Nascemos talhados para amar e ser dom. De facto, ninguém se pode realizar sozinho e a plenitude da pessoa não está em si mas na reciprocidade da comunhão.
Os dons que Deus nos concede são-nos sempre concedidos em forma de possibilidades, a fim de os podermos aceitar ou não.
Se a pessoa não tivesse a possibilidade de aceitar ou não os dons de Deus, estes não seriam dons, mas imposições.
Entre os muitos dons que Deus nos concede estão as pessoas que facilitam a nossa realização e felicidade.
Uma vez que os dons de Deus nos são oferecidos em forma de possibilidades, a maneira de os aceitarmos é fazê-los render.
No fim da vida não seremos julgados pelo número de possibilidades que tivemos, mas sim pelo modo como os fizemos render, como Jesus ensina na parábola dos talentos (cf. Mt 25, 14-30).
Na verdade o amor propõe-se, nunca se impõe. É por esta razão que Deus nunca nos impõe os seus dons.
A nossa condição de seres responsáveis começa precisamente no facto de nos encontrarmos na vida com um leque de possibilidades que podemos realizar ou não.
Estas possibilidades foram-nos concedidas por Deus, através da mediação dos outros. Isto quer dizer que os outros são uma mediação para a nossa realização e felicidade.
Com as suas recusas de amor também podem ser um obstáculo, bloqueando a nossa realização pessoal.
A fidelidade da pessoa aos seus próprios talentos é uma maneira importante de ser dom.
Ser fiel aos talentos que recebemos é ser agradecido a Deus e levar à plena realização as possibilidades que recebemos dos outros.
Entre as possibilidades com as quais nascemos há uma muito especial: a capacidade de eleger o outro como alvo de bem-querer.
Esta possibilidade é uma condição básica para nos realizarmos e sermos felizes. Na verdade, a pessoa humana só pode atingir a maturidade do amor dando-se aos outros, pois a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade amorosa.
Neste momento talvez alguém se pergunte: “Em que medida estamos possibilitados para ser dom?”
Somos capacitados para ser dom, na medida em que os outros foram dom para nós. É o mistério da reciprocidade amorosa.
Eis a lei do amor: “ Ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado e o mal amado ama mal, mesmo dando o melhor de si”.
Calmeiro Matias
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