No relato da perda do Menino Jesus no Templo, ao falar do reencontro de Jesus com os seus pais, São Lucas, como fez São João no relato das bodas de Caná, utiliza a simbologia dos três dias.
Depois de muita aflição, os pais de Jesus encontram-no três dias de pois na casa do Pai. Naturalmente que também há uma alusão à experiência pascal de Maria.
Eis o relato: “Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa.
Quando Jesus atingiu os doze anos, subiram até lá, segundo o seu costume.
Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem.
Pensando que ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos.
Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Três dias depois encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas (…).
Ao vê-lo, os seus pais ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: “Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!”
Ele respondeu-lhes: “Porque me procuráveis?” Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?
Mas eles não compreenderam as palavras que Jesus lhes disse” (Lc 2, 41-49).
Nas entrelinhas deste texto do “midrash” de São Lucas está uma alusão muito significativa sobre a descoberta que Maria faz do seu Filho no momento da sua experiência pascal.
A experiência pascal de Maria e dos irmãos de Jesus é afirmada de modo solene por São Paulo quando descreve em síntese as aparições do Senhor ressuscitado (1 Cor 15, 7).
São Paulo nomeia Tiago em vez de Maria, mas isso deve-se ao facto de Maria ser uma mulher e as mulheres, no mundo judaico daquela época, não poderem servir como testemunha.
Pôr uma mulher a testemunhar a ressurreição de Jesus, seria tirar credibilidade ao facto. É por esta mesma razão que, no evangelho da infância de São Mateus, o anjo só fala com José.
São Mateus escreve o seu evangelho a pensar nos judeus. Como a mulher não era considerada uma testemunha credível o anjo da anunciação nunca fala com Maria, mas apenas com José (Mt 1, 20; 2, 13).
Por outras palavras, no evangelho de São Lucas, o anjo da anunciação só fala com Maria.
No evangelho de São Mateus, o anjo só fala com José:
“Andando José a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse:
“José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo.
Ela dará à luz um filho ao qual darás o nome de Jesus, pois ele salvará o povo dos seus pecados.
Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor disse pelo profeta:
“Eis que a virgem conceberá e dará á luz um filho, e há chamá-lo Emanuel, que quer dizer Deus connosco” (Mt 1, 22).
O anjo falou várias vezes em sonhos com José: Na fuga para o Egipto (Mt 2, 13-15). No regresso do Egipto para a terra de Judá (Mt 2, 19-21). Na mudança para Nazaré (Mt 2, 22-23).
Podemos dizer que noutro contexto cultural a figura de Maria seria mais realçada.
Calmeiro Matias
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