18 setembro, 2009

A EFICÁCIA DA PALAVRA DE DEUS-II

II-OS PROFETAS E A PALAVRA

Quando a Palavra de Deus invade o coração do ser humano, este torna-se profeta, isto é, portador de uma mensagem de Deus para os homens.

O profeta anuncia o plano de Deus para o Homem e a Criação, ao mesmo tempo que denunciam as atitudes do Homem que se opõem ou tentam bloquear a sua plena humanização.

Isto significa que a mensagem que o profeta anuncia não é sua. Ele é apenas o medianeiro que anuncia aos homens a Palavra de Deus em grandeza humana.

Por outras palavras, ao anunciar a Palavra Salvadora de Deus, o profeta está a ser salvo pela mesma Palavra que anuncia.

Ao lermos os relatos de chamamento dos profetas, podemos ter a sensação de que a Palavra de Deus se impõe aos profetas, obrigando-os a realizar a sua missão.

Este modo de falar é apenas para realçar o facto de a Palavra de Deus ser eficaz e ser ela que capacita o profeta para a missão.

Na maneira de ver dos textos sagrados, o profeta é um homem totalmente possuído pela Palavra.

É a Palavra que lhe confere a coragem para anunciar e, ao mesmo tempo, para enfrentar os príncipes e os poderosos que se opõem à sua mensagem.

O profeta sabe que esta força vem da Palavra de Deus e não de si. Por isso o chamamento do profeta aparece normalmente sintetizado de modo muito simples pela expressão:

“A Palavra do Senhor veio sobre mim”.

Podemos dizer que os gestos proféticos são realizações da força da Palavra a fazer história com o Homem.

A Palavra de Deus começa por ser um acontecimento vivo no coração do profeta. O protagonista deste Acontecimento é o Espírito Santo.

Depois de o Espírito Santo provocar o acontecimento da Palavra no coração do profeta, este nunca mais voltará a ser o que era antes.

As transformações operadas na vida do profeta e na vida das pessoas que acolhem a Palavra são a expressão da eficácia da mesma Palavra.

Como acabamos de ver, a Palavra de Deus não é um simples discurso, mas um acontecimento que inicia uma nova etapa na História.

Podemos dizer que a Palavra de Deus encarna na vida do profeta e das pessoas que a acolhem.
Isto quer dizer que os gestos dos profetas emergem do seu coração, graças à eficácia da Palavra e à acção do Espírito Santo.

A Palavra do Senhor realiza o que significa na vida das pessoas que a acolhem. Por se sentir possuído pela Palavra, o profeta tem consciência de que não está a falar em nome próprio.

É por esta razão que os profetas não hesitam em afirmar que é o próprio Deus quem fala pela sua boca: ”Assim fala Yahvé,” repetem eles.

Eis o que diz a Segunda Carta de São Pedro a este propósito: “A profecia jamais veio por vontade humana, mas os homens, movidos pelo Espírito Santo, falam como quem vem da parte de Deus (2 Pd 1, 21).

É por esta razão que o próprio profeta nunca esgota o alcance e a profundidade da mensagem que anuncia.

O facto de a Palavra ser eficaz não quer dizer que se imponha aos seres humanos. De facto, a pessoa pode opor-se a Deus.

No entanto, a rejeição da Palavra de Deus produz efeitos negativos no coração da pessoa que a rejeita, pois a vontade de Deus coincide com o que é melhor para o Homem.

A conversão é sempre uma decisão do Homem em acolher a proposta amorosa de Deus. Ao contrário do que acontecia com o legalismo dos Levitas, o pecado não é nunca uma mera transgressão.

Pelo contrário, é uma infidelidade à aliança de Deus da qual a aliança matrimonial é símbolo.

Podemos dizer que o profeta é o homem do compromisso com a transformação histórica, apontando sempre para os critérios de Deus, os quais são diferentes dos critérios dos homens.

Pela revelação sabemos que, no princípio, era o amor concretizado numa comunhão familiar de três pessoas.

Através da sua Palavra, Deus revelou-nos o grande amor com que nos criou e salvou em Cristo.

Graças ao dom da revelação nós sabemos que não estamos perdidos num mundo caótico e a caminhar para o vazio da morte.

Por si só, o Homem nunca podia chegar a esta compreensão profunda do mistério de Deus, do Homem e do sentido da História.

Apesar de não ser irracional, a Palavra de Deus transcende a simples razão humana. Podemos dizer que a revelação está para a razão, como os binóculos para os olhos:

Assim como os binóculos optimizam as capacidades dos olhos, a fé amplia os horizontes da razão.

Mas o Homem pode recusar-se a agir segundo as propostas que lhe são feitas pelo Deus da Aliança.

Levamos em nós a serpente que nos pretende fazer acreditar que as propostas de Deus não são boas para nós.

O Espírito Santo ao provocar o eco da Palavra no nosso coração, faz emergir em nós a Sabedoria que nos capacita para saborearmos a vida com os critérios de Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

Sem comentários: