III-A DIVINIZAÇÃO DO HOMEM
Além do beijo primordial que possibilita a humanização do homem, pelo acontecimento da Encarnação deu-nos também o beijo da plenitude.
Este segundo beijo não aconteceu em função da criação, mas sim em função da sua salvação ou divinização.
O primeiro beijo foi-nos dado por Deus Pai, a fim de nos criar. O segundo foi-nos dado por Deus Filho, a fim de nos incorporar na Família divina como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos de Jesus Cristo.
Em qualquer destes beijos é-nos comunicado o Espírito Santo, mas de modo diferente: Pelo primeiro beijo, o Espírito Santo é-nos comunicado como presença pedagógica em função da nossa humanização.
Pelo segundo, o Espírito Santo actua como seiva que vem da cepa da videira e circula para os ramos, tornando-nos participantes da vida da videira (Jo 15, 1-8).
A comunicação divinizante do Espírito Santo, diz o evangelho de São João, é como uma Água viva que Cristo nos dá e faz jorrar um manancial de vida eterna no nosso íntimo (Jo 7, 37-39).
Somos habitados pelo amor de Deus desde o primeiro momento da nossa existência. É assim o mistério da pessoa, a qual é sempre habitada pelos outros, pois ninguém se pode construir sozinho.
Na verdade, a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade das relações de amor e comunhão.
A Carta aos efésios diz que estamos talhados para formarmos uma família com Deus através de Jesus Cristo:
“Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com o plano que, amorosamente, elaborou para nós (…).
Deste modo nos manifestou o mistério da sua vontade e o plano amoroso que tinha estabelecido, a fim de conduzir os tempos à sua plenitude e submeter todas as coisas a Cristo, tanto as do céu como as de terra.
Foi também em Cristo que fomos escolhidos como sua herança, predestinados de acordo com o desígnio que, livremente decidiu para nós” (Ef 1, 5-11).
Para conhecermos em profundidade o mistério do Homem precisamos de conhecer também os mistérios de Jesus Cristo e de Deus.
Por outras palavras, o conhecimento pleno do Homem não é apenas uma conquista da razão humana, mas também e sobretudo uma revelação.
São Paulo diz que o Pai ressuscitou-nos com Cristo, fazendo-nos sentar com Ele nos Céus (Col 2, 12).
Com a ressurreição de Cristo foi-nos comunicada a força ressuscitadora do Espírito Santo que é, na verdade o hálito do segundo beijo de Deus ao Homem, isto é a sua divinização.
O dinamismo humanizante do Espírito Santo continua a actuar na história, a fim de conduzir o Homem à sua plena humanização.
Do mesmo modo, com a ressurreição de Jesus Cristo, o dinamismo ressuscitador do Espírito Santo continua a actuar na História, até acontecer a divinização total da Humanidade.
A meta é, pois, a incorporação na comunhão da Família Divina, graças ao mistério da Encarnação e da ressurreição de Cristo.
Calmeiro Matias
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