Pecar é opor-se ao amor e, portanto, recusar-se a crescer como pessoa através de relações fraternas.
Só há pecado quando a pessoa tem a possibilidade de dizer sim ao amor e decide dizer não. Ao pecar, a pessoa diz não à sua realização pessoal e condiciona ou bloqueia a realização dos outros.
Por outras palavras, a pessoa que peca inscreve ritmos negativos, isto é, forças de bloqueio tecido social.
Face à realidade do pecado, a pessoa pode encontrar-se em duas situações diferentes: situação de vítima, ou situação de culpada.
A vítima do pecado sofre as suas consequências negativas sem ter qualquer culpa desse pecado.
Quantos milhões de crianças, por exemplo, sofrem as terríveis consequências pecado sem dele serem culpadas.
Há pessoas que fazem o mal, mas que na realidade são vítimas do pecado e não pecadoras. Estão neste caso as multidões de mal amados com distorções psíquicas e comportamentos compulsivos cuja origem está no facto de terem sido mal amados.
O evangelho dá provas de possuir uma grande sabedoria quando nos proíbe de julgar os outros.
Na verdade, nós não temos nas mãos a história das experiências dolorosas e traumatizantes das pessoas.
É verdade que os outros nos capacitam mas também nos condicionam nas possibilidades de amar e fazer o bem.
A lei do amor é esta: ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado e o mal amado ama mal, mesmo quando dá o melhor de si.
Do mesmo modo que o amor dos outros nos capacita para amar, as suas recusas de amor, condicionam-nos nas nossas possibilidades de amar.
Na verdade, a pessoa humana começa por ser o que os outros fizeram dela, mas o mais importante é o que ela faz com as possibilidades que recebeu.
O feixe primordial das possibilidades e condicionamentos que as pessoas recebem formam o leque dos talentos que, logo à partida, faz da pessoa um ser único, original e irrepetível.
Referindo-se à diversidade dos talentos, Jesus diz que umas pessoas recebem, cinco, outras recebem dois, três ou um (cf. Mt 25, 14-30).
Os seres humanos não são peças de artesanato feitas em série. Por ser uma oposição ao amor, o pecado mata possíveis de realização humana, tanto no pecador, como nas vítimas do pecado.
O Livro do Génesis diz que o pecado de Adão deu como fruto imediato o fratricídio de Caim, o qual matou seu irmão Abel (Gn 4, 8-16).
Talhado por Deus para criar fraternidade através do amor, o Homem, ao pecar, inicia uma cadeia de fratricídios, opondo-se ao plano da Família Universal de Deus.
Jesus Cristo, diz São Paulo, é o Novo Adão. Tal como pelo pecado de Adão veio o fracasso da morte, a vitória da Vida Eterna veio por Jesus (1 Cor 15, 20-21; Rm 5, 17-19).
Segundo a maneira de entender da bíblia, a Humanidade forma um todo orgânico. Como Adão era a cabeça da Humanidade, o seu pecado difunde-se de modo orgânico.
O Livro do Génesis diz que Deus expulsou Adão do Paraíso devido ao seu pecado (Gn 3, 23-24).
Como Adão era a cabeça desse corpo imenso que é a Humanidade. Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga. Por outras palavras, devido ao pecado de Adão todos os seres humanos ficaram sem acesso ao Paraíso.
No momento da sua morte e ressurreição, diz o evangelho de São Lucas, Jesus reabre as portas do Paraíso e a Humanidade entra com ele na plenitude da Vida Eterna.
Eis o que Jesus diz ao Bom Ladrão no momento da sua morte e ressurreição: “Em verdade te digo: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).
Por outras palavras, a vitória sobre a infidelidade de Adão foi alcançada por Jesus Cristo, o qual nos introduziu de novo no caminho da comunhão com Deus.
Eis um ensinamento importante feito por Jesus aos Apóstolos: “Jesus respondeu a Filipe:”Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai, senão por mim” (Jo 14, 6).
Adão opôs-se ao plano de Deus, colocando a Humanidade no caminho da perdição. Jesus Cristo realizou de modo perfeito a vontade do seu Pai do Céu, introduzindo-nos deste modo, no caminho da salvação:
“O meu alimento, diz Jesus no evangelho de São João, é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).
Depois acrescenta: “Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou” (Jo 5, 30).
A atitude de Jesus face a Deus é totalmente oposta à atitude de Adão. O relato bíblico do pecado de Adão ensina-nos que todos nós, ainda antes de sermos pecadores, á somos vítimas do pecado.
Isto quer dizer que a vocação básica do ser humano é a sua humanização mediante relações de amor, a fim de atingir a plenitude da comunhão com Deus.
A lei da humanização é esta: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a fraternidade e a comunhão universal”.
Para realizarmos esta meta podemos contar com a presença do Espírito Santo no nosso íntimo que é, como diz São Paulo, o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).
Sem amor o coração do ser humano fica árido como um tronco ressequido na vastidão de um deserto.
Quando o amor não emerge no coração de uma pessoa, a fonte da alegria seca e o vigor da vida murcha.
Sem amor, a pessoa não se pode estruturar, pois ela foi talhada para o encontro e a comunhão.
O coração é o núcleo mais íntimo de uma pessoa, a partir do qual emerge e se configura o nosso ser espiritual.
O nosso coração é o ponto de encontro do corporal com o espiritual, tal como a luz é o ponto de encontro da matéria com a energia e o vírus o ponto de encontro da vida com o pré vivo.
Podemos dizer ainda que o nosso coração é o ponto de emergência do qual brotam as decisões que optimizam as nossas relações de amor.
Quando o coração do ser humano está vazio de amor, essa pessoa fica dominada pela solidão, o tormento de não poder possuir-se nem atingir uma realização plena.
Sem amor, o coração da pessoa é um espaço onde não habita a alegria do face a face e da reciprocidade.
Sem água, as plantas secam e os animais não podem viver. Assim acontece à pessoa que não tem amor no coração.
Com o coração vazio de amor, a pessoa está privada da força necessária para se construir na vida.
É por esta razão que as nossas recusas de amor não só impedem a nossa estruturação pessoal, como bloqueiam a realização das pessoas que se cruzam connosco na vida.
Calmeiro Matias
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