Nos primórdios da Criação, diz o Livro do Génesis, a Palavra actuava como força significante que sai de Deus e realiza aquilo que significa:
Deus disse: “faça-se a luz” e assim aconteceu” (Gn 1, 3).
Deus disse: “Que se faça o firmamento” e o firmamento aconteceu” (Gn 1, 5).
“Deus disse: “Reúnam-se as águas” e assim aconteceu” (Gn 1,9).
“Deus disse: “que a Terra produza verdura” e assim aconteceu” (Gn 1, 11).
“Deus disse: “haja luzeiros no firmamento dos céus, a fim de separarem o dia da noite.” E assim aconteceu” (Gn 1, 14).
“Deus disse: “que as águas sejam povoadas por multidões de seres vivos” e assim aconteceu” (Gn 1, 20).
“Deus disse: “que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos e animais selvagens segundo as suas espécies” (Gn 1, 24).
(Gn 1, 26): “Deus disse: “façamos o ser humano à nossa imagem e à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre os répteis que rastejam pela terra” E assim aconteceu” (Gn 1, 26).
Em seguida, Deus disse-lhes: “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra” (Gn 1, 28).
Mas é sobretudo no evangelho de São João que podemos descobrir a mais profunda interacção da Palavra com o mistério de Deus e com a dinâmica da Criação:
“No princípio já existia a Palavra. E a Palavra era Deus e estava em Deus.
Foi pela Palavra que tudo começou a existir e sem a Palavra nada chegou à existência.
A Vida estava na Palavra e passou a animar todos os seres vivos.
A Vida é também a Luz dos homens. Esta Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam” (Jo 1, 1-5).
II-OS PROFETAS E A PALAVRA
Quando a Palavra de Deus invade o coração do ser humano, este torna-se profeta, isto é, portador de uma mensagem de Deus para os homens.
Quando a Palavra de Deus invade o coração do ser humano, este torna-se profeta, isto é, portador de uma mensagem de Deus para os homens.
O profeta anuncia o plano de Deus para o Homem e a Criação, ao mesmo tempo que denunciam as atitudes do Homem que se opõem ou tentam bloquear a sua plena humanização.
Isto significa que a mensagem que o profeta anuncia não é sua. Ele é o medianeiro que anuncia aos homens a Palavra de Deus em grandeza humana.
A sua missão é importante, pois é por ele que o Espírito Santo põe Deus a falar aos homens.
Além disso, ao anunciar a Palavra Salvadora de Deus, o profeta também a ser salvo pela mesma Palavra que anuncia aos homens.
Ao lermos os relatos de chamamento dos profetas, podemos ter a sensação de que a Palavra de Deus se impõe aos profetas, obrigando-os a realizar a sua missão.
Este modo de falar é apenas para realçar o facto de a Palavra de Deus ser eficaz e ser ela que capacita o profeta para a missão.
Na maneira de ver dos textos sagrados, o profeta é um homem totalmente possuído pela Palavra.
É a Palavra que lhe confere a coragem para anunciar e, ao mesmo tempo, para enfrentar os príncipes e os poderosos que se opõem à sua mensagem.
O profeta sabe que esta força vem da Palavra de Deus e não de si.
Por isso o chamamento do profeta aparece normalmente sintetizado de modo muito simples pela expressão: “A Palavra do Senhor veio sobre mim”.
Podemos dizer que os gestos proféticos são realizações da força da Palavra a fazer história com o Homem.
A Palavra de Deus começa por ser um acontecimento vivo no coração do profeta. O protagonista deste Acontecimento é o Espírito Santo.
Depois de o Espírito Santo provocar o acontecimento da Palavra no coração do profeta, este nunca mais voltará a ser o que era antes.
As transformações operadas na vida do profeta e na vida das pessoas que acolhem a Palavra são a expressão da eficácia da mesma Palavra.
Como acabamos de ver, a Palavra de Deus não é um simples discurso, mas um acontecimento que inicia uma nova etapa na História.
Podemos dizer que a Palavra de Deus encarna na vida do profeta e das pessoas que a acolhem.
Isto quer dizer que os gestos dos profetas emergem do seu coração, graças à eficácia da Palavra e à acção do Espírito Santo.
A Palavra do Senhor realiza o que significa na vida das pessoas que a acolhem.
Por se sentir possuído pela Palavra, o profeta tem consciência de que não está a falar em nome próprio.
É por esta razão que os profetas não hesitam em afirmar que é o próprio Deus quem fala pela sua boca: ”Assim fala Yahvé,” repetem eles.
Eis o que diz a Segunda Carta de São Pedro a este propósito:
“A profecia jamais veio por vontade humana, mas os homens, movidos pelo Espírito Santo, falam como quem vem da parte de Deus (2 Pd 1, 21).
É por esta razão que o próprio profeta nunca esgota o alcance e a profundidade da mensagem que anuncia.
O facto de a Palavra ser eficaz não quer dizer que se imponha aos seres humanos.
De facto, a pessoa pode opor-se a Deus. No entanto, a rejeição da Palavra de Deus produz efeitos negativos no coração da pessoa que a rejeita, pois a Palavra de Deus coincide com o que é melhoromemHomem para o Homem.
A conversão é sempre uma decisão do Homem em acolher a proposta amorosa de Deus. Ao contrário do que acontecia com o legalismo dos Levitas, o pecado não é nunca uma mera transgressão.
Pelo contrário, é uma infidelidade à aliança de Deus da qual a aliança matrimonial é símbolo.
Podemos dizer que o profeta é o homem do compromisso com a transformação histórica, apontando sempre para os critérios de Deus, os quais são diferentes dos critérios dos homens.
Pela revelação sabemos que, no princípio, era o amor concretizado numa comunhão familiar de três pessoas.
Através da sua Palavra, Deus revelou-nos o grande amor com que nos criou e salvou em Cristo.
Graças ao dom da revelação nós sabemos que não estamos perdidos num mundo caótico e a caminhar para o vazio da morte.
Por si só, o Homem nunca podia chegar a esta compreensão profunda do mistério de Deus, do Homem e do sentido da História.
Apesar de não ser irracional, a Palavra de Deus transcende a simples razão humana.
Podemos dizer que a revelação está para a razão, como os binóculos para os olhos: Assim como os binóculos optimizam as capacidades dos olhos, a fé amplia os horizontes da razão.
Mas o Homem pode recusar-se a agir segundo as propostas que lhe são feitas pelo Deus da Aliança.
Levamos em nós a serpente que nos pretende fazer acreditar que as propostas de Deus não são boas para nós.
O Espírito Santo ao provocar o eco da Palavra no nosso coração, faz emergir em nós a Sabedoria que nos capacita para saborearmos a vida com os critérios de Deus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
Calmeiro Matias
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