23 outubro, 2008

A PRESENÇA DE MARIA NA IGREJA NASCENTE-II

II-MARIA E AS APARIÇÕES DE JESUS RESSUSCITADO

O Novo Testamento vê em Maria e no grupo dos discípulos o resto fiel anunciado pelos profetas.

Este resto, unido a Cristo ressuscitado e animado pelo Espírito Santo é o fermento da Nova
Criação realizada em Cristo ressuscitado (2 Cor 5, 17-19).

A última passagem do Novo Testamento que nos fala de Maria é o relato da comunidade apostólica primordial, logo após o Pentecostes.

Depois de referir o nome dos onze discípulos, Lucas acrescenta: “E todos unidos pelos mesmos sentimentos, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e seus irmãos” (Act 1, 14).

Após a Páscoa, Maria e os discípulos formavam o resto fiel reunido em nome de Jesus de Nazaré, o Messias de Deus.

Segundo os Actos, o resto fiel era constituído pelos onze discípulos, pela mãe de Jesus e seus irmãos e por um grupo de cerca de cento e vinte pessoas (Act 1, 15).

Ao fazer a síntese das aparições de Jesus ressuscitado, São Paulo declara estar a repetir exactamente o que os Apóstolos lhe comunicaram, pois ele, nessa altura, ainda não fazia parte do grupo dos cristãos.

Depois de mencionar a aparição do Senhor a Pedro, aos doze, e a mais de quinhentos irmãos, São Paulo fala de uma aparição a Tiago.

Este Tiago não é o irmão de João, pois este estava incluído no grupo dos doze, mas sim Tiago, o irmão de Jesus que, na altura em que São Paulo escreveu o texto era o chefe da comunidade de Jerusalém.

Na Carta aos Gálatas, São Paulo fala deste Tiago, dizendo tratar-se do irmão do Senhor. Além do encontro com São Pedro, São Paulo não viu mais ninguém a não ser Tiago:

“Passados três anos subi a Jerusalém para conhecer Pedro e fiquei com ele durante quinze dias.
Mas não vi nenhum outro Apóstolo a não ser Tiago, o irmão do Senhor.

O que vos escrevo, digo-o diante do Senhor, não estou a mentir” (Gal 1, 19). O relato das aparições do Senhor ressuscitado Tiago é mencionado entre os que tiveram uma aparição própria (cf. 1 Cor 15, 3-9).

Como se pode comprovar no relato das pessoas beneficiadas com uma aparição do Senhor não há nenhum nome de mulher.

Isto revela como este texto é antigo. Ainda estamos em pleno contexto judaico, onde a mulher não podia servir de testemunha.

Se na lista das pessoas que viram o Senhor ressuscitado houvesse nomes de mulher, em vez de Tiago teríamos naturalmente o nome de Maria.

Agora já podemos ler o relato das aparições, tal como os Apóstolos o transmitiram a Paulo.
Eis as palavras do Apóstolo na Primeira Carta aos Coríntios:

“Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras.

Foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as mesmas Escrituras. Apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida pareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. Depois apareceu a Tiago” (1 Cor 15, 3-7)

Este texto dá-nos a garantia de que Maria e o seu núcleo familiar mais íntimo foram beneficiados com uma aparição do Senhor ressuscitado.

O evangelho de João diz de maneira muito sugestiva que Maria, após a hora de Jesus, isto é, a sua morte e ressurreição passa a fazer parte do resto fiel continuando a sua missão de mãe do Messias, mas agora como mãe da comunidade apostólica que é o Corpo de Cristo (1 Cor 12,27).

Maria foi, pois, uma mediação privilegiada do Espírito Santo, ajudando o resto fiel com o qual o Espírito Santo ia fundar a Igreja:

“Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria, a mulher de Cléofas e Maria Madalena.

Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que ele amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!”

Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” E desde aquela hora, o discípulo acolheu-a em sua casa” (Jo 19, 25-27).

Seria errado pensar que Jesus entregou Maria a João, a fim de esta não ficar só e abandonada.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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