14 agosto, 2010

Convite...

Olá! Tal como prometido, o pensamento e a riqueza do pe. Santos Calmeiro Matias não deixarão de ser partilhados aqui na net após a sua Páscoa, há cerca de um mês. Em vez de continuarmos com os dois blogs que ele mantinha, o Razões para Gostar de Deus e o Comunhão no Espírito, decidimos concentrar-nos num só blog, o Fundamentos da Fé Cristã. Aí continuaremos um Diário, onde regularmente serão publicados textos do pe. Santos, e uma Biblioteca onde esses textos são organizados por temas para ser mais fácil consultá-los. Por isso eis o convite:


09 julho, 2010

Oração Confiante de um Homem Crente


Trindade Santa,

Vós sois o único Deus Verdadeiro e o nosso Criador. Obrigado por nos terdes amado ainda antes de nós existirmos.

Fostes Vós quem decidiu criar-nos inacabados, a fim de sermos autores da nossa própria realização.


Espírito Santo,

Glória a ti que és o amor de Deus derramado nos nossos corações, como diz São Paulo (Rm 5, 5).

Tu és a ternura maternal de Deus. A tua presença maternal é o princípio animador desse campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

Tu és, Espírito Santo, o hálito da vida que, no princípio, saiu das narinas de Deus para o interior do barro amassado do qual saiu Adão!

Ajuda-nos a compreender o Mistério do Homem em construção, a fim de termos critérios para edificar o Homem Novo.

Quando te enviou a nós, Jesus confiou-te a missão de nos conduzires à Verdade plena, diz o evangelho de São João (Jo 16, 13).

És tu, Espírito Santo, quem nos faz compreender o Mistério do Homem em construção.

És tu quem nos dá os critérios certos para sabermos edificar o Homem Novo.

Com esse teu jeito maternal de amar tu nos enches da sabedoria de Deus, a fim de que as nossas palavras sejam sensatas e as nossas atitudes criadoras de fraternidade.

És tu quem nos conduz e ilumina, a fim de ajudarmos as pessoas que se cruzam connosco a ser felizes.


Espírito Santo,

Só com a tua força nós somos capaz de acolher os irmãos assim como eles são.

Graças a ti nós somos capazes de agir de modo a que ninguém fique mais pobre, triste ou machucado, por se encontrar connosco.

És tu quem nos torna fiéis à Palavra de Deus, a fim de fazermos sempre a vontade do Pai como Jesus que um dia disse estas palavras:

“O meu alimento é fazer a vontade do meu Pai e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).


Senhor Jesus Cristo,

Tu ensinaste aos teus discípulos que a vontade do Pai coincide sempre com o que é melhor para nós.

Por isso, após a Páscoa, os Apóstolos começaram a testemunhar o amor de Deus pela Humanidade.

Nós te louvamos porque nos deste o mesmo Espírito Santo que capacitou os teus discípulos para anunciar o Evangelho.

Na verdade, também nós fomos consagrados por este mesmo Espírito Santo, a fim de podermos anunciar a Notícia Bonita da tua ressurreição.

Nós te louvamos, Jesus, por este chamamento que nos fazes.



Em Comunhão Convosco

Calmeiro Matias

05 junho, 2010

DEUS TALHOU-NOS PARA A LIBERDADE

São Paulo entende a acção libertadora de Cristo como uma capacitação para sermos livres. Eis o que ele diz na Carta aos Coríntios:
“O Senhor ressuscitado é Espírito e onde está o Espírito do Senhor, aí habita a liberdade” (2 Cor 6, 17).

E na Carta aos Gálatas diz que Jesus nos salvou, a fim de sermos livres:

“Foi para a liberdade que Cristo nos salvou. Portanto, permanecei firmes e não vos sujeiteis de novo ao jugo da escravidão” (Gal 5, 1).

Como imagem de Deus que é, a Humanidade é constituída por pessoas. Ora, uma das características fundamentais da pessoa humana é o facto de possuir o livre arbítrio ou seja, a capacidade de se tornar livre.

O livre arbítrio é a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal e, deste modo, poder tornar-se livre.

Na verdade, o ser humano torna-se livre na medida em que rejeita o mal e opta pelo bem.

Pelo facto de ser uma pessoa em construção, o ser humano não nasce acabado. Faz-se, fazendo. Realiza-se, realizando.

Isto quer dizer que Deus quis que o Homem tivesse parte na sua própria realização, a fim de poder construir-se como pessoa livre.

A pessoa humana não pode tornar-se livre sem exercitar o livre arbítrio, optando pelo bem.

Na verdade não basta exercitar o livre arbítrio para que uma pessoa se torne livre, pois este é a capacidade de optar pelo bem ou pelo mal.

Mas a pessoa só chega a ser livre se as suas opções se orientarem na linha do amor. O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

O amor implica eleger o outro como alvo de bem-querer, aceitando-o como é, apesar de ser diferente de nós, e agir de modo a facilitar a sua realização e felicidade.

A liberdade da pessoa em construção vai-se afirmando de modo gradual e progressivo à medida que via estruturando uma cadeia de realizações na linha do amor.

Por outras palavras, pessoa torna-se livre na medida em que se compromete com o processo da humanização.

Isto quer dizer que uma pessoa que nunca se tenha comprometido com as causas do bem nunca chegará a ser livre.

E depois acrescenta: “Por amor fazei-vos servos uns dos outros. Quem ama cumpre plenamente a Lei de Moisés, a qual diz: “Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Ga 5, 14).


São Paulo entendeu perfeitamente o modo de agir de Jesus, o qual resumiu as normas, leis e preceitos da Lei de Moisés resumiu num único mandamento:

“Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34).

Podemos dizer que a liberdade é o resultado de uma vida vivida como processo de libertação.

À medida que vai emergindo, a liberdade capacita a pessoa para se relacionar amorosamente com os outros e interagir criativamente com as coisas e os acontecimentos.

Isto quer dizer que a liberdade é sempre um bem. Já não podemos dizer a mesma coisa do livre arbítrio, pois este pode ser orientado no sentido do bem ou do mal.

O livre arbítrio não é a liberdade, mas apenas a capacidade de a pessoa se tornar livre.

É este o sentido das palavras de Jesus no evangelho de São João: “Quem comete o pecado é escravo” (Jo 8, 34).

Deus é infinitamente livre, mas não tem livre arbítrio, pois as pessoas divinas não estão a realizar-se como seres livres.

Por outras palavras, as pessoas divinas não são liberdades em construção, pois são infinitamente livres.

À medida que se realiza como pessoa, o ser humano emerge como interioridade espiritual livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.

Com efeito, é dos outros que recebemos o leque dos talentos que formam a matéria-prima da nossa realização.

Começámos por ser o que os outros fizeram de nós. Não escolhemos nada: nem a raça, nem a nacionalidade, nem o século em que queríamos viver.

É por esta razão que cada pessoa se realiza de modo único, original e irrepetível. É com estes dados que os seres humanos estão chamados a avançar na marcha da sua humanização cuja lei é:
“Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal”.

É este o sentido das palavras de Jesus no evangelho de São João: “Quem comete o pecado é escravo” (Jo 8, 34).

À luz das Escrituras, o Espírito Santo é o protagonista do processo histórico da libertação humana.

Logo no princípio da Criação, diz o Livro do Génesis, o hálito de Deus, isto é, o Espírito Santo, entrou no interior do Homem e este tornou-se um ser vivente (Gn 2, 7).

Trata-se de uma intervenção especial de Deus que não aconteceu na criação de qualquer animal.

Esta intervenção especial de Deus na criação do Homem significa que o Espírito Santo está sempre presente no nosso íntimo optimizando as nossas capacidades, a fim de darmos frutos de Vida Eterna.

E é assim que o Espírito Santo se torna em nós, e nunca sem nós, o arquitecto da nossa libertação.

É este o sentido das palavras de Jesus quando na sinagoga de Nazaré anunciou que o Espírito Santo o consagrou para a missão de libertar a Humanidade:

“O Espírito do Senhor está sobre mim porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres e a libertação aos cativos” (Lc 4, 18).

As condições sociais, políticas, económicas ou culturais, podem facilitar ou dificultar o crescimento da liberdade humana, mas não são capazes de destruir o que o ser humano já é como pessoa livre.

Na verdade, não é pelo facto de uma pessoa estar na prisão que deixa de ser livre, mas está condicionada nas possibilidades de crescer na sua liberdade.

Na verdade, uma pessoa encerrada num cárcere está limitada nas possibilidades de exercitar o seu livre arbítrio, condição fundamental para continuar a amadurecer na sua liberdade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


29 maio, 2010

RELAÇÕES HUMANAS E EMERGÊNCIA PESSOAL

I-A FORÇA ESTRUTURANTE DAS RELAÇÕES

Ninguém se pode realizar sozinho, embora os outros não possam substituir-nos na nossa realização pessoal.

Os que caminham ao nosso lado são dons de Deus para nós, pois são mediações fundamentais para nos podermos realizar.

A qualidade das nossas relações está condicionada pela qualidade das relações que os outros tiveram connosco na primeira etapa da vida.

É por isso que o bem-amado está capacitado para amar bem, pois vive intimamente equilibrado.
Isto quer dizer que o bem-amada está mais possibilitado para se realizar como pessoa do que o mal-amado.

A pessoa comunica-se na medida em que se possui. Nessa mesma medida acolhe a comunicação do outro, aceitando-o e facilitando a sua comunicação.

É nesta interacção que a pessoa se vai estruturando e fazendo emergir o seu ser espiritual e capaz de reciprocidade amorosa.

A criança precisa tanto da ternura para se estruturar na sua afectividade como do pão para viver e crescer.

Daí a sua arte para cativar os adultos e obter a ternura fundamental para obter um crescimento psicológico equilibrado.

É através das relações com os outros que a pessoa vai sendo capaz de se possuir, de se conhecer em profundidade e ser capaz de gostar de si.

A pessoa não é capaz de gostar de si antes de alguém a ter valorizado e apreciado. Esta fome de realização e reconhecimento social que leva as pessoas a criar grupos, associações e outros espaços fundamentais para se conhecerem e realizarem.

À medida que a pessoa amadurece socialmente começa a ser capaz de sair de si, para ir ao encontro dos outros e descobrir as suas diferenças e qualidades.

Deste modo cresce em si o sentido da solidariedade, do trabalho em equipa, do companheirismo, da generosidade e a capacidade de ser dom para os demais.

II-CULTIVAR RELAÇÕES COM QUALIDADE

A construção da pessoa é tarefa que dura a vida toda e implica a dinâmica das relações. Só as relações interpessoais de cooperação e aceitação mútua são verdadeiramente humanizantes.

Vivemos num mundo onde se multiplicam enormemente as relações meramente funcionais:
De tipo comercial, marcadas pelo sentido da produção e do consumo.

Infelizmente, as relações de fraternidade não aumentam nesta mesma proporção. Eis a razão de tantos dramas de solidão que se manifestam através de comportamentos estranhos, tais como:
Pessoas a falar sozinhas nas ruas. Fugas no álcool ou na droga.

Fugas no sexo sem qualidade amorosa ou no atordoamento de espectáculos sem qualidade. Tudo isto quer dizer que vivemos uma crise de qualidade nas nossas relações.

A própria família tem enormes dificuldades para realizar a missão de espaço privilegiado para as relações e a comunhão amorosa.

É preocupante o aumento de casos de neuroses e depressões provocados pela solidão e a descompensação afectiva.

As crianças e os jovens não encontram modelos de doação generosa. Os jovens são impiedosamente empurrados para um mundo de concorrência feroz, acabando por truncar a sua capacidade de solidariedade.

Isto é preocupante, pois a pessoa leva consigo o estilo de relações que a modelou no início da sua estruturação pessoal.

Somos seres históricos. Todas as experiências e relações que nos estruturaram formam um entretecido que nos acompanha ao longo da vida.

Na verdade, começámos por ser o que os outros fizeram de nós. Isto quer dizer que a qualidade das relações e experiências primordiais nos possibilitam e condicionam ao longo da vida.
Ao mesmo tempo levam-nos a possibilitar ou condicionar os que se cruzaram connosco na vida.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


23 maio, 2010

FOME DE SER QUE SÓ O AMOR PREENCHE

I - CHAMADOS A RENASCER

Nascemos inacabados. Eis a razão pela qual levamos connosco uma fome imensa de plenitude.

São João diz que o nosso ser interior, por ser espiritual, não nasce dos impulsos da carne, mas da ternura do Espírito Santo (Jo 3, 3-6).

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações. Nascemos para entrar na dinâmica da humanização cuja lei é:

“Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal da Família de Deus.

A emergência pessoal acontece como fortalecimento espiritual e capacidade de interacção amorosa.

O Homem surgiu na História como fruto de uma marcha evolutiva.

Utilizando a imagem bíblica do barro, diríamos que a evolução é o processo do barro a ser moldado, a fim de surgir Adão.

No interior deste barro emerge o interior espiritual da pessoa como o pintainho emerge dentro do ovo.

A plenitude da vida espiritual acontecerá no dia em que o ovo eclodir, a fim de o pintainho nascer para a Comunhão Universal.

Estamos a emergir, pois somos seres em construção.

À medida que emergimos, vamos convergindo para a Família de Deus.


II - NASCEMOS TALHADOS PARA DEUS

Deus é amor, diz a Bíblia (1 Jo 4, 7). Isto significa que fomos criados pelo amor e para o amor.

São João diz que as pessoas que não amam não conhecem a Deus, pois Deus é amor (Jo 4, 16).

O nosso ser espiritual cresce e robustece-se em relações de amor. Renascer significa emergir como vida pessoal livre, consciente, responsável e capaz de amar.

É a este nível que o Homem é realmente imagem de Deus. Na verdade, a Divindade é pessoas e a Humanidade também.

A plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão. Por outras palavras, apenas na reciprocidade amorosa a pessoa encontra a sua plena identidade.

Por outras palavras, fechada em si, a pessoa está em estado de malogro: não se encontra nem se possui plenamente.

Pelo facto de serem pessoas, os seres humanos são proporcionais a Deus. O divino pode interagir com o humano em comunhão humano-divina.

E foi por esta razão que Deus, comunhão familiar de três pessoas, decidiu incorporar-nos a própria Família Divina.

Isto quer dizer que o divino se enxertou no humano para que este seja divinizado.

Graças a Jesus Cristo, já fazemos uma união orgânica com a comunhão familiar da Santíssima Trindade.

Somos seres com identidade histórica. Só podemos acontecer como pessoas na medida em que renascemos. Os seres humanos são o resultado de uma realização histórica.

Por outras palavras, para se dizer, a pessoa tem de contar uma história, pois a sua identidade é histórica.

Na Festa do Reino de Deus, todos dançaremos o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito que treinou enquanto esteve na História.

A nossa identidade física é constituída pelas nossas impressões digitais e pelo nosso ADN.

A nossa identidade espiritual, pelo contrário, é constituída pelo nosso jeito de amar e comungar pelos irmãos.

Por outras palavras, o nosso ser espiritual mede-se pela originalidade e densidade das nossas relações de amor.

Na verdade, que a pessoa humana não vale pelo que tem, mas sim pelo que é. À medida que se realiza, a pessoa emerge de modo único, original e irrepetível.

É por esta razão que na comunhão universal do Reino de Deus, ninguém está a mais.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


17 maio, 2010

CHAMADOS A VENCER O PECADO E A MORTE

Pecar é recusar-se a crescer como pessoa através de relações de amor e comunhão.

Só há pecado quando a pessoa tem a possibilidade de dizer sim ao amor e decide dizer não.
Quando peca, a pessoa diz não à sua realização pessoal e condiciona ou bloqueia a realização dos outros.

Por outras palavras, ao pecar, a pessoa inscreve ritmos negativos, isto é, forças de bloqueio no tecido social.

Face à realidade do pecado, a pessoa pode encontrar-se na situação de vítima, ou na situação de culpada.

Encontrar-se na situação de vítima significa que a pessoa sofre as consequências negativas do pecado sem dele ser culpada.

Quantos milhões de crianças, por exemplo, sofrem as terríveis consequências pecado sem dele serem culpadas.

Há pessoas que fazem o mal, mas que na realidade são vítimas do pecado e não pecadoras.

Estão neste caso as multidões de mal amados com distorções psíquicas e comportamentos compulsivos cuja origem está no facto de terem sido mal amados.

O evangelho dá provas de possuir uma grande sabedoria quando nos proíbe de julgar os outros.
Na verdade, nós não temos nas mãos a história das experiências dolorosas e traumatizantes das pessoas.

É verdade que os outros nos capacitam mas também nos condicionam nas possibilidades de amar e fazer o bem.

A lei do amor é esta: ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado e o mal amado ama mal, mesmo quando dá o melhor de si.

Do mesmo modo que o amor dos outros nos capacita para amar, as suas recusas de amor, condicionam-nos nas nossas possibilidades de amar.

Na verdade, a pessoa humana começa por ser o que os outros fizeram dela, mas o mais importante é o que ela faz com as possibilidades que recebeu.

O feixe primordial das possibilidades que e dos condicionamentos que nos marcaram formam o leque dos talentos que, logo à partida, fazem da pessoa um ser único, original e irrepetível.

Referindo-se à diversidade dos talentos, Jesus disse que há pessoas que recebem cinco, outras recebem dois, três ou um (cf. Mt 25, 14-30).
Por ser uma oposição ao amor, o pecado mata possíveis de realização tanto no pecador como nas pessoas que são vítimas do pecado.


O Livro do Génesis diz que o pecado de Adão deu como fruto imediato o fratricídio de Caim do qual resultou a morte do seu irmão Abel (Gn 4, 8-16).

Talhado por Deus para criar fraternidade através do amor, o Homem, ao pecar, inicia uma cadeia de fratricídios, opondo-se ao projecto da Família Universal de Deus.

São Paulo diz que Jesus Cristo é o Novo Adão. Tal como pelo pecado de Adão veio o fracasso da morte, a vitória da Vida Eterna veio por Jesus (1 Cor 15, 20-21; Rm 5, 17-19).

Para o pensamento bíblico, a Humanidade forma um todo orgânico da qual foi a sua primeira cabeça.

Quando a cabeça não tem juízo, quem paga é o corpo. Foi por esta razão que o pecado de Adão se difundiu de modo orgânico pelo tecido universal da Humanidade.

Por outras palavras, com o seu pecado, Adão introduziu a Humanidade inteira no caminho do fracasso e do malogro.

O Livro do Génesis diz que Deus expulsou o Adão pecador do Paraíso (Gn 3, 23-24). Foi esta a razão pela qual os seres humanos ficaram sem acesso ao Paraíso.

Jesus veio como o Novo Adão. No momento da sua morte e ressurreição, diz o evangelho de São Lucas, Jesus reabre as portas do Paraíso e a Humanidade entra com ele na plenitude da Vida Eterna.

Eis as palavras que Jesus dirige ao Bom Ladrão no momento da sua morte e ressurreição:

“Em verdade te digo: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

Por outras palavras, a ressurreição de Jesus significa a vitória sobre a infidelidade de Adão. No evangelho de São João, Jesus apresenta-se não só como aquele que nos introduziu no caminho que nos conduz a Deus, mas ele mesmo é o caminho:

“Jesus respondeu a Filipe:”Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai, senão por mim” (Jo 14, 6).

Este ensinamento de Jesus é muito importante, pois ensina-nos que é preciso estar unidos de modo orgânico a Jesus para chegarmos à comunhão com o Pai.

Com a sua infidelidade, Adão opôs-se ao plano de Deus, acabando por colocar a Humanidade no caminho da perdição.

Jesus Cristo, pelo contrário, realizou de modo perfeito a vontade do Pai, introduzindo-nos deste modo, no caminho da salvação:

“O meu alimento, diz Jesus no evangelho de São João, é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).

Depois acrescenta: “Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou” (Jo 5, 30).

A atitude de Jesus face a Deus é totalmente oposta à atitude de Adão. O relato do pecado de Adão ensina-nos que todos nós, ainda antes de sermos pecadores, já somos vítimas do pecado.

Isto quer dizer que a vocação básica do ser humano é a sua humanização mediante relações de amor, a fim de atingir a plenitude da comunhão com Deus.

A lei da humanização é esta: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a fraternidade e a comunhão universal”.

Para realizarmos esta meta podemos contar com a presença do Espírito Santo no nosso íntimo que é, como diz São Paulo, o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Sem amor o coração do ser humano fica árido como um tronco ressequido na vastidão do deserto.

Quando o amor não emerge no coração de uma pessoa, a fonte da alegria seca e o vigor da vida murcha.

Sem amor, a pessoa não se pode estruturar, pois ela foi talhada para o encontro e a comunhão.

O coração é o núcleo mais íntimo do nosso ser espiritual. É o ponto de encontro com Deus e os irmãos.

O nosso coração é o ponto de emergência do qual brotam as decisões que optimizam as nossas relações de amor.

Quando o coração do ser humano está vazio de amor, essa pessoa fica dominada pela solidão, o tormento de não poder possuir-se de modo perfeito, nem poder atingir uma realização plena.

Sem amor, o coração da pessoa é um espaço onde não habita a alegria do face a face e da reciprocidade.

Sem água, as plantas secam e os animais não podem viver. Assim acontece à pessoa que não tem amor no coração.

Com o coração vazio de amor, a pessoa está privada da força necessária para se construir na vida.

Com efeito, as nossas recusas de amor não só impedem a nossa estruturação pessoal, como bloqueiam a realização das pessoas que se cruzam connosco na vida.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


13 maio, 2010

CHAMADOS A REINAR COM CRISTO

Na Carta aos Romanos, São Paulo anuncia de maneira firme que Jesus Cristo é o descendente prometido a David, o qual realizou o de modo fiel e perfeito o plano messiânica sonhado por Deus:

“Ele é filho de David segundo a carne (Rm 1, 3). Depois acrescenta: “Foi constituído Filho de Deus, isto é, rei glorioso, no momento da sua ressurreição de entre os mortos (Rm 1,4-5).

É um rei que não se impõe pela força e em cujo reino apenas existe um mandamento, como Jesus declara no evangelho de São João:

“Dou-vos um mandamento novo:”Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” As pessoas saberão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 34-35).

Na verdade, o amor propõe-se, nunca se impõe. O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

A Primeira Carta de São Pedro diz a realeza de Jesus assenta sobre um povo de reis.

Por outras palavras, Por ser a Cabeça da Nova Humanidade, Jesus partilhou a sua realeza connosco, fazendo de nós membros do seu Corpo:

Eis as palavras de São Paulo a este propósito: “Vós sois o Corpo de Cristo e seus membros, cada um na parte que lhe toca” (Rm 12, 27).

E a Primeira Carta de São Pedro acrescenta: “Vós, porém, sois um povo escolhido, sacerdócio santo, povo de reis, povo reunido e adquirido, a fim de proclamardes as maravilhas do Deus que vos chamou das trevas para a sua luz admirável” (1 ped 2, 9).

O Reino de Cristo, portanto, é um povo de reis. É por esta razão que, neste reino só existe um mandamento:

“O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13).

Quando a poder de um reino assenta no amor, todos reinam, pois o amor é comunhão e partilha.

Antes de morrer, Jesus dizia que o Reino de Deus estava no meio das pessoas (Lc 17, 21).
Na verdade, durante a vida do Jesus histórico, o reino de Deus isto é, a união orgânica do humano com o divino estava a acontecer apenas no interior de Jesus.

Como o reino estava a emergir no interior de Jesus e ele vivia no meio das pessoas, ele afirmava que o Reino estava no meio daaspessoas.

Mas no momento da sua morte e ressurreição, Jesus passou para as coordenadas da equidistância e da interioridade, ficando mais interior a nós que nós próprios.

Ao ressuscitar, Jesus ficou unido de modo orgânico a toda a Humanidade, assumindo-nos no mistério da Família Divina.

A partir deste momento o reino de Deus ficou a habitar no nosso íntimo, do mesmo modo que antes da morte de Jesus só habitava no seu interior.

Com a ressurreição de Jesus o reino de Deus passou para a face interior do Universo. Com efeito, após a sua ressurreição, Jesus vem sempre a nós a partir de dentro e o Espírito Santo optimiza a nossa comunhão com ele no nosso coração, capacitando-nos, deste modo, para reinarmos com ele.

A multidão dos seres humanos que precederam Jesus na História ressuscitaram com ele no momento da sua ressurreição, como diz o evangelho de São Mateus (Mt 27, 52-53).

Do mesmo modo, todos os que viveram antes de nós na História já participam de modo pleno na comunhão Universal do Reino de Deus.

E nós, graças ao facto de estarmos unidos de modo orgânico a Cristo, já estamos unidos a eles. É este o mistério da Comunhão Universal dos Santos.

Por outras palavras, nós e os nossos seres queridos que já participam de modo pleno na face interior da comunhão dos Santos, estão muito próximos de nós, pois já não existe qualquer lonjura a este nível.

Os que habitam de modo definitivo com Cristo a morada de Deus, portanto, habitam a interioridade máxima do Universo.

Com efeito, a morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

Isto quer dizer que podemos comungar com as pessoas divinas e as humanas que já habitam a plenitude do Reino de Deus.

É exactamente este o sentido profundo da afirmação de Jesus segundo a qual o Reino de Deus está no nosso íntimo:

“Interrogado pelos fariseus sobre o momento em que chegaria o reino de Deus, Jesus respondeu-lhes: “A vinda do Reino de Deus não é observável.

Não se poderá dizer: “Ei-lo aqui ou acolá”, pois o Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17, 20-21).

Após a ressurreição de Cristo, o reino de Deus torna-se interior a tudo e a todos. Eis as palavras de São Paulo: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?

Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 16-17).

Na Carta aos Romanos, São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (cf. Rm 5, 5). Isto quer dizer que o mistério do amor e da comunhão universal já estão no nosso íntimo.

A Carta aos Gálatas diz que, com Cristo, chegou a plenitude dos tempos. Os tempos anteriores a Cristo foram os tempos da gestação.
Com a Encarnação começou a dinâmica do parto, dando origem ao nascimento dos filhos de Deus:

“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher sujeita ao domínio da Lei de Moisés, a fim de resgatar da servidão da Lei e lhes a adopção de Filhos de Deus.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que, nos nossos corações clama: “Abba, papá querido”.

Deste modo já não és escravo, mas filho. E se és filho és também herdeiro pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

Segundo a Carta aos Romanos, nós somos incorporados na Família de Deus como filhos e herdeiros em relação a Deus Pai e como irmãos e co-herdeiros em relação ao Filho de Deus” (Rm 8, 14-17). É isto que nos capacita para reinarmos com Cristo.

Eis as palavras de São na Carta aos Romanos: “De facto, todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes com medo. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção que faz de todos nós filhos de Deus e nos faz clamar “Abba”, isto é, Pai Querido!”

É o próprio Espírito Santo que, no nosso íntimo, dá testemunho de que somos realmente filhos de Deus.

Ora, se somos filhos, somos também herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus” (Rm 8, 14-17).

Os evangelhos gostam de apresentar o Reino de Deus em forma do grande banquete da Família de Deus.

Isto que dizer que o Reino de Deus é a festa universal do Amor. Nesta festa, todos dançam o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito que treinou enquanto viveu na terra.

É magnífico saber que estamos a edificar na História a nossa identidade espiritual e o nosso jeito de participar para sempre na festa do Reino de Deus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


08 maio, 2010

RENASCER É CONSTRUIR-SE PARA DEUS

Fomos criados para nos criarmos. O ser humano não age de modo consciente no parto através do qual nasce para a sociedade.

É verdade que não fomos os protagonistas do nosso primeiro nascimento, mas somos autores do nosso segundo nascimento em união com o Espírito Santo.

A dinâmica da humanização é, na verdade, o parto através do qual a pessoa vai renascendo, oferecendo a Deus a matéria-prima da divinização.

Por outras palavras, o ser humano será tanto mais divino quanto mais se humanizar. A humanização da pessoa acontece como emergência espiritual mediante relações de amor e convergência espiritual para a Comunhão Universal do Reino de Deus.

Apesar de o Espírito Santo ter um papel central nesta dinâmica da humanização, ele não nos substitui. De facto, Deus está connosco, mas nunca em nosso lugar.

A emergência espiritual acontece como robustez espiritual e capacidade de interagir de modo amoroso com Deus e os irmãos.

Deus não nos criou como seres acabados, a fim de podermos renascer como seres livres, conscientes, responsáveis e capazes de amar.


A matéria-prima de que dispomos para realizar este processo de renascer é o conjunto dos nossos talentos, isto é, as possibilidades de realização que recebemos dos outros.

Renascer é emergir e crescer como pessoas com uma interioridade espiritual, a qual constitui a nossa identidade espiritual.

É verdade que temos a nossa identidade física constituída pelas nossas impressões digitais e o nosso ADN.

Esta identidade não é resultado de uma decisão nossa, pois é resultado dos dons que recebemos dos outros.

Na verdade, começamos por ser o que os outros fizeram de nós. Não escolhemos nada à partida.

Mas para lá da nossa identidade física, temos também a nossa identidade espiritual que consiste no nosso jeito de amar e comungar com Deus e os irmãos.

A nossa identidade física acaba no cemitério. A nossa identidade espiritual, pelo contrário, é a veste nupcial com a qual participaremos para sempre no Reino de Deus.

Podemos dizer que, na festa do Reino de Deus, todos dançam o ritmo do amor, mas cada um com o jeito que foi adquirindo ao longo da sua realização histórica.

Com efeito, a pessoa humana é uma obra-prima feita de barro dentro da qual está a emergir e a robustecer-se outra obra-prima feita de espírito.

Isto quer dizer que o nosso ser espiritual está a emergir no nosso interior como o pintainho vai emergindo dentro do ovo.

Isto significa que nascemos para renascer. À medida que renascemos, emergimos e estruturamo-nos como pessoas únicas, originais, irrepetíveis e capazes de amar.
Somos seres que se vão realizando na história e a meta desta realização é a comunhão universal da Família de Deus.
Somo seres estruturalmente históricos. É por esta razão que as pessoas, para se dizerem, têm de contar uma história.


Nascemos com uma vocação básica, diz Jesus no evangelho de São João: renascer pelo Espírito Santo, a fim de atingirmos a Vida Eterna.

O que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito é espiritual. É por esta razão que temos de renascer pelo Espírito Santo (Jo 3, 6).

Nascemos talhados para amar. Deus capacitou-nos para realizar esta tarefa insuflando o hálito da vida no barro primordial do qual saiu Adão.

Depois, graças ao mistério da Encarnação, a Humanidade ficou unida de modo orgânico à própria divindade através de Jesus Cristo.

À medida que renascemos estamos a caminhar de modo seguro para a plenitude da Família de Deus: Filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus (cf. Gal 4, 4-7).

O Espírito Santo conduz este processo de humanização à plenitude da divinização. São Paulo diz que o Espírito Santo é o Amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Ele é o vínculo maternal de comunhão orgânica que nos une à Comunhão humano-divina do Reino de Deus.

Ele é a força pessoal que dinamiza e optimiza as nossas relações de amor com as pessoas divinas e as pessoas humanas.

Falando da necessidade que temos de renascer, Jesus diz que só podemos tomar parte no Reino de Deus se renascermos pelo Espírito Santo (Jo 3, 3-6).

Criada à imagem de Deus, a pessoa humana está talhada para o dom: Quanto mais se dá mais se possui.

Ao darmos as nossas coisas materiais ficamos sem elas. Com a vida espiritual acontece o contrário: quanto mais nos damos, mais nos possuímos.

Através do amor e do dom de si, a pessoa está chamada a fazer da sua vida uma obra-prima de humanidade.

O Espírito Santo transforma os nossos corações optimizando a nossa capacidade de amar e fazer o bem, a fim de podermos entrar na plenitude das relações do Reino de Deus habitando para sempre nas coordenadas da Comunhão Universal.

A morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas que constitui a interioridade máxima do Universo, mas sem se confundir com ele.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


02 maio, 2010

O SOFRIMENTO HUMANO À LUZ DE CRISTO

Jesus declara aos mensageiros enviados por João Baptista que a vontade de Deus é a libertação total das pessoas:

“Os coxos andam, os cegos vêem, os leprosos são curados, os surdos ouvem e os mortos ressuscitam (Mt 11, 4-5).

Jesus veio inaugurar o Reino de Deus em cuja plenitude não terá lugar o sofrimento, a morte, a dor, a tristeza ou a solidão.

No Reino de Deus, o sofrimento e a morte serão totalmente banidos. (Apc, 3-4; Heb 2, 43, 3).

O Antigo Testamento via a questão do sofrimento segundo o esquema: pecado-castigo, justiça-felicidade.

Marcados por esta visão antiga, os discípulos perguntam a Jesus a propósito do cego de nascença:

“Quem pecou ele ou o pai dele?”. (Jo 9, 2). Nem ele nem o pai. As situações de sofrimento são um apelo de Deus a solidarizarmo-nos e comprometermo-nos com os que sofrem (Jo 9, 3-7).


Deus não é o autor do sofrimento. Existe um sofrimento que deriva do próprio facto de a pessoa humana estar em processo de realização.

Mas este sofrimento é tolerável e vantajoso. É o sofrimento dos partos mediante os quais nasce o Homem Novo.

Há também um sofrimento que resulta das limitações da natureza, a qual é frágil e inacabada.

Também este sofrimento é tolerável quando vivido numa dinâmica de solidariedade e partilha.

Mas existe um sofrimento que é intolerável e chocante para a razão humana: Pessoas oprimidas. Crianças maltratadas. Seres humanos a morrer de fome perante a indiferença de povos que vivem esbanjando.

Há tantas fronteiras criadas para impedir a circulação dos bens que esta Terra generosa e fecunda produz para todos.

Seres humanos que asfixiam de solidão. Pessoas idosas abandonadas e sós. Pobres explorados. Sistemas sociais alicerçados na injustiça, marginalizando pessoas.

Doenças provocadas pelo egoísmo humano que está a destruir a natureza. Guerras monstruosas que destroem pessoas e cidades, desencadeadas devido ao egoísmo de meia dúzia de indivíduos desumanos.

Seres humanos privados da sua dignidade e reduzidos a objectos de compra, venda ou meros objectos de prazer sexual.

Além destas, há muitas outras situações de sofrimento intolerável e revoltante. Este sofrimento é obra do egoísmo e das nossas recusas de amor.

Deus vai suscitando profetas que denunciam estas situações de sofrimento e convidam os homens a caminhar segundo o plano de Deus:

Os cristãos estão chamados a ser no mundo uma consciência teologal. A nossa vocação é ler os acontecimentos com os olhos da revelação de Deus, actuando de acordo com os critérios de Jesus.

Deus chama-nos a luta contra o sofrimento dos doentes, dos nus, dos presos, dos doentes e dos oprimidos.
Seremos julgados pelos nossos compromissos neste sentido, diz Jesus no texto do juízo final de São Mateus (Mt 25, 31-46).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

28 abril, 2010

A NOVA ALIANÇA E A SABEDORIA DE DEUS

Pai Santo

Ainda o Universo não existia e tu já tinhas nos teus planos criar o Homem e relacionar-te com ele em jeito de Aliança de Amor Eterno.

De facto, a Nova e Eterna Aliança já estava presente como pano de Fundo ao teu plano Criador.
Tu estiveste sempre presente à génese da Criação a partir de dentro.

A Nova e eterna Aliança é expressão do teu jeito dinâmico de estar presente à Criação, sobretudo ao Homem que tu quiseste criar à tua imagem e semelhança (Gn 1, 26-27).

Tu és o Deus connosco. A tua casa é o coração do Universo em gestação. Com efeito, a tua morada é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

Isto significa que nunca estás longe dessa obra-prima que é a tua Criação em marcha. Na verdade, tu não vieste cá abaixo para iniciar a génese criadora do Universo, retirando-te em seguida para uma transcendência longínqua e fora do Universo.

Pai Santo,

Tu relacionas-te com a Criação a partir de dentro, dinamizando o enorme feixe de interacções que constitui o processo criador, fazendo que a Criação avance na direcção da sua meta.

Com efeito, a Criação é um processo dinâmico ainda não acabado. A Nova e Eterna Aliança não é mais que a qualidade que tu, Pai, Santo, quiseste conferir às relações com o Homem, a cabeça da Nova Criação.

A essência da Nova e Eterna Aliança é uma comunhão amorosa cujo princípio dinamizador é o Espírito Santo.
Eis o modo como a Carta aos Efésios descreve a tua maneira de interagir de modo permanente com o Homem:

“Deus escolheu-nos em Cristo antes da fundação do mundo, a fim de sermos santos e irrepreensíveis na sua presença e vivermos no amor.

Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com a sua eterna vontade” (Ef 1, 4-5).

Depois diz que este plano esteve oculto durante milénios, mas foi dado a conhecer ao Homem na plenitude dos tempos. Eis as palavras de São Paulo:

“Agora podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo Jesus. Este mistério não foi dado a conhecer ao Homem nas gerações passadas, como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus Apóstolos e Profetas ” (Ef 3, 4-5).

Trindade Santa:

Como Deus da Aliança, Vós sois um Deus fiel e verdadeiro. A Nova Aliança representa a plenitude de um projecto sonhado ainda antes de terdes iniciado a marcha da Criação.

A Antiga Aliança foi um passo importante para o Espírito Santo nos conduzir até Jesus Cristo.
Mas o vosso plano criador tinha como meta não a Antiga, mas a Nova e Eterna Aliança.

Podemos dizer que a Antiga Aliança foi um passo da acção pedagógica do Espírito Santo para conduzir a Humanidade à plenitude dos tempos, isto é, ao fim do tempo da gestação, dando início ao parto que origina o nascimento dos filhos de Deus, como diz a Carta aos Gálatas (cf. Gal 4, 4-7).

E a Carta aos Efésios acrescenta: “Com efeito, Cristo é a nossa paz. De dois povos fez um só, anulando o muro da separação, isto é, a Lei de Moisés com as suas normas e preceitos, a fim de criar um só Homem Novo com judeus e pagãos.

Os pagãos, portanto, já não são estrangeiros nem imigrantes na casa de Deus, mas concidadãos dos santos e membros da Família de Deus” (Ef 2, 14.19).

A Carta aos Gálatas diz que a Antiga Aliança estava em função da Nova e Eterna Aliança:

“Antes de chegar a plenitude da fé estávamos prisioneiros da Lei de Mosés:
A Lei tornou-se o pedagogo que nos conduziu até Cristo, a fim de sermos justificados pela fé.

Como sois filhos de Deus, já não estais sob o domínio do pedagogo (…). Já não há judeu ou grego. Não há escravo ou homem livre. Não há homem ou mulher, pois todos vós sois um só, graças à vossa união a Cristo Jesus” (Gal 3, 23-29).

A antiga Aliança tinha como alicerce a Lei de Moisés, a qual se multiplicava em normas, preceitos, ritos e mandamentos que não tinham qualquer eficácia para alcançar a salvação.

A Nova Aliança, pelo contrário, tem como alicerce o dom do Espírito Santo que realiza em nós a obra da salvação, como diz a Carta aos Romanos:

“Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8, 14).

Os que vivem a dinâmica da Nova Aliança são conduzidos pelo Espírito Santo e ficam enriquecidos com os seus frutos.

Eis alguns dos frutos do Espírito Santo enumerados por São Paulo na Carta aos Gálatas: “E os frutos do Espírito Santo são: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e auto-domínio. Contra tais coisas não há Lei” (Gal 5, 22).

Isto significa que a Nova Aliança não é uma simples continuidade em relação à Antiga, tal como Cristo não está apenas numa linha de continuidade em relação a Moisés.

De facto, a divinização do Homem realizada pela Encarnação, não está numa linha de simples continuidade em relação à libertação dos hebreus da escravidão do Egipto.

Na verdade, entre estes dois acontecimentos existe uma diferença qualitativa. A libertação realizada pela Nova e Eterna Aliança tem o alcance de uma salvação definitiva, a qual implica a assunção e incorporação da humanidade na Família da Santíssima Trindade (Jo 1, 12-14).

Deus planeou a salvação da Humanidade, diz a Carta aos Efésios, ainda antes da criação do Mundo (Ef 1, 4).

O Reino que havemos de herdar com Cristo ressuscitado foi preparado para nós, diz o evangelho de São Mateus, desde a Criação do mundo (Mt 25, 34).

A Segunda Carta a Timóteo diz que o plano salvador que Deus sonhou para nós foi concebido desde os tempos primordiais (2 Tim 1, 8-9).

Este plano não chegou até nós graças à bondade de Deus que no-lo revelou por Jesus Cristo. Eis o que São Lucas diz a este propósito:

“Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: "Eu te bendigo ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos.

Sim, Pai, de facto foi este o teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.

Voltando-se depois para os discípulos disse-lhes: “Felizes os olhos que vêem o que estais a ver.
De facto, digo-vos que muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!” (Lc 10, 21-24).

A Carta aos Hebreus diz que Deus, ao falar de uma Nova Aliança declarou ultrapassada a Antiga.
O que se torna ultrapassado está prestes a desaparecer, assim acontece com a Antiga Aliança (cf. Heb 8, 13).

O Livro do Profeta Ezequiel promete ao povo uma Nova aliança, a qual será mais perfeita do que a Antiga:

“Lembrar-me-ei da Aliança que fiz contigo, no tempo da tua juventude e estabelecerei contigo uma aliança Eterna (…).
Estabelecerei contigo a minha Aliança Eterna e tu ficarás a saber que eu sou o Senhor” (Ez 16, 60-63).

Segundo o profeta Jeremias, a Nova Aliança assenta em novos alicerces, pois terá como fundamento um coração renovado pela acção do Espírito Santo:

“Dias virão em que estabelecerei uma Nova Aliança com a casa de Israel e a casa de Judá, oráculo do Senhor.

Não será como a Aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para os fazer sair da terra do Egipto.

Apesar de eu os ter livrado da opressão, eles esqueceram-me e não cumpriram a Aliança que fiz com eles, oráculo do Senhor.

Esta será a Aliança que estabelecerei com a casa de Israel, depois desses dias, oráculo do Senhor:

Imprimirei a minha Lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração: Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” (Jer 31, 31-33).

A Nova Aliança, ao contrário da Antiga, não será escrita em tábuas de pedra, mas é escrita no coração das pessoas pelo Espírito Santo que nos foi dado, diz São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios:

“A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos vossos corações, conhecida e lida por todos os homens.

Na verdade, vós sois uma carta de Cristo confiada ao nosso ministério. Foi escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo.

Escrita, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações (…).

Na verdade, é Deus que nos torna aptos para sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito, pois a letra mata, enquanto o Espírito dá vida” (2 Cor 3, 2-6).

E na Carta aos Romanos São Paulo acrescenta que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


24 abril, 2010

ESPÍRITO SANTO E OS OPERÁRIOS DO REINO

O Novo Testamento garante aos evangelizadores que a sua missão terá o mesmo sucesso da missão de Jesus, pois o Espírito que fortalecia Jesus é o mesmo que fortalece e capacita os seguidores do Senhor:

“No decurso de uma refeição que partilhava com os discípulos, Jesus ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem lá o prometido do Pai, do qual Jesus lhes falou por várias ocasiões.

João baptizava em água, mas vós sereis baptizados no Espírito Santo, disse-lhes Jesus” (Act 1, 4-5).

Podem estar seguros, pois o Espírito Santo será o guia e o mestre deles na tarefa da evangelização:

“Mas o Paráclito, o Espírito que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo e há-de recordar-vos tudo o que eu disse” (Jo 14, 16).

São Paulo diz que os evangelizadores são ministros da Nova Aliança, capacitados pelo Espírito Santo para o serviço do Evangelho:

“Não é que sejamos capazes de realizar algo como coisa vinda de nós. A nossa capacidade vem de Deus, pois é ele que nos torna aptos para sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito, porque a letra mata, mas o Espírito dá vida” (2 Cor 3, 6).

O trabalho evangelizador do Apóstolo será tanto mais eficaz quanto mais este acolher no seu coração a novidade da Palavra e do Espírito Santo.

O Apóstolo é uma mediação da qual Deus precisa, mas o protagonista da evangelização é o Espírito Santo.

A eficácia da evangelização não depende do Apóstolo. A sua missão é pôr Deus a falar, tornando-se o servidor da Palavra.

Tomando São Paulo como modelo, podíamos dizer que o evangelizador deve agir como se tudo dependesse dele, sabendo, no entanto, que o fundamental é obra de Deus.

Eis o testemunho da Primeira Carta aos Coríntios: “Mas quem é Apolo? Quem é Paulo? Simples servos por cujo intermédio abraçastes a fé.

Na verdade cada um de nós actua segundo a capacidade que Deus nos concedeu: Eu plantei. Apolo regou. Mas foi Deus quem deu o crescimento.
Isto quer dizer que nem o que planta nem o que rega é alguma coisa por si, pois só Deus é capaz de fazer crescer.

O que planta e o que rega formam uma união em Cristo e cada qual receberá o prémio do seu trabalho.

Nós somos, de facto, cooperadores de Deus e vós sois o campo de cultivo do Senhor” (1 Cor 3, 5-9).

Jesus tomou muito a sério a sua condição de consagrado pelo Espírito Santo. Eis as suas palavras no evangelho de São Lucas:

“Jesus veio a Nazaré onde se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler.

Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito:

“O Espírito do Senhor está sobre mim porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista. Enviou-me a libertar os oprimidos e a proclamar o ano da graça” (Lc 4, 18-19).

A fecundidade da nossa acção evangelizadora vem-nos do facto de estarmos unidos de modo orgânico a Jesus, diz o evangelho de São João:

“Permanecei em mim que eu permaneço em vós. Tal como o ramo da videira não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira. Vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

São Paulo não tinha quaisquer dúvidas de que o Espírito Santo nos dá os dons necessários para realizarmos a nossa missão de evangelizadores:

“Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de serviços, mas é o mesmo Senhor.

Há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum (1 Cor 12, 4-7).

O evangelizador deve ser uma pessoa humilde e reconhecer que os frutos da sua missão têm como origem a acção de Cristo ressuscitado.

Por outras palavras, a nossa acção evangelizadora é uma continuação da missão de Jesus Cristo.

O Apóstolo bem formado sabe que não leva Cristo às pessoas. Quando ele chega ao campo de missão, o Espírito Santo já lá está disposto a actuar pela mediação do mesmo Apóstolo.

Na verdade, o Senhor ressuscitado precede o apóstolo, mas temos de estar cientes de o Senhor precisa de mediações para realizar a obra do Evangelho.

É isto que São Paulo quer dizer quando afirma que nós somos o Corpo de Cristo, isto é, mediações de encontro de Cristo com o mundo:

“Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada qual na parte que lhe toca” (1 Cor 12, 27). O corpo de Cristo ressuscitado é espiritual, não físico, diz São Paulo.
É por esta razão que Jesus se une a nós de modo orgânico, a fim de comunicar com o mundo através de nós:

“Mas perguntam alguns: como ressuscitam os mortos? Com que corpo ressurgem? Insensatos! O que semeais não volta à vida se primeiro não morrer.

E o que semeais não é o corpo que há-de vir, mas um simples grão de trigo, por exemplo, ou de qualquer outra espécie.

É Deus que lhe dá o corpo, pois ele dá a cada semente o corpo que lhe corresponde (…). Assim também acontece com a ressurreição dos mortos:
semeado corruptível, ressuscita como corpo incorruptível. Semeado na desonra, ressuscita glorioso.

Semeado na fraqueza ressuscita cheio de força. Semeado corpo físico, ressuscita corpo espiritual.
Na verdade há corpos terrenos e corpos espirituais” (1 Cor 15, 35-44).

O raciocínio de São Paulo é o seguinte: como o corpo do Senhor ressuscitado é espiritual, ele precisa da mediação de um corpo físico para se encontrar com as pessoas.

É por esta razão que o Senhor se une de modo orgânica às comunidades cristãs, fazendo delas o seu corpo.

Evangelizar é, pois, ser mediação de encontro de Cristo com o mundo. É, também, pôr Cristo a falar para os homens de hoje.

É esta a maneira de os cristãos viverem o baptismo no Espírito que é a dimensão pentecostal da vida cristã.

Perante esta verdade importante, o evangelizador tem de ser uma pessoa humilde. Como Jesus disse aos discípulos, a grandeza e a autoridade do Apóstolo radica no serviço aos irmãos:

“Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: sabeis que os chefes das nações as governam como senhores e que os poderosos exercem sobre elas o seu poder.

Entre vós não deve ser assim. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo.

O Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela Humanidade” (Mt 20, 25-28).

Os evangelizadores têm qualidades diferentes. Ao consagrar estas qualidades para a missão, o Espírito Santo faz que elas se tornem carismas, isto é, dons em favor de todos.

Deste modo, como diz São Paulo, Deus torna fecunda a vida dos cristãos, servindo o Evangelho e fazendo que a acção de cada um seja incorporada de modo harmonioso na vida e no serviço evangelizador da comunidade (1 Cor 3, 5-9).

O Espírito Santo conduz e ilumina os evangelizadores de modo a que estes compreendam que o sucesso da sua missão está na cooperação e não na competição (1 Cor 3, 5-9).

Por outras palavras, o Espírito Santo conduz os apóstolos a trabalhar em comunhão com Cristo e os irmãos, a fim de a sua missão ser eficaz.

Através do evangelizador, o Espírito Santo ajuda as pessoas a saborear a Verdade de Deus e do Homem na sua profundidade máxima, ajudando-as a sentirem-se pessoas livres e felizes.

Na verdade, as pessoas que nada fazem para sair do erro, da mentira e da ignorância nunca chegarão ser pessoas profundamente livres.

No evangelho de São João, Jesus diz que o Espírito Santo possui a Verdade Plena e quer conduzir-nos para ela (Jo 16, 13).

A Carta aos Gálatas diz que o Espírito Santo é o Espírito da Verdade é também o Espírito da liberdade (Gal 5, 1-2).

A verdade é a compreensão e enunciação correcta e adequada da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

Quanto mais crescermos Verdade, mais capacitados estamos para avançar no processo da nossa humanização e facilitar aos irmãos o seu crescimento humano.

Na véspera da sua morte, Jesus disse aos discípulos que depois de ressuscitar lhes ia enviar o Espírito Santo, a fim de nos conduzir à Verdade Plena (Jo 16, 13).

Uma vez que a verdade tem como horizonte a compreensão e enunciação correcta e adequada da realidade de Deus, do Homem e da História, só Deus a pode possuir em plenitude.

É por esta razão que só o Espírito Santo nos pode conduzir com segurança à Plenitude da Verdade.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


19 abril, 2010

A VIDA E A MORTE À LUZ DA FÉ CRISTÃ

À luz da ressurreição de Cristo o acto de morrer é a derradeira possibilidade de renascer para a plenitude do Reino de Deus.

A própria consciência da morte estimula o ser humano a aprofundar o sentido da vida.

Os animais não sabem que um dia hão-de morrer e por isso não sentem necessidade de criar sentidos para viver, pois o sentido da vida e da morte caminham a passo igual.

É por esta razão que, normalmente, o sentido mais profundo da vida emerge na fase terminal, quando a pessoa vê com clareza que o amor é a grande razão que vale para viver e morrer.

Jesus ensinou que amar até à morte é atingir a densidade máxima da vida.

Felizes as pessoas que sabem gastar a vida pelas causas do amor, mesmo que essa opção faça com que a morte chegue mais cedo.

Na verdade, sempre que temos a coragem de gastar a vida pelas causas do amor vamos morrendo ao homem velho que há em nós.

O homem velho tenta poupar a vida a qualquer preço, mesmo que seja a rotura com o amor.
Jesus disse que as pessoas que passam a existência a poupar a vida perdem-na.

A ideia da morte surge ao homem velho como uma tragédia sem saída.

à luz dos ensinamentos de Jesus, pelo contrário, morrer para dar vida é a maneira mais perfeita de viver disse Jesus.

Isto quer dizer que o Homem Novo não pode nascer sem que o velho vá morrendo.

No evangelho de São João, Jesus diz que as pessoas nasceram para renascer (Jo 3,3-6).

A Vida Nova não nasce sem que a velha se vá gastando pelas causas do amor.

Há seres humanos que vão nascendo todos os dias para a plenitude da vida, pois sabem morrer às forças que, em nós, bloqueiam o amor.

Olhada com este sentido, a morte apresenta-se como o último parto para a pessoa renascer de modo definitivo para a Vida Eterna.

À luz da fé cristã a certeza da nossa morte é o convite a criar sentidos válidos para que a vida não seja um fracasso.

Por ter uma interioridade espiritual, o ser humano não cai sob a alçada da morte, nem caminha para o vazio do nada.

A nossa fé diz-nos que é pelo acontecimento da morte que a pessoa entra de modo pleno e definitivo na festa da comunhão universal.

O acontecimento da ressurreição de Jesus Cristo garante-nos que a pessoa humana entra na plenitude da Vida no próprio acto de morrer.

Isto quer dizer que a razão fundamental da nossa existência não é somente prolongar o mais possível a vida mortal, mas construir a vida eterna.

Podemos dizer que no interior da nossa vida mortal a vida imortal emerge como o pintainho dentro do ovo.

Felizes são as pessoas que sabem ocupar a vida presente para construir a vida futura.

Para estas pessoas, a morte surge como a condição indispensável para atingir a sua glorificação com Cristo Ressuscitado.

Foi esta a razão pela qual o Filho de Deus se fez nosso irmão, a fim de nós sermos membros da família divina.

A sabedoria universal da Humanidade diz que a morte não mata a totalidade da pessoa humana, pois esta é imortal no seu ser espiritual.

A Boa Nova da ressurreição de Jesus Cristo confere aos crentes a certeza de que a sua vitória sobre a morte é também uma vitória para nós.

Servindo-nos do relato do Livro do Génesis sobre o Paraíso primordial, podemos dizer que Jesus ressuscitado é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo (Gn 3, 22-23).

São Paulo diz que Jesus é o Novo Adão que veio restaurar as distorções operadas em nós pelo primeiro Adão, vencendo até a nossa morte (Rm 5, 17-19).

Por outras palavras, ao ressuscitar, Jesus colocou de novo o fruto da Vida Eterna ao nosso alcance!
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias