Jesus tinha um conhecimento perfeito da dinâmica do amor, pois conhecia o mistério de Deus em profundidade.
Ele sabia que Deus é amor e que o amor está no início da génese criadora do Universo. Tinha uma consciência perfeita de que o amor é o alicerce de uma estruturação equilibrada da pessoa humana.
De facto, a experiência diz-nos que a pessoa bem-amada está capacitada para amar bem, ao passo que o mal-amado ama mal.
Foi por esta razão que Jesus fez do amor o seu mandamento. A religião judaica do seu tempo estava enredada numa multidão de mandamentos, normas e preceitos que até os sacerdotes e os doutores se sentiam hesitantes no meio de tanta confusão.
Jesus apercebeu-se de que este emaranhado de leis e preceitos não ajudava as pessoas a amar a Deus e aos irmãos.
Foi então que ele decidiu substituir a multidão das normas e preceitos por um mandamento a que ele deu o nome de “Um Mandamento Novo”.
Eis as suas palavras no evangelho de São João: “ Dou-vos um mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. As pessoas saberão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 3, 34-35).
São Paulo compreendeu muito bem a importância a importância desta decisão de Jesus que levou Jesus a pôr o amor em lugar em lugar de uma multidão de ritos, cultos e preceitos sem valor.
Eis as palavras de São Paulo na Carta aos romanos: “Na verdade, amar o próximo como a si mesmo resume e cumpre toda a Lei de Moisés” (Rm 13, 8).
Depois acrescenta: “Com efeito, o amor é o pleno cumprimento de toda a Lei (Rm 13, 10). Foi isto mesmo que Jesus quis dizer quando afirmou que ele não veio anular os mandamentos a Lei, mas cumpri-la até ao último ponto.
Com estas palavras, Jesus quis dizer que a sua decisão de amar as pessoas, fazendo bem a toda a gente era o modo concreto de realizar a meta do amor universal, às qual os mandamentos e normas da Lei não conseguiam realizar.
Inspirado nos ensinamentos de Jesus, São Paulo compôs um hino que é dos poemas mais belos que a Humanidade já escreveu sobre o amor:
“Ainda que eu fale as línguas dos anjos e dos homens, se não tiver amor não passo de um bronze que soa e faz barulho.
Mesmo que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, se não tiver amor não me vale de nada.
Ainda que eu tenha uma fé capaz de deslocar montanhas, se não tiver amor, nada sou. Mesmo que eu distribuísse todos os meus bens pelos pobres e me entregasse para ser martirizado, se não tiver amor, de nada me aproveita.
O amor é paciente e prestável. O amor não é invejoso. Não é arrogante nem orgulhoso. O amor nada faz de inconveniente nem gira sempre à volta do seu interesse.
Também não se irrita nem guarda ressentimentos. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade.
O amor desculpa tudo e acredita sempre. Espera tudo e tudo suporta. O amor jamais passará” (1 Cor 13, 1-8).
São Paulo foi o maior teólogo do Século Primeiro. Como era judeu, podia compreender de modo privilegiado a opção de Jesus pelo amor.
Jesus compreendia as propostas do amor no seu alcance mais profundo. Foi por isso que ele pediu aos discípulos para imitarem a profundidade e amplitude universal do amor ao jeito de Deus.
Eis como São Mateus descreve o ensinamento e a proposta que Jesus fez aos discípulos:
“Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Eu, porém, digo-vos: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”.
Fazendo assim, acrescenta Jesus, sereis realmente filhos do vosso Pai que está nos Céus, o qual faz que o sol se levante todos os dias sobre bons e maus e a chuva caia sobre justos e pecadores (…).
Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai do Celeste é perfeito” (Mt 5, 43-48). O modo de amar de Jesus era de tal modo semelhante à maneira como Deus ama que Jesus um dia disse ao Apóstolo Filipe:
“Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conheceis, Filipe? Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9).
Era isto mesmo que Jesus queria afirmar quando disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). Nos seus ensinamentos sobre o amor, Jesus insinuava que quanto mais formos capazes de amar a todos, mais semelhantes somos de Deus.
Na linguagem cristã, o amor ao jeito de Deus chama-se caridade.
O facto de termos sido criados à imagem de Deus proporcionou-nos esta capacidade maravilhosa de amar, isto é, de querer bem e querer o bem dos outros, facilitando a sua realização e felicidade.
Amando assim, disse Jesus, os cristãos tornam-se um sinal de Deus para o mundo (Jo 13, 35).
Amando ao jeito de Deus, diz Jesus no evangelho de São Mateus, os discípulos tornam-se um sal que dá sabor e uma luz que dá sentido à vida e aos acontecimentos deste mundo.
Após a ressurreição de Jesus, os discípulos foram fortalecidos com a força do Espírito Santo, ficando capacitados para amar com amor caridade, isto é, ao jeito do próprio Deus.
Eis as palavras de Jesus: “Olhando para o vosso jeito especial de amar, os homens darão glória ao vosso Pai que está nos Céus (Mt 5, 13- 17).
Por outras palavras, o amor faz dos cristãos sinais da bondade de Deus e do seu amor na História.
De tal modo o amor aos irmãos está unido ao amor de Deus que Jesus considera o nosso amor aos irmãos como sendo amor à sua pessoa.
Quando o nosso amor se torna universal, isto é, direccionado para todos, começamos a eleger os outros como irmãos para lá das línguas, das raças, das culturas e das nacionalidades.
Jesus ensinou os discípulos a amar com uma amplitude universal, a fim de a nossa mente e o nosso coração se abrirem à Humanidade inteira.
Eis algumas afirmações de Jesus que vão neste sentido:
“Se amais apenas os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Os publicanos também fazem o mesmo.
Se saudais apenas as pessoas da vossa raça e língua que fazeis de extraordinário? Não fazem assim também os pagãos?
Sede perfeitos no vosso amor, tal como o vosso Pai do Céu é perfeito” (Mt 5, 46-48).
Por outras palavras, o amor optimizado pela força do Espírito Santo e da Palavra de Deus torna-se amor ao jeito de Deus, isto é, amor caridade.
Eis as palavras da Primeira Carta de São João: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus.
Aquele que não ama não chega a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4, 7-8). Isto quer dizer que a nossa identidade espiritual é o nosso jeito de amar e comungar com Deus e os irmãos.
Na Festa dos ressuscitados com Cristo todos dançaremos o ritmo do amor mas cada qual com o jeito que treinarmos agora na História.
Jesus disse que a maneira concreta de a pessoa atingir a perfeição sonhada pela Lei de Moisés, é o amor a Deus e aos irmãos (Mt 5, 17).
Na verdade, pela maneira como viveu e falou do amor, Jesus deu provas de entender muito bem o mistério de Deus e do Homem.
Calmeiro Matias
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