14 abril, 2010

A LIBERDADE COMO CAMINHO DE SALVAÇÃO

I – A LIBERDADE É UMA CAMINHADA

A Liberdade é uma conquista e uma tarefa a realizar, pois a pessoa humana não nasce livre.

A liberdade é a capacidade de a pessoa se relacionar amorosamente com os outros e interagir criativamente com as coisas e os acontecimentos.

Isto quer dizer que a liberdade, o amor e a criatividade caminham juntos.

É importante não confundir liberdade com livre arbítrio, a capacidade psíquica que a pessoa tem de optar pelo bem ou pelo.

O livre arbítrio não é a liberdade, mas sim a possibilidade de a pessoa se tornar livre.

Isto quer dizer que ninguém se pode tornar livre sem exercitar o livre arbítrio.

De facto, ninguém se torna livre sem tomar decisões e fazer escolhas na linha do amor.

Por outro lado não basta exercitar o livre arbítrio, para pessoa se construir como pessoa livre.

Deus é infinitamente livre e, no entanto não tem livre arbítrio, pois é incapaz de optar pelo mal.

Deus é infinitamente livre porque interage em relações de amor infinito e sempre criador.

Do mesmo modo, o ser humano só se constrói como pessoa livre, consciente e responsável através do amor.

Podemos dizer que a nossa liberdade é o resultado de uma cadeia de decisões, opções e realizações na linha do amor.

Isto quer dizer que o amor e a criatividade são a matriz da liberdade.

Vista a esta luz já podemos compreender como a liberdade é sempre um bem.

Por outro lado, o livre arbítrio pode ser fonte do bem e também de grandes males.

Os seres humanos que passaram a vida a fazer o mal não chagaram a atingir um grau elevado de liberdade.

Estas mesmas pessoas também não atingiram um elevado nível de consciência nem de responsabilidade.

Este facto deriva do facto de o ser humano se estar a construir como pessoa.

Como não nasce feito, o ser humano está a realizar-se de modo gradual e progressivo. A pessoa faz-se, fazendo.

Cada pessoa está chamada a realizar-se a partir dos talentos que recebeu dos outros.
E assim, por exemplo, ninguém é capaz de amar antes de ter sido amado e o mal-amado fica a amar mal sem disso ser culpado.

Como o feixe de talentos das pessoas não se repete, cada ser humano se realiza de modo único, original e irrepetível.

II – OS OUTROS E A NOSSA LIBERDADE

Como podemos ver, ninguém é capaz de se tornar livre sozinho.

Isto quer dizer que nós, os seres humanos, precisamos dos outros para nos podermos tornar pessoas livres.

Mas os outros não nos podem substituir, pois a realização do ser humano como pessoa livre, consciente e responsável é uma tarefa pessoal.

Começámos por ser o que os outros fizeram de nós, pois foi deles que recebemos a matéria-prima para nos construirmos.

Mas o decisivo e o mais importante é o que agora construímos com os talentos que recebemos.

Ninguém pode edificar-se como pessoa livre sem ter construir uma vida comprometida.

Não bastam sonhos e devaneios, para uma pessoa chegar a ser livre.

É verdade que os sonhos positivos são importantes, pois funcionam como inspirações que convidam a pessoa a ser criativa.

No entanto, só os sonhos não bastam, pois a pessoa não é igual ao que diz ou sonha, mas sim ao que realiza.

Na verdade há muitos sonhos que não passam de fugas à realidade.

Os seres humanos que se deixam embalar por este tipo de sonhos nunca atingirão grande maturidade nem uma grande realização como pessoas livres.

O Reino de Deus é a Comunhão Universal de pessoas livres.

Isto quer dizer que Deus criou o Homem para que este atinja a liberdade.

Ninguém pode dar a liberdade a outra pessoa. O mais que podemos fazer neste campo é facilitar a realização dos outros para se realizem como pessoas livres.

Há sociedades injustas que metem na prisão pessoas que são profundamente livres e criadoras.

Estas sociedades estão a limitar as possibilidades de estas pessoas exercitarem a sua liberdade e, portanto, a condicionar o seu crescimento em liberdade.

Mas ninguém é capaz de roubar a liberdade a estas pessoas, pois a liberdade faz parte da interioridade máxima da nossa esfera espiritual.

Jesus disse que a pessoa que se opõe ao amor torna-se escrava.

O pecado é a oposição da pessoa amor. Pecar é dizer não ao amor. Foi por esta razão que Jesus disse que quem comete o pecado se torna escravo do pecado (Jo 8, 34).

Cristo libertou-nos das amarras do medo e deu-nos duas asas fundamentais para voarmos em direcção à liberdade: o Espírito Santo e a Palavra de Deus.

As asas não se nos impõem, mas capacitam-nos para voar, caso sintonizemos com a sua capacidade de voar.

Eis o que diz o evangelho de São João a este respeito:

“Se permanecerdes na minha Palavra sereis meus discípulos, conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” (Jo 8, 31-32).

A Palavra de Deus coincide com a Verdade perfeita e plena.

De facto, a verdade é a compreensão e enunciação adequada e correcta da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

Isto quer dizer que apenas Deus, por ser o autor de toda a realidade a pode conhecer e enunciar de modo pleno.

Por ser a Verdade, a Palavra de Deus dá-nos os critérios certos para optarmos e decidirmos na linha do amor, condição fundamental para sermos livres.

No nosso íntimo, o Espírito Santo convida-nos a agir de acordo com o amor, a fim de sermos livres e chegarmos à comunhão dos Filho de Deus.

A afirmação segundo a qual Deus nos dá a liberdade precisa de ser explicada: Em primeiro lugar é preciso saber que todos os dons de Deus nos são feitos em forma de possibilidades ou talentos.

Esta é uma condição essencial para que as dádivas divinas sejam dons e não imposições.

A possibilidade de sermos livres assenta tanto no nível biológico como no psíquico.

Na Carta aos Gálatas, São Paulo escreveu um texto muito importante sobre a nossa vocação a ser livres:

São Paulo, na carta aos Gálatas transmite-nos um ensinamento muito importante em relação à liberdade:

“Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto permanecei e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão (…).

Que a liberdade não sirva de pretexto para vos deixardes subjugar pela carne, o homem velho.
Pelo contrário, mediante o amor, ponde-vos ao serviço uns dos outros” (Ga 5, 1-13).

Como dissemos acima, cada pessoa emerge de modo único, original e irrepetível.

Consciente desta verdade, São Paulo aconselha as pessoas que têm um nível maior de liberdade a não chocarem os mais fracos:

“Tende cuidado para que a vossa liberdade não venha a ser ocasião de queda para os mais fracos.

Se alguém te vê, a ti que tens a ciência e a liberdade, comer alimentos que foram consagrados aos ídolos, é capaz de se voltar para os ídolos.

Deste modo, pela tua ciência vai perder-se quem é fraco?” (1 Cor 8, 9-10).

Isto quer dizer que a lei do amor continua a ser a expressão da liberdade de uma pessoa.

Ao mesmo tempo, o amor continua a ser o caminho para a pessoa continuar a crescer como ser livre.

É este o caminho para a pessoa chegar à comunhão universal com Deus e os irmãos.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


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