Obrigado pelo facto de cada ser humano emergir de modo único, original e irrepetível. Podemos dizer que a nossa interioridade espiritual tem as impressões digitais das nossas decisões e realizações, pois a pessoa faz-se, fazendo.
Os modeladores da nossa interioridade espiritual somos nós e o Espírito Santo que nos vai inspirando e conduzindo no sentido da nossa realização.
A presença do Espírito Santo acontece no nosso íntimo como interacção adequada à realidade e identidade de cada pessoa.
Com o seu jeito maternal de amar, ele optimiza o melhor das nossas possibilidades de humanização, embora sem impor.
O bem que fazemos configura a nossa interioridade espiritual que é a matéria-prima que Deus ressuscita e assume na Família Divina.
A nossa identidade espiritual é o nosso jeito de amar e comungar com Deus e os irmãos. É com este jeito que nos afirmamos no Reino de Deus como pessoas únicas, originais e irrepetíveis.
O centro dinâmico a partir do qual emerge a nossa vida espiritual é aquilo a que a Bíblia chama coração.
O coração, para a Bíblia é o núcleo mais nobre da nossa interioridade espiritual.
Segundo a visão bíblica, o coração é a sede das nossas decisões e projectos no sentido do bem ou do mal. É o ponto de encontro com Deus e os irmãos.
Os encontros e as relações humanizantes que vamos concretizando são os frutos bons que produzimos e tornam a nossa vida fecunda.
Estes frutos bons têm a sua origem no nosso coração, o núcleo espiritual onde habita o Espírito Santo que é, como diz São Paulo, o amor de Deus derramado no nosso coração (Rm 5, 5).
Espírito Santo,
É no nosso coração que tu fazes emergir a Sabedoria que nos capacita para saborearmos os acontecimentos e as coisas com os critérios de Deus.
O Insensato, diz o Livro da Sabedoria, fixa-se apenas nas aparências e não consegue elevar-se até ao autor das coisas criadas:
“A ignorância acerca de Deus e das suas obras instalou-se no coração do insensato. Eis a razão pela qual ele não é capaz de vislumbrar o autor invisível das belezas visíveis.” (Sb 13, 1).
A Carta aos Efésios diz que a Sabedoria que conduz à verdade de Deus é uma revelação que acontece no coração humano, graças à acção do Espírito Santo:
“Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, vos dê o Espírito da Sabedoria e da Revelação, a fim de poderdes conhecer bem o Deus da Glória” (Ef 1, 17).
No evangelho de São João, Jesus diz que só o Espírito Santo nos pode conduzir à Verdade plena:
“Quando vier o Espírito da Verdade, ele guiar-vos-á para a Verdade completa” (Jo 16,13). A verdade é a compreensão e enunciação adequada da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.
“O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á tudo. Eu vou enviá-lo com a missão de vos recordar tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26).
O mundo está privado da Verdade e da Sabedoria de Deus porque não acolhe o Espírito Santo, diz Jesus no evangelho de São João:
“O Pai vai enviar-vos o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber, pois não o vê nem o conhece.
Vós conhecei-lo, pois ele está junto de vós e em vós” (Jo 14, 17). Como fonte e origem da Sabedoria, Deus concede-a aos humildes que acolhem com simplicidade e pureza de coração a sua Palavra:
“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos doutores e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11, 25; Lc 10, 21).
Aqueles a quem Deus concede o dom da sabedoria saboreiam os mistérios de Deus, do Homem e da História com os critérios de Deus.
São Paulo explica aos cristãos de Roma o que significa saborear as coisas com os critérios de Deus quando afirma:
“O Reino de Deus não é uma questão de comida e bebida, mas sim de justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14, 17).
O evangelho de São Lucas diz que Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2, 52).
Jesus Cristo disse aos discípulos que não tinham necessidade de andar ansiosos e inquietos sobre o que dizer nos momentos de perseguição, pois o Espírito Santo os encherá da sabedoria de Deus que falará por eles:
“Naquela hora dar-vos-ei eloquência e sabedoria, às quais nenhum dos vossos adversários poderá resistir nem contradizer” (Lc 21, 15).
O Livro dos Actos dos Apóstolos diz que Estêvão, no momento do seu martírio, estava cheio do Espírito Santo e de Sabedoria, ao ponto de os seus inimigos não poderem resistir-lhe (Act 6, 10).
São Paulo diz que o Espírito Santo e a sabedoria de Deus não habitam nos corações orgulhosos:
“Ninguém se iluda: se alguém de entre vós julga ser sábio aos olhos do mundo, torne-se louco, a fim de obter a Sabedoria de Deus.
Na verdade, a sabedoria do mundo é loucura diante de Deus” (1 Cor 3, 18-19). As pessoas de coração sábio fazem o bem, conscientes de que o melhor prémio do bem que fazem é a alegria de o terem feito.
Podemos dizer que a sabedoria é o cinzel que modela os grandes mestres, dos quais, o maior foi Jesus Cristo.
Com efeito, os homens de coração sábio são realmente mestres, isto é, pessoas que, pelo seu jeito de falar e agir, inspiram outros, ajudando-os a crescer e a realizar-se como pessoas livres, conscientes e responsáveis.
O critério fundamental das pessoas que se conduzem pela sabedoria é este:
O que não é justo não deve ser feito. Do mesmo modo, o que não é verdadeiro não deve ser dito.
No evangelho de São Mateus Jesus dá glória a Deus Pai por conceder o dom da Sabedoria às pessoas simples:
“Eu te louvo, Pai, Senhor do Céu e da Terra porque escondestes estas coisas aos sábios e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11, 25).
São Paulo reconhece que a Sabedoria lhe foi dada por revelação de Deus, a fim de ele a comunicar aos outros:
“Foi-me dada a sabedoria de Deus, a fim de a dar a conhecer” (Ef 3, 10). E na Primeira Carta aos Coríntios ele afirma o seguinte:
“Ensinamos a sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, a qual foi nos foi destinada por Deus para nós desde os tempos primordiais ” (1 Cor 2, 7).
Pai Santo,
O Livro do Génesis diz que a árvore do conhecimento do bem e do mal, isto é, a ciência humana, sem o condimento da Árvore da Vida, isto é, a sabedoria que vem da tua Palavra fez muito mal à Humanidade:
“E o Senhor Deus deu esta ordem ao homem: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim.
Mas não comas o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois no dia em que o comeres certamente morrerás” (Gn 2, 16-17).
O Homem preferiu o fruto proibido em vez de comer o fruto da Árvore da Vida e por isso entrou na via do malogro e do fracasso:
“O Senhor Deus disse: “Eis que o Homem quanto ao conhecimento do bem e do mal se tornou como um de nós.
Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da Árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre.
Então o Senhor Deus expulsou-o do Jardim do Éden, a fim de cultivar a terra do qual foi tirado” (Gn 3, 22-23).
Espírito Santo,
Enche os nossos corações com a Sabedoria que vem de ti, a fim de sabermos fazer da nossa terra uma morada de paz e alegria para todos os seres humanos.
Calmeiro Matias
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