17 maio, 2010

CHAMADOS A VENCER O PECADO E A MORTE

Pecar é recusar-se a crescer como pessoa através de relações de amor e comunhão.

Só há pecado quando a pessoa tem a possibilidade de dizer sim ao amor e decide dizer não.
Quando peca, a pessoa diz não à sua realização pessoal e condiciona ou bloqueia a realização dos outros.

Por outras palavras, ao pecar, a pessoa inscreve ritmos negativos, isto é, forças de bloqueio no tecido social.

Face à realidade do pecado, a pessoa pode encontrar-se na situação de vítima, ou na situação de culpada.

Encontrar-se na situação de vítima significa que a pessoa sofre as consequências negativas do pecado sem dele ser culpada.

Quantos milhões de crianças, por exemplo, sofrem as terríveis consequências pecado sem dele serem culpadas.

Há pessoas que fazem o mal, mas que na realidade são vítimas do pecado e não pecadoras.

Estão neste caso as multidões de mal amados com distorções psíquicas e comportamentos compulsivos cuja origem está no facto de terem sido mal amados.

O evangelho dá provas de possuir uma grande sabedoria quando nos proíbe de julgar os outros.
Na verdade, nós não temos nas mãos a história das experiências dolorosas e traumatizantes das pessoas.

É verdade que os outros nos capacitam mas também nos condicionam nas possibilidades de amar e fazer o bem.

A lei do amor é esta: ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado e o mal amado ama mal, mesmo quando dá o melhor de si.

Do mesmo modo que o amor dos outros nos capacita para amar, as suas recusas de amor, condicionam-nos nas nossas possibilidades de amar.

Na verdade, a pessoa humana começa por ser o que os outros fizeram dela, mas o mais importante é o que ela faz com as possibilidades que recebeu.

O feixe primordial das possibilidades que e dos condicionamentos que nos marcaram formam o leque dos talentos que, logo à partida, fazem da pessoa um ser único, original e irrepetível.

Referindo-se à diversidade dos talentos, Jesus disse que há pessoas que recebem cinco, outras recebem dois, três ou um (cf. Mt 25, 14-30).
Por ser uma oposição ao amor, o pecado mata possíveis de realização tanto no pecador como nas pessoas que são vítimas do pecado.


O Livro do Génesis diz que o pecado de Adão deu como fruto imediato o fratricídio de Caim do qual resultou a morte do seu irmão Abel (Gn 4, 8-16).

Talhado por Deus para criar fraternidade através do amor, o Homem, ao pecar, inicia uma cadeia de fratricídios, opondo-se ao projecto da Família Universal de Deus.

São Paulo diz que Jesus Cristo é o Novo Adão. Tal como pelo pecado de Adão veio o fracasso da morte, a vitória da Vida Eterna veio por Jesus (1 Cor 15, 20-21; Rm 5, 17-19).

Para o pensamento bíblico, a Humanidade forma um todo orgânico da qual foi a sua primeira cabeça.

Quando a cabeça não tem juízo, quem paga é o corpo. Foi por esta razão que o pecado de Adão se difundiu de modo orgânico pelo tecido universal da Humanidade.

Por outras palavras, com o seu pecado, Adão introduziu a Humanidade inteira no caminho do fracasso e do malogro.

O Livro do Génesis diz que Deus expulsou o Adão pecador do Paraíso (Gn 3, 23-24). Foi esta a razão pela qual os seres humanos ficaram sem acesso ao Paraíso.

Jesus veio como o Novo Adão. No momento da sua morte e ressurreição, diz o evangelho de São Lucas, Jesus reabre as portas do Paraíso e a Humanidade entra com ele na plenitude da Vida Eterna.

Eis as palavras que Jesus dirige ao Bom Ladrão no momento da sua morte e ressurreição:

“Em verdade te digo: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

Por outras palavras, a ressurreição de Jesus significa a vitória sobre a infidelidade de Adão. No evangelho de São João, Jesus apresenta-se não só como aquele que nos introduziu no caminho que nos conduz a Deus, mas ele mesmo é o caminho:

“Jesus respondeu a Filipe:”Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai, senão por mim” (Jo 14, 6).

Este ensinamento de Jesus é muito importante, pois ensina-nos que é preciso estar unidos de modo orgânico a Jesus para chegarmos à comunhão com o Pai.

Com a sua infidelidade, Adão opôs-se ao plano de Deus, acabando por colocar a Humanidade no caminho da perdição.

Jesus Cristo, pelo contrário, realizou de modo perfeito a vontade do Pai, introduzindo-nos deste modo, no caminho da salvação:

“O meu alimento, diz Jesus no evangelho de São João, é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).

Depois acrescenta: “Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou” (Jo 5, 30).

A atitude de Jesus face a Deus é totalmente oposta à atitude de Adão. O relato do pecado de Adão ensina-nos que todos nós, ainda antes de sermos pecadores, já somos vítimas do pecado.

Isto quer dizer que a vocação básica do ser humano é a sua humanização mediante relações de amor, a fim de atingir a plenitude da comunhão com Deus.

A lei da humanização é esta: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a fraternidade e a comunhão universal”.

Para realizarmos esta meta podemos contar com a presença do Espírito Santo no nosso íntimo que é, como diz São Paulo, o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5).

Sem amor o coração do ser humano fica árido como um tronco ressequido na vastidão do deserto.

Quando o amor não emerge no coração de uma pessoa, a fonte da alegria seca e o vigor da vida murcha.

Sem amor, a pessoa não se pode estruturar, pois ela foi talhada para o encontro e a comunhão.

O coração é o núcleo mais íntimo do nosso ser espiritual. É o ponto de encontro com Deus e os irmãos.

O nosso coração é o ponto de emergência do qual brotam as decisões que optimizam as nossas relações de amor.

Quando o coração do ser humano está vazio de amor, essa pessoa fica dominada pela solidão, o tormento de não poder possuir-se de modo perfeito, nem poder atingir uma realização plena.

Sem amor, o coração da pessoa é um espaço onde não habita a alegria do face a face e da reciprocidade.

Sem água, as plantas secam e os animais não podem viver. Assim acontece à pessoa que não tem amor no coração.

Com o coração vazio de amor, a pessoa está privada da força necessária para se construir na vida.

Com efeito, as nossas recusas de amor não só impedem a nossa estruturação pessoal, como bloqueiam a realização das pessoas que se cruzam connosco na vida.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


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