nosso lugar.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

16 maio, 2009

O BEM, O MAL E A TAREFA DA HUMANIZAÇÃO-I

I-O HOMEM TRANSCENDE O ANIMAL

Aristóteles definiu o Homem como um animal racional. Mas nós temos de dizer que esta definição não é adequada.

Na verdade, não basta acrescentar um adjectivo ao termo animal para dizer a verdade do Homem.

Com efeito, a diferença que existe entre o Homem e o animal não é apenas de grau. É certo que o Homem surge na marcha da vida por via evolutiva, a partir do animal.

Mas o ser humano só se torna pessoa através de um salto qualitativo. A evolução chegou à hominização, isto é, à estrutura natural de Homem que é a condição para acontecer o salto qualitativo para a humanização.

A hominização assenta sobre uma complexidade viva que não tem igual no conjunto dos animais.

Mas a evolução não consegue realizar a humanização, cuja lei é: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão humana universal”.

A humanização só pode acontecer em contexto de relações com a densidade do amor. A novidade biológica que possibilita a marcha da humanização é o cérebro humano, sobretudo o neo-córtex.

O animal está sujeito à ditadura dos instintos imutáveis próprios da sua espécie. O homem, pelo contrário, tem a possibilidade de equacionar as respostas aos estímulos mais básicos da vida, tais como a fome ou a sexualidade.

O ser humano, é capaz de estar cheio de fome, ter um manjar excelente diante de si, e entrar em greve de fome.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O BEM, O MAL E A TAREFA DA HUMANIZAÇÃO-II

II-A TAREFA DA HUMANIZAÇÃO

A pessoa é um ser faminto de sentidos. Sem sentidos para viver, a pessoa entra em crise e pode chegar ao suicídio.

A pessoa humana sabe que é um ser em construção e portanto tem necessidade de fazer projectos para se realizar e ser feliz.

O animal gosta de brincar, sobretudo enquanto é jovem. Mas não é capaz de celebrar a vida nem sonhar com um futuro diferente.

O animal nunca se faz perguntas. A pessoa humana, pelo contrário, sente uma fome enorme de criar sentidos para viver.

O ser humano tem consciência da própria morte e, apesar disso, não entra em greve perante a vida.

O animal não tem consciência da sua morte e, por isso, não se sente estimulado a criar sentidos para a vida.

A pessoa humana é capaz de chegar à conclusão de que o amor é a grande razão que vale para viver e também para morrer.

De facto, ninguém diz que uma pessoa que morreu para salvar a vida de outra se suicidou. Pelo contrário, nós entendemos que essa pessoa levou o amor até à sua densidade máxima.

O ser humano é capaz de se elevar acima da satisfação imediata das necessidades, tornando-se criador.

Como ser criador, a pessoa humana é capaz de fazer surgir o novo, dando origem às ciências, às técnicas, às artes ou aos gestos maravilhosos de amor.

Por não estar dominado pelo mundo dos instintos, o ser humano tem o livre arbítrio, capacidade psíquica que lhe permite optar pelo bem ou pelo mal.

O livre arbítrio não é ainda a liberdade, mas a possibilidade de ser livre. A liberdade é a capacidade de a pessoa se relacionar em dinâmica de amor com os outros e interagir de modo criador com as coisas e os acontecimentos.

O ser humano não ficou enredado no círculo das respostas instintivas aos diversos estímulos.

Por isso transcende o nível da simples satisfação das necessidades biológicas, dando o magnífico salto de qualidade, tornando-se um ser criador de cultura.

Mas os seres humanos também são capazes de potenciar enormemente as possibilidades de fazer acontecer a morte e a destruição.

Somos capazes de fazer guerras monstruosas e criar instrumentos diabólicos para matar.
Somos capazes de oprimir e explorar os outros para amontoar riquezas tantas vezes
desnecessárias.

Somos capazes de raptar e matar crianças, conceber instrumentos para torturar e destruir a natureza.

Mas também somos capazes de criar música, poesia e antecipar um ambiente com uma calda maravilhosa de gestos de ternura e amor.

Na verdade, o ser humano é tão capaz de pilhar e destruir pessoas inocentes, como idealizar e criar planos de solidariedade.

É um ser faminto de verdade. A verdade é a compreensão e enunciação adequada da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

É capaz de pôr em realização os grandes planos de Verdade aos quais o Espírito Santo nos quer conduzir:

“Quando ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa” (Jo 16, 13).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

13 maio, 2009

O MERGULHO FINAL NO AMOR DE DEUS-I

I-O SÉTIMO DIA COMO DIA DO ENCONTRO

O Livro do Génesis diz que, depois de terminar a obra da criação, Deus repousou ao sétimo dia (Gn 2,2).

E nós podemos acrescentar que, ao terminar a Criação, esta encontra a sua plenitude na comunhão com Deus.

O repouso de Deus, no entanto, não deve ser entendido como inactividade. Pelo contrário, o amor é extremamente dinâmico e sempre criador.

A Primeira Carta de São João diz que Deus é Amor (1 Jo 4-7). Isto quer dizer que o amor é o dinamismo primordial que impele a génese criadora do Universo.

Com efeito, o amor é o dinamismo primordial que está presente à marcha do Universo desde o impulso primordial que activou a sua génese criadora.

De facto, se Deus é amor, então a criação do Universo é obra do amor.Uma vez que a Humanidade foi salva pela ressurreição de Jesus Cristo, todos nós fomos incorporados no repouso do sétimo dia.

Podemos dizer que a assunção e incorporação do Homem na comunhão da Santíssima Trindade é a participação definitiva no repouso do nosso Deus.

As três pessoas divinas, os biliões de pessoas humanas e todas as outras que possam existir neste Universo quase infinito, formam a Comunhão Universal do Reino de Deus.

Nesta comunhão cada pessoa é um ponto de encontro e uma possibilidade de comunhão amorosa para as outras.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MERGULHO FINAL NO AMOR DE DEUS-II

II-AS COORDENADAS DA COMUNHÃO UNIVERSAL

Pelo facto de as pessoas estarem em coordenadas de universalidade, as suas aspirações têm realização imediata.

Por outras palavras, no Reino de Deus, as aspirações de encontro, diálogo e comunhão de uma pessoa tornam-se realizam-se na medida em que surgem.

Não devemos esquecer que, no Reino de Deus, a pessoa está assumida e incorporada na comunhão universal dos santos cujo coração é a comunhão da Santíssima Trindade.

Na plenitude da vida a pessoa está realmente presente a tudo e a todos. Não por se deslocar a velocidades superiores à da luz, mas porque os desejos do seu coração têm emergência e realização simultâneas.

Tudo isto acontece dentro da organicidade e dinamismo da comunhão universal. Uma pessoa que se tenha excluído da comunhão universal não se encontra nem encontra ninguém, pois está fora das coordenadas da comunhão universal.

Demos um exemplo: imaginemos a comunhão universal do Reino de Deus constituída por biliões e biliões de pessoas.

Uma pessoa que deseja encontrar-se em interacção dialogante e amorosa com outra pessoa não precisa de perder tempo à sua procura, no meio de uma multidão incontável.

Isto quer dizer, como vimos acima, que as aspirações de uma pessoa se realizam na medida em que emergem no seu coração.

Enquanto está em realização na História, o ser humano habita nas coordenadas do espaço e do tempo.

Deus, pelo contrário, transcende o espaço e o tempo. Por outras palavras, Deus está presente ao universo mediante uma relação de criação amorosa.

Não como um prolongamento necessário, mas como a realização de um projecto que brotou do diálogo amoroso das pessoas divinas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O MERGULHO FINAL NO AMOR DE DEUS-III

III-A MORTE COMO PARTO FINAL

Por se concretizar em pessoas a Humanidade atinge a sua plenitude na comunhão com a Divindade.

Mediante a morte, o ser humano liberta-se das coordenadas biológicas, psíquicas, rácicas, linguísticas e espacio-temporais.

À luz da Fé, a morte surge realmente como o parto final através do qual a pessoa humana entra na comunhão universal do Reino de Deus.

A divinização, portanto, não acontece como coisa individual, mas como resultado da assunção pessoal na comunhão humana universal.

Esta incorporação na comunhão divina assenta sobre dois pilares fundamentais: A encarnação e a ressurreição do Filho de Deus.

Pela encarnação, o divino enxerta-se no humano em Jesus Cristo. Como resultado deste enxerto, os seres humanos ficam com a possibilidade de se tornarem membros da família divina (Jo 1, 12-14).

Pela ressurreição de Cristo, a Humanidade é divinizada pelo Espírito Santo: “No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: “Se alguém tem sede venha a mim.

Quem crê em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de Água viva”.

Jesus disse isto referindo-se ao Espírito Santo que iam receber os que acreditassem nele.
Com efeito, o Espírito Santo ainda não tinha vindo pelo facto de Jesus ainda não ter sido glorificado” (Jo 7, 37-39).

O Espírito actuava no mundo desde a criação do homem. Foi a comunicação primordial do Espírito Santo que fez do Homem um ser vivente, diz o livro do Génesis (Gn 2, 7).

Mas o Senhor ressuscitado comunica o Espírito Santo como força divinizante. Na verdade, é o Espírito Santo que alimenta a união orgânica que nos une a Cristo, como a cepa da videira está unida aos seus ramos (Jo 15, 1-7).

São Paulo diz esta mesma verdade mas com outro exemplo: nós somos os membros de um corpo cuja cabeça é Jesus Cristo (1 Cor 10, 17; 12, 27).

Eis o que a Primeira Carta aos Coríntios diz a este propósito: “De facto, fomos baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo.

Tanto os escravos como os homens livres, todos bebem de um só Espírito” (1 Cor 12, 13). São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Como ternura maternal de Deus e princípio animador de relações, o Espírito Santo confere dinamismo amoroso à nossa relação familiar com Deus.

Graças a esta acção dinâmica do Espírito Santo, somos acolhidos por Deus Pai como filhos e por Deus Filho como irmãos, como diz a Carta Aos Romanos:

“De facto, todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filho de Deus. Vós não recebestes um espírito que vos escravize.

Pelo contrário, recebestes o Espírito Santo que faz de vós filhos adoptivos. O próprio Espírito Santo dá testemunho no mais íntimo do nosso espírito de que somos realmente filhos de Deus.

Ora, se somos filhos de Deus, somos também herdeiros: herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8, 14.17).

Só um amor infinito e incondicional era capaz de sonhar um projecto com tanta ternura e beleza em favor da Humanidade!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

09 maio, 2009

A VIDA COM LETRA GRANDE-I

I-A ORIGINALIDADE HUMANA

Nascemos talhados para o encontro e a comunhão. Eis a razão pela qual a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão com os outros.

O ser humano está a realizar-se em duas dimensões: a exterior ou eu individual e a interior que é o eu pessoal-espiritual.

A nossa interioridade espiritual emerge no íntimo do ser individual como o pintainho dentro do ovo.

Virá um dia em que a casca do ovo vai rebentar e o pintainho nasce para a comunhão universal.

A morte é este rebentamento da casca do ovo, condição para que o pintainho possa atingir a sua plenitude na Comunhão Universal do Reino de Deus.

Nesta comunhão cada pessoa é um ponto de encontro que nos ajuda a entrar em comunhão com a Humanidade e a Divindade.

É como uma “hiperligação” através do qual podemos conectar com Deus e o Homem. A maneira correcta de abrir esta “hiperligação” é abeirarmo-nos dele com respeito pela dignidade da
pessoa humana e venerando nele a sua condição de filho amado de Deus.

O drama está quando o “hiperligação” se enrosca sobre si mesmo. Neste caso, deixa de ser uma mediação para, através dele, encontrarmos Deus e o Homem.

Nascemos para renascer. Na verdade, o ser humano emerge como pessoa capaz de encontro e comunhão.

À medida que emerge, a pessoa converge para a comunhão universal do Reino de deus. A nossa interioridade pessoal emerge chamada à comunhão e com a densidade da vida eterna.

Na verdade, a plenitude humana não acontece nas pessoas isoladas, mas na comunhão orgânica da Humanidade.

Eis a razão pela qual só existe uma Humanidade, apesar de serem biliões as pessoas que a constituem.

Do mesmo modo, Deus é apenas um, apesar de ser uma comunhão de três pessoas. Reduzida a si e separada da dinâmica da comunhão, a pessoa está estado de perdição.

Isto quer dizer que apenas em contexto de relações as pessoas se possuem e encontram a sua plena identidade.

Reduzida a si e privada da comunhão, a pessoa fica em estado de inferno.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A VIDA COM LETRA GRANDE-II

II-VENCENDO A LEI DA MORTE

Seremos tanto mais pessoas realizadas quanto mais os outros tiverem lugar no nosso coração.

Na verdade, a pessoa tem a capacidade de eleger os outros como irmãos, para lá dos laços da carne e do sangue.

O Espírito Santo é a ternura maternal que anima as relações familiares entre Deus e o Homem.

Foi esta a razão pela qual o Filho de Deus encarnou pelo Espírito Santo, a fim de sermos incorporados na Família Divina.

É verdade que as pessoas humanas não são iguais às divinas em densidade espiritual e capacidade de interacção amorosa, mas são-lhe proporcionais.

É Por esta razão que pode acontecer comunhão entre o melhor de Deus e o melhor do Homem.

A nossa identidade pessoal é histórica. Não nascemos feitos ou acabados. O nosso ser exterior mede-se por quilos, densidade das nossas emoções e afectos.

Por outras palavras, o homem exterior mede-se pelo ter. O interior, como é espiritual, mede-se pela capacidade de amar e comungar.

Na verdade, a pessoa não vale pelo que tem mas pelo que é. A nossa identidade definitiva é espiritual e eterna.

A nossa identidade exterior é genética (ADN) e acaba no cemitério. A nossa identidade interior é espiritual é espiritual e consiste no nosso jeito de amar.

De facto, dançaremos eternamente o ritmo do amor com o jeito que tenhamos adquirido na história.

Com efeito, nascemos para emergir como pessoas livres, conscientes, responsáveis e capazes de amar.

A plenitude da Humanidade acontece mediante a assunção na comunhão divina da Santíssima Trindade.

Apenas a nossa interioridade pessoal, por ser espiritual, pertence à esfera da transcendência.

Isto quer dizer que o sentido mais profundo da existência humana não é apenas prolongar a vida mortal, mas construir a vida imortal.

Dos pais recebemos a vida exterior, isto é, o nível biológico e psíquico do nosso ser. Por isso temos de renascer de novo pelo Espírito Santo, diz o evangelho de São João, a fim de tomarmos parte na plenitude de Deus (Jo 3, 3-6).

Na medida em que a nossa interioridade espiritual emerge, passamos a pertencer à galáxia da vida personificada, cujo coração é a comunhão familiar da Santíssima Trindade.

O nosso ser exterior acaba no silêncio da solidão cósmica, tal como as plantas ou animais após a morte.

O nosso ser interior, pelo contrário, está chamado à plenitude amorosa da Comunhão Universal.

No íntimo do núcleo pessoal e espiritual do ser humano habita o Espírito Santo como num Templo, diz São Paulo.

A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

A VIDA COM LETRA GRANDE-III

III-CONSTRUIR A VIDA COM SENTIDO

O animal gosta de brincar, mas não é capaz de celebrar, nem tem sentidos para viver. A pessoa humana, pelo contrário, precisa de sentidos para viver e se construir.

Por estar a estruturar-se como ser histórico, a pessoa tem a capacidade de associar o passado com o presente e este com planos e sonhos de futuro.

Como ser em construção, a pessoa sente-se a caminho de uma meta que se confirma em cada realização que vai concretizando.

Por não ser uma pessoa em construção, o animal não tem esta consciência existencial, nem sente um apelo a actuar de acordo com uma série de valores.

Os valores são inscritos na consciência humana em forma de apelos ou convites a agir de modo a que a pessoa se edifique como ser consciente, livre, responsável e capaz de amar.

Como precisa de sentidos para viver, a pessoa põe-se constantemente interrogações e porquês, sobretudo nos momentos mais sérios da vida.

Quando uma pessoa perde os sentidos básicos da vida, deixa de ter razões para viver. O animal não se põe o sentido da vida como não tem consciência da sua morte.

A questão de Deus pôs-se de maneira irreversível à consciência humana. Na verdade, a consciência universal da Humanidade evoluiu no sentido de se colocar de modo irreversível a questão religiosa.

Isto significa que o Homem, no seu todo, intuiu que não estamos a edificar para a morte. À luz da fé cristã, Jesus Cristo trouxe a grande resposta a estas interrogações básicas do Homem.

A sua ressurreição demonstrou aos homens que a morte não é o ponto final da vida e que os seres humanos não estão a caminhar para o vazio da morte.

Isto quer dizer que os seres humanos, ao darem o salto de qualidade para a vida pessoal, atingindo as condições para serem assumidos na Família de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

06 maio, 2009

O SEGREDO DOS DOIS BEIJOS DE DEUS-I

I-A INTERVENÇÃO DE DEUS NA CRIAÇÃO DO HOMEM

A bíblia diz que Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança e que os criou como varão e mulher (Gn 1, 26-27).

O Livro do Génesis diz que a criação do Homem mereceu uma atenção especial de Deus. Esta atenção de Deus aconteceu como uma intervenção especial, a qual consistiu num beijo primordial:

“Então o Senhor Deus formou o Homem do pó da Terra e insuflou-lhe o sopro da vida. E o Homem transformou-se num ser vivo” (Gn 2, 7).

Esta atitude especial de Deus ao criar o Homem é expressa em hebraico pelo termo “Neshama”, o qual tanto pode significar sopro como beijo.

Ao beijar o barro primordial, o hálito da vida passou de Deus para o Homem. Este sopro ou beijo de Deus querem falar da comunicação do Espírito Santo.

Segundo o evangelho de são João, Jesus Cristo, ao ressuscitar inicia um Nova Criação repetindo o mesmo gesto primordial de Deus:

“Em seguida, soprou sobre ele e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22). Podemos dizer que o primeiro beijo inaugura a marcha da humanização do Homem.

O segundo é o beijo da plenitude, o qual inicia o processo da divinização do mesmo Homem.
Estamos perante afirmações que nos dizem uma verdade fundamental: Deus faz história com o Homem.

O Espírito Santo é a pessoa divina que assume a missão de dinamizar a marcha histórica da humanização.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O SEGREDO DOS DOIS BEIJOS DE DEUS-II

II-ESPÍRITO SANTO E HUMANIZAÇÃO DO HOMEM

O Espírito Santo é o hálito da vida que nos ajuda a humanizar, condição para atingirmos a divinização na comunhão com Deus.

Com seu jeito maternal de amar, ele ilumina, sugere e insinua atitudes capazes de facilitarem a humanização das pessoas.

Por outras palavras, o Espírito Santo é uma presença dinâmica no nosso interior, ajudando-nos a optar na linha do amor.

A bíblia diz que no momento da criação do Homem, Deus parou, dialogou e depois insuflou o Espírito da vida no barro amassado.

É esta a intervenção especial de Deus na criação do Homem. O processo evolutivo é o barro a amassar-se. Só depois de a vida biológica atingir a complexidade específica do Homem, o barro está capacitado para receber o Espírito de Deus.

Como sopro primordial a actuar na nossa criação, o Espírito Santo está connosco mas nunca em nosso lugar.

Com o aparecimento do Homem, Deus já tem alguém para comungar e fazer uma Aliança. São Paulo diz que o Espírito Santo é o Amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Isto quer dizer que a acção do Espírito Santo, em nós, é personalizante. O evangelho de São João diz que ele é o poder de nos tornarmos membros da Família Divina, não pela vontade da carne ou do Homem, mas por vontade de Deus (Jo 1, 12-13).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O SEGREDO DOS DOIS BEIJOS DE DEUS-III


III-A DIVINIZAÇÃO DO HOMEM

Além do beijo primordial que possibilita a humanização do homem, pelo acontecimento da Encarnação deu-nos também o beijo da plenitude.

Este segundo beijo não aconteceu em função da criação, mas sim em função da sua salvação ou divinização.

O primeiro beijo foi-nos dado por Deus Pai, a fim de nos criar. O segundo foi-nos dado por Deus Filho, a fim de nos incorporar na Família divina como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos de Jesus Cristo.

Em qualquer destes beijos é-nos comunicado o Espírito Santo, mas de modo diferente: Pelo primeiro beijo, o Espírito Santo é-nos comunicado como presença pedagógica em função da nossa humanização.

Pelo segundo, o Espírito Santo actua como seiva que vem da cepa da videira e circula para os ramos, tornando-nos participantes da vida da videira (Jo 15, 1-8).

A comunicação divinizante do Espírito Santo, diz o evangelho de São João, é como uma Água viva que Cristo nos dá e faz jorrar um manancial de vida eterna no nosso íntimo (Jo 7, 37-39).

Somos habitados pelo amor de Deus desde o primeiro momento da nossa existência. É assim o mistério da pessoa, a qual é sempre habitada pelos outros, pois ninguém se pode construir sozinho.

Na verdade, a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade das relações de amor e comunhão.

A Carta aos efésios diz que estamos talhados para formarmos uma família com Deus através de Jesus Cristo:

“Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com o plano que, amorosamente, elaborou para nós (…).

Deste modo nos manifestou o mistério da sua vontade e o plano amoroso que tinha estabelecido, a fim de conduzir os tempos à sua plenitude e submeter todas as coisas a Cristo, tanto as do céu como as de terra.

Foi também em Cristo que fomos escolhidos como sua herança, predestinados de acordo com o desígnio que, livremente decidiu para nós” (Ef 1, 5-11).

Para conhecermos em profundidade o mistério do Homem precisamos de conhecer também os mistérios de Jesus Cristo e de Deus.

Por outras palavras, o conhecimento pleno do Homem não é apenas uma conquista da razão humana, mas também e sobretudo uma revelação.

São Paulo diz que o Pai ressuscitou-nos com Cristo, fazendo-nos sentar com Ele nos Céus (Col 2, 12).

Com a ressurreição de Cristo foi-nos comunicada a força ressuscitadora do Espírito Santo que é, na verdade o hálito do segundo beijo de Deus ao Homem, isto é a sua divinização.

O dinamismo humanizante do Espírito Santo continua a actuar na história, a fim de conduzir o Homem à sua plena humanização.

Do mesmo modo, com a ressurreição de Jesus Cristo, o dinamismo ressuscitador do Espírito Santo continua a actuar na História, até acontecer a divinização total da Humanidade.

A meta é, pois, a incorporação na comunhão da Família Divina, graças ao mistério da Encarnação e da ressurreição de Cristo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

02 maio, 2009

O LUGAR DO HOMEM NO PLANO DE DEUS-I

I-O HOMEM NO PLANO DE DEUS

Como um ser talhado para a comunhão com Deus, o Homem faz parte do melhor que a dinâmica criadora do Universo concretizou.

É verdade que as pessoas humanas não são divinas por natureza, mas devido amo mistério da Encarnação, já estão divinizadas por graça (Jo 1, 12-14).

Na verdade, mediante o mistério da Encarnação o divino enxertou-se no humano, a fim de este ser divinizado.

Ao incorporar-nos na Família de Deus, Jesus Cristo inaugurou a plenitude dos tempos, isto é, a fase dos acabamentos.

Graças ao mistério da Encarnação, os seres humanos, à medida que se humanizam vão sendo divinizados pelo Espírito Santo.

Graças à união orgânica que nos liga a Cristo e, por ele, à Santíssima Trindade, já vivemos a vida de Deus.

O Espírito Santo é o sangue da Nova Aliança que faz circular a vida de Deus no nosso íntimo.

Após a ressurreição de Cristo, a vida humana já está a ser optimizada de modo permanente pela acção do Espírito Santo.

São Paulo deu-se conta deste dinamismo da salvação a acontecer no nosso coração quando afirma:

“De facto, todos os que se deixam conduzir pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito que vos escravize e encha de temor.

Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção, graças ao qual já sois filhos de Deus. É por este Espírito que clamamos: “Abba, ó Pai”.

É este Espírito que no nosso íntimo nos garante de que realmente somos filhos de Deus e seus herdeiros.

De facto, somos filhos e herdeiros de Deus Pai, bem como co-herdeiros com o Filho de Deus (Rm 8, 14-16).

Nesta mesma Carta aos Romanos, São Paulo afirma que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Por outras palavras, é por Cristo que temos acesso à comunhão familiar da Santíssima Trindade, pois nele encontra-se unido de modo orgânico o melhor de Deus e o melhor do Homem.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O LUGAR DO HOMEM NO PLANO DE DEUS-II

II-UM SER TALHADO PARA SER DIVINO

Podemos dizer que a evolução animal foi o modo como Deus foi amassando o barro primordial do qual viria sair Adão.

Depois de o barro ter adquirido a complexidade adequada para o salto da hominização, Deus debruçou-se para lhe dar um beijo e o Hálito da Vida passou de Deus para o Homem.

Nesse momento começa a dinâmica histórica da humanização. Foi assim que o ser humano passou para a condição de pessoa em construção.

Deste modo, o barro do qual saiu Adão tornou-se barro com coração. O hálito da vida que iniciou o movimento histórico da humanização no coração do Homem é o Espírito Santo.

Uma vez no nosso coração, o Espírito Santo optimiza as relações humanas possibilitando que estas se convertam em relações de amor e comunhão.

Esta comunicação primordial do Espírito Santo é o impulso que põe em marcha o processo do Homem em construção.

Graças ao processo histórico da humanização, o nosso ser interior começa a emergir dentro do nosso ser exterior como o pintainho emerge dentro do ovo.

Haverá um dia em que a casca do ovo rebenta e a pessoa entra definitivamente na plenitude da Família de Deus.

O crescimento espiritual do ser humano acontece como densidade espiritual e capacidade de interagir de mo amoroso com os outros.

Como o grande arquitecto do projecto humano, o Espírito Santo é, no nosso interior, o modelador que nos vai configurando com Cristo, tornando-nos perfeita imagem de Deus.

Imaginando a História da Criação e da Salvação como se de um dia se tratasse, diríamos que, ao nascer da aurora, Deus amassou o barrou e comunicou-lhe a força personalizante do Espírito Santo.

Ao meio-dia, enxertou o divino no humano através do mistério da Encarnação. Neste momento, Cristo inaugurou a plenitude dos tempos, isto é, a fase da divinização do Homem, mediante a sua incorporação na Família de Deus (Gal 4, 4-7).

De facto, a fome de felicidade e plenitude que levamos connosco é o sinal de que a nossa meta é, realmente, a incorporação na Família de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O LUGAR DO HOMEM NO PLANO DE DEUS-III

III-CRISTO E A PLENITUDE HUMANA

O acontecimento de Cristo ressuscitado é a garantia de que Deus não nos enganou. Pelo contrário, graças à presença do Espírito Santo no nosso íntimo, estamos a caminhar de modo seguro para a plenitude da Vida Eterna.

O apelo interior que nos convida a prosseguir a nossa realização pessoal tem sentido pleno, pois Deus criou-nos como seres em realização.

Isto quer dizer que não estamos a construir para o vazio da morte e a nossa meta não é a perda definitiva da nossa identidade espiritual.

Na verdade, Deus criou-nos para que nos criemos mediante decisões, opções e realizações com a densidade do amor.

A nossa identidade espiritual realiza-se na História, mas tem densidade eterna. Por outras palavras, o nosso jeito de amar e comungar não se perde, pois o nosso destino não é o vazio da morte, mas a Vida Eterna.

Utilizando a imagem da festa, podemos dizer que, no Reino de Deus, todos dançaremos o ritmo do amor.

Mas cada pessoa dançará com o jeito que tiver treinado enquanto se construiu na História. De facto, a pessoa humana está chamada a construir-se de modo único, original e irreversível.

Isto quer dizer que ninguém está a mais, pois não somos réplicas uns dos outros. É também por este motivo que Deus não nos criou acabados, a fim de sermos autores de nós a partir do que recebemos dos outros.

Cada pessoa está chamada a ser como quiser ir sendo através de uma cadeia de escolhas, opções e projectos de vida.

A humanização da pessoa é uma tarefa que ninguém pode realizar por ela. Mas também é verdade que a pessoa não se pode realizar sozinha, pois a humanização é uma tarefa de amor.

O Homem sonhado por Deus tem um rosto comunitário, como diz o livro do Génesis (Gn 1, 26-27).

A emergência da Vida Humana é um projecto histórico que tem como plenitude a divinização ou incorporação na Comunhão Familiar de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias