30 maio, 2008

RELAÇÕES HUMANAS DISTORCIDAS-I

I-O RIGORISMO EDUCATIVO

Na educação da Teresa tudo estava marcado pelo rigor perfeccionista e pelo devidamente regulamentado:

As amigas eram escolhidas pela mãe. Havia as horas de oração, de estudo, os tempos de brincar e de ir para a cama.

Lá em casa havia o quarto do castigo para o qual a Teresa ia sempre que cometia desmandos.
Tudo isto funcionava com o máximo de ordem e rigor.

Tudo estava tão determinado que não havia tolerância para erros e falhas. Era a mãe quem decidia os vestidos que a Teresa devia usar.

Também era a mãe que decidia sobre os livros que ela devia ler. Era a mãe quem impunha os assuntos das conversas que a Teresa devia ter com as amigas que a mãe escolhera para ela.

Enclausurada nesta redoma, a Teresa agia como uma menina perfeita. Não havia o menor espaço para falhar, pois a mãe era uma presença constante no dia-a-dia da Teresa.

Se por qualquer razão a mãe não podia estar presente, havia uma empregada escolhida expressamente pela mãe para esta missão.

O pai era um estranho na vida da Teresa, pois viva para os seus negócios. Passavam-se semanas em que o pai e a filha nem sequer se encontravam.

Se a Teresa gostasse de uma saia ou quisesse vestido devia avisar a mãe. Esta depois de analisar a respectiva peça de vestuário, decidia se era adequada ou não.

No caso de a saia ou o vestido não agradarem à mãe, esta, com toda a ternura e carinho, fazia-lhe entender que aquela peça não era apropriada para uma menina como ela.

A Teresa não era capaz de resistir. Pouco a pouco, habituou-se a ceder sempre à mãe, acabando por se anular progressivamente.

Se as colegas lhe falavam de um filme interessante, a mãe da Teresa fazia-lhe entender as razões pelas quais esse filme não era adequado para a sua idade ou condição.

Aparentemente, a Teresa era uma menina perfeita. Na verdade, ela nunca teve oportunidade de falhar, pois nunca teve a possibilidade de fazer opções.

A mãe encarregava-se de decidir por ela. Talvez para sair do ambiente asfixiante que a não deixava emergir, a Teresa casou muito nova.

O marido com quem casou pertencia a uma família muito estimada pela sua mãe. Além disso, tinha mais dez anos. Como não estava treinada para decidir e gerir a vida familiar, o marido começa a substituir a Teresa.

De menina substituída pela mãe, a Teresa passa a ser uma menina substituída pelo marido.
Como a mãe nunca lhe deu oportunidades para fazer compras, a Teresa não sabe administrar o dinheiro.

Era sempre a mãe que realizava esta tarefa. Agora é o marido quem administra o dinheiro e decide o que é melhor adquirir lá para casa.

Antes foi a mãe quem bloqueou a sua realização pessoal. Agora é o Marido.Ao atingir os quarenta anos de idade, a Teresa apercebe-se de que foi sempre uma substituída.

Apesar de nunca lhe ter faltado nada, a Teresa compreende que não teve o fundamental: o contexto e as condições para se realizar como pessoa livre, consciente e responsável.

Viveu sem grandes tombos de tipo moral ou profissional. Mas, agora, dá-se conta que nunca teve oportunidades para tomar decisões e fazer projectos de vida pessoal.

Ainda hoje, a Teresa é incapaz de tomar decisões quando a mãe está presente. Dói-lhe o facto de nunca ter lutado pelos seus gostos e interesses pessoais.

Hoje, a Teresa considera-se uma mulher falhada, pois não conseguiu crescer como pessoa. Como é culta, a Teresa reconhece que os anos que nos são dados para vivermos na história são a grande oportunidade para nos realizarmos como pessoas.

Na verdade, a pessoa realiza-se optando, decidindo e agindo na linha do amor. A Teresa reconhece que a mãe não é uma pessoa má. Foi mal amada e, por isso mesmo, amou mal, impedindo-a de ser uma pessoa adulta e amadurecida.

Com efeito, a pessoa não é propriedade de ninguém. Por outras palavras, as pessoas não se possuem, relacionam-se.

Podemos dizer que cada pessoa é um pessoa é um absoluto relacional. As pessoas não são objectos de que possamos dispor segundo o nosso capricho ou arbitrariedade.

Chantagear ou substituir uma pessoa é imoral, pois isso significa destruir a sua dignidade e impedi-la de se realizar e ser feliz.

À medida que se realiza, a pessoa cresce em densidade espiritual e capacidade de interagir com os outros em dinâmica de comunhão amorosa.

A dinâmica da humanização faz emergir a pessoa tanto no sentido pessoal e espiritual, como na capacidade de agir em relação ao bem comum.

Por isso, impedir uma pessoa de se humanizar além de um pecado contra a pessoa é também um pecado contra a sociedade.

Podemos formular assim a lei da humanização: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal”.

O património da comunhão humana universal é a riqueza das pessoas que a constituem. Isto significa que a vida da de um ser humano não vale pelos anos que dura na história, mas pela densidade pessoal e capacidade de comungar que atinge.

A pessoa que impede os outros de se realizarem como pessoas também não se realizam.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

RELAÇÕES HUMANAS DISTORCIDAS-II

II-A CATEQUESE DE EFEITOS PERVERSOS

Aquela mulher parecia uma estátua de granito. Nunca revelava os seus sentimentos.
Nunca casou, pois pensava que o casamento era uma fonte de pecados.

Ninguém, à sua volta as pessoas nunca sabiam se ela sofria ou estava feliz. Para esta mulher, Deus é um ser sempre faminto de sofrimentos.

Deus só concede dons aos seres humanos se estes lhe oferecerem sofrimentos. As doenças, diziam ela, são mimos de Deus. A pessoa que sofre mais é mais amada de Deus.

Estava constantemente a tentar incutir sentimentos de culpa nas pessoas que a rodeavam. Os prazeres mais legítimos e inocentes eram para ela obras do pecado e a causa da constante ira de Deus contra a Humanidade.

O seu rosto de pedra fria nunca permitiu tirar conclusões sobre os seus estados de humor. A sua grande preocupação era incutir nas pessoas a visão do Deus irado e sentimentos de culpa profundos.

Como sabemos, a imagem que uma pessoa tem de Deus depende da sua história, das pessoas que a educaram e das suas experiências da sua.

Isto permite-nos concluir que as pessoas que a educaram e lhe comunicaram a fé, eram pelo menos maus pedagogos e gente de uma fé deformada.

Aquela mulher nunca ri espontaneamente. As risadas não agradam a Deus, costumava ela dizer.
Certa noite não conseguiu dormir devido a umas cólicas que a atormentaram durante toda a noite.

Como se sentia extenuada, levantou-se um pouco mais tarde do que o costume. Por esta razão não foi à missa como de costume.

A meio da manhã, escorregou e provocou uma rotura muscular. Tirou imediatamente a ilação deste acontecimento: foi castigo de Deus por não se ter levantado a horas de ir à missa.

O Deus que a mente desta mulher modelou é uma falsa divindade. É um deus tirano e castrador.
Por isso ela é uma mulher mutilada, incapaz de comunicar ternura a quem quer que seja, mesmo que se trate de uma criança.

É incapaz e estimular alguém através do elogio. Deus gosta de sofrimentos, não de elogios, costuma dizer.

Como tem tido muitos problemas de saúde, diz frequentemente que Deus a escolheu como predilecta.

De facto, diz ela, é através dos sofrimentos dos seus predilectos, que Deus vai perdoando aos pecadores.

Podemos dizer que o deus daquela mulher é uma perversão, pois é a projecção do que de pior existe no coração e na mente dos seres humanos.

Como consequência desta identificação perversa, o seu coração ficou mirrado por falta de ternura.

O deus em que acredita é, na verdade, a imagem da sua história triste e fria. Desde muito pequena que a sua catequista lhe dizia que temos de sofrer e fazer muita penitência, a fim de diminuirmos os sofrimentos de Deus.

Para esta mulher, Deus sofre muito devido aos pecados dos seres humanos. As pessoas que não se martirizam, dizia-lhe a catequista, vão para o inferno, pois não aliviam o sofrimento de Deus.

Quando o ser humano deforma o rosto de Deus, a realidade humana é também distorcida. Todas as manhãs as pessoas viam-na passar para a missa e logo a seguir para o mercado.

O seu aspecto era sempre o de uma mulher a quem não foi dado o direito de saborear as alegrias da vida.

As energias que podiam ter tornado a sua vida gostosa mediante gestos de ternura e comunhão amorosa, foram gastas em asceses doentias.

Em nome de uma falsa divindade pode distorcer-se a verdade da vida, de Deus e do Homem.
Devido a todas estas distorções, a sua vida foi estéril.

Penso que ela foi mais vítima que culpada. Outros a castraram, impedindo-a de dar frutos de vida fraterna e comunhão amorosa.

Depois de muitos anos de vida dura, morreu tal como viveu: sem exprimir o mais pequeno sentimento ou emoção.

O deus perverso em que aquela mulher acreditava não fez bem a ninguém, nem mesmo a ela.
Foi por esta razão que ninguém lhe agradeceu os sacrifícios que fez, pois não conduziram ao amor e à fraternidade. Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

28 maio, 2008

CONFIGURAÇÃO ESPIRITUAL DO SER HUMANO-I


I-UMA OBRA-PRIMA FEITA DE BARRO

Usando uma imagem muito bonita, Do Livro do Génesis podemos dizer que o ser humano, ao nível do seu exterior, é uma obra-prima feita de barro.

Mas par lá disso, ao nível do seu ser interior, é também uma obra-prima, mas feita de Espírito.
Foi para que esta dimensão pudesse emergir que o hálito da vida de Deus passou para o interior do barro primordial (Gn 2, 7).

O nosso ser interior emerge, estrutura-se e robustece-se através da dinâmica das relações.
As relações humanas são estruturantes, sobretudo a nível das crianças e adolescentes.

Dizer que as relações humanas são estruturantes significa que amassam e moldam o barro humano, dando-lhe a configuração com a qual vai ficar para o resto da vida.

Na verdade, somos seres talhados para as relações e o encontro, pois não somos ilhas. Isto quer dizer que ninguém se pode realizar sozinho, embora os outros não possam substituir-nos na nossa realização pessoal.

Vistos com o olhar da Fé, os outros são, realmente, dons de Deus para nós, pois só em relações com os demais nos podermos realizar.

Podemos dizer que levamos sempre os outros connosco, sobretudo os que nos marcaram na infância.

Isto significa que a qualidade das nossas relações com os demais está grandemente condicionada pelas relações que os outros tiveram connosco.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CONFIGURAÇÃO ESPIRITUAL DO SER HUMANO-II

II-A FORÇA MODELADORA DAS RELAÇÕES

As relações marcadas com a densidade do amor são, de facto, a dinâmica da nossa realização.
A opção pelo amor é, realmente, a única opção verdadeiramente livre que podemos realizar.

É por esta razão que ninguém é capaz de obrigar uma pessoa a amar. O outro torna-se nosso próximo a partir do momento em que o elegemos como tal no íntimo do nosso coração.

Eleger o outro como próximo é bom para ele mas também é muito bom para nós. Na verdade, ao elegermos o outro como nosso próximo, isto é, alvo do nosso bem-querer, o nosso coração dilata-se e, portanto, aumenta a nossa capacidade de participarmos na plenitude da Família de Deus.

Somos seres talhados para a reciprocidade do amor. Sem o amor dos outros não somos capazes de gostarmos de nós.

Além disso, a pessoa mal amada nem sequer é capaz de resolver da melhor maneira as nossas dificuldades e problemas.

O amor está presente, possibilita, mas nunca substitui. Pretender que os outros sejam à nossa medida ou que actuem de acordo com o nosso modo de ver é recusar-se a amar o irmão, deixando-o emergir na sua originalidade.

Amar é facilitar a emergência do outro, a fim de este se realizar de acordo com o melhor das suas possibilidades.

Só poderemos facilitar esta emergência na medida em compreendamos e aceitemos que as qualidades dos outros são diferentes das minhas.

Na verdade, o ser humano emerge de modo único, original e irrepetível enquanto pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Por outras palavras, a pessoa que pretende colocar-se no lugar do outro e ser a medida dele, não o está a amar.

À medida que se realiza, a pessoa emerge como novidade constante. Um dos aspectos fundamentais da dignidade do Homem em construção consiste precisamente em poder ser autor de si mesmo e emergir de modo único.

Quando respondemos fielmente aos apelos do amor, a nossa vida espiritual dilata-se no nosso íntimo, capacitando-nos para estabelecermos relações mais profundas e interagirmos de modo mais pleno e fraterno.

Quanto mais vazia de amor for a vida de uma pessoa, mais pesada e difícil se torna.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CONFIGURAÇÃO ESPIRITUAL DO SER HUMANO-III

III- RETRATO ESPIRITUAL DA PESSOA QUE DIZ NÃO AO AMOR

Eis o retrato de uma pessoa que, ao longo da sua vida, foi dizendo não ao amor de modo continuado, sistemático e incondicional:

Nada, no seu íntimo, está estruturado de modo harmonioso e sólido. Nada em si é autêntico ou genuíno. Tudo o que comunica está desfocado.

Nada é firme e sólido. Nada do que fez valeu a pena ter sido feito. Nada de verdadeiramente belo aconteceu naquela existência.

Não há uma capacidade de amar solidamente edificada no seu coração. Podemos perguntar-nos se realmente valeu a pena ter vivido?

Podemos dizer que o amor é, realmente, a única razão que vale para viver e morrer. A pessoa humana situa-se na cúpula da Criação, pois está a emergir como realidade espiritual.

Por ser uma realidade espiritual, a pessoa, ao dar-se, não se perde. Pelo contrário, encontra-se e possui-se mais plenamente.

Como sabemos, o crescimento da vida espiritual não é uma questão de quantidade. Não se mede ao quilo, nem se avalia pelo volume. Não se mede ao metro, nem se analisa pelo método das superfícies.

Na verdade, o ser humano só se pode valorizar pela qualidade das suas relações.Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CONFIGURAÇÃO ESPIRITUAL DO SER HUMANO-IV

IV-A RECIPROCIDADE COMO PLENITUDE

A pessoa em realização caminha para a perfeita reciprocidade a qual consiste em a pessoa se possui na medida em que se dá.

Na verdade, a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão amorosa. Deus é a plenitude Da Humanidade, na medida em que esta forma uma união orgânica e dinâmica.

Por outras palavras, Deus é a plenitude do Homem, mas nãos de homens isolados. Como sabemos, a Divindade é uma comunhão orgânica infinitamente perfeita.

A Humanidade será assumida na medida em que forme uma união orgânica cujo coração é o Homem Jesus Cristo.

Na verdade, o ponto de encontro da Humanidade com a Divindade dá-se em Jesus Cristo. A meta do nosso ser espiritual em construção é atingir esse ponto de encontro para o qual convergem todas as pessoas, isto é, a Família de Deus.

Estamos a construir na história o que o que seremos eternamente. O que fazemos hoje está relacionado com o resto da nossa história e também com a nossa eternidade.

Na verdade, o que fazemos hoje está mais ou menos condicionado pelo que fizemos no passado.
Mas é também o que fazemos hoje que possibilita ou condiciona o que faremos amanhã.

O critério do nosso agir deve ser o amor. A grande finalidade da nossa vida na história não é prolongar a qualquer preço a nossa vida mortal, mas amar, a fim de construirmos com o amor a nossa vida Eterna.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

26 maio, 2008

AS APARIÇÕES DE CRISTO RESSUSCITADO-I


I-A IDENTIDADE DO RESSUSCITADO

A experiência da pregação ensinou a São Paulo que o anúncio da ressurreição de Cristo encontrava muitas resistências.

Os judeus diziam que a pregação do Senhor ressuscitado era uma fraude. Tudo isso não passava de uma mentira inventada pelos discípulos.

Por seu lado, a filosofia gnóstica dos helenistas, dizia que Jesus, enquanto viveu na terra, não era um homem, mas um anjo com aparência de homem.

Para contrariar estas afirmações perigosos, os discípulos começam a atribuir a Jesus ressuscitado muitos traços físicos, a fim de afirmarem que ele é um homem real.

O Senhor ressuscitado, diziam os apóstolos, é o mesmo que comeu e conviveu connosco. É também por esta razão que os apóstolos, a partir dos anos setenta, vão dar tanta importância ao túmulo vazio.

De facto, na pregação das primeiras décadas do cristianismo, o túmulo vazio não era argumento para defender a veracidade da ressurreição de Jesus.

Ainda por volta dos anos cinquenta não se usava este argumento. São Paulo conservou-nos um resumo do que era a pregação da ressurreição de Jesus.

Ele diz que a sua pregação se apoia no testemunho que recebeu dos Apóstolos: “Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras.

Foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez.

A maior parte destes ainda vive, se bem que alguns já tenham morrido. Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos.

Em último lugar apareceu-me também a mim como a um aborto” (1 Cor 15, 3-8). Estamos perante o texto mais antigo do Novo Testamento que nos fala da ressurreição de Jesus.

Foi isto que os Apóstolos pregaram durante as primeiras décadas após as aparições do Senhor ressuscitado.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

AS APARIÇÕES DE CRISTO RESSUSCITADO-II


II-O TÚMULO VAZIO É UM ARGUMENTO TARDIO

Como podemos verificar, o túmulo vazio não aparece como argumento para defender a ressurreição de Jesus.

Também não aparece o nome de qualquer mulher. Isto revela que ainda estamos sob uma forte influência judaica, onde as mulheres não serviam como testemunhas.

No relato das aparições aparece o nome de Tiago, o mais velho dos chamados irmãos de Jesus: Tiago, José, Simão e Judas (Mc 6, 3; Mt 13, 55).

No tempo de São Paulo, Tiago era o chefe da comunidade de Jerusalém. Paulo refere-se expressamente a Tiago, designando-o como o irmão do Senhor, o qual era um dos principais (Gal 1, 19).

Se fosse possível apresentar mulheres como testemunhas, certamente que em vez de Tiago apareceria o nome de Maria, como acontece mais tarde nos Actos dos Apóstolos:

“E todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus com seus irmãos” (Act 1, 14).

É bonito verificar que Maria e o grupo familiar de Jesus tiveram uma experiência pascal separada da dos discípulos, tal como vemos ao colocar a experiência de Tiago em separado das outras experiências relatadas no texto.

A introdução do argumento do túmulo vazio surgiu com a introdução dos nomes de mulheres entre as testemunhas do ressuscitado:

“Terminado o Sábado, ao romper do primeiro dia da semana, Maria de Magdala e a outra Maria foram visitar o sepulcro.

Eis que neste momento, aconteceu um terramoto. O anjo do Senhor, descendo do Céu, aproximou-se e removeu a pedra, sentando-se sobre ela.

O seu aspecto era como o de um relâmpago e a sua túnica branca como a neve. Os guardas começaram a tremer com medo do anjo e ficaram como mortos.

O anjo tomou a palavra e disse às mulheres: “Não tenhais medo. Eu sei que buscais Jesus, o crucificado. Não está aqui, pois ressuscitou como havia dito.

Vede o lugar em que jazia e ide dizer aos discípulos que o Senhor ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis. Eis o que eu tinha para vos dizer”.

Afastando-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e grande alegria, as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos.

Jesus saiu ao seu encontro e disse-lhes: ‘Salvé !’. Elas aproximaram-se, abraçaram-lhe os pés e prostraram-se diante dele.

Jesus disse-lhes: ‘Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão” (Mt 28, 1-10).

O relato de São Lucas diz que as mulheres foram comunicar o sucedido aos discípulos, mas estes pensaram que se tratou de uma alucinação.

Pedro, porém, tomou a palavra das mulheres a sério e correu para o sepulcro ( Lc 24, 1-12).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

AS APARIÇÕES DE CRISTO RESSUSCITADO-III

III-A DIVERSIDADE DAS APARIÇÕES

Segundo Mateus os onze foram para a Galileia tal como Jesus lhes ordenou. Chegados à Galileia, Jesus apareceu-lhes e confiou-lhes a missão de evangelizar o mundo:

“Os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado.
Quando o viram adoraram-no. Alguns, no entanto, ainda duvidavam. Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes:

“Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”(Mt 28, 16-19).

Este mandato de evangelizar os pagãos em pé de igualdade com os judeus é uma conquista das comunidades apostólicas.

Se fosse um mandato explícito associado à experiência pascal dos discípulos, Pedro e a comunidade de Jerusalém não ousariam oferecer resistência à evangelização dos pagãos (cf. Act 10, 9-16).

Esta relutância fez que Paulo enfrentasse Pedro com dureza, como o mesmo Paulo confessa (Gal 2,11-14).

Foi também, por esta razão que se realizou o chamado concílio de Jerusalém ( Act 15, 1-6).
O relato dos discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35). É dos relatos mais bonitos dos muitos relatos das aparições de Jesus ressuscitado.

O Senhor ressuscitado mantém a mesma identidade que tinha antes, mas o seu jeito de estar é totalmente diferente.

Por outras palavras, sem deixar de ser o mesmo, Jesus apresenta-se com um jeito de estar totalmente diferente.

Por isso os discípulos não sentem necessidade de perguntar: “Mas que és tu?”. À medida que comunicavam com Jesus, os discípulos vão-se apercebendo que é o Senhor.

Quando o reconhecem, Jesus este desaparece (Lc 24, 31). Isto quer dizer que o Senhor ressuscitado não pode ser retido nas coordenadas do espaço-tempo.

Por outras palavras, quem ressuscita sai destas coordenadas, transcendendo-as totalmente.
São Marcos fala de uma aparição a dois discípulos que iam a caminho do campo (Mc 16. 12-13).

Possivelmente refere-se à mesma tradição dos discípulos de Emaús.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

AS APARIÇÕES DE CRISTO RESSUSCITADO-IV

IV-ASCENSÃO E EVANGELIZAÇÃO DO MUNDO

Segundo São Marcos, o mensageiro misterioso que estava no sepulcro, não é um anjo. Trata-se de um jovem que está dentro do sepulcro aberto. As mulheres são três e não uma como no evangelho de São João.

O jovem encarrega as mulheres de avisarem os discípulos, dizendo-lhes que deve ir para a Galileia, a fim de verem o Senhor (Mc 16, 3-8).

Para o evangelho de São, como disse, havia apenas uma mulher. Trata-se de Maria Madalena, a mulher que sentiu de modo profundo o amor libera libertador de Jesus.

Ao ver o sepulcro aberto, Maria correu a avisar Pedro e João. Foram estes, diz o evangelho de São João, os primeiros a fazer a experiência pascal (Jo 20, 1-10).

É curioso notar que só após a aparição a Pedro é que Maria Madalena, tem a aparição de Jesus ressuscitado.

Agora, Maria vê dois anjos e logo a seguir vê o Senhor ressuscitado, a quem ela confunde com o jardineiro (Jo 20, 11-16).

Ao aperceber-se de que era Jesus, Maria tenta abraçar os pés de Jesus, mas este não permite, pois tem de ir para o Pai (Jo 20, 17).

Em Mateus, as mulheres lançam-se aos pés de Jesus e abraçam-no sem qualquer reparo por parte de Jesus (Mt 28, 9).

Para o evangelho de São João, experiência pascal e Pentecostes são realidades simultâneas. ( Jo 20, 20-23).

Numa passagem do evangelho de São Lucas, os discípulos assustaram-se ao verem o Senhor, pois pensaram tratar-se de um fantasma.

Para os tranquilizar, Jesus diz-lhes que o podem tocar, a fim de verificarem que é ele e não um fantasma, pois os fantasmas não têm carne e ossos como ele tem (Lc 24, 36-39).

Depois de os tranquilizar, Jesus come com eles (Lc 24, 41-42). Do mesmo modo, no relato de Tomé, Jesus desafia o apóstolo, mandando que o toque e que meta a mão na chaga do seu peito.

Mas Tomé não lhe chegou a tocar, fazendo uma profissão de fé no Senhor, chamando-o de “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 27-29).

No final do Evangelho de João aparece Jesus ressuscitado a assar peixe para dar aos discípulos e a comer com eles (Jo 21, 9-13).

Ao acentuar o aspecto físico de Jesus, os discípulos estão apenas a defender que o Jesus o Senhor ressuscitado não é um fantasma, mas o mesmo Jesus com o qual eles conviveram e comeram.

Estamos longe da sobriedade dos relatos dos primeiros trinta anos, onde Jesus ressuscitado era visto como um ser totalmente espiritualizado.

Algumas décadas antes destes relatos, São Paulo insistia em que o corpo do Senhor ressuscitado é uma realidade espiritual e não biológica (1 Cor 15, 42-50).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

23 maio, 2008

A VINDA GLORIOSA DE JESUS CRISTO-I

I-A PLENITUDE DOS TEMPOS

À luz da Fé, a História da Humanidade vai chegar a um fim. Muitas pessoas chamam “Fim do Mundo” ao fim da História Humana.

São Paulo diz que, com Jesus Cristo, a Humanidade chegou à plenitude dos tempos. Esta expressão significa que Cristo inaugurou a fase da nossa introdução na Família de Deus.

A criação e a salvação da Humanidade demoram muitos milhões de anos, mas já estamos na Nova Aliança, isto é, da comunhão da Humanidade com Deus.

Na verdade, com Jesus Cristo a Humanidade atingiu um nível totalmente novo: os seres humanos foram divinizados.

Ao falar da plenitude dos tempos, São Paulo queria dizer que chegou o tempo da salvação para toda a Humanidade.

A plenitude dos tempos significa que a Humanidade atingiu o topo, isto é, o ponto mais elevado da História.

As primeiras comunidades cristãs julgavam que, devido ao facto de Cristo já estar ressuscitado, o mundo iria acabar muito em breve.

Os primeiros cristãos imaginavam que Jesus, ao ressuscitar, passou a ser um rei poderoso, vingativo e implacável.

Subiu ao Céu mas em breve iria voltar para destruir os maus. Imaginavam que a vinda de Jesus aconteceria muito em breve.

Eis a razão pela qual alguns cristãos achavam que já nem valia a pena trabalhar. São Paulo teve de os repreender, dizendo-lhes que a vinda gloriosa de Jesus Cristo não estava para acontecer assim tão depressa.

Os Apóstolos, ao princípio, pensavam ainda estariam vivos quando Jesus chegasse (Lc 21, 20-30).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A VINDA GLORIOSA DE JESUS CRISTO-II

II-A INFLUÊNCIA DAS FALSAS PROFECIAS

Os primeiros cristãos pensavam assim devido aos muitos pseudo apocalipses, isto é, falsas profecias que anunciavam o fim do mundo como o dia da ira de Deus.

Em geral estes apocalipses associavam o fim do mundo à vinda de um messias celeste. Nesse dia, diziam os apocalipses falsos, Deus ia destruir todos os pecadores, escapando apenas o pequeno resto dos justos, isto é, dos que não tinham pecado.

Influenciados por estes apocalipses, os Apóstolos e os Evangelistas também falavam do dia da ira que estava para chegar. Era também esta a maneira de ver de São João Baptista (Mt 3, 7-10).

Graças ao aprofundamento da Palavra de Deus e aos estudos da bíblia, os Apóstolos começaram a compreender melhor o significado da vinda gloriosa de Jesus Cristo.

O Espírito Santo ajudou os Apóstolos a compreender que a vinda gloriosa de Jesus Cristo não é uma tragédia, mas um acto de amor de Deus que vai enviar Cristo para salvar a Humanidade.

No dia da vinda gloriosa de Jesus ressuscitado, as pessoas que ainda vivam na Terra serão salvas, passando a fazer parte para sempre da Família de Deus.

Quando as últimas pessoas chegarem ao Céu, isto é, à comunhão da Família de Deus, já lá estão os muitos milhões de pessoas que nasceram depois de Adão e Eva.

Devemos, pois, fixar estes dois aspectos importantes: Em primeiro lugar, o final da História Humana não significa o final do Universo.

Em segundo lugar, a vinda gloriosa de Jesus não é uma tragédia para a Humanidade, mas o grande dia da Salvação. Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A VINDA GLORIOSA DE JESUS CRISTO-III

III-JESUS ACOLHIA OS PECADORES

Jesus anunciou o Reino de Deus como um projecto de amor que Deus sonhou para toda a Humanidade.

A vontade de Deus, diz São Paulo, é que todas as pessoas conheçam Deus e façam parte da Família Divina (1 Tim 2, 4).

Se olharmos com atenção a maneira como Jesus actuava, vemos como ele não vinha a condenar e matar os pecadores.

Pelo contrário, vinha a perdoar e conduzir as pessoas para Deus. Era esta a razão pela qual Jesus comia com os pecadores.

Bem sabemos como Jesus perdoou o pecado de alguns pecadores muito conhecidos: Perdoou à mulher adúltera que os sacerdotes judeus queriam matar (Jo 8, 1-11).

Perdoou ao Zaqueu, homem desprezado por todos os judeus (Lc 19, 1-10). Perdoou à Samaritana, considerada uma mulher que Deus ia destruir (Jo 4,7-21).

Jesus amava os pecadores. Por isso perdoava os seus pecados. Jesus dizia que, procedendo deste modo, estava a fazer a vontade de Deus: “O meu alimento, dizia ele, é fazer a vontade de meu Pai e realizar o seu projecto de salvação” (Jo 4, 34).

A primeira Carta a Timóteo diz que a vontade de Deus é que os homens se salvem e cheguem a conhecer a verdade e o amor de Deus por eles” (1 Tim 2, 4).

O projecto de Deus é a comunhão universal do Reino de Deus, uma família muito grande, onde as pessoas se amam todas.

A vinda gloriosa de Cristo significa que Jesus ressuscitado não deixará ninguém fora da Família de Deus.

Só não entra na festa do Reino de Deus quem rejeita a salvação que Deus nos oferece a través de Jesus Cristo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

21 maio, 2008

DIÁLOGO COM O DEUS QUE HABITA EM NÓS-I

I-TEMPLOS DO DEUS VIVO

Deus Santo,
A nossa Fé diz-nos que Vós nunca estais longe de cada ser humano.

Na verdade, Vós habitais no mais íntimo de cada um de nós, com o diz a Primeira Carta aos Coríntios:

“Não sabeis, diz São Paulo, que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo.” (1 Cor 3, 17-17).

Nós vos agradecemos o facto de vos relacionardes com cada pessoa de modo único e diferente.
O vosso amor por nós faz com que nos tomeis a sério e ameis cada ser humano assim como ele é.

Podemos dizer que sois um Deus que se faz à nossa medida, a fim de comunicar connosco de modo adequado.

Apesar de vos relacionardes de modo único com cada pessoa, Vós conseguis dar-vos de modo pleno a todos os seres humanos.

Com efeito, ninguém tem Deus só para si, apesar de cada pessoa o ter de modo diferente.

O amor é difusivo, por isso Vós expandis a vossa ternura pelos biliões de pessoas que viveram, vivem e viverão ao longo dos milénios.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DIÁLOGO COM O DEUS QUE HABITA EM NÓS-II

II-DIFUSÃO DO AMOR DE DEUS

Espírito Santo,
Tu és o princípio difusivo do amor de Deus no coração de cada pessoa humana. São Paulo diz que tu és o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Quando vamos à praia, por exemplo, nós damo-nos conta de que o sol da praia é para todos os que o procuram. Não é pelo facto de o Pedro se estar a bronzear que a Margarida fica privada do sol.

A difusão do sol por todos é um sinal do vosso amor, Deus Santo, a difundir-se para todos os seres humanos.

Mas ao contrário do sol que nos atinge a partir de fora, o Espírito Santo anima-nos e conduz-nos a partir de dentro.

Vós sois, Deus Santo, a interioridade máxima de todas as coisas. A luz e o calor do sol chegam até nós, vindos de longe.

O Espírito Santo, pelo contrário, põe-nos em comunicação com o Pai e o Filho, fazendo que Vós, Deus Santo, sejais em nós o Deus connosco.

O Espírito Santo, com seu jeito maternal de amar conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como filhos e a Deus Filho que nos acolhe como irmãos.

Na verdade, o nosso coração é o ponto de encontro com Deus. É aí que o Espírito habita de modo permanente e nos configura com Jesus Cristo.

Precisamos do ar para respirar e viver. Felizmente que o ar está difundido por toda a terra. Do mesmo modo, o Espírito Santo está em todos nós, pois precisamos dele para renascer, como Jesus disse a Nicodemos.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DIÁLOGO COM O DEUS QUE HABITA EM NÓS-III

III- EM DEUS VIVEMO E NOS MOVEMOS

Deus Santo,
Os Actos dos Apóstolos dizem que Vós nunca estais longe, pois vivemos em Vós. Eis as suas palavras:

“O Deus que criou o mundo e tudo o que nele habita, é o Senhor do Céu e da Terra. Ele não habita em santuários feitos pela mão do Homem, nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa.

É ele que dá a vida, a respiração e tudo o mais. Criou a partir de Adão toda a Humanidade, a fim de ela habitar sobre a face da terra” (Act 17, 24-26).

Depois acrescenta: “É nele que vivemos, nos movemos e existimos, pois já somos família sua.
Portanto, se nós somos família de Deus não devemos pensar que a Divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra esculpida pela mão do homem” (Act 17, 28-29).

Louvado sejais Deus Santo que sois uma comunhão familiar e nos introduzistes na vossa Família através de Jesus Cristo!

Glória a ti Pai bondoso!
Glória a ti, Filho de Deus e nosso irmão!
Glória a ti, Espírito Santo que és o amor de Deus derramado nos nossos corações!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

20 maio, 2008

ESPERANÇA CRISTÃ E SENTIDO DA VIDA-I

I-ESPERANÇA CRISTÃ E PALAVRA DE DEUS

A Esperança cristã confere à pessoa razões sólidas para caminhar confiante, pois sabe que está a caminhar para um futuro promissor e feliz.

O sentido que confere horizontes novos à esperança cristã brota da Palavra de Deus, a qual nos proporciona a certeza de não estarmos a caminhar para o vazio da morte.

A fé cristã tem como suporte a ressurreição de Jesus Cristo. A Esperança, partindo do suporte da fé, antecipa a plenitude do futuro, a qual consiste na nossa ressurreição e participação na Comunhão da Família de Deus.

Por outras palavras, Jesus ressuscitado é a garantia de que o Homem já tem ao seu alcance o penhor de um sucesso pleno.

Os horizontes da Esperança Cristã coincidem rigorosamente com o querer de Deus a nosso respeito.

Em Jesus de Nazaré, Deus inaugurou a plenitude do seu plano em favor da Humanidade. O evangelho de São João diz que todos recebemos da plenitude de Cristo:

“Da sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça” (Jo 1, 16). Em Jesus Cristo, diz a Carta aos Efésios, Deus levou o tempo à sua plenitude:

“O Pai deu-nos a conhecer o mistério da sua vontade, conforme a decisão prévia que lhe aprouve tomar, a fim de levar o tempo à sua plenitude” (Ef 1, 9-10).A plenitude dos tempos significa a fase dos acabamentos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ESPERANÇA CRISTÃ E SENTIDO DA VIDA-II

II-ESPERANÇA E PLENITUDE DOS TEMPOS

A Esperança Cristã assegura-nos que estamos já na fase do sucesso garantido. A plenitude da vida é um dom que nos é oferecido amorosamente por Deus. Podemos aceitá-lo ou não, pois o amor não se impõe.

A Carta aos Gálatas diz que ao chegar a plenitude dos tempos Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, a fim de ser inaugurado o tempo da graça, o qual implica a anulação de leis, normas ou preceitos que oprimam as pessoas (Ga 4, 4-7).

A Esperança Cristã não é apenas um desejo vago que nasce dessa fome de felicidade que todos levamos dentro.

Pelo contrário, assenta num plano concreto, o qual é conhecido por nós graças ao facto de nos ter sido revelado por Deus.

Este projecto é fruto de um querer explícito de Deus. Foi isto que levou Jesus Cristo a tomar as atitudes que tomou, a fim de nos revelar o querer de Deus.

Foi por este querer e Deus que fomos inseridos na plenitude dos tempos, como diz São Paulo:
“Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. O que era antigo passou. Eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que, em Jesus Cristo, nos reconciliou consigo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 17.19).

Certa da fidelidade de Deus, a Esperança de Deus avança no sentido de atingir esta meta que nos é proposta pela Revelação de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ESPERANÇA CRISTÃ E SENTIDO DA VIDA-III

III-SALVAÇÃO E COMPROMISSO HUMANO

A salvação de Deus em Jesus Cristo é um dom. Por outras palavras, a salvação não é uma conquista do Homem.

A nossa esperança garante-nos que o plano salvador de Deus já está inaugurado e atingirá a sua plenitude.

Eis a razão pela qual ele tenta comprometer-se com os apelos e propostas de Deus. Na verdade, o plano salvador de Deus implica também o compromisso do Homem.

A divinização do Homem é um dom gratuito, mas Deus só pode divinizar a pessoa humana na medida em que esta emerge através do processo da humanização.

Como sabemos, a humanização do homem é uma tarefa que cada pessoa tem de realizar. Ninguém nos pode substituir nesta missão.

Graças à ressurreição de Jesus Cristo, a Humanidade já entrou na plenitude dos tempos, isto é, na fase da divinização.

A plenitude dos tempos significa um salto de qualidade que a Humanidade deu, devido ao facto de formar um todo orgânico com Cristo.

O evangelho de São João diz que a divinização do Homem acontece pela comunicação especial do Espírito Santo, a qual atinge o homem no mais íntimo do seu ser e o faz dar um salto de qualidade.

Eis as suas palavras: “No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, exclamou: “Se alguém tem sede venha a mim. Quem acredita em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, do seu peito hão-de emergir rios de Água viva”.

Jesus disse isto referindo-se ao Espírito que iam receber os que acreditassem nele. Com efeito, o Espírito ainda não tinha vindo, pois Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 37-39).

A revelação abre os horizontes da nossa Esperança muito para lá da vida mortal. Graças à sua Fé, os cristãos conseguem vislumbrar muito para além dos horizontes da morte.

Eis o que diz a Carta aos Filipenses: “Para nós, a cidade a que pertencemos está nos céus, de onde esperamos o Senhor Jesus Cristo, o nosso Salvador.

Com a energia que possui e o capacita para sujeitar todas as coisas, ele transfigurará o nosso corpo, configurando-o ao seu corpo glorioso” (Flp 3, 20-21).

O horizonte máximo da nossa Esperança, portanto, é Jesus Cristo ressuscitado e assumido na glória da Santíssima Trindade.

A Carta aos Hebreus descreve a Esperança como a expectativa confiante dos bens que estão para vir (Heb 6, 11).

Num texto cheio de profundidade, a Segunda Carta aos Coríntios diz-nos que não estamos a edificar para a morte, mas para a Vida Eterna.

Este texto é um testemunho magnífico dos horizontes da esperança: “Por isso, não desfalecemos. E ainda que, em nós, o homem exterior vá caminhando para a ruína, o homem interior renova-se dia após dia.

Com efeito, a nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida.

Na verdade, olhamos mais para as coisas invisíveis do que para aquelas que se vêem. De facto, as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (2 Cor 4, 16-18).

Este texto exprime bem o horizonte da nossa Fé e a força da nossa Esperança, a qual nos possibilita olhar a saborear as coisas com um sentido e um sabor totalmente novo.

Vale a pena empenharmo-nos, pois não estamos a construir para o vazio da morte. A Esperança confere-nos um olhar novo, o qual nos capacita para podermos valorizar as coisas com os critérios da revelação de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

18 maio, 2008

A DIVINDADE DE CRISTO-I

I-A UNIÃO PERFEITA DO PAI COM O FILHO

São João inicia o seu evangelho, proclamando Jesus Cristo como o Filho eterno de Deus:
“No princípio era o Verbo e o Verbo era Deus. No princípio, o Verbo estava com Deus e era Deus (Jo 1, 1-2).

Deste modo, São João pretende, não apenas dizer que Jesus Cristo é o Filho de Deus, como fizeram os outros evangelhos, mas dizer igualmente que ele é Deus desde toda a eternidade.

Se isto é assim, então Deus não é um sujeito eterno e infinito, mas sim uma comunhão familiar.
Por isso ele apresenta a união do Pai com o Filho em forma de uma comunhão orgânica: O Pai e o Filho fazem um (Jo 10, 30).

Apesar de formar uma comunhão orgânica e dinâmica, o Pai e o Filho não se confundem.
Nesta união do Pai com o Filho, o Espírito Santo tem um papel activo.

Ele é princípio animador das relações e vínculo de comunhão: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome esse é que vos ensinará e recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26).

De tal modo o Pai e o Filho estão em perfeita harmonia que São João disse que ao olharmos o modo de Jesus agir é compreender o rosto de Deus Pai:

“Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conheces Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que ainda me dizes: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14, 9).

Há filhos humanos que, a nível genético, são quase uma cópia do pai ou da mãe. O modo de Jesus actuar como Filho de Deus, é uma cópia perfeita do amor e do plano que Deus Pai tem para nós.

Segundo o evangelho de São João, Jesus tinha perfeita consciência disto e por isso disse que ele e o Pai fazem um (Jo 10, 30).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A DIVINDADE DE CRISTO-II

II-A FIDELIDADE DE JESUS À VONTADE DO PAI

A Vontade de Jesus Cristo e a vontade de Deus Pai estavam em total sintonia. Eis algumas expressões de Jesus que exprimem bem esta união de vontades:

“O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).
“Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 5, 3).

E ainda:
“Eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia.

A vontade de meu Pai é que aqueles que vêem o Filho e acreditam nele tenham a vida eterna” (Jo 6, 38-40).

O Filho de Deus existe desde toda a eternidade. Veio ao mundo para realizar a divinização da Humanidade, dando-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 12-14).

Por seu lado, o Pai entrega a obra da salvação nas mãos do Filho, pois o querer do Pai e o querer do Filho estão em plena concordância:

“O Pai não julga ninguém, mas entregou ao Filho o poder de julgar, a fim de os homens honrarem o Filho como honram o Pai.

Aquele que não honra o Filho também não honra o Pai, pois o filho foi enviado pelo Pai” (Jo. 5, 22- 23).

Com efeito, acrescenta Jesus, o pai ama o filho e colocou todas as coisas nas suas mãos” (Jo 3, 35).

A fé no Filho, portanto, é uma componente fundamental da própria fé no Pai: “Aquele que acredita em mim, não só acredita em mim, mas também naquele que me enviou” (Jo 12, 44).

“E aquele que me enviou está comigo e em mim. Com efeito, o Pai não me deixou sozinho, pois eu faço constantemente as coisas que lhe agradam” (Jo 8, 29).

Eis a razão pela qual o Senhor Ressuscitado se considera irmão dos homens:“Eu subo para junto do meu Pai e vosso Pai; para o meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17).

Este texto é muito significativo, pois demonstra que João, apesar de insistir constantemente que Jesus Cristo é Deus com o Pai, não ignora que ele é também homem connosco.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A DIVINDADE DE CRISTO-III

III-HUMNANIDADE DE JESUS E SALVAÇÃO

E é pelo facto de ele ser homem connosco que nós estamos salvos. De facto, nós somos incorporados na família de Deus, não como seres isolados, mas na medida em que formamos uma união com Cristo.

Estamos em dinâmica de salvação na medida em que estamos organicamente unidos a Jesus Cristo.

Trata-se de uma união semelhante à união que existe entre os ramos e a cepa da videira. A seiva, isto é, o Espírito Santo, vem da cepa para os ramos, tornando-os fecundos.

Como ramos da videira, nós temos de estar sempre unidos à cepa. Sem esta união nós não podemos dar qualquer fruto, pois sem Cristo nada podemos fazer (Jo 15, 4-6).

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos incorporando na Família de Deus, conduzindo-nos ao Pai que nos acolhe como filhos e ao Filho que nos acolhe como irmãos (Rm 8, 14-16).

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
João começa o seu evangelho afirmando que Cristo é a Palavra, isto é, a verdade.

A Bíblia diz que a Palavra de Deus é eficaz, ou seja, realiza sempre o que significa. O Filho vem como Palavra, isto é, proclamação do amor salvador de Deus por nós.

Eis a razão pela qual o Verbo Encarnou e habitou entre nós, dando-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1,12-14).

Depois de ter realizado a sua missão o Filho volta para junto do Pai, a fim de nos introduzir na Família Divina:

“Eu saí do Pai e vim para o mundo. Agora deixo o mundo e vou para o Pai” (Jo 16, 28).
Depois acrescenta:

“Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20). Quem via o modo de actuar do Filho estava a ver o próprio jeito do Pai nos amar. Quem me vê, disse Jesus a Filipe, vê o Pai (Jo 14, 9).

Tomé, no evangelho de São João, chama Deus a Jesus ressuscitado. Depois de ver o Senhor, Tomé declara: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 28).

Além disso, o próprio Jesus se declara Deus, usando a mesma expressão que Yahvé usou no Monte Sinai:

“Agora digo-vos estas coisas antes que aconteçam, a fim de que, quando elas acontecerem, acrediteis que eu sou” (Jo 13, 19).

Por outro lado, como é um homem em tudo igual a nós, excepto no pecado, Jesus reconhece que vai para junto do seu Pai e nosso Pai, do seu Deus e nosso Deus” (Jo 20, 17).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A DIVINDADE DE CRISTO-IV

IV-CRISTO É HOMEM CONNOSCO E DEUS COM O PAI

Devido à sua condição divina, o Filho é igual ao Pai. Mas devido à sua condição de homem, o Pai é maior do que o Filho:

“Ouvistes o que eu vos disse: “Eu vou mas voltarei para vós”. Se me tivésseis amor, devíeis alegrar-vos por eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que eu” (Jo 14, 28).

O evangelho de São João diz que os judeus, ao notarem que Jesus se fazia igual a Deus, ficaram furiosos e decidiram matá-lo:

“Devido ao facto de Jesus realizar estes prodígios em dia de sábado, os judeus começaram a perseguí-lo.

Em resposta, Jesus disse-lhes: “O meu Pai continua a realizar obras até agora, e eu também continuo!”

Perante tais afirmações, mais cresceu neles o desejo de o matarem, pois não só anulava o sábado, como chamava a Deus seu Pai, fazendo-se, deste modo, igual a Deus” (Jo 5, 16-18).

Podemos dizer que a compreensão de Cristo como Filho Eterno de Deus não foi o ponto de partida, mas sim o ponto de chegada da caminhada da revelação.

Com efeito, compreender o mistério de Cristo com este alcance supõe um salto de qualidade enorme, muito além do que os judeus podiam esperar do Messias.

Na verdade, reconhecer que Cristo é o Filho eterno de Deus implica afirmar que Deus não é apenas o Yahvé do Antigo testamento, mas sim uma comunidade familiar:

“Não acreditais que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não são ditas por minha própria iniciativa.

O Pai que habita em mim é que faz as obras. Acreditai que eu estou no Pai e o Pai está em mim.
Pelo menos acreditai por causa das minhas obras” (Jo 14, 10-11).

A fidelidade incondicional de Jesus à missão que Deus lhe confiou é, pois, a fonte da Salvação para a Humanidade.

Eis a razão pela qual ele procurava fazer as coisas tal como o Pai lhe mandou: “Pois eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, é que me comunicou o que devo dizer.

E eu sei que o seu mandamento traz consigo a vida Eterna. Eis a razão pela qual eu digo exactamente o que o Pai me disse para dizer” (12, 49-50).

Por fazer um com o Pai, o Filho é igualmente fonte de vida: “Assim como o Pai tem vida por si mesmo, também o Filho tem vida em si mesmo” (Jo 5, 26).

Jesus diz isto de modo mais explícito quando afirma: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que tenho morrido, viverá.

Todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre” (Jo 11, 25-26).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

16 maio, 2008

DIÁLOGO COM DEUS SOBRE O HOMEM NOVO-I

I-CHAMADOS A MOLDAR UM CORAÇÃO NOVO

Pai Santo,
Obrigado por nos chamares à existência como seres inacabados. O nosso coração, isto é, o núcleo mais nobre da nossa interioridade espiritual, é uma realidade dinâmica e moldável.

Se nos deixarmos conduzir pela tua Palavra e pelo Espírito Santo, o nosso coração vai-se configurando progressivamente com o coração de Cristo.

Deus Santo,
Obrigado pelo facto de nós não estarmos inteiramente programados pela genética, como acontece com os animais.

O Espírito Santo vai-nos convidando no sentido de moldarmos um coração capaz de amar e comungar com os irmãos.

O profeta Ezequiel, prevendo a acção recriadora do Espírito Santo nos tempos messiânicos, diz o seguinte:

“Derramarei sobre vós uma água pura e sereis purificados de todos os vossos pecados.
Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um Espírito Novo.

Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de fraterno. Dentro de vós porei o meu Espírito, a fim de seguirdes as minhas leis e serdes fiéis aos meus preceitos” (Ez 36, 24-27).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DIÁLOGO COM DEUS SOBRE O HOMEM NOVO-II

II-JESUS CRISTO COMO HOMEM NOVO

Pai Santo,
Jesus tinha consciência de ser ele aquele de quem os profetas falaram. Ele sabia que a sua missão significa o início da plenitude dos tempos.

Eis um segredo que ele revelou em particular aos discípulos: “Voltando-se, depois, para os discípulos, Jesus disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que vêem o que estais a ver.

Na verdade, muitos profetas e reis quiseram ver o que estais a ver e não o viram, ouvir o que estais a ouvir e não o ouviram” (Lc 10, 23-24).

Podemos dizer que Jesus Cristo é o Homem Novo, aquele cujo coração foi moldado numa fidelidade plena ao Espírito Santo:

“O Espírito do Senhor está sobre mim porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e fazer que os cegos recuperem a vista.

Enviou-me para mandar em liberdade os oprimidos e a proclamar um ano favorável do Senhor” (Lc 4, 18-19).

Graças à sua fidelidade aos apelos do Espírito Santo, Jesus é realmente o homem de coração novo e o início da Nova Humanidade.

Por outras palavras, o coração de Jesus foi moldado pela acção do Espírito Santo e não pela letra da Lei de Moisés.

No evangelho de São Mateus, Jesus diz aos discípulos para aprenderem a moldar o seu coração de acordo com o seu coração de Homem Novo:

“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias