26 dezembro, 2009

JESUS E A VIDA NOVA DO ESPÍRITO

Senhor Jesus Ressuscitado,
Falando com a Samaritana tu disseste que tinhas uma Água Viva Vida capaz de fazer brotar no nosso íntimo uma nascente de Vida Eterna (Jo 4,14).

Numa outra passagem do evangelho de São João, tu explicitas melhor o teu pensamento sobre a Água viva, dizendo que se trata do Espírito Santo que tu virias a difundir pela Humanidade após a tua ressurreição (Jo 7, 37-39).

A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).
Quando São Paulo fez esta afirmação, tu já tinhas ressuscitado Senhor Jesus. Isto quer dizer que ele já vivia a experiência da Nova Aliança cuja força animadora é o Espírito Santo, o qual actua no nosso íntimo capacitando-nos para construirmos a comunhão humana universal.

O evangelho de São João diz que pelo mistério da Encarnação, do Filho de Deus deu-nos o poder de nos tornarmos também filhos de Deus (Jo 1,12-14).

Este plano salvador, possibilitado pela Encarnação, concretizou-se pela ressurreição. Eis o que São Paulo diz a propósito da comunicação do Espírito Santo e fraternidade universal:

“Todos nós fomos baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo. Tanto os judeus como os gregos, os escravos ou os homens livres, bebem todos do mesmo Espírito” (1 Cor 12, 13).

O evangelho de São João diz que o pão que comemos na Eucaristia é a carne de Cristo ressuscitado, isto é, o Espírito Santo, que alimenta em nós a vida divina (Jo 6, 62-63).

Espírito Santo,
Nós te louvamos por seres o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5). És tu que, com teu jeito maternal de amar, nos geras para a vida Eterna, fazendo de nós membros da Família de Deus e nos levas a exclamar “Abba”, Pai querido (Gal 4, 4-7).

Pai Santo,
O jeito de amar do teu Filho é em tudo semelhante ao teu. Ver o seu modo de acolher os pobres e perdoar aos pecadores é ver o teu jeito de nos acolher e salvar.

Jesus exclamou a sua plena sintonia contigo, Pai Santo, quando disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).

Noutra passagem do evangelho de São João, Jesus disse: “ Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).
Trindade Santa,
Nós vos agradecemos, pois Jesus de Nazaré, homem em tudo igual a nós, menos no pecado, exprimia em grandeza humana o vosso amor por nós.

Por ser homem como nós, Jesus construiu uma história que pode ser resumida deste modo:
Nasceu na Palestina e a sua paixão era levar por diante o plano salvador de Deus.

Amava a simplicidade das crianças e defendia com coragem os que não eram capazes de se defender.

Deixava mais felizes as pessoas que tinham a sorte de o encontrar. Como não tinha pretensões ser rico ou poderoso, partilhava com os outros a sua vida e os bens.

Amava a todos, mas preferia acompanhar com os mais pobres. Nunca foi cobarde, pois habitava nele a força do Espírito Santo.

Inaugurou o baptismo no Espírito, a fim de renovar o coração das pessoas, capacitando-as a passar do egoísmo para o amor fraterno.

Por ser leal e amar sem fingimento, Deus confiou-lhe uma missão em favor de todos os seres humanos.

Como era generoso e puro de coração, foi fiel até ao fim. Levou o amor à sua profundidade máxima, isto é, dar a vida por aqueles a quem se ama.

Como se deu inteiramente pela causa da nossa salvação, agora vive em todos nós. Um dia ele disse que a união que o liga a nós de tipo orgânico, tal como é orgânica a união que existe entre cepa da videira e os seus ramos (Jo 15, 4-6).
As forças velhas do egoísmo mataram-no. Mas tu, Pai Santo, restauraste a sua vida, fazendo dele o alicerce da Nova Humanidade.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


21 dezembro, 2009

CHAMADOS A REINAR COM CRISTO

A realeza de Jesus Cristo assenta no facto de ele ser a Cabeça da Nova Humanidade reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19).

São Paulo dizia Jesus Cristo é o descendente que Deus prometeu a David: “Ele é filho de David segundo a carne (Rm 1, 3).

Mas foi constituído Filho de Deus, isto é, rei glorioso no momento da sua ressurreição de entre os mortos (Rm 1,4-5).

É um rei que nunca se impõe pela força e em cujo reino apenas existe uma Lei:
“Dou-vos um mandamento novo:”Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei.” As pessoas saberão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 34-35).

Isto quer dizer que o poder de Jesus é o poder do amor. Por outras palavras, Jesus só aceita reinar se reinar connosco.

Na verdade o amor propõe-se, mas nunca se impõe. O amor é uma dinâmica de bem-querer que tende para a comunhão e a partilha total.

Por isso Jesus partilhou a sua realeza connosco, como diz a Primeira Carta como diz a Primeira Carta de São Pedro:

“Vós, porém, sois um povo escolhido, sacerdócio santo, povo de reis, povo reunido e adquirido, a fim de proclamardes as maravilhas do Deus que vos chamou das trevas para a sua luz admirável” (1 ped 2, 9).


Por isso o seu reino tem apenas um mandamento. Eis as palavras de Jesus:
“O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13).

Quando a força de um reino é o amor, todos reinam, pois o amor é comunhão e partilha.
Antes de morrer, Jesus dizia que o Reino de Deus estava no meio das pessoas (Lc 17, 21).
De facto, enquanto Jesus viveu na terra, o Reino de Deus ou seja, a comunhão orgânica do humano com o divino estava a emergir apenas no interior de Jesus.

Como Jesus vivia no meio dos homens, o Reino que estava a emergir no seu interior, estava realmente no meio das pessoas.

Mas no momento da sua morte e ressurreição, Jesus passou para as coordenadas da interioridade máxima e da equidistância ficando mais interior a nós que nós próprios.

Deste modo, ao ressuscitar, Jesus uniu-nos de modo orgânico ao mistério da Santíssima Trindade.
A partir desse momento, o Reino de Deus passa a emergir no nosso íntimo como antes emergia no interior de Jesus.

Por outras palavras, com a ressurreição de Jesus o Reino de Deus passou para a interior máxima do Universo que é a morada de Deus.Com efeito, a morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias





14 dezembro, 2009

JESUS CRISTO COMO NOVO ADÃO

Assim como todos morrem em Adão, diz São Paulo, do mesmo modo todos ressuscitam em Cristo, o Novo Adão, (1 Cor 15, 20-21; Rm 5, 17-19).

O Livro do Génesis diz que Adão, depois do pecado, foi expulso do Paraíso no qual estava a Árvore da Vida.

A importância dessa Árvore consistia no facto de o seu fruto proporcionar a vida eterna às pessoas que comessem do seu fruto.

A Árvore da Vida significa que Deus não nos criou para a morte. A morte veio porque Adão, com o seu pecado, impediu o Homem de ter acesso à Árvore da Vida.

Ao ser expulso do Paraíso, Adão ficou impedido de comer o fruto da Árvore da Vida (Gn 3, 23).
Como cabeça da Humanidade, Adão fazia um todo orgânico, interactivo e dinâmico com todos os seres humanos.

Jesus Cristo, diz São Paulo, surge na marcha da História da Humanidade como o Novo Adão.
Assim como todos morrem em Adão, do mesmo modo todos ressuscitam, graças ao Novo Adão (Rm 5, 17-19).

No momento de morrer e ressuscitar, Jesus abriu de novo as portas do Paraíso, como ele mesmo disse ao Bom Ladrão: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

Deste modo, Jesus desfaz o laço da morte no qual Adão se tinha enlaçado com toda a Humanidade.

Além disso, Jesus revela-se também a Árvore da Vida, pois é ele que nos dá o Espírito Santo que é o princípio ressuscitador e, portanto, o fruto da Vida Eterna.

Eis o ensinamento de Jesus a propósito da Eucaristia: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia (…).
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, fica a morar em mim e eu nele” (Jo 6, 54-56).
À luz do evangelho de São João, o fruto da Árvore da Vida é o Espírito Santo.

Ele é, acrescenta Jesus, a Água Viva que faz brotar no nosso coração uma fonte inesgotável de Vida Eterna (Jo 7, 37-39).

Por outras palavras, o Espírito Santo é a dinâmica da salvação que emana de Cristo ressuscitado. Ele é o fruto da Vida Eterna que o Novo Adão nos proporciona.

São Paulo realça com muita ênfase a diferença entre o Velho Adão e o Homem Novo, Jesus Cristo, o Novo Adão:

“Se alguém está em Cristo é um Nova Criação. Passou o quer era velho. Eis que tudo se fez novo.
Tudo isto nos vem de Deus que nos reconciliou consigo em Cristo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 17-19.

A Primeira Carta aos Coríntios diz que o primeiro Adão era um ser vivente, graças ao hálito da vida que Deus lhe comunicou no princípio (cf. Gn 2, 7).

O Novo Adão, pelo contrário, tornou-se um Espírito vivificante, pois ao ressuscitar difundiu para nós a força ressuscitadora do Espírito Santo, faz de nós uma Nova Humanidade (1 Cor 15, 42-45).

O Espírito Santo é o sangue vivificante de Deus que alimenta e dinamiza a união orgânica que nos liga ao Pai e ao Filho (Rm 8, 14-16).

Eis as palavras da Segunda Carta aos Coríntios: ainda que o nosso corpo, com os anos, se vá gastando e envelhecendo, a nossa interioridade espiritual vai-se tornando cada mais robusto pela acção do Espírito Santo (2 Cor 4, 16).

O primeiro Adão conduziu-nos para o caminho do fracasso universal. O Novo Adão guiou-nos para o caminho da comunhão com Deus, obtendo o perdão do nosso pecado e a nossa reconciliação com Deus (2 Cor 5, 19-21).

São Paulo diz que estamos organicamente unidos ao Novo Adão, pois somos membros do seu corpo (1 Cor 12, 27).

Eis a imagem bonita que o evangelho de São João põe na boca de Jesus para exemplificar a nossa união orgânica com Cristo:


“Permanecei em mim, que eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim.


Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, esse dá muito fruto” (Jo 15, 4-5).
O evangelho de São João diz que a Eucaristia é a proclamação da união orgânica que nos liga a Cristo:


“Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, do mesmo modo o que me come viverá por mim” (Jo 6, 57).


É este o fruto da Árvore da Vida que nos vem por Cristo ressuscitado. Ele é o Novo Adão.
O velho Adão, devido ao seu pecado, foi causa de morte para nós (Gn 3, 22).

Eis algumas alegorias do Livro do Apocalipse, as quais simbolizam Jesus como a Árvore da Vida:

“ No meio da Praça da Cidade, junto às margens do rio, está a Árvore da Vida, a qual produz doze colheitas de frutos: em cada mês o seu fruto.


As folhas da Árvore servem de medicamento para todas as nações” (Apc 22, 2). Noutra passagem, o Livro do Apocalipse contempla a multidão dos eleitos a receber de Deus o fruto da Árvore da Vida, o qual lhes proporciona a Vida Eterna:


“Ao vencedor dar-lhe-ei a comer o fruto da Árvore da Vida que está no Paraíso” (Apc 2, 7). Fala ainda dos que mantiveram as vestes limpas, isto é, aqueles que mantiveram o amor no seu coração:

“Felizes os que lavam as suas vestes para ter acesso à Árvore da Vida” (Apc 22, 14).

A Primeira Carta de São João diz que os eleitos conhecem Deus através do amor: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.


Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4, 7-8). Em seguida,
acrescenta:

“Nós amamos porque Deus nos amou primeiro. Se alguém disser:”Eu amo a Deus, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é mentiroso, pois quem não ama o seu irmão que vê não pode amar ao Deus que não vê” (1 Jo 4, 19-20).


E a Primeira Carta de São João culmina esta linha de pensamento dizendo: “Deus é amor e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4, 16).

São Paulo vai nesta mesma linha quando afirma que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (cf. Rm 5,5).

Em Comunhão Convosco

Calmeiro Matias



10 dezembro, 2009

CRISTO E A VITÓRIA SOBRE O PECADO

Pecar é opor-se ao amor e, portanto, recusar-se a crescer como pessoa através de relações fraternas.

Só há pecado quando a pessoa tem a possibilidade de dizer sim ao amor e decide dizer não. Ao pecar, a pessoa diz não à sua realização pessoal e condiciona ou bloqueia a realização dos outros.

Por outras palavras, a pessoa que peca inscreve ritmos negativos, isto é, forças de bloqueio tecido social.

Face à realidade do pecado, a pessoa pode encontrar-se em duas situações diferentes: situação de vítima, ou situação de culpada.

A vítima do pecado sofre as suas consequências negativas sem ter qualquer culpa desse pecado.
Quantos milhões de crianças, por exemplo, sofrem as terríveis consequências pecado sem dele serem culpadas.

Há pessoas que fazem o mal, mas que na realidade são vítimas do pecado e não pecadoras. Estão neste caso as multidões de mal amados com distorções psíquicas e comportamentos compulsivos cuja origem está no facto de terem sido mal amados.

O evangelho dá provas de possuir uma grande sabedoria quando nos proíbe de julgar os outros.
Na verdade, nós não temos nas mãos a história das experiências dolorosas e traumatizantes das pessoas.

É verdade que os outros nos capacitam mas também nos condicionam nas possibilidades de amar e fazer o bem.

A lei do amor é esta: ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado e o mal amado ama mal, mesmo quando dá o melhor de si.

Do mesmo modo que o amor dos outros nos capacita para amar, as suas recusas de amor, condicionam-nos nas nossas possibilidades de amar.

Na verdade, a pessoa humana começa por ser o que os outros fizeram dela, mas o mais importante é o que ela faz com as possibilidades que recebeu.

O feixe primordial das possibilidades e condicionamentos que as pessoas recebem formam o leque dos talentos que, logo à partida, faz da pessoa um ser único, original e irrepetível.

Referindo-se à diversidade dos talentos, Jesus diz que umas pessoas recebem, cinco, outras recebem dois, três ou um (cf. Mt 25, 14-30).

Os seres humanos não são peças de artesanato feitas em série. Por ser uma oposição ao amor, o pecado mata possíveis de realização humana, tanto no pecador, como nas vítimas do pecado.

O Livro do Génesis diz que o pecado de Adão deu como fruto imediato o fratricídio de Caim, o qual matou seu irmão Abel (Gn 4, 8-16).

Talhado por Deus para criar fraternidade através do amor, o Homem, ao pecar, inicia uma cadeia de fratricídios, opondo-se ao plano da Família Universal de Deus.

Jesus Cristo, diz São Paulo, é o Novo Adão. Tal como pelo pecado de Adão veio o fracasso da morte, a vitória da Vida Eterna veio por Jesus (1 Cor 15, 20-21; Rm 5, 17-19).

Segundo a maneira de entender da bíblia, a Humanidade forma um todo orgânico. Como Adão era a cabeça da Humanidade, o seu pecado difunde-se de modo orgânico.
O Livro do Génesis diz que Deus expulsou Adão do Paraíso devido ao seu pecado (Gn 3, 23-24).
Como Adão era a cabeça desse corpo imenso que é a Humanidade. Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga. Por outras palavras, devido ao pecado de Adão todos os seres humanos ficaram sem acesso ao Paraíso.

No momento da sua morte e ressurreição, diz o evangelho de São Lucas, Jesus reabre as portas do Paraíso e a Humanidade entra com ele na plenitude da Vida Eterna.

Eis o que Jesus diz ao Bom Ladrão no momento da sua morte e ressurreição: “Em verdade te digo: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

Por outras palavras, a vitória sobre a infidelidade de Adão foi alcançada por Jesus Cristo, o qual nos introduziu de novo no caminho da comunhão com Deus.

Eis um ensinamento importante feito por Jesus aos Apóstolos: “Jesus respondeu a Filipe:”Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai, senão por mim” (Jo 14, 6).

Adão opôs-se ao plano de Deus, colocando a Humanidade no caminho da perdição. Jesus Cristo realizou de modo perfeito a vontade do seu Pai do Céu, introduzindo-nos deste modo, no caminho da salvação:

“O meu alimento, diz Jesus no evangelho de São João, é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).

Depois acrescenta: “Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou” (Jo 5, 30).

A atitude de Jesus face a Deus é totalmente oposta à atitude de Adão. O relato bíblico do pecado de Adão ensina-nos que todos nós, ainda antes de sermos pecadores, á somos vítimas do pecado.
Isto quer dizer que a vocação básica do ser humano é a sua humanização mediante relações de amor, a fim de atingir a plenitude da comunhão com Deus.

A lei da humanização é esta: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a fraternidade e a comunhão universal”.

Para realizarmos esta meta podemos contar com a presença do Espírito Santo no nosso íntimo que é, como diz São Paulo, o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Sem amor o coração do ser humano fica árido como um tronco ressequido na vastidão de um deserto.

Quando o amor não emerge no coração de uma pessoa, a fonte da alegria seca e o vigor da vida murcha.

Sem amor, a pessoa não se pode estruturar, pois ela foi talhada para o encontro e a comunhão.
O coração é o núcleo mais íntimo de uma pessoa, a partir do qual emerge e se configura o nosso ser espiritual.

O nosso coração é o ponto de encontro do corporal com o espiritual, tal como a luz é o ponto de encontro da matéria com a energia e o vírus o ponto de encontro da vida com o pré vivo.

Podemos dizer ainda que o nosso coração é o ponto de emergência do qual brotam as decisões que optimizam as nossas relações de amor.

Quando o coração do ser humano está vazio de amor, essa pessoa fica dominada pela solidão, o tormento de não poder possuir-se nem atingir uma realização plena.

Sem amor, o coração da pessoa é um espaço onde não habita a alegria do face a face e da reciprocidade.

Sem água, as plantas secam e os animais não podem viver. Assim acontece à pessoa que não tem amor no coração.

Com o coração vazio de amor, a pessoa está privada da força necessária para se construir na vida.

É por esta razão que as nossas recusas de amor não só impedem a nossa estruturação pessoal, como bloqueiam a realização das pessoas que se cruzam connosco na vida.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


06 dezembro, 2009

OS ENSINAMENTOS DE JESUS SOBRE DEUS PAI

Referindo-se a Jesus Cristo, o evangelho de São João diz que o Filho vive desde toda a eternidade e faz um com o Pai (Jo 10, 30).

Isto quer que o Filho de Deus vive em permanente união orgânica com o Pai. Além disso, declara que pelo mistério da Encarnação os seres humanos também já estão unidos de modo orgânico com o Filho de Deus e, por ele, à Santíssima Trindade.

Na verdade diz o evangelho de São João, foi-nos dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 14).

No mesmo evangelho de São João, Jesus declara que Deus Pai é seu Pai e seu Deus e também nosso Pai e nosso Deus:

“Subo para junto de Meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). Na sua oração Jesus falava sempre com Deus Pai, tratando-o por “Abba”, isto é, papá.

A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo nos convida a chamar Deus Pai por “Abba”, isto é, Papá Querido (Rm 8, 15).

Jesus declarou que vive em permanente união com o seu Pai e nós vivemos unas união orgânica permanente com ele:

“Como o Pai que vive me enviou e eu vivo pelo Pai, assim acontecerá também com os que comem a minha carne e bebem o meu sangue” (Jo 6, 57). E depois acrescenta: “Eu digo apenas o que ouvi de meu Pai” (Jo 8, 38).
Certo dia, diz São Lucas, Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e iniciou um diálogo muito especial com o Pai:

“Nesse instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e dizendo: “Bendigo-te ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, foi este o teu agrado.

Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Lc 10, 21-22).

O evangelho de São João diz que o Pai só quer adoradores que o adorem no Espírito e na Verdade (Jo 4, 23).

Ao ensinar o Pai-Nosso aos discípulos, Jesus quis ensinar-lhes que a sua oração deve ser um diálogo familiar com Deus (Mt 6, 9).

Procurando aumentar a confiança dos discípulos no Pai do Céu, Jesus disse o seguinte:

“Se vós que sois maus sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai Céu dará o Espírito Santo aos que lho pedirem” (Lc 11, 13).

Na verdade, diz São Lucas, é amando os outros como irmãos que nos tornamos filhos do Altíssimo (Lc 6, 35).

Antes de revelar o rosto e o amor de Deus Pai aos homens, Jesus comunicou face a face com ele. Eis as palavras de São Lucas:

“Após ter sido baptizado, Jesus entrou em oração. Nesse momento, o Céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre com a forma corporal de uma pomba.

Nesse momento, ouviu-se uma voz vinda do Céu que dizia: “Tu és o meu filho bem-amado. Hoje mesmo te gerei” (Lc 3, 21-22).

Antes de iniciar a sua missão, Jesus foi consagrado pelo Espírito santo e o Pai declara-o como Messias, o filho de Deus.

Tal como aconteceu com Moisés, Jesus procurava as montanhas, as colinas e os lugares silenciosos para entrar em intimidade com Deus Pai.

Com este modo de proceder, Jesus ensinou aos discípulos que o ruído e a dispersão não são boas mediações para nos encontrarmos face a face com Deus.

Eis o que diz o evangelho de São Lucas: “Tomando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu à montanha para orar.

Enquanto orava, o aspecto do seu rosto alterou-se e as suas vestes tornam-se brilhantes” (Lc 9, 28-29).

Não é difícil descobrir a relação desta e outras passagens com os relatos que falam dos encontros de Moisés com Deus:

“Tendo despedido as multidões, Jesus subiu ao monte para orar a sós” (Mt 14, 23). Olhando para os ensinamentos de Jesus, vemos como Moisés e os profetas ficaram muito aquém de Jesus no que se refere à profundidade do conhecimento e da interacção amorosa Deus Pai.

Podemos afirmar com toda a segurança que antes de Jesus, ninguém chegou tão longe na compreensão e revelação do mistério de Deus Pai.

O seguinte texto do evangelho de São João é uma expressão da profundidade da relação de Jesus Cristo com o seu Pai do Céu:

“Jesus disse a Filipe: “Há tanto tempo que estou convosco e não ficaste a conhecer-me, Filipe?
Quem me vê, vê o Pai. Como é que ainda me pedes para te mostrar o Pai?

Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?” (Jo 14, 9-10). Jesus exprimiu a profundidade desta união com o Pai dizendo: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).

Segundo o modo de entender de Jesus Pai vem a nós sempre a partir de dentro. De facto, Deus é a interioridade máxima do Universo.

A morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

Deus revela-se ao Homem a partir de dentro, por isso Jesus se retirava para o silêncio, a fim de poder entrar na sua interioridade, a fim de se encontrar com o Pai:

“De madrugada, estando ainda escuro, Jesus levantou-se e retirou-se para um lugar deserto, a fim de orar (Mc 1, 35).

Portanto, quando Deus vem ao encontro do Homem não vem a partir de fora.A Primeira Carta aos Coríntios diz que o nosso coração é um templo onde o Espírito de Deus habita (1 Cor 3, 16).

Jesus sentia-se unido de modo permanente ao Pai. Depois acrescenta que também nós fazemos parte dessa união orgânica que forma o campo espiritual contínuo de interacções amorosas:

“Nesse dia, disse Jesus, compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20).
Em Comunhão Convsco
Calmeiro Matias





02 dezembro, 2009

O DEUS BONDOSO E A EXISTÊNCIA DO PECADO

Pai Santo,

Nós te agradecemos o facto de nos teres enviado Jesus Cristo, a fim de nos libertar do pecado e nos introduzir na comunhão da Santíssima Trindade.

O pecado é um conjunto de forças negativas que derivam das recusas de amar dos seres humanos.

As forças do pecado do pecado bloqueiam o processo da humanização do Homem, impedindo a sua realização e felicidade.

Pai Santo,
Nós sabemos que o pecado não é uma realidade criada por ti, mas o resultado negativo das decisões erradas do Homem.

Na verdade, o pecado é a recusa do Homem a emergir como pessoa humanizada mediante opções e projectos de amor.

Do mesmo modo, não foste tu, Pai Santo, que criaste o inferno, entendido como um lugar destinado à punição eterna dos seres humanos.

A nossa fé diz-nos que Deus é amor e não pode nada contra o amor, pois seria negar-se a si mesmo.

As pessoas que se condenam não vítimas de uma condenação de Deus. Pelo contrário, as pessoas que estão em estado em inferno condenaram-se por sua própria decisão.

É certo que tu, Pai Santo, ao criares o Homem, lhe deixaste a possibilidade de pecar. Esta possibilidade é, aliás, a condição para que a pessoa se realize como ser livre, consciente e responsável.

Face a este mistério do pecado, temos de dizer que o pecado é um mal, mas a possibilidade de pecar é condição para que o projecto humano seja óptimo.

Isto quer dizer que nem tudo o que é possível deve ser realizado, sob pena de destruirmos a Humanidade.

É a primeira vez que a Humanidade tem arsenais com forças de morte a capazes de pôr fim à História Humana.

Mas pelo facto de isto ser possível não quer dizer que deva ser realizado. Na verdade, pôr fim à História humana seria o pecado total, ou seja, a oposição total ao amor.
Somos seres inacabados. É por esta razão que, por vezes, somos visitados pela tentação de nos opormos aos apelos do amor.

A tentação é uma sugestão subtil que visita a nossa mente, querendo fazer-nos crer que o mal é um bem.

A possibilidade da tentação radica no facto de não nascermos determinados e, portanto, não estamos sujeitos a qualquer forma de destino.

À luz da fé cristã, o destino não existe, pois o homem não é uma marioneta nas mãos de Deus.
Somos nós quem decide o que seremos ou não, sendo fiéis ou não aos nossos talentos, isto é, às nossas possibilidades de realização.

O pecado é um mal, tanto para o pecador, como para as outras pessoas. Com efeito, além das consequências pessoais, o pecado tem também consequências sociais, políticas, históricas e ecológicas.

Isto quer dizer que o pecado mutila não apenas o pecador, mas também as pessoas que sofrem as consequências as suas consequências.

Ao ressuscita, Jesus comunicou-nos o dom do Espírito Santo, a fim de fazer de nós uma Nova Criação (2 Cor 5, 17- 19).

Jesus Cristo,
Nós te louvamos por nos teres libertado das forças bloqueadoras do pecado, abrindo-nos o caminho da nossa libertação.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


28 novembro, 2009

CONHECER O DEUS DAS ESCRITURAS

Trindade Santa,
As Sagradas Escrituras são a proclamação agradecida do Vosso plano de amor e salvação para com a Humanidade.
Ao mesmo tempo são um apelo e um convite a tomar-vos a sério, pois o vosso plano de amor não é um capricho.
A vossa vontade coincide rigorosamente com o que é melhor para nós.
É por esta razão que é muito perigoso brincar convosco, Deus Santo, pois brincar com Deus é igual a brincar com o que é melhor para nós.

Vós não sois um Deus vingativo, mas brincar convosco, Deus Santo, significa entrar no caminho do malogro e do fracasso.

O Vosso amor por nós é incondicional. Vós não estivestes à espera que fôssemos bons para gostardes de nós.

Pelo contrário, sonhastes um plano de amor para nós, muito antes de nós existirmos e podermos ser bons.

Deus Santo,
A bíblia convida-nos a interagir convosco em forma de aliança, isto é, de acordo com o projecto amoroso que sonhaste para toda a Criação.

A bíblia não se serve de dogmas para nos explicar o mistério de Deus. Pelo contrário, revela-nos o mistério de Deus contando histórias que evocam a vossa fidelidade e o amor incondicional de Deus.

Os textos bíblicos são um conjunto de histórias das quais o Espírito Santo se serve para provocar experiências reais do Deus Vivo no nosso coração.

Isto quer dizer que a Palavra de Deus é sempre um acontecimento vivo provocado pelo Espírito Santo no nosso coração.

É neste sentido que devemos entender o modo como Vós, Deus Santo, vos destes a conhecer a Moisés, dizendo-lhe que sois um Deus que está sempre a ser e, por isso, nunca se repete.

Moisés entendeu muito bem que sois um Deus que não envelhece nem se desgasta, sempre disposto a acompanhar o vosso povo, vá ele para onde for.

Quando falastes com Moisés a partir da sarça-ardente, Vós disseste-lhe: “EU SOU AQUELE QUE SOU” (Ex 3, 14).

Partindo destas Palavras, Moisés deduziu que Deus é um “EU SOU”, isto é, alguém que está sempre a ser, isto é, um Deus que apenas existe no presente, fazendo caminhada com o seu povo.

O Deus das Escrituras nunca foi um Deus do passado. Isto quer dizer que Vós sois uma emergência sempre actual de três pessoas infinitamente perfeitas em total convergência de comunhão amorosa.

Depois de vos terdes revelado como o único, já podíeis provocar um salto de qualidade na marcha da revelação dizendo-nos que apesar de serdes um só Deus não sois um sujeito sozinho.

Em Jesus Cristo Vós vos revelastes, Deus Santo, como um Deus relações cujo rosto é uma Comunhão Familiar de três pessoas.

Na verdade, a Vida Plena só pode ser vida pessoal e em comunhão amorosa. Para falar de Vós como Vida em Plenitude, a bíblia diz que Deus é amor (1 Jo 4, 7).

A primeira Carta de São João, diz que os seres humanos apenas podem conhecer Deus se decidirem viver em dinâmica de amor:

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. Aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.

Aquele que não ama não chegou a conhecer Deus, pois Deus é Amor” (1 Jo 4, 7-8). Depois acrescenta: “Deus é Amor. Quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4, 16).

Isto quer dizer que o Deus das Escrituras não é uma espécie de equação matemática que possa ser enunciada em fórmulas.

Trindade Bendita,
Vós sois um Deus que se conhece mais com o coração do que com a mente.
Jesus ensinou isto quando proclamou as bem-aventuranças, dizendo: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8).

Isto quer dizer que as pessoas, no Reino de Deus, se conhecem com o coração, pois a sua identidade espiritual é o seu jeito de amar. O Reino de Deus é, de facto, um mistério de relações amorosas.

Na verdade, a Vossa morada, Deus Santo, é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.
Glória a Vós, Deus Santo que sois Pai, Filho e Espírito Santo.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


25 novembro, 2009

APRENDER A SUPERAR OS FRACASSOS

Deus Santo,
Por vezes nos sentimo-nos inseguros e com medo de tomar iniciativas. Esta instabilidade emocional bloqueia as nossas capacidades criativas, limitando em nós a emergência de uma personalidade mais realizada e adulta.

Na verdade, a realização de uma pessoa implica fazer projectos, procurando atingir metas e objectivos.

É importante ter consciência de que no caminho de qualquer realização pessoal de sucesso há sempre fracassos pelo meio.

É sinal de maturidade humana saber começar de novo após os fracassos que nos acontecem na vida.
Por outras palavras, a grandeza de uma pessoa não consiste em não falhar, mas em saber seguir em frente depois dos reveses.

A pessoa que não aceita a possibilidade de fracassar, tem muita dificuldade em correr riscos e atingir objectivos.

Os medos bloqueiam a nossa capacidade de sonhar e elaborar projectos que facilitem a nossa realização pessoal.

O cristão tem este caminho facilitado, pois ele sabe que o Espírito Santo está presente no interior da pessoa, agindo como força inspiradora que liberta e optimiza as suas capacidades.

São Paulo tinha uma consciência perfeita desta verdade e por isso ele não hesita em dizer que o primeiro protagonista da sua acção evangelizadora era o Espírito Santo:

“Estou agradecido àquele que me dá força e me consagra para o serviço do Evangelho” (1 Tim 1, 12).

É impressionante o seu testemunho sobre o muito que sofreu por amor ao Evangelho de Jesus Cristo e como tinha consciência de que a sua força e capacidade vinham do Espírito Santo que estava nele.

Eis o que ele diz na Segunda Carta aos Coríntios: “São hebreus? Também eu. São descendentes de Abraão? Também eu.

São ministros de Cristo? Falo como quem delira: eu muito mais pelos trabalhos, muito mais pelas prisões, imensamente mais pelos açoites e pelas vezes que estive em perigo de morte.

Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta acoites menos um. Três vezes fui flagelado com vergastadas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, passando uma noite e um dia no alto mar.

Viagens a pé sem conta. Perigos nos rios. Perigos de salteadores. Perigos da parte dos meus irmãos de raça. Perigos da parte dos pagãos.
Perigos na cidade. Perigos no deserto. Perigos no mar. Perigos da parte dos falsos irmãos!
Trabalhos e fadigas incontáveis. Fome, sede e muitas noites sem dormir. Frequentes jejuns, sede e nudez!

Além disto havia ainda a preocupação quotidiana e a solicitude por todas as igrejas e muitas outras preocupações (…). Deus sabe que não minto.

Em Damasco, o etnarca do rei Aretas mandou guardar a cidade, a fim de me prender. Mas fui descido num cesto, por uma janela da muralha, escapando assim das suas mãos” (Act 11, 22-33).
Na verdade, o medo de correr riscos é a causa de muitas histórias fracassadas. As pessoas persistentes acabam sempre por chegar ao sucesso, apesar dos fracassos que possam surgir no percurso.

É muito importante saber contar com a força criadora de Deus que está ao nosso dispor no nosso íntimo.

O Espírito Santo fortalece-nos, a fim de não cairmos na fuga fácil que consiste em deitar a culpa dos nossos fracassos para cima dos outros, armando-nos em vítimas.

Este modo de proceder é um obstáculo que nos impede de contornar e ultrapassar as crises que os fracassos fazem surgir na nossa caminhada.

Senhor Jesus Cristo,
A tua ressurreição é a prova de que, após um fracasso, é sempre possível retomar o caminho do sucesso.

Dá-nos a sabedoria necessária para sabermos que numa vida de sucesso há sempre fracassos pelo meio.

Tu tiveste a coragem de acreditar sempre na força do Espírito Santo e na fidelidade de Deus, vencendo todos os fracassos, inclusive o fracasso da morte.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


21 novembro, 2009

A DINÂMICA PROGRESSIVA DO AMOR

O amor não é um comportamento espontâneo nos seres humanos, pois não somos capazes de amar antes de ter sido amados.

A lei do amor é esta: Ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado, e o mal amado fica a amar amar mal, isto é, fica condicionado na sua capacidade de amar.

O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

Amar é eleger o outro como alvo de bem-querer, aceitando-o assim como é, apesar de o seu modo de ser e agir não ser igual ao nosso.

Amar é também agir de modo a facilitar a realização e felicidade do outro. Jesus reduziu a multiplicidade de preceitos e normas do judaísmo ao mandamento do amor:

“Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Todos saberão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 34-35).
O amor optimiza as relações humanas, conferindo-lhes a força da humanização. Isto quer dizer que o amor deve ser cultivado mediante atitudes que fortaleçam e façam emergir e a vida espiritual das pessoas.

Eis algumas dessas atitudes:
Amar implica estar presente nas horas difíceis, pois o amor tende sempre para a comunhão.

Amar é ajudar o outro a gostar de si, valorizando as suas realizações positivas, mesmo que estas não estejam de acordo com os nossos interesses.

Amar é ajudar o outro a superar a solidão e ajudá-lo a suportar os fardos com que a vida, por vezes, nos carrega.

Amar é facilitar o amadurecimento do outro, dando-lhe oportunidades para que se realize como pessoa livre, consciente e responsável.

Quem ama não substitui. Gosta de amar mas sem se sobrepor. A pessoa que ama molda a sua vida de acordo com o princípio fundamental do bem-querer: “É melhor dar do que receber.”

Amar é ajudar o outro a descobrir sentidos para viver de modo empenhado e feliz.
Amar é ser capaz de ficar calado quando se está magoado, esperando a oportunidade certa para dialogar com serenidade.
Amar é acreditar no outro e não pretender que a minha opinião é a única que vale.
Amar é saber calar-se quando sentirmos que a nossa conversa está a cansar.
Amar implica reconhecer as qualidades do outro e não girar apenas em volta dos seus defeitos.
Amar é ser capaz de partilhar não só o que tenho, mas também o que sei e, sobretudo o que sou.
Amar é entender que a disponibilidade para acolher, escutar e aceitar as diferenças do outro vale mais do que dar presentes.
Ama mais e melhor quem dá o primeiro passo no sentido da reconciliação.
Amar é estar atento, a fim de ver se o outro está precisando de mim. Não basta pensar: “Quando quiser que venha ter comigo”.
O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.
Ama mais quem se antecipa, a fim de ser dom para o outro. Jesus levou o amor até à sua expressão máxima: Deu-se até à morte.
O nosso amor será tanto mais perfeito quanto mais se aproximar do jeito de Jesus amar.
O amor modela o coração da pessoa para a comunhão e capacita-a para saber edificar a sua casa sobre a rocha firme.
O amor é a veste indispensável para podermos participar no banquete do Reino de Deus.
O amor é uma dinâmica que gera liberdade e criatividade.
Na verdade, a liberdade é a capacidade de se relacionar de modo amoroso com os outros e interagir de modo criativo com as coisas e os acontecimentos.
O amor tenta sempre aceita os defeitos do outro, apesar de isto exigir renúncia e sacrifício.
O amor menciona as qualidades do outro e congratula-se com os seus sucessos.
O amor não está sempre a exigir disponibilidade da parte dos outros, mas procura estar disponível quando estes precisam de si.
Quando dá uma opinião ou aconselha alguém, a pessoa que ama procura comunicar sempre o melhor da sua experiência e do seu saber.
O jeito de se dar da pessoa que ama é discreto, ao ponto de o outro nem se aperceber do sacrifício que está a ser feito em seu favor.
A pessoa que ama não se afasta do outro por causa dos seus fracassos.
O amor é dinâmico e progressivo, ao ponto de capacitar a pessoa para uma doação cada vez mais plena e gratuita.
Pelo modo gratuito e atento de se dar, a pessoa que ama é sempre a primeira a ser recordada nos momentos de sofrimento e dificuldades.
A pessoa que ama evita magoar, mas não deixa de dizer a verdade pelo simples facto de que o outro pode não gostar.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




18 novembro, 2009

VISLUMBRANDO A NOVA HUMANIDADE

Pai Santo,
O Espírito que o teu Filho nos deixou faz maravilhas no coração dos que o acolhem: Para uns, aquele homem não passava de um sonhador.

Mas as pessoas mais atentas diziam que se tratava de um autêntico profeta. De facto, muitas das coisas que aquele homem dizia tinham sentido e podiam até acontecer se os seres humanos se dispusessem a moldar um coração novo.

Muitos dos seus apelos podiam tornar-se realidade se a Humanidade fosse conduzida por líderes sensatos e animados pelo Espírito de Deus.

Via-se que aquele homem queria o bem da Humanidade. Nunca ninguém o acusou de falar para se exibir ou apoderar de privilégios.

Um dia pensou em escrever uma carta aberta à Humanidade, na qual dizia o seguinte: “Olá, Humanidade! Antes de mais gostava de dar-te os parabéns, pois há muitos homens e mulheres dispostos a gastar a vida por causas nobres e justas.

Nota-se que continuam a desabrochar em ti uma consciência universal capaz de defender os valores da verdade, da justiça, da fraternidade e o reconhecimento da dignidade humana.

Mas ainda muitas pessoas empenhadas em criar muros entre as raças, as culturas, as línguas, os povos, as nações e as religiões.

Na verdade, estas pessoas devem ser declaradas como malfeitores e inimigos do Homem. Felizmente a Humanidade parece estar a evoluir para um pluralismo tolerante e fraterno.

Os que querem impor a unidade de modo monolítico estão condenados ao fracasso. Parabéns, humanidade, pois no meio de ti há muita gente com fome de paz e comunhão universal.

Precisamos de muitos homens e mulheres que sejam pessoas livres, livres, conscientes e responsáveis, pois só com pessoas é possível construirmos a comunhão universal.

Precisamos de povos e sociedades onde habite a verdade e a justiça, a fim de poderem emergir pessoas únicas, originais, irrepetíveis e capazes de comunhão amorosa.

Mereces ser felicitada, pois quando deixas emergir a novidade que há em cada ser humano estás a criar-te e a atingir a tua plenitude.

Deus não te criou acabada, pois és uma Humanidade em construção. Mas ao iniciar a tua marcha criadora, Deus lançou as bases para aconteceres como um projecto onde o divino se enxerte no divino, a fim de poderes ser divinizada.

Foi com Jesus Cristo que tu, Humanidade, entraste no limiar da marcha histórica da divinização.
Felicito-te Humanidade, pois já começas a compreender que os pilares da paz e da justiça estão no diálogo e na participação de todos nas coisas que a todos dizem respeito.

Com efeito, com homens oprimidos e impedidos de tomar para na edificação do que lhes diz respeito, não é possível edificar o Reino da Comunhão Universal do Homem com Deus.

Parabéns, Humanidade, pois há sinais de estares a atingir o limiar de uma consciência nova. No entanto, ainda há muitas forças cegas que pretendem opor-se a este parto magnífico do Homem Novo.

Mas estas forças cegas não podem vencer, pois o projecto do Homem Novo sonhado por Deus caminha de modo irreversível.

Em poucas décadas conseguiste destruir muros e obstáculos que nós julgávamos muito duradoiros.

Hoje podemos olhar a vida com horizontes que, há algumas décadas atrás, ninguém ousava prever. Nota-se que a força do Deus criador está a actuar em ti.

Tu és, de facto, um processo onde acontece a novidade e o imprevisível. As pessoas sensatas habitadas pela sabedoria entendem perfeitamente que estás a emergir de modo único, original e irrepetível no concreto de cada ser humano.

Para poderes atingir a meta que Deus sonhou para ti é necessário que as pessoas humanas deixem emergir os melhores possíveis que levam no seu coração.

Só deste modo pode emergir o Homem Novo a exprimir-se em novos jeitos de solidariedade, partilha e comunhão fraterna.

Nós sabemos que não existe uma Humanidade determinada. Deus está connosco, mas não está em nosso lugar.
No nosso coração o Espírito Santo ilumina, estimula e convida, mas nunca nos substitui. Na verdade, Deus criou-nos para que nos criemos.
Isto significa, como diz o evangelho de São João, que nascemos para renascer (Jo 3, 3-6). O ser humano começa por ser um feixe de possibilidades que recebeu dos outros.

São os talentos, como Jesus Cristo lhes chamou. Uns recebem cinco, outros três, outros dois ou um. Deus acolhe-nos assim como somos e com os talentos que temos.
Ninguém é herói por receber cinco, ninguém é culpado por receber dois. A heroicidade ou cobardia resulta da fidelidade ou infidelidade com que nos realizamos fazendo render os nossos talentos.

À medida que pessoa se realiza e cresce espiritualmente é incorporada na comunhão universal do Reino de Deus.

Esta comunhão é constituída pelas três pessoas divinas, os milhões de pessoas humanas e todas as outras que possam existir ou ter existido no Universo.

Ao terminar a sua carta aberta à Humanidade, este homem, ao jeito dos profetas declara o seu propósito de gastar a vida ao serviço de uma Nova Humanidade assente na paz, na cooperação e na paz.

Podemos dizer que a sua vida tem a qualidade da vida das pessoas que são realmente mediações do amor de Deus para a Humanidade. Depois, aquele homem, dirigindo-se à Humanidade disse:

És o Homem em construção. Emerges de modo único em cada pessoa e converges para uma comunhão orgânica cuja plenitude se encontra em Deus.

És o verso central do poema magnífico da criação. Realizas-te como um rosto com duas faces: masculinidade e feminilidade.

À medida que uma pessoa cresce, tu brotas como expressão nova de liberdade, consciência e responsabilidade.

És imagem perfeita de Deus. Levas contigo as impressões digitais do Criador! Surges como expressão de um desejo expresso do Deus que te criou.
Quando surgiste já havia muitos seres vivos a pulular nesta terra bonita e fecunda. Mas ainda não existia um ser com interioridade pessoal capaz de comungar com as pessoas divinas.

Já havia na natureza muitos balidos, guinchos, uivos, grunhidos e outros sons.Mas não havia ninguém capaz de amar e fazer poesia.

Foi então que Deus parou a marcha da criação para pensar no Homem à sua imagem. A Divindade é pessoas e a Humanidade também. E assim começou a História da Criação que vai culminar na plenitude da Salvação.

A criança é uma pessoa iniciada, mas longe de estar realizada. O jovem ainda não teve tempo para chegar longe na sua construção.

Nem mesmo o adulto se pode arrogar o título de Homem plenamente acabado. Enquanto estiver em emergência histórica, a Humanidade é pessoas em construção.

Mas já pertences à cúpula personalizada do Universo! Por ser constituída por pessoas, já pertence à esfera da transcendência:

Transcendes o Universo que não é uma pessoa. Por ser pessoas, é proporcional ao próprio Deus que é uma comunhão amorosa de três pessoas.

Desde o homem primordial até aos nossos dias é a única Humanidade a acontecer. Emerge como novidade em cada pessoa.

Apesar de ser única, original e irrepetível, a pessoa só pode encontrar-se de modo feliz e perfeito dentro do entretecido comunitário.

Com efeito, para as pessoas que se excluem da comunhão, apenas existe a perdição. Isto quer dizer que a pessoa que se enrosca em si própria, fica sem horizontes de plenitude.

Quem não facilita a tua génese não se ama nem está em sintonia com a acção do Deus Criador.
Humanidade,
A tua cúpula é Jesus de Nazaré, o fruto mais amadurecido da Humanidade e o ponto de encontro e interacção do Humano com o Divino.

Humanidade,
Tu és um poema que ainda não foi inteiramente declamado. Tu és a menina dos olhos de Deus!
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

16 novembro, 2009

VIVEU PARA DEUS E TOMOU O AMOR A SÉRIO

Olhar para o seu jeito de querer bem às pessoas era ver o rosto amoroso Deus. A sua grande paixão era defender a dignidade das pessoas, denunciando tudo o que machuca o Homem e o impede de se realizar como ser livre livre.
Amava a simplicidade das crianças e deixava sempre mais felizes as pessoas que comunicavam com ele.

Não tinha pretensões a ser rico ou poderoso e por isso preferia a companhia dos mais simples e pobres.

Jamais foi cobarde. Por isso defendia sempre os que não sabiam defender-se. Amava de modo incondicional e defendia a partilha de bens como caminho para chegar à abundância.

Os bens da Terra só chegarão para todos, dizia ele, se as pessoas aprenderem a partilhar. Jamais defendeu a morte ou a marginalização dos pecadores, mas o maior dos seus sonhos era acabar com o pecado.

Inaugurou o baptismo no Espírito Santo, a fim de renovar o coração das pessoas, fazendo-as passar do egoísmo para fraternidade.
Denunciava corajosamente os que oprimiam em nome da religião, da política ou do dinheiro.
As pessoas que o encontravam descobriam novas razões para viver e amar.
A sua mensagem minava os sistemas caducos que queriam impedir o nascimento da Nova Humanidade.
Eis a razão pela qual os poderosos e os detentores dos privilégios não queriam que ele vivesse.
Agia assim e depois declarava que a sua missão vinha de Deus.
Entre os seus inimigos mais ferozes estavam os sacerdotes e os doutores da Lei. Aliás, foram eles que programaram a sua morte.

Mataram-nos, pensando livrar-se dele para sempre. Mas ele sabia bem que o seu Pai do Céu o ia restaurar, pois estava seguro que Deus toma partido pelos que gastam a vida pelas causas do amor.

Como tinha a força e a luz do Espírito Santo, estava seguro de que Deus não o ia abandonar e que a sua missão não podia acabar no fracasso.
Tinha consciência de que a sua vida não era apenas sua, pois tomava Deus a sério, ao ponto de fazer dele a causa primeira da sua vida.
Por isso Deus lhe confiou uma missão em favor de todos os seres humanos. Levou o amor até à densidade máxima, isto é, dar a vida por aqueles a quem se ama.

Como se deu totalmente, a sua vida deixou de ser apenas sua. Ao ressuscitar difundiu o Espírito Santo para nós, a fim de nos ressuscitar com ele e sermos incorporados na Família de Deus.
Uma vez ressuscitado, a sua vida circula no coração de todos os que abrem o coração à fraternidade e ao amor.
Os seus inimigos mataram-no, mas Deus restaurou a sua vida, fazendo dele o alicerce e a cúpula da Nova Humanidade.
Graças à sua ressurreição, a Humanidade deu um salto de qualidade: De não divinos os seres humanos passaram a ser pessoas divinizadas mediante a assunção e incorporação na Família de Deus.

Como um pão que se reparte para alimentar a vida dos outros, assim foi a sua vida. Só atacava o que desumaniza o homem e o impede de se realizar e ser feliz.

Não confundia o pecado com o pecador. Ao pecador procurava libertá-lo, curando as feridas do seu pecado.

Ao pecado, pelo contrário, tentava destruí-lo, a fim de salvar a vida e a dignidade das pessoas.
Nasceu na Palestina e o seu nome era Jesus de Nazaré.

Deu-se totalmente pela missão que Deus lhe confiou, pois decidiu fazer de Deus a causa primeira da sua vida.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


12 novembro, 2009

REALIZAR-SE COMO PESSOA RESPONSÁVEL

Crescer como pessoa responsável é uma tarefa que ninguém pode realizar por nós.
Mas também é verdade que ninguém é capaz de se tornar uma pessoa responsável desligando-se dos outros, pois todos nós começamos por ser o que os outros fizeram de nós.

A responsabilidade começa por ser uma atitude de fidelidade aos talentos, isto é, às possibilidades de realização de que dispomos.

No íntimo da nossa consciência somos interpelados pelos valores que os outros nos transmitiram através do processo educativo.

A fidelidade ao chamamento que nos é feito pelos talentos passa por uma série de atitudes e opções concretas das quais vamos enumerar algumas:

Quando nos comprometemos a realizar uma coisa, sejamos fiéis a esse compromisso. Um ser humano que normalmente não responde pelos compromissos que assume não chegará longe na sua realização como pessoa adulta e responsável.

É fundamental responsabilizar-se pelos próprios actos sem cair na tentação das desculpas fáceis ou culpar os outros pelos seus fracassos.

Sempre que assumimos a responsabilidade das nossas atitudes e acções estamos a estruturar-nos como pessoas capazes de gerir a sua vida e o processo da sua humanização.

Devemos assumir com plena consciência o cumprimento dos nossos deveres e realizar os nossos projectos e tarefas.

Não fiquemos à espera que sejam os outros a lembrar-nos a hora ou o cumprimento dos nossos deveres.

Seremos dignos de confiança na medida em que formos responsáveis pelos nossos planos e compromissos.

Quando alguém der provas de confiança em nós, comunicando-nos as suas coisas mais íntimas saibamos guardar segredo.

A pessoa que trai a confiança que alguém depositou nela não é responsável nem é digna da confiança dos outros.

Habituemo-nos a reflectir antes de agir, a fim de actuarmos como pessoas responsáveis.
Se estivermos atentos e soubermos medir as consequências dos nossos actos, podemos ter a certeza de que nos estamos a realizar como pessoas verdadeiramente responsáveis.

Uma pessoa que age habitualmente de modo irreflectido e precipitado dificilmente chegará ser uma pessoa responsável.

Não deixemos de realizar os nossos projectos, sejam eles fáceis ou difíceis. Quando tivermos de realizar um trabalho que nos foi pedido, procuremos realizá-lo a tempo e horas.
Podemos ter a certeza de que a nossa responsabilidade crescerá na medida em que formos fiéis aos nossos deveres.
Isto quer dizer que a responsabilidade é a capacidade de responder de modo fiel e adequado aos seus deveres e compromissos.
Como acontece com todas as outras capacidades humanas, a nossa responsabilidade é algo que cresce com o exercício, pois o ser humano faz-se, fazendo.

A pessoa humana não nasce responsável, tal como não nasce consciente ou livre. Na verdade, o ser humano vai-se tornando responsável de modo gradual e progressivo.

Deus não nos criou acabados, a fim de podermos ser autores de nós mesmos e crescer como pessoas livres, únicas e responsáveis.

No evangelho de São Mateus, Jesus ensina-nos a ser responsável, dando o melhor de nós de acordo com os talentos que temos (Mt 25, 14-30).

Enquanto capacidade de responder de modo fiel aos nossos talentos, podemos dizer que a responsabilidade cresce em conjunto com a nossa consciência e liberdade.

Como ser consciente, a pessoa descobre o leque das suas possibilidades de realização, tanto a nível pessoal como social.

Como ser livre, a pessoa é capaz se relacionar de modo fraternal e cooperador com os outros, bem como interagir de modo criador com os acontecimentos e as coisas.

Como capacidade associada à consciência e à liberdade, a responsabilidade não é uma capacidade estática, isto é, oposta a suscitar a novidade nas suas opções e na sua realização pessoal.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


09 novembro, 2009

A ARTE DE RENASCER PARA A VIDA ETERNA

Nascemos para voltar a nascer pelo Espírito Santo, diz Jesus no evangelho de São João (Jo 3,6).

O nosso ser espiritual nasce da ternura maternal do Espírito Santo que nos convida e capacita para fazermos opções de amor.

Nascemos para dar frutos de Vida eterna. A nossa vida será fecunda se estivermos unidos a Jesus como os ramos da videira estão unidos à cepa.

Sem esta união orgânica, diz Jesus, nós não podemos dar frutos. Nascemos nas coordenadas to tempo e do espaço, mas a nossa plenitude só é atingida nas coordenadas da eternidade, isto é, equidistância a tudo e a todos. São estas as coordenadas da morada de Deus.

A morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

É por esta razão que Deus vem sempre a nós a partir de dentro. Nascemos para renascer, entrando na marcha da humanização cuja lei é:
“Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal”.
Emergir como pessoa significa crescer em densidade espiritual e capacidade de interagir fraternalmente com os outros.

A marcha da evolução trouxe-nos até à maravilhosa complexidade cerebral do homem. O cérebro humano é a matriz de tudo aquilo que o Homem é e o animal não chegou a ser.

O cérebro humano é o barro amassado no qual Deus insuflou o hálito da vida, dando origem à marcha histórica da humanização.

O ser humano está a emergir e a estruturar-se em duas dimensões profundamente diferentes: psico-somática e espiritual, isto é, o ser exterior e o ser interior.

O osso ser exterior é mortal e o interior é espiritual e, portanto imortal. O nosso ser espiritual é ressuscitável, estanco capacitado para viver eternamente com Deus.

O nosso ser interior emerge como o pintainho dentro do ovo. A plenitude da vida espiritual, acontecerá no dia em que o ovo eclodir e o pintainho nasça para a comunhão universal.

Estamos a renascer emergindo como pessoas chamadas a convergir para a Comunhão da Família de Deus.

A dinâmica que fortalece e faz emergir o nosso ser espiritual cresce mediante relações de amor, e estrutura-se em densidade de vida eterna.

Renascer implica emergência pessoal e convergência comunitária. Fechada em si e separada dos outros, a pessoa não encontra sua plenitude.

É verdade que o ser humano está alicerçado numa unicidade individual, mas talhado para a reciprocidade amorosa.
Ser pessoa é ter um coração capaz de eleger o outro como alvo de bem-querer, tornando-se dom para ele e acolher a doação que o outro lhe faz de si mesmo.

A pessoa humana tem a capacidade de eleger os outros como irmãos, mesmo para lá dos laços do sangue.

Até neste ponto somos parecidos com Deus, pois pessoas divinas também nos elegeram como membros da Família de Deus: filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus.

A nossa identidade é histórica. Para nos dizermos temos de contar uma história. Isto quer dizer que seremos eternamente segundo nos realizemos agora na história.

Como não nascemos como pessoas acabadas, nascemos para renascer. A robustez dos nosso ser espiritual mede-se pela capacidade de amar e comungar. Vale, não pelo que tem, mas por aquilo que é.

Pelo facto de a arte de renascer implicar a liberdade, cada pessoa renasce como ser único, original e irrepetível.

Eis o sentido desta fome de renascer que é um convite permanente a vencer os nossos limites de sangue, raça, nacionalidade ou condição social.

Nascemos talhados para Deus. A nossa condição de seres espirituais coloca-nos na cúpula da criação, pessoas humanas capacitadas para comungar com as pessoas divinas.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

06 novembro, 2009

A EFICÁCIA DA PALAVRA DE DEUS

I-A FORÇA CRIADORA DA PALAVRA

A Palavra de Deus é criadora, diz a bíblia (cf. Gn 1, 3-28).

Nos primórdios da Criação, diz o Livro do Génesis, a Palavra actuava como força significante que sai de Deus e realiza aquilo que significa:

Deus disse: “faça-se a luz” e assim aconteceu” (Gn 1, 3).

Deus disse: “Que se faça o firmamento” e o firmamento aconteceu” (Gn 1, 5).

“Deus disse: “Reúnam-se as águas” e assim aconteceu” (Gn 1,9).

“Deus disse: “que a Terra produza verdura” e assim aconteceu” (Gn 1, 11).

“Deus disse: “haja luzeiros no firmamento dos céus, a fim de separarem o dia da noite.” E assim aconteceu” (Gn 1, 14).

“Deus disse: “que as águas sejam povoadas por multidões de seres vivos” e assim aconteceu” (Gn 1, 20).

“Deus disse: “que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos e animais selvagens segundo as suas espécies” (Gn 1, 24).

(Gn 1, 26): “Deus disse: “façamos o ser humano à nossa imagem e à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre os répteis que rastejam pela terra” E assim aconteceu” (Gn 1, 26).

Em seguida, Deus disse-lhes: “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra” (Gn 1, 28).
Mas é sobretudo no evangelho de São João que podemos descobrir a mais profunda interacção da Palavra com o mistério de Deus e com a dinâmica da Criação:

“No princípio já existia a Palavra. E a Palavra era Deus e estava em Deus.
Foi pela Palavra que tudo começou a existir e sem a Palavra nada chegou à existência.
A Vida estava na Palavra e passou a animar todos os seres vivos.
A Vida é também a Luz dos homens. Esta Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam” (Jo 1, 1-5).
II-OS PROFETAS E A PALAVRA

Quando a Palavra de Deus invade o coração do ser humano, este torna-se profeta, isto é, portador de uma mensagem de Deus para os homens.

O profeta anuncia o plano de Deus para o Homem e a Criação, ao mesmo tempo que denunciam as atitudes do Homem que se opõem ou tentam bloquear a sua plena humanização.

Isto significa que a mensagem que o profeta anuncia não é sua. Ele é o medianeiro que anuncia aos homens a Palavra de Deus em grandeza humana.
A sua missão é importante, pois é por ele que o Espírito Santo põe Deus a falar aos homens.
Além disso, ao anunciar a Palavra Salvadora de Deus, o profeta também a ser salvo pela mesma Palavra que anuncia aos homens.

Ao lermos os relatos de chamamento dos profetas, podemos ter a sensação de que a Palavra de Deus se impõe aos profetas, obrigando-os a realizar a sua missão.

Este modo de falar é apenas para realçar o facto de a Palavra de Deus ser eficaz e ser ela que capacita o profeta para a missão.

Na maneira de ver dos textos sagrados, o profeta é um homem totalmente possuído pela Palavra.

É a Palavra que lhe confere a coragem para anunciar e, ao mesmo tempo, para enfrentar os príncipes e os poderosos que se opõem à sua mensagem.

O profeta sabe que esta força vem da Palavra de Deus e não de si.
Por isso o chamamento do profeta aparece normalmente sintetizado de modo muito simples pela expressão: “A Palavra do Senhor veio sobre mim”.

Podemos dizer que os gestos proféticos são realizações da força da Palavra a fazer história com o Homem.

A Palavra de Deus começa por ser um acontecimento vivo no coração do profeta. O protagonista deste Acontecimento é o Espírito Santo.

Depois de o Espírito Santo provocar o acontecimento da Palavra no coração do profeta, este nunca mais voltará a ser o que era antes.

As transformações operadas na vida do profeta e na vida das pessoas que acolhem a Palavra são a expressão da eficácia da mesma Palavra.

Como acabamos de ver, a Palavra de Deus não é um simples discurso, mas um acontecimento que inicia uma nova etapa na História.

Podemos dizer que a Palavra de Deus encarna na vida do profeta e das pessoas que a acolhem.
Isto quer dizer que os gestos dos profetas emergem do seu coração, graças à eficácia da Palavra e à acção do Espírito Santo.

A Palavra do Senhor realiza o que significa na vida das pessoas que a acolhem.
Por se sentir possuído pela Palavra, o profeta tem consciência de que não está a falar em nome próprio.

É por esta razão que os profetas não hesitam em afirmar que é o próprio Deus quem fala pela sua boca: ”Assim fala Yahvé,” repetem eles.

Eis o que diz a Segunda Carta de São Pedro a este propósito:
“A profecia jamais veio por vontade humana, mas os homens, movidos pelo Espírito Santo, falam como quem vem da parte de Deus (2 Pd 1, 21).

É por esta razão que o próprio profeta nunca esgota o alcance e a profundidade da mensagem que anuncia.

O facto de a Palavra ser eficaz não quer dizer que se imponha aos seres humanos.
De facto, a pessoa pode opor-se a Deus. No entanto, a rejeição da Palavra de Deus produz efeitos negativos no coração da pessoa que a rejeita, pois a Palavra de Deus coincide com o que é melhoromemHomem para o Homem.

A conversão é sempre uma decisão do Homem em acolher a proposta amorosa de Deus. Ao contrário do que acontecia com o legalismo dos Levitas, o pecado não é nunca uma mera transgressão.

Pelo contrário, é uma infidelidade à aliança de Deus da qual a aliança matrimonial é símbolo.
Podemos dizer que o profeta é o homem do compromisso com a transformação histórica, apontando sempre para os critérios de Deus, os quais são diferentes dos critérios dos homens.
Pela revelação sabemos que, no princípio, era o amor concretizado numa comunhão familiar de três pessoas.

Através da sua Palavra, Deus revelou-nos o grande amor com que nos criou e salvou em Cristo.
Graças ao dom da revelação nós sabemos que não estamos perdidos num mundo caótico e a caminhar para o vazio da morte.

Por si só, o Homem nunca podia chegar a esta compreensão profunda do mistério de Deus, do Homem e do sentido da História.

Apesar de não ser irracional, a Palavra de Deus transcende a simples razão humana.
Podemos dizer que a revelação está para a razão, como os binóculos para os olhos: Assim como os binóculos optimizam as capacidades dos olhos, a fé amplia os horizontes da razão.

Mas o Homem pode recusar-se a agir segundo as propostas que lhe são feitas pelo Deus da Aliança.

Levamos em nós a serpente que nos pretende fazer acreditar que as propostas de Deus não são boas para nós.

O Espírito Santo ao provocar o eco da Palavra no nosso coração, faz emergir em nós a Sabedoria que nos capacita para saborearmos a vida com os critérios de Deus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias




03 novembro, 2009

SABOREANDO O DOM DA FRATERNIDADE

Deus Pai,
No princípio, o teu amor paternal orientava-se de modo exclusivo para o teu Filho Unigénito.

Depois, como o teu Filho partilhou connosco a sua condição de Filho de Deus, nós passámos a ser co-herdeiros com ele da sua filiação divina.

Filho Eterno de Deus,
Nós te damos graças por teres partilhado connosco o amor com que o Pai te ama desde toda a eternidade.

Ao tornares-te nosso irmão de modo totalmente gratuito, tu inauguraste a dinâmica da fraternidade universal.

Primeiro fizeste-te irmão de todos nós. Em seguida deste-nos o mandamento do amor, a fim de nos colocares na situação da fraternidade universal.

Eis como o evangelho de São João resume este teu gesto de irmão amoroso: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12).

Filho Eterno de Deus,
Pelo mistério da Encarnação deixaste de ser o Filho Único de Deus para te tornares o primogénito de muitos irmãos como diz São Paulo (Rm 8, 29).

Espírito Santo,
Tu habitas de modo permanente no nosso coração. Com o teu jeito maternal de amor tu nos conduzes a Deus Pai e ao Filho eterno de Deus, a fim de nos incorporares na Família Divina.

Mas o teu amor maternal vai mais longe, conduzindo-nos à comunhão com os irmãos, a fim de formarmos a Família Universal de Deus.

São Paulo diz que é por ti que os seres humanos se tornam filhos e herdeiros de Deus Pai, bem como irmãos e co-herdeiros com o Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

Espírito Santo,
No nosso íntimo tu és o grande escultor da fraternidade, ajudando-nos a passar do coração egoísta de Caim para o coração manso, humilde e fraterno de Jesus Cristo.

Na verdade, nós somos seres talhados para a comunhão: precisamos da estima dos outros para nos estimarmos e gostarmos de nós.

A comunhão fraterna é realmente a grande meta da humanização cuja plenitude é a nossa incorporação na Família de Deus.

A plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão com os demais.

Isto significa que a pessoa, reduzida a si, está em estado de perdição. Com efeito, o estado de inferno não é mais que a ausência total e definitiva de comunhão.

Estamos talhados para a comunhão fraterna. As pessoas humanas apenas podem estruturar-se de modo equilibrado e feliz em contexto de fraternidade.

Por outras palavras, precisamos uns dos outros para nos realizarmos como pessoas.

Quando se sente só ou rejeitada, a pessoa tem muita dificuldade em se realizar.
Espírito Santo,
Capacita-nos para sabermos confiar nos outros e agir de modo a merecer a sua confiança.

Ensina-nos a ouvir com empatia quando os outros nos querem comunicar os seus sentimentos íntimos.

Torna-nos capazes de guardar os segredos que os outros nos confiaram, a fim de sermos dignos da sua amizade.

Ajuda-nos a estar atentos aos valores dos outros e a ser capazes de valorizar as suas realizações.

Ensina-nos a comunicar sempre numa linha de verdade e autenticidade.

Dá-nos um coração aberto e acolhedor, a fim de sabermos compreender e aceitar a pessoas que se cruzam connosco na vida.

Pai Santo,
Ajuda-nos a tomar consciência de que os outros são um dom de para nós, pois são os irmãos que tu nos dás, a fim de seres o Nosso Pai.

Espírito Santo,
Ajuda-nos a moldar um coração fraterno, e a não querermos estar sempre acima dos outros.

Ilumina-nos, a fim de reconhecermos que ninguém é bom em tudo, a fim de sermos capazes de aceitar e aprender com as qualidades dos outros.

Dá-nos a sabedoria necessária para compreendermos que cada pessoa é única, original e irrepetível e, por isso, nunca está a mais, pois não é cópia de ninguém.

Ajuda-nos a saborear o ensinamento magnífico da Carta aos Efésios que diz: “Há um único Senhor, uma única Fé, um único baptismo.

Há um só Deus e Pai de todos que está acima de todos, actua por meio de todos e se encontra em todos” (Ef 4, 5-6).

Jesus, Irmão Querido,
Ensina-me a arte de escutar os irmãos, lembrando-me de que as pessoas que se recusam a escutar os outros não merecem ser escutadas.

Ajuda-nos a saber construir fraternidade na História, pois esta é a única maneira de chegarmos à Fraternidade Universal do vosso Reino.
Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias