06 outubro, 2009

DEUS E A DIGNIDADE HUMANA-I

II-DEUS CAMINHA CONNOSCO

A morada do Homem acabado e perfeito está no futuro, não no passado. Isto quer dizer que o futuro dos seres humanos é o que lhes falta para se encontrarem plenamente realizados.

Na verdade, o Homem não se define pelo modo como apareceu (evolução a partir da vida animal), mas pela plenitude que o aguarda.

Estamos a caminhar para a condição de pessoas assumidas e incorporadas de modo orgânico na comunhão com as pessoas divinas.

O Paraíso, esse jardim primordial onde os seres humanos existiam como pessoas perfeitas e acabadas nunca existiu.

O Paraíso entendido como morada do Homem pleno e perfeito foi inaugurado com a morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Foi isto que o próprio Jesus declarou ao Bom Ladrão no momento de morrer e ressuscitar:

“Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). A inauguração do Paraíso representa um salto de qualidade na História do Homem em construção.

Na verdade, o acontecimento histórico de Jesus Cristo representa a plenitude dos tempos. Por outras palavras, com a ressurreição de Cristo, os tempos da gestação da Humanidade chegaram ao seu fim, dando lugar ao parto com o qual nascem os filhos de Deus (cf. Gal 4, 4-7).

Deus não criou o Homem acabado, a fim de lhe dar a possibilidade de tomar parte na sua realização e, deste modo, ser tal e como deseja para toda a eternidade.

Na verdade, a pessoa humana está chamada a ser autora de si, mas a partir dos talentos que recebeu de Deus através dos outros.

Isto quer dizer que o ser humano está chamado a atingir a sua plena realização, construindo-se a partir do que recebeu como possíveis.

A maneira de aceitar os talentos que Deus nos concede é pô-los a render, realizando as possibilidades que ele nos concedeu, como diz Jesus no evangelho de São Mateus (Mt 25, 14-30).

Deus respeita profundamente a dignidade do Homem e por isso nunca se impõe.

O Homem está em processo de realização história. A Humanidade está a emergir no concreto de cada pessoa de modo único, original e irrepetível.

À medida que o ser humano emerge como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de amar, converge para a comunhão universal da Família de Deus.

Ao iniciar a criação da Humanidade, Deus quis que esta tivesse uma dignidade semelhante à dignidade da própria Divindade.

Com efeito, Deus é pessoas em relações e o Homem também. Mas enquanto as pessoas divinas são infinitamente perfeitas, as pessoas humanas estão em realização histórica.

Isto quer dizer que a identidade espiritual da pessoa humana emerge e fortalece-se de modo gradual e progressivo através do amor.

Mas como o ser humano não é capaz de amar antes de ter sido amado, o amor de Deus era fundamental para a Humanidade iniciar a dinâmica da humanização.

É esta a lei do amor: Ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado. É o amor dos outros que nos capacita para amar. É por esta mesma razão que os mal-amados ficam a amar mal, isto é, com bloqueios e limitações, apesar de não terem culpa.

É verdade que ninguém nos pode substituir na tarefa da nossa humanização. Nem o próprio Deus o pode fazer por nós.

Mas também é verdade que ninguém se pode humanizar sozinho. Isto quer dizer que precisamos dos outros e do dinamismo amoroso do Espírito Santo para nos construirmos como pessoas.

São Paulo entendeu isto muito bem e por isso ele diz na Carta aos Romanos que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

O ser humano reconhece a sua condição de pessoa e, como tal, alguém talhado para a transcendência.

Deus transcende o Homem e este transcende os animais. Por outras palavras, a pessoa é um ser capaz de se distanciar da natureza e dos animais, descobrindo o sentido e a funcionalidade destas realidades.

O livro do Génesis exprime esta verdade dizendo que Deu fez passar os animais diante do Homem, a fim de este lhes dar um nome (Gn 2, 19-20).

Dar um nome significa dominar uma realidade atribuindo-lhe uma função e um sentido.
É esta a razão pela qual a bíblia diz que o Homem não é capaz de dar um nome a Deus.

A pessoa humana sente que transcende as capacidades e as possibilidades dos animais e tem consciência de que os transcende.

É verdade que os animais sabem muitas coisas, mas não sabem que sabem, isto é, não são conscientes.

A pessoa humana, pelo contrário, é um ser consciente: sabe e sabe que sabe. Deus reconhece e respeita a dignidade da pessoa e por isso se dispõe a fazer história connosco, embora sem nunca nos substituir.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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