22 abril, 2009

CRISTO COMO REI, PROFETA E SACERDOTE-II

II-JESUS ACEITA O TÍTULO DE PROFETA

A tradição cristã começou a interpretar a missão messiânica de Jesus Cristo como participando dos poderes reais, sacerdotais e proféticos.

Se quisermos ser fiéis ao pensamento bíblico teremos de dizer que é uma maneira de dizer que Jesus possui a plenitude das funções de medianeiro.

São Paulo diz que o Senhor ressuscitado é o único medianeiro entre Deus e o Homem (1 Tim 2, 5).

O Novo Testamento atribui várias vezes o título de profeta a Jesus Cristo. No evangelho de São Lucas, o próprio Jesus se designa como um profeta:

“Hoje, amanhã e depois devo seguir o meu caminho, pois não pode acontecer que um profeta morra fora de Jerusalém” (Lc 13, 33).

Jesus declara que nenhum profeta é honrado na sua terra. Os relatos que nos falam da acção de Jesus na sua terra relatam as dificuldades que ele ali encontrava devido à falta de fé das pessoas:

As pessoas da sua terra diziam: “Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a sua mãe Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?

E as suas irmãs não vivem todas entre nós? De onde lhe vem, pois, tudo isto? As pessoas estavam escandalizados por causa de Jesus.

Mas ele disse-lhes: “Um profeta só é desprezado na sua pátria e em sua casa. E não fez ali muitos milagres por causa da falta de fé daquela gente” (Mt 13, 55-58).

As palavras do evangelho de Marcos são praticamente as mesmas que as do evangelho de Mateus (cf. Mc 6, 4).

Os evangelhos de São João e São Lucas limitam-se a repetir as palavras de Jesus segundo as quais um profeta não é bem recebido na sua terra (Jo 4, 43; Lc 4, 24).

O facto de estas afirmações estarem nos quatro evangelhos significa que têm um grande peso histórico.

Jesus, nestas passagens dá-se a si mesmo o título de profeta. As multidões também o aclamam como profeta:

“A multidão dizia: “Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia” (Mt 21, 11). Os chefes dos judeus procuravam matar Jesus, diz o evangelho de São Mateus, mas tinha receio, pois a multidão considerava-o um profeta:

“Os sumo-sacerdotes e os fariseus, ao ouvirem as suas parábolas, compreenderam que eram eles os visados.

Embora procurassem um meio de prender Jesus tinham receio, pois o povo considerava Jesus um profeta” (Mt 21, 45-46).

Os discípulos de Emaús, após a morte do Senhor falam dele como de um grande profeta: “E um deles, chamado Cléofas, respondeu: “Tu és o único forasteiro a ignorar o que lá se passou nestes dias?”

Ele perguntou-lhes: “Que foi”. Responderam-lhe: “O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24, 18-19).

A Samaritana falando com Jesus chama-lhe profeta. Jesus não rejeitou este título (Jo 4, 19).

Como vemos, os evangelhos não vêem dificuldade em chamar profeta a Jesus Cristo, apesar que saberem antecipadamente que ele é o Messias.

No evangelho de São João o povo interroga-se sobre se Jesus não será o Messias Profeta tal como foi anunciado por Moisés (Dt 18, 15; 18-19).

Depois da multiplicação dos pães, o povo diz que Jesus é realmente o profeta anunciado. “Aquela gente, ao ver o milagre que Jesus fizera dizia: “Este é realmente o profeta que devia vir ao mundo”.

Por isso Jesus, ao saber que o viriam buscar para o fazerem rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte” (Jo 6, 14-15).

Como podemos ver, passa-se facilmente do Messias profeta para o Messias rei sem que isso trouxesse qualquer problema.

Ao falar de Jesus como sacerdote, o Novo Testamento nunca associa o sacerdócio de Jesus ao sacerdócio cultual dos levitas:

“Mas Cristo veio como Sumo-sacerdote dos bens futuros, através de uma tenda maior e mais perfeita, a qual não foi feita por mãos humanas, isto é, não pertence ao mundo criado.

Entrou uma só vez no Santuário, não com o sangue de carneiros ou de vitelos, mas com o seu próprio sangue, obtendo assim uma redenção eterna” (Heb 9, 11-12).

São João diz que depois de Jesus prometer o Espírito Santo como fonte de Vida Eterna, alguns dos ouvintes diziam que Jesus era o profeta, outros diziam que ele era o Messias:

“Entre a multidão de pessoas que escutaram o ensinamento de Jesus dizia-se: “Ele é realmente o profeta”. Outros diziam: “É o Messias” (Jo 7, 40-41).

É interessante notar como São João acentua que as pessoas diziam que Jesus era o profeta e não um profeta.

Esta maneira de falar referia-se, naturalmente, ao Messias profeta anunciado no Deuteronómio.
Isto quer dizer de Jesus que ele é o profeta é o mesmo que dizer que ele é o Messias.

Segundo o evangelho de São Lucas, Jesus reconhece que o profeta Isaías ao falar do Messias estava a falar da sua pessoa:

“Jesus veio a Nazaré onde se tinha criado. Segundo o seu costume entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler.

Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito:

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, o recobrar da vista.

Enviou-me para mandar em liberdade os oprimidos e a proclamar um ano de graça da parte do Senhor”.

Depois enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.

Começou, então a dizer-lhes: “Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4, 16-21).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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