Pai Santo,
O Espírito que o teu Filho nos deixou faz maravilhas no coração dos que o acolhem: Para uns, aquele homem não passava de um sonhador.
Mas as pessoas mais atentas diziam que se tratava de um autêntico profeta. De facto, muitas das coisas que aquele homem dizia tinham sentido e podiam até acontecer se os seres humanos se dispusessem a moldar um coração novo.
Muitos dos seus apelos podiam tornar-se realidade se a Humanidade fosse conduzida por líderes sensatos e animados pelo Espírito de Deus.
Via-se que aquele homem queria o bem da Humanidade. Nunca ninguém o acusou de falar para se exibir ou apoderar de privilégios.
Um dia pensou em escrever uma carta aberta à Humanidade, na qual dizia o seguinte: “Olá, Humanidade! Antes de mais gostava de dar-te os parabéns, pois há muitos homens e mulheres dispostos a gastar a vida por causas nobres e justas.
Nota-se que continuam a desabrochar em ti uma consciência universal capaz de defender os valores da verdade, da justiça, da fraternidade e o reconhecimento da dignidade humana.
Mas ainda muitas pessoas empenhadas em criar muros entre as raças, as culturas, as línguas, os povos, as nações e as religiões.
Na verdade, estas pessoas devem ser declaradas como malfeitores e inimigos do Homem. Felizmente a Humanidade parece estar a evoluir para um pluralismo tolerante e fraterno.
Os que querem impor a unidade de modo monolítico estão condenados ao fracasso. Parabéns, humanidade, pois no meio de ti há muita gente com fome de paz e comunhão universal.
Precisamos de muitos homens e mulheres que sejam pessoas livres, livres, conscientes e responsáveis, pois só com pessoas é possível construirmos a comunhão universal.
Precisamos de povos e sociedades onde habite a verdade e a justiça, a fim de poderem emergir pessoas únicas, originais, irrepetíveis e capazes de comunhão amorosa.
Mereces ser felicitada, pois quando deixas emergir a novidade que há em cada ser humano estás a criar-te e a atingir a tua plenitude.
Deus não te criou acabada, pois és uma Humanidade em construção. Mas ao iniciar a tua marcha criadora, Deus lançou as bases para aconteceres como um projecto onde o divino se enxerte no divino, a fim de poderes ser divinizada.
Foi com Jesus Cristo que tu, Humanidade, entraste no limiar da marcha histórica da divinização.
Felicito-te Humanidade, pois já começas a compreender que os pilares da paz e da justiça estão no diálogo e na participação de todos nas coisas que a todos dizem respeito.
Com efeito, com homens oprimidos e impedidos de tomar para na edificação do que lhes diz respeito, não é possível edificar o Reino da Comunhão Universal do Homem com Deus.
Parabéns, Humanidade, pois há sinais de estares a atingir o limiar de uma consciência nova. No entanto, ainda há muitas forças cegas que pretendem opor-se a este parto magnífico do Homem Novo.
Mas estas forças cegas não podem vencer, pois o projecto do Homem Novo sonhado por Deus caminha de modo irreversível.
Em poucas décadas conseguiste destruir muros e obstáculos que nós julgávamos muito duradoiros.
Hoje podemos olhar a vida com horizontes que, há algumas décadas atrás, ninguém ousava prever. Nota-se que a força do Deus criador está a actuar em ti.
Tu és, de facto, um processo onde acontece a novidade e o imprevisível. As pessoas sensatas habitadas pela sabedoria entendem perfeitamente que estás a emergir de modo único, original e irrepetível no concreto de cada ser humano.
Para poderes atingir a meta que Deus sonhou para ti é necessário que as pessoas humanas deixem emergir os melhores possíveis que levam no seu coração.
Só deste modo pode emergir o Homem Novo a exprimir-se em novos jeitos de solidariedade, partilha e comunhão fraterna.
Nós sabemos que não existe uma Humanidade determinada. Deus está connosco, mas não está em nosso lugar.
No nosso coração o Espírito Santo ilumina, estimula e convida, mas nunca nos substitui. Na verdade, Deus criou-nos para que nos criemos.
Isto significa, como diz o evangelho de São João, que nascemos para renascer (Jo 3, 3-6). O ser humano começa por ser um feixe de possibilidades que recebeu dos outros.
São os talentos, como Jesus Cristo lhes chamou. Uns recebem cinco, outros três, outros dois ou um. Deus acolhe-nos assim como somos e com os talentos que temos.
Ninguém é herói por receber cinco, ninguém é culpado por receber dois. A heroicidade ou cobardia resulta da fidelidade ou infidelidade com que nos realizamos fazendo render os nossos talentos.
À medida que pessoa se realiza e cresce espiritualmente é incorporada na comunhão universal do Reino de Deus.
Esta comunhão é constituída pelas três pessoas divinas, os milhões de pessoas humanas e todas as outras que possam existir ou ter existido no Universo.
Ao terminar a sua carta aberta à Humanidade, este homem, ao jeito dos profetas declara o seu propósito de gastar a vida ao serviço de uma Nova Humanidade assente na paz, na cooperação e na paz.
Podemos dizer que a sua vida tem a qualidade da vida das pessoas que são realmente mediações do amor de Deus para a Humanidade. Depois, aquele homem, dirigindo-se à Humanidade disse:
És o Homem em construção. Emerges de modo único em cada pessoa e converges para uma comunhão orgânica cuja plenitude se encontra em Deus.
És o verso central do poema magnífico da criação. Realizas-te como um rosto com duas faces: masculinidade e feminilidade.
À medida que uma pessoa cresce, tu brotas como expressão nova de liberdade, consciência e responsabilidade.
És imagem perfeita de Deus. Levas contigo as impressões digitais do Criador! Surges como expressão de um desejo expresso do Deus que te criou.
Quando surgiste já havia muitos seres vivos a pulular nesta terra bonita e fecunda. Mas ainda não existia um ser com interioridade pessoal capaz de comungar com as pessoas divinas.
Já havia na natureza muitos balidos, guinchos, uivos, grunhidos e outros sons.Mas não havia ninguém capaz de amar e fazer poesia.
Foi então que Deus parou a marcha da criação para pensar no Homem à sua imagem. A Divindade é pessoas e a Humanidade também. E assim começou a História da Criação que vai culminar na plenitude da Salvação.
A criança é uma pessoa iniciada, mas longe de estar realizada. O jovem ainda não teve tempo para chegar longe na sua construção.
Nem mesmo o adulto se pode arrogar o título de Homem plenamente acabado. Enquanto estiver em emergência histórica, a Humanidade é pessoas em construção.
Mas já pertences à cúpula personalizada do Universo! Por ser constituída por pessoas, já pertence à esfera da transcendência:
Transcendes o Universo que não é uma pessoa. Por ser pessoas, é proporcional ao próprio Deus que é uma comunhão amorosa de três pessoas.
Desde o homem primordial até aos nossos dias é a única Humanidade a acontecer. Emerge como novidade em cada pessoa.
Apesar de ser única, original e irrepetível, a pessoa só pode encontrar-se de modo feliz e perfeito dentro do entretecido comunitário.
Com efeito, para as pessoas que se excluem da comunhão, apenas existe a perdição. Isto quer dizer que a pessoa que se enrosca em si própria, fica sem horizontes de plenitude.
Quem não facilita a tua génese não se ama nem está em sintonia com a acção do Deus Criador.
Humanidade,
A tua cúpula é Jesus de Nazaré, o fruto mais amadurecido da Humanidade e o ponto de encontro e interacção do Humano com o Divino.
Humanidade,
Tu és um poema que ainda não foi inteiramente declamado. Tu és a menina dos olhos de Deus!
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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