À luz da ressurreição de Cristo o acto de morrer é a derradeira possibilidade de renascer para a plenitude do Reino de Deus.
A própria consciência da morte estimula o ser humano a aprofundar o sentido da vida.
Os animais não sabem que um dia hão-de morrer e por isso não sentem necessidade de criar sentidos para viver, pois o sentido da vida e da morte caminham a passo igual.
É por esta razão que, normalmente, o sentido mais profundo da vida emerge na fase terminal, quando a pessoa vê com clareza que o amor é a grande razão que vale para viver e morrer.
Jesus ensinou que amar até à morte é atingir a densidade máxima da vida.
Felizes as pessoas que sabem gastar a vida pelas causas do amor, mesmo que essa opção faça com que a morte chegue mais cedo.
Na verdade, sempre que temos a coragem de gastar a vida pelas causas do amor vamos morrendo ao homem velho que há em nós.
O homem velho tenta poupar a vida a qualquer preço, mesmo que seja a rotura com o amor.
Jesus disse que as pessoas que passam a existência a poupar a vida perdem-na.
A ideia da morte surge ao homem velho como uma tragédia sem saída.
à luz dos ensinamentos de Jesus, pelo contrário, morrer para dar vida é a maneira mais perfeita de viver disse Jesus.
Isto quer dizer que o Homem Novo não pode nascer sem que o velho vá morrendo.
No evangelho de São João, Jesus diz que as pessoas nasceram para renascer (Jo 3,3-6).
A Vida Nova não nasce sem que a velha se vá gastando pelas causas do amor.
Há seres humanos que vão nascendo todos os dias para a plenitude da vida, pois sabem morrer às forças que, em nós, bloqueiam o amor.
Olhada com este sentido, a morte apresenta-se como o último parto para a pessoa renascer de modo definitivo para a Vida Eterna.
À luz da fé cristã a certeza da nossa morte é o convite a criar sentidos válidos para que a vida não seja um fracasso.
Por ter uma interioridade espiritual, o ser humano não cai sob a alçada da morte, nem caminha para o vazio do nada.
A nossa fé diz-nos que é pelo acontecimento da morte que a pessoa entra de modo pleno e definitivo na festa da comunhão universal.
O acontecimento da ressurreição de Jesus Cristo garante-nos que a pessoa humana entra na plenitude da Vida no próprio acto de morrer.
Isto quer dizer que a razão fundamental da nossa existência não é somente prolongar o mais possível a vida mortal, mas construir a vida eterna.
Podemos dizer que no interior da nossa vida mortal a vida imortal emerge como o pintainho dentro do ovo.
Felizes são as pessoas que sabem ocupar a vida presente para construir a vida futura.
Para estas pessoas, a morte surge como a condição indispensável para atingir a sua glorificação com Cristo Ressuscitado.
Foi esta a razão pela qual o Filho de Deus se fez nosso irmão, a fim de nós sermos membros da família divina.
A sabedoria universal da Humanidade diz que a morte não mata a totalidade da pessoa humana, pois esta é imortal no seu ser espiritual.
A Boa Nova da ressurreição de Jesus Cristo confere aos crentes a certeza de que a sua vitória sobre a morte é também uma vitória para nós.
Servindo-nos do relato do Livro do Génesis sobre o Paraíso primordial, podemos dizer que Jesus ressuscitado é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo (Gn 3, 22-23).
São Paulo diz que Jesus é o Novo Adão que veio restaurar as distorções operadas em nós pelo primeiro Adão, vencendo até a nossa morte (Rm 5, 17-19).
Por outras palavras, ao ressuscitar, Jesus colocou de novo o fruto da Vida Eterna ao nosso alcance!
Calmeiro Matias
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