09 agosto, 2009

O HOMEM COMO OBRA DO AMOR DE DEUS-II

II-A FORÇA CRIADORA DO ESPÍRITO

Podemos dizer que o arquitecto que projecta a nossa realidade espiritual a partir dos nossos possíveis é o Espírito Santo.

Só o Espírito Santo conhece perfeitamente as nossas possibilidades de realização. Por isso ele está sempre connosco, embora nunca nos substitua.

A sua acção criadora, no nosso íntimo, acontece como interacção relacional amorosa e geradora de plenitude.

A identidade dos seres humanos exprime-se pelo seu jeito de amar. Podemos distinguir na pessoa humana o seu ser exterior e o seu ser interior ou espiritual.

O nosso ser espiritual emerge no interior do nosso ser exterior como o pintainho emerge no interior do ovo.

O ovo não se confunde com o pintainho, isto é, o nosso ser espiritual não se confunde com o ser exterior ou individual.

O ovo é a matriz do pintainho em gestação e só pode emergir a partir dele. Do mesmo modo, a matriz do nosso ser interior é o nosso ser exterior, a partir do qual ele emerge.

Para a bíblia o corpo é a raiz do nosso ser interior. É pelo corpo que a pessoa se exprime como ser vivente.

Para a mentalidade bíblica, a pessoa humana só está viva enquanto convive. O povo bíblico pensava que os falecidos, no sheol, isto é, na morada do mortos, subsistiam, isto é, mantinham a sua identidade, mas estavam em estado de morte, pois não interagiam entre si.

O Espírito de Deus é o princípio universal de união orgânica e interacção amorosa. Pela morte, pensavam os hebreus, Deus retira do interior do ser humano o sopro da vida, isto é, o Espírito Santo.

Antes de Cristo, o povo bíblico pensava que as pessoas, na morada dos mortos, não estão a viver a comunhão universal.

Só após a ressurreição final as pessoas serão assumidas numa comunhão orgânica na qual vão adquirir a plenitude pessoas.

Esta capacidade de comungar com os outros, fazendo com eles uma unidade orgânica é chamada no mundo bíblico por carne “Basar”.

Por isso o povo bíblico sempre falou da ressurreição da carne, isto é, da pessoa humana enquanto ser estruturado para a relação e fazendo um todo orgânico com a Humanidade.

A ressurreição da carne não tem nada a ver com restauração biológica.

A força ressuscitadora de Deus é o Espírito Santo. Cristo ressuscitado possibilitou à Humanidade uma nova densidade de comunhão com o Espírito Santo.

Proporcionando-nos esta nova interacção com o Espírito Santo, Cristo ressuscitado tornou-se o princípio da ressurreição universal:

“No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, exclamou: se alguém tem sede venha a mim. Quem crê em mim que sacie a sua sede!

Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva. Jesus disse isto referindo-se ao Espírito Santo que iriam receber os que acreditassem nele.

Com efeito, o Espírito ainda não tinha vindo por Jesus não ter sido glorificado”. (Jo 7, 37-39).
No evangelho de São João, o próprio Jesus se chamou Ressurreição e Vida:

“Disse-lhe Jesus: teu irmão ressuscitará. Marta respondeu-lhe: eu sei que ele há-de ressuscitar na ressurreição do último dia.

Disse-lhe Jesus: eu sou a ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido viverá. Aquele que crê em mim e vive não morrerá” (Jo 11, 23-26).

São Paulo, para afirmar que a ressurreição não é uma restauração biológica diz que o corpo dos ressuscitados é uma realidade espiritual, não biológica (1 Cor 15, 42-45).

Os cães, por exemplo, não podem ressuscitar, pois não tem densidade pessoal e espiritual.

A dimensão biológica (carne e sangue) acrescenta São Paulo, não tem parte no Reino de Deus.
Para o Apóstolo é muito claro que o ser exterior da pessoa humana e o seu ser interior são opostos e antagónicos (Rm 1, 3-4).

Na segunda Carta aos Coríntios, Paulo diz que o ser exterior se vai degradando e destruindo com a idade. Mas o ser interior, pelo contrário, vai-se robustecendo pela acção do Espírito de Deus (2 Cor 4, 16).

Como vemos, a identidade da pessoa é espiritual e exprime-se pelo seu jeito de amar.



Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias



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