14 janeiro, 2010

O PARAÍSO É A META DA HISTÓRIA

Nós podemos dizer que o relato do Livro do Génesis sobre o Paraíso é uma alegoria sobre o plano sonhado por Deus para a plenitude dos tempos.

Isto significa que o texto do Génesis não pretende afirmar que alguma vez tenha existido uma humanidade perfeita a viver num estado de plenitude.

Pelo contrário, não se trata de uma realidade existente num princípio mítico, mas da plenitude que aguarda a Humanidade:
“Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher (…), a fim de recebermos a adopção de filhos” (Gal 4, 4-6).

A Carta aos Romanos diz que Jesus Cristo é o Novo Adão (Rm 5,17). Como cabeça da Humanidade reconciliada com Deus, ele é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna:
“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a Vida Eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia.
Na verdade, a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é uma verdadeira bebida. Quem come a minha carne a bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele.
Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também o que me come viverá por mim” (Jo 6, 54-57).

É significativo observar como São João tem o cuidado de acentuar que este mistério da comunhão orgânica com Cristo ressuscitado não é antropofagia:
“E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? O Espírito é que dá vida, a carne não presta para nada. As palavras que vos disse são Espírito e Vida” (Jo 6, 62-63).
A carne de Jesus ressuscitado é a sua realidade humana glorificada a qual forma um todo orgânico com a Humanidade.
O sangue do Cristo glorioso é a seiva da Árvore da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo. Com Jesus ressuscitado, a Humanidade é assumida no paraíso e incorporada na família de Deus.
Deste modo, o Paraíso, sonhado pelo livro do Génesis, torna-se finalmente realidade. Os que são alimentados pelo fruto da Árvore da Vida, isto é, o Espírito Santo, tomam parte na Vida Eterna, sendo organicamente incorporados na Família de Deus, como diz São Paulo (Gal 4, 4-7).
O Livro do Apocalipse diz que no Paraíso, os eleitos são todos alimentados pelo fruto da Árvore da Vida:
“Felizes os que lavam as suas vestes, para poderem entrar pelas portas da Cidade e terem acesso à Árvore da Vida” (Apc 22, 14).
A Vida Nova em Cristo não é uma questão de simples sujeição a um código ético com normas bem estruturadas.
Viver em comunhão com Cristo significa estar unido de modo orgânico a Jesus ressuscitado. O princípio animador desta relação e comunhão com o Senhor ressuscitado é o Espírito Santo.
A comunhão orgânica com Cristo é um dom gratuito de Deus. Ponhamos um exemplo: comparemos o Homem ferido pelo pecado a um limoeiro doente e envelhecido pela doença da ferrugem.
Apesar de ser um limoeiro de alta qualidade, agora, carcomido pela ferrugem, dá frutos de péssima qualidade.
O proprietário do limoeiro pensou nas hipóteses que tinha para salvar o limoeiro. Foi então que lhe surgiu a ideia de cortar um pequeno rebento que ainda se mantinha são e enxertá-lo numa laranjeira jovem e robusta.
Uma vez enxertado, o rebento do limoeiro, sem deixar de ser limoeiro, recebe a seiva da laranjeira e num curto espaço de tempo começa a dar limões de excelente qualidade.
Isto quer dizer que a seiva da laranjeira optimizou o limoeiro e os seus frutos. Foi isto que aconteceu à Humanidade pelo mistério da Encarnação, como diz Jesus com o exemplo da videira:
“Permanecei em mim, que eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim acontecerá também convosco, se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


Sem comentários: