II-A CATEQUESE DE EFEITOS PERVERSOS
Aquela mulher parecia uma estátua de granito. Nunca revelava os seus sentimentos.
Nunca casou, pois pensava que o casamento era uma fonte de pecados.
Ninguém, à sua volta as pessoas nunca sabiam se ela sofria ou estava feliz. Para esta mulher, Deus é um ser sempre faminto de sofrimentos.
Deus só concede dons aos seres humanos se estes lhe oferecerem sofrimentos. As doenças, diziam ela, são mimos de Deus. A pessoa que sofre mais é mais amada de Deus.
Estava constantemente a tentar incutir sentimentos de culpa nas pessoas que a rodeavam. Os prazeres mais legítimos e inocentes eram para ela obras do pecado e a causa da constante ira de Deus contra a Humanidade.
O seu rosto de pedra fria nunca permitiu tirar conclusões sobre os seus estados de humor. A sua grande preocupação era incutir nas pessoas a visão do Deus irado e sentimentos de culpa profundos.
Como sabemos, a imagem que uma pessoa tem de Deus depende da sua história, das pessoas que a educaram e das suas experiências da sua.
Isto permite-nos concluir que as pessoas que a educaram e lhe comunicaram a fé, eram pelo menos maus pedagogos e gente de uma fé deformada.
Aquela mulher nunca ri espontaneamente. As risadas não agradam a Deus, costumava ela dizer.
Certa noite não conseguiu dormir devido a umas cólicas que a atormentaram durante toda a noite.
Como se sentia extenuada, levantou-se um pouco mais tarde do que o costume. Por esta razão não foi à missa como de costume.
A meio da manhã, escorregou e provocou uma rotura muscular. Tirou imediatamente a ilação deste acontecimento: foi castigo de Deus por não se ter levantado a horas de ir à missa.
O Deus que a mente desta mulher modelou é uma falsa divindade. É um deus tirano e castrador.
Por isso ela é uma mulher mutilada, incapaz de comunicar ternura a quem quer que seja, mesmo que se trate de uma criança.
É incapaz e estimular alguém através do elogio. Deus gosta de sofrimentos, não de elogios, costuma dizer.
Como tem tido muitos problemas de saúde, diz frequentemente que Deus a escolheu como predilecta.
De facto, diz ela, é através dos sofrimentos dos seus predilectos, que Deus vai perdoando aos pecadores.
Podemos dizer que o deus daquela mulher é uma perversão, pois é a projecção do que de pior existe no coração e na mente dos seres humanos.
Como consequência desta identificação perversa, o seu coração ficou mirrado por falta de ternura.
O deus em que acredita é, na verdade, a imagem da sua história triste e fria. Desde muito pequena que a sua catequista lhe dizia que temos de sofrer e fazer muita penitência, a fim de diminuirmos os sofrimentos de Deus.
Para esta mulher, Deus sofre muito devido aos pecados dos seres humanos. As pessoas que não se martirizam, dizia-lhe a catequista, vão para o inferno, pois não aliviam o sofrimento de Deus.
Quando o ser humano deforma o rosto de Deus, a realidade humana é também distorcida. Todas as manhãs as pessoas viam-na passar para a missa e logo a seguir para o mercado.
O seu aspecto era sempre o de uma mulher a quem não foi dado o direito de saborear as alegrias da vida.
As energias que podiam ter tornado a sua vida gostosa mediante gestos de ternura e comunhão amorosa, foram gastas em asceses doentias.
Em nome de uma falsa divindade pode distorcer-se a verdade da vida, de Deus e do Homem.
Devido a todas estas distorções, a sua vida foi estéril.
Penso que ela foi mais vítima que culpada. Outros a castraram, impedindo-a de dar frutos de vida fraterna e comunhão amorosa.
Depois de muitos anos de vida dura, morreu tal como viveu: sem exprimir o mais pequeno sentimento ou emoção.
O deus perverso em que aquela mulher acreditava não fez bem a ninguém, nem mesmo a ela.
Foi por esta razão que ninguém lhe agradeceu os sacrifícios que fez, pois não conduziram ao amor e à fraternidade. Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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