Naquilo que temos de bom somos realmente parecidos com Deus. Ao criar-nos à sua imagem e semelhança, Deus talhou-nos para o amor.
Assim como a vida natural não pode subsistir e crescer sem água, a vida espiritual não pode emergir e fortalecer-se sem a dinâmica das relações de amor.
Se meditarmos sobre o mistério de Deus, damo-nos conta que o amor, de facto, não é uma questão secundária.
Basta pensarmos que Deus é a origem da realidade e Deus é amor (1 Jo 4, 7). A nossa fé diz-nos que Deus é uma comunhão familiar infinitamente perfeita.
Por estar talhado para a comunhão com Deus, o ser humano pode emergir e crescer sempre como capacidade de amar.
Para lá do desenvolvimento físico, o crescimento da pessoa humana acontece como emergência espiritual livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.
O ser humano nasce com um leque de possibilidades para se estruturar como pessoa, a que Jesus deu o nome de talentos.
Uns nascem com cinco, outros com três, dois ou um. Ninguém é herói por receber cinco, como ninguém tem culpa por receber um.
A heroicidade da pessoa está em realizar os talentos que recebeu. Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Mateus:
“Muito bem, servo bom e fiel. Foste fiel em pequenas coisas, muito te confiarei. Entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25, 23).
Isto quer dizer que começamos por ser o que os outros fizeram de nós. Foi dos outros que recebemos os talentos.
Mas o mais importante é o que nós fazemos com o que recebemos dos outros. Somos realmente parecidos com Deus.
Somos, na verdade, autores de nós mesmos. A dignidade da pessoa humana radica no facto de nascer possibilitada, mas não determinada.
Calmeiro Matias
Sem comentários:
Enviar um comentário