As referências a Maria nos evangelhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas deixam bem claro que a realidade de Cristo como Messias é obra do Espírito Santo e não de Maria:
“Enquanto ele falava, uma mulher, levantando a voz do meio da multidão, disse: “Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!”
Ele, porém, retorquiu: “Felizes antes os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11, 27-28).
Jesus tinha consciência de vir a construir a Família de Deus, a qual não assenta nos laços do sangue, mas sim nos laços do Espírito Santo.
Foi esta a razão pela qual Jesus rejeita certas afirmações que parecem opor-se a esta verdade fundamental da realidade messiânica.
“Estava ele ainda a falar à multidão, quando apareceram sua mãe e seus irmãos que, do lado de fora, procuravam falar-lhe:
Disse-lhe alguém: “A tua mãe e os teus irmãos estão lá fora e querem falar-te”. Jesus respondeu ao que lhe deu esta informação: “Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?”
E indicando com a mão os discípulos, acrescentou: “Aí estão minha mãe e meus irmãos, pois todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12, 46-50).
Lucas e Marcos substituem a expressão “fazer a vontade do Pai” por “Escutar a Palavra e pô-la em prática” (Lc 8, 20; cf. Mc 3, 31-35).
Em Nazaré Jesus sentiu que a sua missão estava a ser bloqueada devido à falta de fé de seus conterrâneos:
Eles sabiam quem era Jesus e conheciam muito bem as suas origens: “Chegado o sábado, Jesus começou a ensinar na sinagoga.
Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam: “De onde lhe vem tudo isto e que sabedoria é esta?
Como é possível realizar tais milagres? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
E as suas irmãs não estão aqui entre nós?” E isto chocava-os” (Mc 6, 2-4). No relato da visita a Santa Isabel, Lucas apresenta Maria como mediação da comunicação do Espírito Santo a João Baptista.
O relato tem um forte significado simbólico. Em primeiro lugar afirma que não foi João que comunicou o Espírito Santo a Jesus, mas foi Jesus que comunicou o Espírito Santo a João.
Depois aparece Maria como a grande mediação do Espírito, pois é Maria que leva Cristo, o portador do Espírito Santo, até João Baptista:
“Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para as montanhas, a uma cidade da Judeia.
Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.
E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? De facto, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio” (Lc 1, 39-44).
É um texto bonito para fazer a ligação entre João Baptista e Jesus. Naturalmente que se trata de um “midrash”, isto é, um texto elaborado em forma de relato histórico mas que tem apenas um intenção teológica.
Maria aparece neste relato como uma mulher de Fé. Eis as palavras de Isabel para a Mãe do Messias: “Feliz de ti que acreditaste” (Lc 1, 45).
Tal como Abraão, também Maria acreditou. Graças à sua fé, Abraão tornou-se o medianeiro das bênçãos da salvação para a Humanidade:
“Disse o Senhor a Abraão: “Farei de ti um grande povo. Abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos.
Abençoarei aqueles que te abençoarem e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E na tua descendência todas as famílias da terra serão abençoadas” (Gn 12, 2-3).
Graças à sua fé, Maria recebeu amissão de ser a mãe do Messias, aquele que tinha a missão de trazer para a Humanidade as bênçãos prometidas a Abraão.
As bênçãos prometidas a Abraão chegam à Humanidade mediante o dom do Espírito Santo que faz dos seres humanos membros da Família de Deus:
“Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão, mas um Espírito de adopção, graças ao qual clamais: “Abba, Papá!” (Rm 8, 14-15).
Calmeiro Matias
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