II A DIVINDADE É RELAÇÕES
A nossa fé diz-nos que Deus é relações. Com efeito, a Divindade é uma comunidade familiar:
A primeira pessoa da Santíssima Trindade é Pai, não por ter procriado, mas porque inicia uma relação paternal com a segunda pessoa da Santíssima Trindade.
Do mesmo modo, a segunda pessoa é Filho, não por ter sido dado à luz, mas porque acolhe em relações o amor do Pai e estabelece uma relação filial.
Isto quer dizer que é nas relações que a pessoa se possui e encontra a sua plena identidade.
Mas as relações só têm este poder de fazer emergir e a identidade de uma pessoa se tiverem a densidade do amor.
De facto, a identidade espiritual de uma pessoa revela-se através do modo de amar e se relacionar.
Através das relações, as pessoas descobrem a sua realidade de ser único, original, irrepetível e capaz de comunhão.
Através das relações de amor a pessoa descobre e saboreia a verdade a união orgânica e dinâmica que liga a Humanidade, a calda na qual a pessoa encontra a sua plenitude.
Cada pessoa humana é uma concretização da única Humanidade que existe. Na verdade, a Humanidade está a emergir no concreto de cada pessoa de modo único, original e irrepetível.
Devido à sua capacidade de amar e comungar, a pessoa, na medida em que emerge, converge para a comunhão Universal.
É este o fundamento do mistério da pessoa que apenas se pode encontrar e possuir em relações de comunhão com os demais.
Por isso Deus é um só, pois as pessoas divinas encontram-se e possuem-se de modo pleno numa comunhão orgânica dinamizada pelas relações de amor.
A entrada nesta dinâmica da comunhão orgânica, por vezes, assusta-nos, pois temos medo de perder a liberdade ou a nossa identidade que se configura de modo único, original e irrepetível.
Mas a verdade é exactamente o contrário: Só nos possuímos e encontramos plenamente nesta dinâmica da comunhão universal.
O nosso egoísmo e o medo de nos anularmos levam-nos muitas vezes a fechar-nos na pequenez do nosso ser isolado, pois o isolamento impede-nos de encontrar a nossa riqueza mais profunda.
A pessoa só encontra a sua grandeza e plenitude dentro do mistério da comunhão.
É este o jeito de Deus ser e é também a nossa vocação, pois estamos chamados a realizarmo-nos como pessoas, isto é, seres criados à imagem e semelhança de Deus.
Podemos dizer que a comunhão não anula a pessoa, mas optimiza-a e faz emergir o melhor das suas possibilidades.
Não nos podemos esquecer de que Deus é amor e a pessoa realiza-se na medida em que se edifica como imagem e semelhança de Deus.
Não há amor sem relações. Quando dizemos que Deus é amor estamos a dizer que é relações de amor.
O amor é a qualidade máxima das relações, pois é a dinâmica que confere qualidade humanizante às relações dos seres humanos.
Pelo contrário, as relações alicerçadas no egoísmo são relações desumanizantes. Quanto mais uma pessoa se dá, mais comungável se torna a sua vida.
Podemos dizer que a densidade de vida e felicidade no Reino de Deus depende da profundidade em que a sua vida é comungável.
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