Por tomar Deus e o Homem a sério, Jesus Cristo não separava o amor de Deus do amor ao Homem.
Denunciava com coragem tudo o que machuca ou oprime as pessoas.
Denunciava com coragem tudo o que machuca ou oprime as pessoas.
Tinha plena consciência de que o Homem é a única imagem que Deus fez de si, e que nós devemos venerar como imagem Viva de Deus.
No entender de Jesus, venerar o Homem como imagem de Deus, é uma forma de amar o mesmo Deus.
É por esta razão que a Primeira Carta de São João faz a seguinte afirmação que nós devemos tomar muito a sério:
“Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas odiar o seu irmão, esse é um mentiroso, pois aquele que não ama o seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê.
Nós recebemos de Cristo este mandamento: “Quem ama a Deus ame também o seu irmão” (1 Jo 4, 20-21).
À medida que vamos crescendo no conhecimento de Deus, melhor conhecemos o Homem e o seu lugar no plano salvador de Deus.
Por outras palavras, quanto melhor conhecermos o mistério de Deus melhor preparados estamos para conhecer a dignidade humana.
Se o Homem é a única imagem que o próprio Deus criou de si, então o amor aos irmãos é o único caminho seguro para chegarmos ao conhecimento de Deus.
Eis outra passagem importante da Primeira Carta de São João: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus.
Aquele que não ama não chega a conhecer Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4, 7-8).
Como homem perfeito, Jesus levou o amor muito a sério, tanto na sua vertente de amor a Deus como na vertente de amor aos irmãos.
É por esta razão que ele fazia sempre frente às pessoas que machucavam os irmãos e ferem a sua dignidade.
A nossa fé afirma que Jesus é um homem em tudo igual a nós excepto no pecado. Isto quer dizer que ele, quando defendia a dignidade humana, estava a defender também a sua própria dignidade.
Graças ao mistério da Encarnação, o homem Jesus vivia uma condição totalmente original:
Como ponto de encontro do melhor de Deus com o melhor do Homem, a sua interioridade humana interagia de modo directo com a interioridade do Filho Eterno de Deus, embora sem se fundirem nem confundirem.
Por outras palavras, o humano e o divino, em Cristo, formam uma união orgânica e dinâmica animada pelo Espírito Santo.
Como homem igual a nós, Jesus viveu e experimentou plenamente a condição de homem.
Graças à interacção humano-divina que acontecia nele de modo permanente nós ficamos a compreender que o divino, ao tocar o humano, não o anula.
Pelo contrário, ao ser tocado pelo divino, o humano de Jesus é optimizado e fá-lo ser mais plenamente humano.
A Carta aos Hebreus diz que a Humanidade tem um excelente Sumo-sacerdote junto de Deus, pois Jesus Cristo é um homem que, tal como nós, experimentou plenamente a condição humana. Eis as suas palavras:
“De facto, não temos um sacerdote que não possa compadecer-se de nós, pois ele foi provado e experimentado em tudo, excepto no pecado” (Heb 4, 15).
Gostava de citar aqui um texto alegórico que escrevi sobre a acção profética de Jesus e a sua bondade de coração:
Como estava cheio do Espírito Santo passou a vida a fazer bem a toda a gente e a proporcionar a felicidade às pessoas.
Nasceu na Palestina e a sua paixão era fazer a vontade de Deus. Amava a simplicidade das crianças e defendia corajosamente os que não eram capazes de se defender.
Deixava mais felizes as pessoas que tinham a sorte de o encontrar. Partilhava com os outros a sua vida e os bens, amando a todos, mas mostrando uma preferência especial pelos mais pobres.
Como estava cheio da força do Espírito Santo nunca foi vencido pela cobardia ou o medo. Eis a razão pela qual Deus lhe confiou a missão de inaugurar a vida nova do baptismo no Espírito.
Foi incondicionalmente fiel à vontade de Deus. E como nós fazemos uma união orgânica com ele, passámos a ser membros do seu corpo (1 Cor 12, 27).
Unindo-nos a sim tornou-se a cabeça de uma Nova Humanidade reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19).
Deu-se a nós de modo total. É por esta razão que a sua vida já não é apenas sua. Na verdade, Deus confiou-lhe uma missão em favor de toda a Humanidade.
Como era generoso, levou o amor até à sua densidade máxima: dar a vida por aqueles a quem se ama (Jo 15, 12-13).
Era um homem puro, isto é, transparente de coração. Jamais gostou de nadar em águas turvas.
Tornou-se a cepa da videira cujos ramos somos todos nós.
O Espírito Santo é a seiva que dele, a cepa da videira, para nós que somos os ramos. Como ele mesmo disse, o Espírito Santo é a Água Viva que ele nos dá, a qual faz emergir no nosso coração um manancial de Vida Eterna (Jo 7, 37-39).
No momento da sua morte, quando o soldado perfurou o seu peito, do seu coração saiu sangue e Água, diz o evangelho de São João (Jo 19, 34).
A Água é a Água Viva que Jesus prometeu à Samaritana, garantindo-lhe que, graças a essa Água, ela ficaria saciada para sempre (Jo 4, 14).
O Sangue que saiu juntamente com a Água é o Espírito Santo, isto é, é o Sangue da Nova Aliança que inicia em nós a dinâmica da ressurreição com Cristo.
Os que o mataram destruíram a sua tenda, pensando acabar com a força restauradora do Homem Novo que vai pondo fim às forças do homem velho que gera morte.
A maldade humana matou-o, mas Deus restaurou a sua vida, fazendo dele o alicerce de uma Nova Humanidade.
Ao ressuscitar, Jesus deu-nos a prova de que a vida divina, ao tocar o coração humano, não anula o Homem, mas leva-o à perfeição máxima.
Calmeiro Matias
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