30 junho, 2009

ESPÍRITO SANTO E O HOMEM NOVO

Espírito Santo, tu és a fonte do amor e da liberdade. O evangelho de São Lucas diz que foste tu quem consagrou Jesus para libertar o Homem da opressão do pecado:

“O Espírito Santo está sobre mim porque me consagrou para anunciar o Evangelho aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação dos presos e mandar em liberdade os oprimidos” (Lc 4, 18).

Sempre que optamos pelo amor estamos a responder a um apelo que vem de ti no mais íntimo do nosso coração.

Ser livre é relacionar-se em clima de amor com os outros e interagir de modo criativo com as coisas e os acontecimentos.

Eis a razão pela qual precisamos tanto de ti, Espírito Santo, a fim de podermos ser livres e criadores.

O pecado, isto é, a oposição ao amor não nos torna livres. Eis o que Jesus diz no evangelho de São João: “Se permanecerdes na minha palavra sereis meus discípulos, conhecendo a verdade e a verdade vos libertará (…).

Quem comete o pecado é escravo (…). Se o Filho de Deus vos libertar, sereis realmente livres” (Jo 8, 31-36).

A Carta aos Romanos vai nesta mesma linha quando afirma: “O Espírito Santo que é o Espírito de Vida libertou-te da lei do pecado e da morte” (Rm 8, 2).

A Segunda Carta aos Coríntios diz que onde está o Espírito Santo está a emergir a liberdade.

Eis as suas palavras: “Onde está o Espírito Santo, isto é, o Espírito do Senhor ressuscitado, aí está a liberdade” (2 Cor 3, 17).

Quando entre as pessoas humanas acontece uma relação de fraternidade, e comunhão, tu estás sempre optimizando essa relação.

Tu és a ternura maternal de Deus. Assim como Deus Pai ama com um jeito paternal, tu, Espírito Santo, tens um jeito maternal de amar.

Como és uma pessoa divina, tu tens a possibilidade de realizar uma presença de amor universal, tornando-te presente no interior de todas as pessoas.

Eis o que diz a Primeira Carta aos Coríntios: “Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

São Paulo diz na Carta aos Romanos que tu és, Espírito Santo, o amor de deus derramado nos nossos corações” (Rm 5, 5).

É Esta tua presença no interior das pessoas que possibilita a sua libertação. Por outras palavras, sempre que alguém decide fazer o bem aos irmãos, facilitando a sua realização e felicidade, está a ser mediação do teu Espírito Santo.

De facto, a tua acção libertadora no coração das pessoas acontece pela ajuda de muitas pessoas humanas que são mediações do teu amor.

Todos os gestos de amor encontram em ti a sua raiz, Espírito Santo. Sem a tua acção vivificante no interior dos crentes, as Sagradas Escrituras não passariam de letra morta.

É isto que São Paulo quer dizer quando afirma: “É Deus que nos capacita para sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito, pois a letra mata, enquanto o Espírito dá vida (2 Cor 3, 6).

Sem a tua presença reveladora e animadora de relações amorosas, A comunidade cristã não passaria de um grupo humano com um conjunto de leis, ritos, normas.

És tu, Espírito Santo, quem une de modo orgânico os membros da comunidade cristã, fazendo deles um só corpo, como diz São Paulo (1 Cor 12, 13; 12, 27).



Foste tu, Espírito Santo, quem ressuscitou Jesus e nos vai ressuscitando em comunhão com ele, como diz a Carta aos Romanos:

“E se o Espírito Santo que ressuscitou Jesus está em vós, ele também fará que os vossos corpos vivam após a morte, por meio deste mesmo Espírito que vive em vós” (Rm 8, 11).

Graças a ti somos assumidos na comunhão Trinitária como filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus.

Tu estás no centro do mistério da Encarnação, dinamizando a interacção directa entre a interioridade espiritual humana de Jesus e a interioridade espiritual divina do Filho Eterno de Deus.

Tu és a Água viva que faz brotar uma nascente de Vida Eterna nos nossos corações (Jo 7, 37-39).

Com teu jeito maternal de amar tu preparaste o coração maternal de Maria, a fim de ela amar o seu Filho de modo adequado a preparar a obra da Salvação.

É por esta mesma razão que as pessoas que se deixam conduzir por ti, podem dirigir-se a Deus Chamando-o “Abba”, ó Pai!

A tua presença em nós, Espírito Santo, é a garantia de que estamos salvos. O livro do Génesis diz que, no princípio, a terra era uma massa caótica e vazia.

Depois acrescenta o Espírito Santo pairava sobre a escuridão que cobria os lagos primordiais, a de as suas águas se tornarem o berço fecundo da vida (Gn 1, 1-2).

Por isso nós dizemos que tu és a fonte da vida. O teu amor maternal é o princípio da fecundidade universal.

É por esta razão que o evangelho de São João diz que as pessoas humanas, para entrarem na plenitude da vida eterna, têm de nascer de novo através da Água Viva que és tu, Espírito Santo.

Eis as palavras de Jesus: “Em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no Reino de Deus.

Aquilo que nasce da carne é carne e aquilo que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3, 5-6). No momento do baptismo de Jesus, tu consagraste Jesus para a missão messiânica e o Pai de Jesus confirmou-o como seu Filho predilecto:

“No momento em que Jesus saiu das águas, após o seu baptismo, o Céu abriu-se e Jesus viu o Espírito de Deus vir sobre ele em forma de pomba (Mt 3, 16).

És tu, Espírito Santo, quem nos incorpora na Família de Deus e nos faz gritar de alegria: “Abba”, ó Pai, como diz São Paulo (Ga 4, 4-7; Rm 8, 14.17).

Em nome da Nova Humanidade criada em Cristo ressuscitado eu te agradeço, Espírito libertador!


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

27 junho, 2009

O ROSTO DE DEUS PAI NA BÍBLIA-I

I-DEUS PAI NO ANTIGO TESTAMENTO

A Revelação de Deus é um processo histórico iniciado com o clã de Abraão, atingindo o seu ponto mais alto com Jesus Cristo.

O grande protagonista da marcha da revelação é o Espírito Santo e o rosto de Deus é um dos seus aspectos principais.

Na verdade, o mistério de Deus e o mistério do Homem são os dois pilares sobre os quais assenta o edifício da revelação.

O rosto de Deus é, pois, um aspecto central da acção reveladora do Espírito Santo. O povo bíblico começa por descobrir Yahvé como o Deus da Aliança.

Só muito lentamente o povo começa a descobrir o jeito paternal de Deus amar o seu povo.

Através de Moisés, Deus declara ao Faraó que o Povo de Israel é o seu filho primogénito (Ex 4, 22- 23).

Neste contexto a expressão significa que entre todos os povos, Israel é o primeiro. Se o Faraó não libertar o filho primogénito de Deus, será castigado e corre o risco de perder o seu próprio filho primogénito, isto é, o herdeiro do trono do Egipto.

A presença de Deus junto do seu filho primogénito faz lembrar a presença de um pai que actua de modo protector junto do seu filho.

Eis o modo bonito com o Livro do Deuteronómio descreve a presença carinhosa de Deus junto do seu povo:

“Nenhum outro povo tem o seu deus tão perto de si, como Yahvé está perto de Israel (Dt 4, 7).

O Profeta Oseias profere um oráculo sobre o amor paternal que leva Deus a libertar o seu filho primogénito da escravidão do Egipto:

Eis as palavras do profeta Oseias: “Quando Israel era menino, eu o amei. Do Egipto chamei o meu Filho” (Os 11, 1).

O amor preferencial de Deus por Israel manifestou-se de muitos modos, sobretudo pela maneira como o acompanhou e protegeu o seu povo ao longo da sua história.

Através do profeta Jeremias, Deus declara-se Pai de Israel: “Sou um pai para Israel e Efraim é o meu primogénito “ (Jer 31, 9).

Associando a ternura paternal de Deus à sua acção criadora, o povo bíblico começa a ver o Pai Bondoso, associando-o ao Deus que Criou o Homem à sua imagem e semelhança.

Ao criar o Homem à Sua imagem e semelhança, Deus modelou-o de modo a que ele pudesse atingir a plenitude dos filhos de Deus.

O Povo de Israel, diz Isaías é o Filho predilecto de Deus. Foi modelado por Deus em vista a uma vida plenitude e comunhão amorosa:

“Mas agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai. Nós somos o barro e Tu o oleiro. Na verdade, nós somos obra das tuas mãos” (Is 64, 7).

Por outras palavras, os membros do povo eleito são filhos de Deus não só pela criação como também pela eleição.

Além de pertença de Deus pelo poder de criação, os israelitas, são filhos do Deus Vivo por eleição (Os 1, 9; Dt.14, 1; Is 1, 2).

Mas a paternidade de Deus vai ganhar novos contornos nas profecias messiânicas. A primeira profecia messiânica declara que David vai ter um descendente para o qual Deus vai ser um Pai.

Graças a este filho a casa de David será inabalável (2 Sam 7, 12-16; cf. 1 Cron 17, 10-14; 22, 8-10).

No dia da entronização dos filhos de David, o salmo dois garante ao novo rei que pode governar tranquilo, pois Deus é seu pai: “Tu és meu filho, hoje mesmo te gerei “ (Sal 2, 7).

Os reis da casa de David podem dirigir-se a Deus chamando-o de seu pai, seu Deus, rochedo da sua salvação (Sal 89, 27-29).

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias




O ROSTO DE DEUS PAI NA BÍBLIA-II

II-A TERNURA DE DEUS PAI NO NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento é uma proclamação de Jesus Cristo como o Messias. Ele é o filho prometido a David para o qual Deus seria um Pai (2 Sam 7, 14-16).

O Anjo da Anunciação diz a Maria que ele é o Filho do Altíssimo porque vai herdar o trono de seu pai David (Lc 1, 32-33).

São Paulo diz que Jesus é o filho de David segundo a carne, constituído filho de Deus em todo o seu poder, pelo Espírito Santo, no momento da sua morte e ressurreição (Rm 1, 3-5).

Os evangelhos vão interpretar o baptismo de Jesus como o momento em que ele foi ungido e consagrado pelo Espírito Santo como Messias.

Ao sair da água na qual foi baptizado, Deus Pai proclama Jesus como o seu Filho muito amado (Mt 3, 13-17; Lc 3, 21-22; Mc 1, 9-11).

No início do século segundo, o evangelho de São João reconhece Cristo como o Filho Eterno de Deus Pai.

Deste modo, o Espírito Santo configurou o rosto trinitário de Deus, pois o Filho vive desde toda a eternidade com o Pai e o Espírito Santo.

Cristo é o Filho unigénito do Pai cheio de graça e verdade (Jo 1, 1). Ele é o Filho Eterno de Deus que dá aos que o acolhem o poder de se tornarem filhos de Deus, não pela vontade da carne ou do Homem, mas por vontade de Deus.

Para isso o Verbo encarnou (Jo 1, 12-14). Eis a razão pela qual temos de nascer de novo (Jo 3, 3-6).

Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus, diz São Paulo, são filhos de Deus (Rm 8, 14).
Nós não recebemos um espírito de escravidão mas um Espírito de adopção graças ao qual chamamos “Abba”, Papá (Rm 8, 15; Gal 4, 5).

Como Filho Eterno, Cristo é o Unigénito de Deus, cheio de graça e verdade (Jo 1, 1). Como homem é o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29; Col 1, 15).

No evangelho de São João, Jesus diz que nós somos filhos com Ele. Eis as suas palavras: “Subo para junto de Meu Pai e vosso Pai, para junto de Meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17).

O Filho encarnou, a fim de dar aos homens o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1, 12-14).
Mas para isso temos de nascer de novo pelo Espírito Santo, pois o que nasceu da carne é carne.

Na verdade, só o que nasce do Espírito pertence à esfera do espírito (Jo 3, 6). São Paulo vai nesta mesma linha quando afirma que é através do Espírito que fomos constituídos filhos de Deus (Rm 8, 14; 8, 23; Gal 4, 5).

Jesus dirige-se sempre a Deus chamando-o de Pai (Abba). O Espírito Santo também nos ensina a chamar Deus deste modo (Gal 4, 6).

Ao ensinar aos discípulos o Pai Nosso, Jesus está a convidá-los a falar com Deus Pai, stabelecendo uma relação de filhos com o Pai dos Céus (Mt 6, 9).

Devemos agir em conformidade com a nossa condição de filhos de Deus, tornando-nos irmãos daqueles que não o são pelas vias da carne ou do sangue.

Se Deus é nosso Pai, então nós devemos eleger os outros seres humanos como irmãos, a fim de sermos perfeitos como o nosso Pai do Céu (Mt 5, 43-48).

O Amor de Deus Pai é difusivo, isto é, circula por todos e nunca se detém nem se deixa amarrar.
Por outras palavras, seremos tanto mais filhos de Deus quanto mais formos irmãos dos outros.
São Paulo diz que a criação inteira aguarda a revelação dos filhos de Deus.

Com a ressurreição de Jesus Cristo, os tempos chegaram à sua plenitude. Isto quer dizer que já está em marcha o parto que dá lugar ao nascimento dos filhos de Deus.
Deus realizou em nosso favor tudo o que estava prometido. Já somos filhos seus, diz o Livro dos Actos dos Apóstolos (Act 13, 33).

Chegou o tempo da nossa libertação, pois Deus é nosso Pai. Devemos viver na liberdade dos filhos de Deus e não na escravidão dos que se deixam dominar pelo legalismo e o ritualismo (Rm 8, 21).

Devemos ser fiéis à vontade do Pai como foi Jesus. Ele sabia perfeitamente que a vontade do Pai coincide rigorosamente com o que é melhor para nós.

Eis as suas palavras: “Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor” entrará no reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus” (Mt 7, 21).

De tal modo Jesus se identifica com a vontade do seu Pai do Céu que faz depender deste facto a edificação da Família de Deus:

“Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3, 35; Mt 12, 50).

Com efeito, os que fazem a vontade do pai são realmente filhos de Deus. Na verdade, a paternidade de Deus é decisiva, pois é a única que durará por toda a eternidade.

É este o sentido da seguinte afirmação de Jesus: “Na terra a ninguém chameis pai, pois um só é o vosso Pai, aquele que está na Céu” (Mt 23, 9).

Os evangelhos dizem-nos que Jesus se dirigia a Deus Pai falando com ele como um Filho fala com seu Pai.

São João diz que em Jesus Cristo habitava a plenitude do Espírito Santo (Jo 3, 34). Isto quer dizer que Jesus possui a plenitude da filiação divina.

Eis a razão pela qual Jesus podia dizer com toda a verdade: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias























25 junho, 2009

DEUS AMOU-NOS AINDA ANTES DE NOS CRIAR

Louvado sejais, Pai, Filho e Espírito Santo, por terdes criado o Universo. Vós sois uma Família infinitamente perfeita e amorosa.

Em diálogo de amor, Vós decidistes Criar as estrelas e os planetas, entre os quais esta Terra bonita e acolhedora em que vivemos.

Fostes Vós, Deus Santo, quem criou a imensa variedade das plantas com as suas flores e frutos.

Criastes as aves do céu, os animais domésticos, os répteis e todos os animais selvagens. Também fostes Vós Trindade Santa, quem Deus criou os oceanos a partir dos lagos primordiais, a fim de serem o berço da vida.

Na verdade, o ventre dos oceanos está cheio de seres vivos. Mas era em nós, Deus Santo, que pensáveis quando criastes todas estas maravilhas!

Isto quer dizer que a obra-prima das vossas mãos é o Homem criado à vossa imagem e semelhança.

Vós criastes todas as coisas, Senhor do Universo, movido apenas pelo amor. Por isso todas as coisas têm sentido e razão de existir.

A beleza e a harmonia das criaturas pois as impressões digitais das relações de amor da Santíssima Trindade.Como é admirável a perfeição das flores, dos frutos, dos peixes, dos animais e das aves do Céu!



Quando olhamos com atenção, verificamos que é bonito o azul do céu, o movimento do mar e o sorriso das crianças.

Como é saborosa a ternura dos pais e o carinho das pessoas que nos amam. Todas estas perfeições existem em grau de perfeição infinita em Vós, Criador de todas as coisas!

A nossa fé diz-nos que tendes uma ternura infinita pela Criação génese histórica. Na verdade, a criação não é um brinquedo para Deus se divertir, mas um projecto para ser realizado.

Obrigado, Pai Santo, porque olhais por nós e nos guardais na palma das vossas mãos.O vosso amor por nós atingiu o ponto mais alto quando fizestes de nós membros da Vossa Família.

Deus Santo, Vós concretizais tudo isto através do Espírito Santo que é o amor de Deus derramado nos nossos corações, Como diz São Paulo (Rm 5, 5).

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo marcou o nosso coração com o selo do amor. Por isso sentimos esta fome imensa de amar e ser amados.


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

21 junho, 2009

DEUS COMO PLENITUDE DA FAMÍLIA HUMANA


A Divindade é uma Família de Três pessoas. Deus é relações!

Ainda o Universo não tinha iniciado a sua génese e a Família já existia. O Amor precedeu o Universo.

A família humana, constituída à imagem da Família Divina, é o espaço fundamental para a humanização das pessoas humanas.

A família é o espaço básico do Homem em construção. O amor familiar é a dinâmica fundamental que preside à estruturação da pessoa humana.

Segundo tenha sido bem ou mal amado, o ser humano ficará bem ou mal estruturado. Isto quer dizer que é na família que tem início a dinâmica da humanização cuja lei é:

“Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal da Família de Deus”.

Mais que um lugar de aprendizagem teórica, a família é um entretecido de relações onde circula o amor e acontece comunhão.

É o jardim onde floresce o amadurecimento humano, dos esposos, dos pais e dos filhos. Primeiro amadurece o marido, depois o pai. O mesmo acontece com a esposa:

Primeiro amadurece a esposa, depois a mãe com essa capacidade heróica de morrer para dar vida.

Quanto maior for a densidade do amor no entretecido familiar, maior será a emergência criadora do Homem Novo no seu interior.


É na família que a pessoa é capacitada para atingir a sua plenitude.

Isto quer dizer que a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade da comunhão.

Na verdade, a pessoa só pode possuir-se e conhecer-se plenamente em contexto de comunhão amorosa.

Na dinâmica das relações familiares as pessoas aprendem a aceitar-se umas às outras, apesar de seres todas diferentes.

Na verdade, a Humanidade está a emergir de modo único, original e irrepetível em cada pessoa. É por esta razão que ninguém está a mais.

À medida que os membros da família são capazes de se aceitar e valorizar os outros estruturam-se como pessoas livres, conscientes, responsáveis e capazes de comunhão amorosa.

Entretecida nesta dinâmica de amor e comunhão, a família humana é verdadeiramente uma imagem viva da Família Divina.

Com efeito, Deus é uma comunhão familiar de três pessoas. É na calda das relações familiares que as pessoas recebem o leque fundamental dos seus talentos os quais são a matéria-prima da humanização das pessoas.

A fidelidade aos próprios talentos é o modo de a pessoa atingir a sua plena realização.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


17 junho, 2009

O ESPÍRITO SANTO COMO FONTE DE SALVAÇÃO-I


I-A ÁGUA DO POÇO DE JACOB

Eis algumas palavras que Jesus dirigiu à Samaritana junto ao poço de Jacob: “Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é aquele que te está a pedir água, tu é que lhe pedirias e ele te daria uma Água Viva” (Jo 4, 10).

Esta simbologia João insere-se numa longa tradição profética sobre a Água que brota das fontes da salvação.

O profeta Jeremias repreendeu o seu povo por este ter voltado as costas a Deus que é a fonte da Água Viva. A Água viva é o Espírito Criador, a fonte da Vida espiritual.

A Primeira Carta aos Coríntios diz que todos nós bebemos do mesmo Espírito, a fim de formarmos o corpo de Cristo:

“Todos nós fomos baptizados num só Espírito, a fim de formarmos um só corpo, tanto judeus como gregos, escravos ou livres.

Todos bebemos de um mesmo Espírito” (1 Cor 12, 13). Referindo-se à Eucaristia, o evangelho de São João diz que a carne e o sangue de Jesus Cristo ressuscitado o alimento da vida Eterna.

Depois acrescenta que a carne e o sangue de Cristo são o Espírito Santo que Cristo ressuscitado nos dá” (Jo 6, 62-63).

Jesus disse à Samaritana que a Água Viva não é como a água do poço de Jacob onde ela vinha habitualmente a buscar água.

Com esta linguagem simbólica o evangelho de são João quer dizer que o poço de Jacob é a Antiga Aliança, a qual não é a fonte da salvação eterna.

A Água Viva, pelo contrário, simboliza o Espírito Santo que é a fonte da salvação eterna. A Água do poço de Jacob precisa de um balde, isto é, a multidão das normas, leis e preceitos dos judeus.

Para a Água Viva basta a fé e brota em nós pela Palavra de Deus que Jesus nos traz. É por esta razão que as pessoas que bebem da água do poço de Jacob voltam a ter sede.

A Água Viva mata a sede para sempre, isto é, dá-nos a vida eterna. Foi isto que Jesus quis explicar à Samaritana com o seguinte ensinamento:

“Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da Água que eu lhe der, nunca mais terá sede, pois esta Água converter-se-á nele em Fonte de Vida eterna” (Jo 4, 13-14).

Mais tarde Jesus explicitou melhor o mistério da Água Viva, dizendo que se tratado Espírito Santo:

“No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, disse em voz alta: “Se alguém tem sede venha a mim. Quem crê em mim que sacie a sua sede!

Como diz a Escritura, hão-de brotar do seu coração rios de Água Viva. Jesus disse isto referindo-se ao Espírito Santo que iam receber os que acreditassem nele.

Com efeito, o Espírito ainda não tinha vindo, pois Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 37-39).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O ESPÍRITO SANTO COMO FONTE DE SALVAÇÃO-II

II-A ÁGUA DA NOVA ALIANÇA

Os que bebem a Água Viva tornam-se templos vivos do Espírito Santo. Eis o que São Paulo9diz na Primeira Carta aos Coríntios:

“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 2, 16). Já alguns séculos antes o profeta Ezequiel diz que o Espírito Santo é a força da Nova Aliança.

A força da Nova Aliança é o Espírito Santo, o qual actua no nosso coração: “Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um Espírito Novo:

Arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Porei o meu Espírito no vosso íntimo, fazendo que sejais fiéis às minhas leis e preceitos” (Ez 36, 26-27).

A Carta aos Efésios diz que os cristãos não se devem embriagar com vinho mas encher-se com a força do Espírito Santo (Ef 5, 18).

São Paulo queria dizer que a bebida da Nova Aliança é o Espírito Santo, não o vinho (1 Cor 12, 13).

Foi isto que Jesus quis dizer quando disse aos judeus: “Se alguém tem sede venha a mim e beba” (Jo 7, 37).

E à Samaritana disse: “Aquele que beber da Água que eu lhe der nunca mais terá sede” (Jo 4, 14).

Muitos séculos antes já o profeta Isaías tinha falado do Espírito de Deus como sendo uma água que mata a sede e faz desabrochar a vida espiritual.

Eis as suas palavras: “Vou derramar água sobre todos os que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida.

Vou derramar o meu Espírito e as minhas bênçãos sobre os vossos filhos e filhas. Por isso eles vão crescer como plantas junto das fontes e como salgueiros junto às águas dos rios e Ribeiros” (Is 44, 3-4).

São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Referindo-se à abundância do Espírito no dia de Pentecostes, São Pedro diz que a exuberância dos Apóstolos não se deve à força do vinho, mas sim à força do Espírito.

O que está a acontecer é a plena realização das antigas profecias, em especial a profecia de Joel:

“Estes homens não estão embriagados como imaginais, mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel” (Act 2, 15-16).

O Espírito Santo é o Espírito de Cristo ressuscitado. Como estamos unidos ao Senhor ressuscitado, o Espírito que o anima, anima-nos também a nós.

Eis os frutos do Espírito Santo em nós, como diz a São Paulo : Amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio” (Gal 5, 22-23).

Depois, acrescenta: “Se vivemos no Espírito, sigamos também as pegadas do Espírito” (Gal 5, 25).

É o Espírito Santo que nos torna fecundos diz São Paulo: “Quem semear no Espírito do Espírito colherá a vida eterna” (Ga 6, 9).

Com esta frase São Paulo quer dizer que o Espírito Santo gera vida eterna no nosso coração.
Como manancial de Água Viva, o Espírito Santo é a fonte da vida eterna:

“Este é o Deus da minha Salvação, dizia o profeta Isaías. Por isso estou confiante e nada temo, pois fiz de Deus a minha força e o meu canto. Ele é a minha Salvação.

Cheios de confiança e alegria, todos poderão tirar água das fontes da Salvação (Is 12, 2-3).

Em Comunhão Convosco
Calmeiuro Matias

15 junho, 2009

ENTRANDO NO CORAÇÃO DA HUMANIDADE-I

I-ÉS O GRANDE SONHO DE DEUS

És uma emergência histórica e concretizas-te em pessoas. Emerges de modo único e irrepetível em cada ser humano.

Realizas-te como um rosto com duas faces: Masculinidade e feminilidade. Aconteces no coração de pessoas livres e capazes de amar.

Como Humanidade és uma união orgânica e interactiva de pessoas em relações. És, de facto, imagem de Deus. Levas em ti as impressões digitais do Criador.

Surgiste nesta terra bonita e fecunda como resultado de um desejo expresso de Deus. Por estares em construção ainda não atingiste a tua plenitude.

É por esta a razão que levas no teu íntimo uma fome infinita de amor e comunhão. O teu aparecimento significa o cume da evolução da vida.

Antes de ti, Humanidade, já existiam na Criação muitos balidos, guinchos, uivos e grunhidos.
Mas não havia ninguém capaz de amar e fazer poesia.

És a obra-prima de Deus. Por isso o Criador parou a marcha da criação para sonhar um projecto para ti (Gn 1, 26-27).

Depois de pensar, planear e decidir Deus insuflou no teu interior o hálito da vida espiritual. Tu és, Humanidade, a única imagem que Deus criou de Si!

Por agora, ainda és o Homem em construção. Mas quando chegar a plenitude farás parte da Comunhão Universal da Família de Deus.

Emerges no concreto de pessoas a estruturar-se de modo único, original e irrepetível. Mas ainda estás inacabada. É esta a razão da tua fome insaciável de plenitude!

A criança é uma pessoa iniciada, mas longe de estar realizada. O jovem ainda não teve tempo para chegar longe na densidade da sua realização.

Nem o adulto se pode arrogar o título de homem plenamente acabado. No entanto, já pertences à cúpula personalizada da criação.

Humanidade: És milhões de pessoas e por isso já pertencem à esfera da transcendência!

Por te constituíres como pessoa já fazes parte do grande Oceano da Comunhão Universal. Começaste com o homem primordial e continuas a avançar na marcha histórica da humanização.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

ENTRANDO NO CORAÇÃO DA HUMANIDADE-II


II-ESTÁS EM MARCHA PARA DEUS

Humanidade: és uma novidade a emergir no concreto de cada pessoa. Ma as só podes encontrar a tua plenitude na reciprocidade da comunhão amorosa.

Na verdade, perder-se é ficar fora da galáxia da Comunhão Universal. Humanidade: És um projecto em construção. És vida com maiúscula, pois emerges como interioridade pessoal-espiritual a convergir para o face a face do encontro amoroso.

Quem não facilita a tua génese não está em sintonia com a acção criadora de Deus.

Bloquear o teu processo é impedir as pessoas de renascerem como concretizações da vida pessoal espiritual.

O expoente máximo da tua riqueza é Jesus de Nazaré. De facto, ele é o fruto mais amadurecido da Humanidade.

Ele é o ponto de encontro do Humano com o Divino. Cristo é, realmente, a revelação máxima de Deus e do Homem.

Foi nele que se deu o enxerto do Divino no Humano, condição essencial para que o humano pudesse ser divinizado, isto é, introduzido de modo orgânico na Família Divina (cf. Rm 8, 14-17).

Humanidade: és um poema ainda não plenamente declamado, mas já estás na plenitude dos tempos, isto é, na fase dos acabamentos.

És a menina dos olhos de Deus. Não nasceste feita nem te fazes de uma só fez. Alegra-te, pois Deus está todos os dias contigo, embora sem te substituir.

Por outras palavras, tu és um projecto histórico de humanização a caminhar para o encontro com o divino.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

12 junho, 2009

CRISTO E A PLENITUDE DOS TEMPOS-I

I-O NASCIMENTO DOS FILHOS DE DEUS

O Tempo da gestação chegou ao fim. Com o mistério da Encarnação, o Filho de Deus introduziu a Humanidade na Família de Deus.

Quando os tempos chegaram à sua plenitude, diz São Paulo, Cristo nasceu e, com ele, nós fomos já podemos chamar Pai a Deus:

“Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei.

Deste modo, o Filho de Deus resgatou os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito Santo que em nós clama: “Abba, ó Pai”.

Deste modo já não somo servos, mas filhos. E se somos filhos também somos herdeiros pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

Como acabámos de ver, foi graças a Jesus Cristo que a Humanidade chegou à plenitude dos tempos.

Esta expressão significa que ao ressuscitar, Jesus Cristo iniciou a divinização do Homem introduzindo os seres humanos na comunhão da Família de Deus.

Por outras palavras, com Cristo ressuscitado a Humanidade entrou no limiar da plenitude dos tempos, isto é, o tempo do parto.

Chegou o momento do segundo nascimento como diz o evangelho de São João (Jo 1, 6). Com a ressurreição de Jesus Cristo a Humanidade atingiu o topo, isto é, o ponto mais elevado da História.

Com o mistério da Encarnação, diz o evangelho de São João, Deus deu-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 12-14).

Este poder é o Espírito Santo, a Água viva que Cristo nos deu no momento da sua ressurreição (Jo 7, 37-39).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

CRISTO E A PLENITUDE DOS TEMPOS-II

II-PLENITUDE DOS TEMPOS E A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

A fase dos acabamentos, isto é, a plenitude dos tempos culmina com a segunda vinda de Cristo.

Influenciados pelos apocalipses judaicos, os cristãos chegaram a pensar que a segunda vinda de Cristo aconteceria como uma tragédia.

Na verdade a segunda vinda de Cristo significa uma realidade muito diferente: Deus sonhou um plano de amor para a Humanidade e vai realizá-lo com a segunda vinda de Cristo.

Por outras palavras, a segunda vinda de Cristo significa a plena realização do amor de Deus em favor da Humanidade.

No dia da segunda vinda de Cristo as pessoas que ainda vivam na Terra serão assumidas e incorporadas na Comunhão da Família de Deus.

No Reino estão todos os que nos precederam na marchada História. A vinda gloriosa de Jesus Cristo, portanto, não significa uma tragédia e uma vingança de Deus.

Jesus anunciou o Reino de Deus como um projecto de amor para toda a Humanidade. A vontade de Deus, diz São Paulo, é que todas as pessoas conheçam Deus e façam parte da sua Família (1 Tim 2, 4).

Se olharmos com atenção a maneira como Jesus actuava, Vemos como ele perdoava aos pecadores integrando-os na Família de Deus.

Era por esta razão que Jesus comia com os pecadores. Os evangelhos contam-nos muitos encontros de Jesus com os pecadores, libertando-os da opressão do pecado e das doenças:
Recordemo-nos do relato da Mulher adúltera (Jo 8, 1-11).

Lembremo-nos do caso de Zaqueu (Lc 19, 1-10). O evangelho de São João descreve de modo muito bonito o encontro de Jesus com a Samaritana (Jo 4,7-21).

Com estas atitudes, Jesus queria afirmar a acção libertadora do amor de Deus a actuar no mundo.

Por isso é que ele afirmou tantas vezes que o seu modo de proceder correspondia exactamente à vontade de Deus:

“O meu alimento, dizia ele, é fazer a vontade de meu Pai e realizar o seu projecto” (Jo 4, 34).

A primeira Carta a Timóteo diz que a vontade de Deus é que os homens se salvem e cheguem a conhecer a verdade do amor de Deus por todos” (1 Tim 2, 4).

O Reino de Deus é a comunhão de todas as pessoas, formando a Família de Deus. A esta luz já podemos compreender como a segunda vinda de Cristo é um modo para dizer o encontro amoroso do Homem com Deus quando terminar a História Humana.

Por outras palavras, no dia da segunda vinda de Cristo o Senhor ressuscitado não deixará ninguém fora da Família de Deus, excepto os que rejeitem a proposta amorosa de Deus.

Podemos dizer que a salvação de Deus em Cristo é para todos as pessoas que tenham uma coração capaz de comungar com Deus e os irmãos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

08 junho, 2009

O ESPÍRITO SANTO É A BEBIDA DA VIDA ETERNA-I

I-ESPÍRITO SANTO E PUREZA DE CORAÇÃO

Segundo a simbologia do relato das Bodas de Caná, a água dos ritos judaicos de purificação é transformada por Jesus em vinho de qualidade superior (Jo 2, 6-10).

Na simbologia de São João a alta qualidade deste vinho representa o salto de qualidade da Nova Aliança em relação à Antiga.

O Espírito Santo é o princípio da Vida Nova que brota da Nova Aliança. A antiga aliança não era fonte de vida mas força bloqueadora que impedia a Vida Nova de emergir.

São Paulo tinha uma consciência muito clara da inutilidade dos ritos e lavagens do judaísmo quando escreveu:

“Cristo é quem nos capacita para sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito.

Com efeito, a letra mata, mas o Espírito dá Vida” (2 Cor 3, 6). Noutra passagem, São Paulo diz que fomos baptizamos no mesmo Espírito, a fim de fazermos um só corpo. É por esta razão diz ele, que nós bebemos do mesmo Espírito.

O evangelho de São João associa o Espírito Santo a uma Água viva que faz nascer uma fonte de vida eterna no coração dos que a bebem (Jo 7, 37-39).

O profeta Isaías compara o Espírito Santo a uma água que mata a sede e faz desabrochar em nós vida em abundância:

“Vou derramar água sobre os que têm sede e fazer correr rios sobre a terra árida. Vou derramar o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção sobre os teus descendentes.

Estes crescerão como plantas junto das fontes e como salgueiros junto das águas correntes” (Is 44, 3-4).

A Primeira Carta aos Coríntios diz que o nosso coração é o templo onde habita o Espírito Santo:
“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 2, 16).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O ESPÍRITO SANTO É A BEBIDA DA VIDA ETERNA-II

II-O ESPÍRITO SANTO COMO BEBIDA DA NOVA ALIANÇA

Os profetas quando anunciavam a Nova Aliança associavam-na sempre com a força renovadora do Espírito Santo.

O profeta Jeremias anunciou a Nova Aliança como o tempo da abundância do Espírito Santo:
“Dias virão em que firmarei uma Nova Aliança com a casa de Israel e a casa de Judá (…).

Esta será a Aliança que estabelecerei depois destes dias com a casa de Israel, oráculo do Senhor:
Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração.

Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jer 31, 31-33). Quando chegar a Nova Aliança, dizia o Profeta Jeremias, Deus purificará o coração dos homens com a força recriadora do Espírito Santo.

O profeta Isaías via os tempos messiânicos como a idade de oiro em que todos teriam acesso às fontes da salvação.

Eis as suas palavras: “Este é o Deus da minha Salvação! Estou confiante e nada temo, pois o Senhor é a minha força e o meu canto.

Ele é a minha Salvação. Cheios de alegria todos irão tirar água às fontes da Salvação (Is 12, 2-3).

Segundo os profetas, a pureza que une a pessoa a Deus é de ordem interior e não assenta em meros ritos exteriores.

A Água Viva que faz emergir a Vida Eterna no Coração das pessoas é o Espírito Santo e não a água das lavagens dos ritos judaicos de purificação.

A Carta aos Efésios convida os crentes a encher-se do Espírito Santo e não a embriagar-se com vinho (Ef 5, 18).

Com a primeira Carta aos Coríntios podemos dizer que o Espírito Santo é a bebida da Nova Aliança que nos dá a Vida Eterna (1 Cor 12,13).

Eis algumas afirmações de Jesus que vão nesta mesma linha: “Se alguém tem sede venha a mim e beba” (Jo 7, 37);

“Aquele que beber da Água que eu lhe der nunca mais terá sede” (Jo 4, 14);

O Livro dos Actos dos Apóstolos vê na difusão do Espírito o cumprimento da profecia do profeta Joel sobre a abundância do Espírito.

Face ao entusiasmo dos apóstolos, os judeus acusam-nos de estarem bêbedos. Os Apóstolos ripostam dizendo que a bebida que os faz exultar é a realizações das profecias messiânicas:

“Não, estes homens não estão embriagados como imaginais, pois apenas vamos na terceira hora do dia.

Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel” (Act 2, 15-16).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O ESPÍRITO SANTO É A BEBIDA DA VIDA ETERNA-III

III-ESPÍRITO SANTO E A VIDA ETERNA

O evangelho de São João diz que a pessoa humana nasceu para renascer (Jo 3, 6). Este renascimento acontece pela acção do Espírito Santo e mediante o dinamismo das relações amorosas.

A vida humana não se esgota na dimensão biológica. A pessoa é constituída por uma dimensão exterior e uma dimensão interior.

O nosso ser exterior mede-se pelo peso e pelos centímetros de altura. O nosso ser espiritual, pelo contrário, mede-se pela capacidade de amar e comungar.

O peso da pessoa e a sua altura pertencem ao ter da pessoa: tem quilos e tem centímetros.
O ser interior da pessoa não radica no que tem, mas sim no que é.

Por outras palavras, a identidade espiritual de uma pessoa é constituída pelo seu jeito de amar e comungar.

Podemos dizer que na Comunhão Universal, o ser humano dançará eternamente o ritmo do amor com o jeito que tiver treinado enquanto viveu na História.

É isto que explica a fome de ser e amar que as pessoas levam no mais íntimo do seu ser.

Levamos no nosso íntimo uma voz que nos convida a transcender os limites da nossa condição de seres inacabados e famintos de plenitude.

Isto quer dizer a razão de ser da nossa existência histórica não é apenas prolongar a vida mortal, mas, sobretudo, construir a vida Eterna.

Esta fome de plenitude só pode ser preenchida pela Água Viva que faz emergir no nosso íntimo uma nascente de Vida Eterna (Jo 7, 37-39).

Dos pais recebemos a vida exterior, isto é, o nível biológico e psíquico do nosso ser. Através do renascimento pelo Espírito emerge a nossa identidade espiritual, a qual não acaba no cemitério como o ADN.

À medida que emerge como vida espiritual, o ser humano passa a fazer parte da galáxia da comunhão orgânica da das pessoas humanas com as divinas.

O nosso ser exterior acaba no silêncio da morte, isto é, na solidão cósmica. O nosso ser interior, pelo contrário, está chamado à plenitude amorosa da Santíssima Trindade.

Por ser morada do Espírito Santo, o nosso ser interior é o santuário que não foi construído pela mão do homem por Deus.

É neste santuário que a nossa vida espiritual é optimizada pelo Espírito Santo e se torna Vida Eterna, isto é, divinizada porque assumida na Família de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

04 junho, 2009

QUANDO DEUS IRROMPE NO SILÊNCIO-I

Era uma tarde muito bonita de primavera avançada.

O Pedro desceu até junto ao rio e sentou-se debaixo de um salgueiro.

Enquanto contemplava a colina verde e florida que ficava à sua frente, o Pedro começou a sentir uma paz e da qual irradiava uma alegria profunda.

Deixava o seu olhar divagar, contemplando, a colina colorida que conferia variedade ao horizonte.
Do seu íntimo mais profundo começou a brotar uma alegria geradora de paz e serenidade indescritível.

Saboreava a alegria de estar vivo e em comunhão com a natureza que o rodeava. De modo especial saboreava a fonte e a plenitude da vida que emergia, suavemente, no mais íntimo do seu ser.

Nesse momento, depois de fechar os olhos por um instante, o Pedro sentiu-se habitado por Deus.

De modo gradual e progressivo começou a contemplar a sua história, apercebendo-se de que, no mais íntimo de si, está o Espírito de Deus que o habita.

Ao dar-se conta da suave presença de Deus no seu coração, teve a intuição de que, orar, não é um monólogo esquizofrénico.

Sem quaisquer dificuldades começou a falar com Deus como um amigo fala com seu amigo.

Evitou palavras rebuscadas, a fim de não perturbar ou bloquear este diálogo.De repente sentiu-se exultar de alegria e compreendeu que a capacidade de saborear a presença de Deus é interior.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

QUANDO DEUS IRROMPE NO SILÊNCIO-II

Na verdade, o coração é o ponto de encontro e comunhão da pessoa com Deus e os outros. À medida que saboreava todas estas maravilhas que brotavam do seu interior, o coração do Pedro começou a dilatar-se.

Sentia-se em comunhão com a Divindade, a Humanidade e com todo o Universo. É como se, nesse momento, estivesse em coordenadas de Universalidade, onde já não há lonjura nem distância.

Mas a maior alegria é a alegria interior de se sentir habitado por Deus. Nesse momento, o Pedro lembrou-se do jeito de orar de Jesus o qual costumava retirar-se para sítios silenciosos, a fim de falar a sós com o Pai.

Na verdade, os evangelhos dizem que Jesus, para orar procurava o silêncio e a harmonia da natureza.

Nesse momento, o Pedro lembrou-se de um dos diálogos de Jesus com Deus Pai, e da alegria profunda que brotou desse face-a-face.

Eis como São Lucas descreve esse diálogo amoroso entre Jesus e Deus Pai:

“Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse:

“Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado ” (Lc 10, 21).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

QUANDO DEUS IRROMPE NO SILÊNCIO-III

Nesse momento, Pedro sentia-se unido a Deus e à Criação.

Sentia um desejo enorme de fazer bem, ajudando os seres humanos a ser felizes.
Nesse momento, o Pedro compreendeu que a comunhão com Deus não nos afasta da comunhão com os irmãos.

E viu com clareza que as pessoas que de facto fazem a experiência de Deus, não são afastadas nem distraídas da tarefa de construir a fraternidade humana.

O Pedro sentiu desejo de agarrar esse momento e não o deixar fugir. Como São Pedro no monte da transfiguração, o Pedro tinha uma vontade enorme de construir ali uma tenda e ficar ali para sempre.

Mas o Pedro sabia que isso podia acontecer, pois a plenitude da sua comunhão com Deus ainda não chegou.

De facto, o Deus que nos acolherá como membros da sua Família já se revela e pode ser saboreado, mas ainda não de modo pleno, perfeito e sem interrupções.

Quando a pessoa humana saboreia a alegria do encontro com Deus tem tendência de o procurar sempre e cada vez mais.

E o Pedro entendeu a importância de criar momentos de silêncio que possam ser espaços privilegiados de encontro e comunhão com Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

02 junho, 2009

É DANDO QUE SE RECEBE-I

I-CHAMADOS A SER DOM

Nascemos talhados para amar e ser dom. De facto, ninguém se pode realizar sozinho e a plenitude da pessoa não está em si mas na reciprocidade da comunhão.

Os dons que Deus nos concede são-nos sempre concedidos em forma de possibilidades, a fim de os podermos aceitar ou não.

Se a pessoa não tivesse a possibilidade de aceitar ou não os dons de Deus, estes não seriam dons, mas imposições.

Entre os muitos dons que Deus nos concede estão as pessoas que facilitam a nossa realização e felicidade.

Uma vez que os dons de Deus nos são oferecidos em forma de possibilidades, a maneira de os aceitarmos é fazê-los render.

No fim da vida não seremos julgados pelo número de possibilidades que tivemos, mas sim pelo modo como os fizemos render, como Jesus ensina na parábola dos talentos (cf. Mt 25, 14-30).

Na verdade o amor propõe-se, nunca se impõe. É por esta razão que Deus nunca nos impõe os seus dons.

A nossa condição de seres responsáveis começa precisamente no facto de nos encontrarmos na vida com um leque de possibilidades que podemos realizar ou não.

Estas possibilidades foram-nos concedidas por Deus, através da mediação dos outros. Isto quer dizer que os outros são uma mediação para a nossa realização e felicidade.

Com as suas recusas de amor também podem ser um obstáculo, bloqueando a nossa realização pessoal.

A fidelidade da pessoa aos seus próprios talentos é uma maneira importante de ser dom.
Ser fiel aos talentos que recebemos é ser agradecido a Deus e levar à plena realização as possibilidades que recebemos dos outros.

Entre as possibilidades com as quais nascemos há uma muito especial: a capacidade de eleger o outro como alvo de bem-querer.

Esta possibilidade é uma condição básica para nos realizarmos e sermos felizes. Na verdade, a pessoa humana só pode atingir a maturidade do amor dando-se aos outros, pois a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade amorosa.

Neste momento talvez alguém se pergunte: “Em que medida estamos possibilitados para ser dom?”

Somos capacitados para ser dom, na medida em que os outros foram dom para nós. É o mistério da reciprocidade amorosa.

Eis a lei do amor: “ Ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado e o mal amado ama mal, mesmo dando o melhor de si”.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

É DANDO QUE SE RECEBE-II

II-CONSCIÊNCIA E REALIZAÇÃO PESSOAL

Isto quer dizer que uma pessoa amada em densidade cinco está capacitada para amar em densidade cinco, como diz o evangelho de São Mateus (Mt 25, 20-21).

Na verdade, começamos por ser o que os outros fizeram de nós. Mas isto não é o mais importante.

Verdadeiramente decisivo é o que nós construímos com os possíveis ou talentos que recebemos dos outros.

No íntimo da nossa consciência, o Espírito Santo interpela-nos no concreto do dia a dia a ser fiéis aos apelos do amor.

A pessoa é convidada a amar com as possibilidades de amar que recebeu através do amor dos outros. Isto significa que as pessoas não são ilhas.

Com efeito, formamos uma união orgânica onde o amor dos outros possibilita a nossa realização e o nosso amor possibilita a realização dos outros.

Podemos dizer que a voz da nossa consciência é a voz dos que inscreveram em nós os valores que fomos interiorizando.

Mas a voz da nossa consciência é também a voz do Espírito Santo que nos convida a ser fiéis aos talentos que recebemos dos outros.

Isto que dizer que agir de acordo com a consciência significa responder sim aos valores que os outros nos transmitiram e à voz do Espírito Santo que “é o amor de deus derramado nos nossos corações” (Rm 5,5).

Por outras palavras, o Espírito Santo é, no nosso íntimo, uma voz suave que nos convida a ser dom para os irmãos nas diversas circunstâncias da vida.

O ser humano tem a possibilidade de se recusar a seguir a voz da consciência e dizer não ao amor com que foi amado.

Neste caso, a pessoa torna-se uma força negativa no tecido social humano. Não se realiza como pessoa nem facilita a realização dos outros.

É verdade que o amor dos outros não nos realiza, mas dá-nos a possibilidade de nos realizarmos se formos fiéis aos talentos que deles recebemos.

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

É DANDO QUE SE RECEBE-III

III-É DANDO QUE SE RECEBE

Quando nos relacionamos com os outros temos, em princípio, a possibilidade de ser dom. Eis alguns gestos significativos que nos ajudam a ser dom quando comunicamos com os outros:

A amizade: A amizade acontece quando duas ou mais pessoas se encontram e decidem ser dom umas para as outras.

Os amigos são dons recebidos e dons oferecidos. Quando as pessoas aceitam ser dom acontece a comunhão, dinâmica que conduz o amor à plenitude.

A amizade é um dos maiores remédios para combater a doença da solidão. Com efeito, o amor dos amigos faz que gostemos mais de nós.

É preciso ser humilde para merecer ter amigos. As pessoas que estão sempre a pretender ser mais que os outros ou estar acima deles nunca chegarão a ter verdadeiros amigos.

Os verdadeiros amigos querem o melhor para os seus amigos. Os amigos autênticos são capazes de os elogiar os seus amigos, mas também são capazes de lhes dizer verdades que não são agradáveis, a fim de os ajudar a crescer como pessoas.

No entanto, os amigos verdadeiros aceitam os seus amigos assim como eles são. Atenção aos outros: Vivemos num mundo cheio de solidão.

Dar atenção a uma pessoa é como dar de comer a uma criança que não se pode alimentar por si.
Na verdade, uma pessoa não é capaz de sair sozinha da solidão.

Os outros são uma mediação indispensável para a cura deste sofrimento. A maneira de concretizar este amor libertador é dar atenção à pessoa do outro, escutando-a, compreendendo-a, aceitando-a como é sem fazer juízos de valor.

Amabilidade: é uma das formas mais simpáticas de viver o amor. Um gesto amável ou uma palavra amiga ajuda o outro a sentir-se aceite e valorizado.

Mostrar simpatia por uma pessoa é aumentar as suas possibilidades de integração e realização social.

Com efeito, a pessoa não é capaz de gostar de si antes de alguém ter gostado dela. Construímo-nos em relações com os outros e encontramos a nossa plenitude na comunhão com eles.

Perdão: É uma atitude fundamental para poderem acontecer relações humanizantes. O perdão beneficia a pessoa perdoada, mas sobretudo a pessoa que perdoa.

Com efeito, enquanto não perdoamos às pessoas, estas dominam-nos. As pessoas contra as quais sentimos rancor gravitam no nosso íntimo, impedindo-nos de viver em paz e sossego.

É no momento em que perdoamos ao outro que ele deixa de ser em nós uma presença obsessiva.
Quando decidimos perdoar a uma pessoa sentimo-nos livres e essa pessoa sente-se desculpabilizada.

Compreensão: Compreender não é tentar anular as diferenças entre as pessoas, pois cada pessoa é única, original e irrepetível.

Compreender é procurar entender o que o outro está a tentar dizer-nos. Aceitação: Ninguém é indiferente às atitudes dos outros para consigo.

Damo-nos muito bem conta de quando os demais nos estão a dar a mão ou nos estão a marginalizar e rejeitar.

Uma criança é capacitada para fazer melhor quando se sente valorizada e apreciada. Por outras palavras, a pessoa compreende muito bem quando está a ser bem acolhida ou, pelo contrário, está a ser indesejada.

Isto quer dizer que a pessoa só se possui plenamente na reciprocidade amorosa. Perdoar não é uma atitude de cobardia. Pelo contrário, o perdão é um gesto de pessoas corajosas.

Deus foi o primeiro a tomar a iniciativa de nos perdoar totalmente em Jesus Cristo.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias