18 agosto, 2009

A FORÇA LIBERTADORA DA ESPERANÇA-II


II-OS HORIZONTES DA ESPERANÇA CRISTÃ

As razões que conferem fundamento à esperança brotam da Palavra de Deus.

Graças á esperança, os cristãos têm a certeza de que a Humanidade não é uma aventura sem saída ou um processo sem sentido.

Pela fé, os cristãos sabem que a Humanidade não está a caminhar para o vazio da morte. Na verdade, a fé cristã tem como suporte a ressurreição de Cristo.

Podemos dizer que a fé assenta sobre a memória de um acontecimento que garante à Humanidade a vitória definitiva da vida.

Fundamentada na fé, a Esperança avança confiadamente em direcção à plenitude de Deus. Jesus ressuscitado é a certeza de que a Humanidade já possui a garantia de um sucesso pleno.

Os horizontes da Esperança Cristã coincidem rigorosamente com o querer de Deus a nosso respeito, o qual foi revelado de modo pleno pela ressurreição de Cristo.

O evangelho de João afirma esta verdade dizendo que todos comungamos da plenitude de Cristo:
“Da sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça” (Jo 1, 16).

Foi com Cristo, diz a Carta aos Efésios, que Deus levou o tempo à sua plenitude:

“O Pai deu-nos a conhecer o mistério da sua vontade, conforme a decisão prévia que lhe aprouve tomar, a fim de levar o tempo à sua plenitude” (Ef 1, 9-10).

A plenitude dos tempos significa a fase dos acabamentos, isto é, o fim da gestação e o início do parto que dá início ao nascimento do Homem Novo.

A Esperança Cristã assegura-nos que estamos já na fase do sucesso garantido. O sucesso é um dom que nos é oferecido gratuitamente por Deus.

Os tempos da Lei dão lugar aos tempos da graça e nesta graça somos incorporados na comunhão familiar de Deus.

Eis as palavras de São Paulo a este respeito: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher sujeita ao domínio da Lei.

Nasceu sob o domínio da Lei, a fim de resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei para que recebêssemos a adopção de filhos.

E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações, o Espírito de seu Filho que clama: "Abba, Pai”.

Deste modo, já não és escravo, mas filho. Ora, se és filho és também herdeiro pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7).

Isto significa que no coração da esperança cristã está a libertação do Homem.

A Segunda Carta aos Coríntios diz que a graça de Cristo ressuscitado fez de nós uma nova criação, constituída por homens reconciliados com Deus:

“Se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. O que era antigo passou. Eis que tudo se fez novo.

Tudo isto vem de Deus que, em Jesus Cristo, nos reconciliou consigo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 17.19).

Isto significa que a esperança não é apenas um desejo vago que nasce da fome de felicidade que levamos no nosso íntimo.

Pelo contrário, a esperança tem como fundamento o conhecimento de um projecto salvador que Deus nos revelou e realizou em Jesus Cristo.

A Carta aos Romanos faz uma síntese magnífica dos horizontes da Esperança Cristã:

“Todos os que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão, mas um Espírito de adopção graças ao qual clamamos “Abba” Pai”.

É este mesmo espírito que, no nosso íntimo, dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus.

Ora, se somos filhos somos também herdeiros. Herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Jesus Cristo” (Rm 8, 14-17).

Certa de que Deus é fiel, a esperança avança no sentido de atingir a meta que Deus nos propõe pela Revelação.

A Palavra de Deus abre os horizontes da nossa esperança muito para lá da vida presente, a qual é mortal.

Eis o que diz a Carta aos Filipenses:
“Para nós, a cidade a que pertencemos está nos céus, de onde esperamos o Senhor Jesus Cristo, o nosso Salvador.

Com a energia que possui e o capacita para dominar sobre todas as criaturas, Jesus Cristo transfigurará o nosso corpo, configurando-o ao seu corpo glorioso” (Flp 3, 20-21).

O horizonte máximo da esperança cristã é, pois, Jesus ressuscitado e assumido na glória da Santíssima Trindade.

A Carta aos Hebreus diz que a esperança é a expectativa confiante dos bens que estão para vir (Heb 6, 11).

A Segunda Carta aos Coríntios insiste em que a vida está cheia de sentido, pois a nossa esperança não nos desilude.

Na verdade, saboreando a História com o paladar da esperança cristã, nós compreendemos que não estamos a edificar para a morte, mas para a Vida Eterna:

“Por isso, não desfalecemos. E ainda que, em nós, o homem exterior vá caminhando para a ruína, o homem interior renova-se dia após dia.

Eis o que diz São Paulo: A nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida.

Na verdade, olhamos mais para as coisas invisíveis do que para aquelas que se vêem. De facto, as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas” (2 Cor 4, 16-18).

Este texto exprime bem o horizonte da esperança que possibilita ao cristão olhar e saborear as coisas com um sentido e um sabor totalmente novo.

Graças aos horizontes da Esperança, o cristão sente-se motivado para optar e agir no sentido da sua construção pessoal, sabendo que não está a construir para o vazio do nada.

A Esperança capacita-nos para valorizar as coisas com os critérios do próprio Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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