21 outubro, 2009

INTERAGIR COM DEUS PARA BEM O CONHECER

“Esta é a vida eterna: Que te conheçam, Pai, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).

O conhecimento de Deus, segundo o Novo Testamento, não é uma questão meramente intelectual.

Conhecer Deus é algo que implica uma comunhão orgânica com ele, animada pelo Espírito Santo:

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.

Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor.” (1 Jo 4, 7-8).

O amor a Deus, portanto, não é uma realidade separada do amor aos irmãos. Por outras palavras, o amor aos irmãos é o caminho seguro para atingirmos o conhecimento de Deus como diz a Primeira Carta de São João:

“A Deus nunca ninguém o viu. Mas se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós” (1 Jo 4, 12).

E logo a seguir acrescenta: “Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso, pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê.

Nós recebemos de Jesus este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão” (1 Jo 4, 20-21).

São Paulo diz que todo o que ama a Deus é conhecido pelo próprio Deus, no sentido bíblico de constituir uma interacção amorosa e fecunda.

“ Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Deus!” (1 Cor 8, 3). O conhecimento de Deus, diz São Paulo, não é uma mera questão de ciência humana: “A ciência incha, mas o amor edifica” (1 Cor 8, 1).

Na verdade, só pelo amor se pode chegar ao verdadeiro conhecimento de Deus: O Espírito Santo é a pessoa que anima e fortalece a comunhão amorosa entre Deus e os irmãos.

“Nós damo-nos conta de que permanecemos em Deus e ele em nós, pois ele fez-nos participar do Espírito Santo” (1 Jo 4, 13).

São Paulo vai nesta mesma linha ao afirmar que ninguém pode conhecer e saborear o mistério de Cristo ressuscitado a não ser pelo Espírito Santo:

“Ninguém é capaz de Dizer: “Cristo é o Senhor ressuscitado” a não ser pelo Espírito Santo” (1 Cor 12, 3).

No fundo é isto que São Paulo quer dizer quando afirma que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Conhecer Cristo é fazer com ele uma união orgânica, dinâmica e fecunda, semelhante à união que existe entre a cepa da videira e os seus ramos (Jo 15, 4-5).

É uma união deste tipo que dinamiza a relação de Cristo com o seu Pai, como Jesus diz no evangelho de São João (Jo 6, 54-57).

Numa outra passagem do evangelho de São João, Jesus afirma que ele e o Pai fazem um (Jo 10, 30).

A comunhão, na Eucaristia, é um momento privilegiado para os cristãos exprimirem e fortalecerem esta união com Cristo e através dele com o Pai (Jo 6, 55-56).

Comer a carne de Cristo significa unir-se ao Senhor ressuscitado mediante o Espírito Santo.

Alimentar-se da Carne e do Sangue de Cristo é ser dinamizado pelo Espírito Santo, pois a vida vem do Espírito e não da carne que não presta para nada disse Jesus (Jo 6, 62-63).

São Paulo diz que a nossa união orgânica a Cristo significa fazer parte do Corpo de Cristo:
“Comemos um só pão porque formamos um só Corpo (1 Cor 10, 17).

Ou então: “Vós sois corpo deCristo e seus membros, cada um na parte que lhe toca” (1 Cor 12, 27).

O princípio que estrutura e dinamiza este Corpo de Cristo, diz a Primeira Carta aos Coríntios, é o Espírito Santo:

“Fomos baptizados no mesmo Espírito, a fim de formarmos o Corpo de Cristo (1 Cor 12, 13).
Eis Como Jesus exprimiu estemistério no evangelho de São João:

“Permanecei em mim que eu permaneço em vós. Assim como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas apenas permanecendo na videira, assim acontecerá convosco se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer.” (Jo 15, 4-5).

Jesus Cristo é o grande revelador do rosto de Deus, como Jesus disse ao Apóstolo Filipe: “Há tanto tempo que estou convosco, Filipe, e ainda não me conheces? Quem me vê, vê o Pai.” (Jo 14, 18).



A meta é a união do Homem com Cristo e através dele a união com o Pai: “Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo J0 14, 20).

O sacramento da Eucaristia explicita este mistério da união orgânica da Humanidade com a Divindade como o próprio Jesus disse:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também aquele que me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

A meta desta união é a Comunhão Universal do Reino de Deus: “Pai, não rogo apenas por eles, mas igualmente por todos os que hão-de acreditar em mim por meio da sua palavra, a fim de que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti.

Pai, faz que eles permaneçam em nós, a fim de o mundo ver e acreditar que tu me enviaste. Pai Santo, eu dei-lhes a glória que me deste, a fim de que todos sejam um, como nós somos um.

Eu neles e tu em mim, a fim de eles chegarem à perfeição da unidade (…). Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu conheci-te e estes reconheceram que tu me enviaste.

Eu dei-lhes a conhecer quem tu és e continuarei a tornar-te conhecido, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu esteja neles também” (Jo 17, 20-26).

Ao avivar em nós a Palavra de Deus, o Espírito Santo põe-nos em interacção com o Pai e o Filho, a fim de melhor conhecermos o seu mistério e o seu plano de salvação para nós.

Eis as palavras de Jesus: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26).

Ao ressuscitar, Jesus comunicou-nos a possibilidade de interagir de modo intrínseco com o Espírito Santo, a fim de participarmos da mesma interacção que existe entre o Pai e o Filho:

“Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão, mas um Espírito que faz de vós filhos adoptivos.

É por este Espírito que clamamos “Abba”, Pai Querido” (Rm 8, 14-15; cf. Ga 4, 4-7). Nenhum ser humano entra isoladamente na comunhão familiar de Deus.

Na verdade, nós somos incorporados nesta comunhão familiar, graças ao facto de formarmos um todo orgânico com Cristo.

A Carta aos Gálatas diz que todos nós somos apenas um em Cristo (Ga 3, 29). Ao falar do seu conhecimento e da sua união com Cristo, São Paulo diz o seguinte:

“Já não sou eu que vivo mas Cristo que vive em mim” (Ga 2, 10). Conhecer Cristo, diz a Carta aos Colossenses, implica despir-se do homem velho configurado com Adão e revestir-se do homem novo, configurado com Cristo ressuscitado:

“Não mintais uns aos outros, já que vos despistes do homem velho, com as suas acções, e vos revestistes do homem novo.

Para chegar ao conhecimento do seu Criador, este Homem Novo não cessa de se renovar à imagem de Deus.

No Homem Novo já não há grego nem judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro, cita, escravo ou homem livre, mas apenas Cristo que é tudo em todos e está em todos nós” (Col 3, 9-11).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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