09 novembro, 2009

A ARTE DE RENASCER PARA A VIDA ETERNA

Nascemos para voltar a nascer pelo Espírito Santo, diz Jesus no evangelho de São João (Jo 3,6).

O nosso ser espiritual nasce da ternura maternal do Espírito Santo que nos convida e capacita para fazermos opções de amor.

Nascemos para dar frutos de Vida eterna. A nossa vida será fecunda se estivermos unidos a Jesus como os ramos da videira estão unidos à cepa.

Sem esta união orgânica, diz Jesus, nós não podemos dar frutos. Nascemos nas coordenadas to tempo e do espaço, mas a nossa plenitude só é atingida nas coordenadas da eternidade, isto é, equidistância a tudo e a todos. São estas as coordenadas da morada de Deus.

A morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo.

É por esta razão que Deus vem sempre a nós a partir de dentro. Nascemos para renascer, entrando na marcha da humanização cuja lei é:
“Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal”.
Emergir como pessoa significa crescer em densidade espiritual e capacidade de interagir fraternalmente com os outros.

A marcha da evolução trouxe-nos até à maravilhosa complexidade cerebral do homem. O cérebro humano é a matriz de tudo aquilo que o Homem é e o animal não chegou a ser.

O cérebro humano é o barro amassado no qual Deus insuflou o hálito da vida, dando origem à marcha histórica da humanização.

O ser humano está a emergir e a estruturar-se em duas dimensões profundamente diferentes: psico-somática e espiritual, isto é, o ser exterior e o ser interior.

O osso ser exterior é mortal e o interior é espiritual e, portanto imortal. O nosso ser espiritual é ressuscitável, estanco capacitado para viver eternamente com Deus.

O nosso ser interior emerge como o pintainho dentro do ovo. A plenitude da vida espiritual, acontecerá no dia em que o ovo eclodir e o pintainho nasça para a comunhão universal.

Estamos a renascer emergindo como pessoas chamadas a convergir para a Comunhão da Família de Deus.

A dinâmica que fortalece e faz emergir o nosso ser espiritual cresce mediante relações de amor, e estrutura-se em densidade de vida eterna.

Renascer implica emergência pessoal e convergência comunitária. Fechada em si e separada dos outros, a pessoa não encontra sua plenitude.

É verdade que o ser humano está alicerçado numa unicidade individual, mas talhado para a reciprocidade amorosa.
Ser pessoa é ter um coração capaz de eleger o outro como alvo de bem-querer, tornando-se dom para ele e acolher a doação que o outro lhe faz de si mesmo.

A pessoa humana tem a capacidade de eleger os outros como irmãos, mesmo para lá dos laços do sangue.

Até neste ponto somos parecidos com Deus, pois pessoas divinas também nos elegeram como membros da Família de Deus: filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus.

A nossa identidade é histórica. Para nos dizermos temos de contar uma história. Isto quer dizer que seremos eternamente segundo nos realizemos agora na história.

Como não nascemos como pessoas acabadas, nascemos para renascer. A robustez dos nosso ser espiritual mede-se pela capacidade de amar e comungar. Vale, não pelo que tem, mas por aquilo que é.

Pelo facto de a arte de renascer implicar a liberdade, cada pessoa renasce como ser único, original e irrepetível.

Eis o sentido desta fome de renascer que é um convite permanente a vencer os nossos limites de sangue, raça, nacionalidade ou condição social.

Nascemos talhados para Deus. A nossa condição de seres espirituais coloca-nos na cúpula da criação, pessoas humanas capacitadas para comungar com as pessoas divinas.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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