Como ser em construção, o Homem é um projecto que ainda não está acabado.
À luz da bíblia, podíamos dizer que o Homem é uma obra-prima feita de barro em cujo interior está a emergir outra obra-prima feita de espírito.
A vida espiritual humana emerge a partir de um núcleo interior à qual a bíblia dá o nome de
“nefesh”, isto é, o ponto de interacção do Homem com Deus.
Eis as palavras do Livro do Génesis: “Então o Senhor Deus formou o Homem do húmus da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida e o Homem converteu-se num ser vivo” (Gn 2, 7).
Este encontro primordial entre Deus e o Homem é dinamizado pelo amor, capacitando o Homem para amar.
Na verdade, a lei do amor é esta: “É o amor do outro que capacita a pessoa para amar e a pessoa mal amada fica a amar mal, isto é, com bloqueios e quedas.
Podemos dizer que a dinâmica da humanização do Homem começa com esse sopro primordial que faz que o Homem se torne um ser vivo (cf. Gn 2, 7).
A marcha da evolução da vida animal culmina no salto da hominização, isto é, na complexidade natural própria do ser humano.
Mas a natureza não humaniza as pessoas. Estas vão-se humanizando através da dinâmica do amor.
Podemos dizer que o encontro primordial de Deus com o Homem é o clique que inicia a marcha histórica da humanização, a qual acontece através do amor.
A lei da humanização é: “Emergência pessoal mediante relações amor de amor e convergência para a comunhão universal”.
A humanização do ser humano, na verdade, acontece como crescimento espiritual da pessoa, o qual acontece pela dinâmica do amor.
Para melhor entendermos esta verdade basta pensar que Deus é Amor, como afirma a Primeira Carta de São João.
Isto quer dizer que o amor tem a capacidade de se auto-gerar e robustecer.
A vida espiritual humana emerge como vida pessoal, isto é, não se trata de um espírito vago e indefinido.
A pessoa humana estrutura-se como ser histórico. Com efeito, cada pessoa emerge de modo único, original, irrepetível e capaz de amar na medida em que foi amada.
Isto quer dizer que o ser humano leva em si as marcas das decisões e escolhas que fez ao longo da sua vida na linha do amor.
É com esta identidade espiritual que a pessoa tomará parte na festa da Vida Eterna.
Por outras palavras, a pessoa dançará eternamente o ritmo do amor com o jeito que adquiriu enquanto viveu na História.
Mas isto só pode acontecer porque o sopro de Deus, isto é, o Espírito Santo, nos vai modelando à imagem e semelhança de Deus.
Calmeiro Matias
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