04 novembro, 2007

As coordenadas da Vida Eterna

Deus Santo,
no plano que sonhaste para a Humanidade,
a salvação tem como meta a incorporação da Família Divina.
A Comunhão Universal do vosso Reino, portanto,
é constituída por três pessoas divinas,
biliões de pessoas humanas
e todas as outras que possam existir neste Universo quase infinito.

Nesta comunhão cada pessoa é um ponto de encontro
e uma possibilidade de comunhão amorosa para as outras.
Por estar em coordenadas de universalidade e em estado de plenitude,
as aspirações das pessoas têm realização imediata.
Por outras palavras, no Reino de Deus,
as aspirações de encontro, diálogo e comunhão de uma pessoa
tornam-se imediatamente realidade.

No vosso Reino, Deus Santo, cada pessoa está assumida e incorporada
na comunhão universal dos santos
cujo coração é a comunhão da Santíssima Trindade.
Na plenitude da vida eterna estamos realmente presentes a tudo e a todos.
Não por nos deslocarmos a velocidades superiores à da luz,
mas porque os desejos do nosso coração acontecem
como emergência e realização simultâneas.

Esta dinâmica acontece dentro da organicidade e dinamismo da comunhão universal.
Uma pessoa que se tenha excluído desta dinâmica de salvação e plenitude
não se encontra a si nem aos outros,
pois está fora das coordenadas da comunhão universal.
Enquanto está em realização na História,
o ser humano habita as coordenadas do espaço e do tempo.
Deus, pelo contrário, não habita a espacio-temporalidade,
pois está nas coordenadas da omnipresença comunitária do amor total.

Ainda antes de existir o Universo já existia o amor, pois Deus é amor.
O amor é um impulso de bem-querer que tem como origem a pessoa
e como meta a comunhão.

E o Universo surge a partir do diálogo e comunhão amorosa da Trindade Divina.
Não como um prolongamento necessário, mas como a realização de um projecto
que brotou do diálogo amoroso das pessoas divinas.
E Deus imprimiu as suas impressões digitais no tecido da criação.
Eis a razão pela qual a Humanidade, por ser constituída por pessoas,
atinge a sua plenitude na comunhão com as pessoas divinas.
Mediante a morte, o ser humano liberta-se
das coordenadas biológicas, psíquicas, rácicas, linguísticas e espacio-temporais.

À luz da Fé, a morte surge realmente como o parto final
através do qual a pessoa humana atinge a sua plenitude,
isto é, a comunhão universal nas coordenadas de Deus.
Mediante a incorporação na comunhão familiar da Santíssima Trindade,
o ser humano é divinizado.

Isto quer dizer que a divinização não acontece como coisa individual,
mas como resultado da assunção pessoal na comunhão universal da Família de Deus.
Esta incorporação na comunhão divina assenta sobre dois pilares fundamentais:
a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e a ressurreição de Cristo.

Pela encarnação, o divino enxerta-se no humano em Jesus Cristo.
Como resultado deste enxerto, todos os seres humanos ficam com a possibilidade
de se tornarem membros da Família Divina:
“Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem,
deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram dos laços do sangue,
nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.
E o Verbo encarnou e habitou entre nós” (Jo 1, 12-14).

Pela ressurreição de Cristo, a Humanidade é divinizada pelo Espírito Santo:
“No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou:
“Se alguém tem sede venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede!
Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de Água viva”.
Jesus disse isto referindo-se ao Espírito Santo que iam receber os que cressem nele.
Com efeito, o Espírito Santo ainda não tinha vindo
em virtude de Jesus não ter sido ainda glorificado” (Jo 7, 37-39).

O Espírito actuava no mundo desde a criação do homem.
Foi a comunicação primordial do Espírito Santo que fez do Homem um ser vivente,
diz o livro do Génesis (Gn 2, 7).
Mas o Senhor ressuscitado comunica o Espírito de maneira divinizante,
isto é, de forma intrínseca, de tal modo que o Espírito Santo faz de nós
um todo orgânico com Cristo.

Jesus é a cepa da videira, diz o evangelho de João, e nós somos os ramos
que recebem a seiva vital dessa cepa (Jo 15, 1-8).
São Paulo diz esta mesma verdade mas com outro exemplo:
nós somos os membros de um corpo cuja cabeça é Jesus Cristo (1 Cor 10, 17; 12, 27).
Como ternura maternal de Deus e princípio animador de relações,
o Espírito Santo confere dinamismo amoroso à nossa relação com Deus.

Eis o que diz São Paulo a este propósito:
“De facto, todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filho de Deus.
Vós não recebestes um espírito que vos escravize.
Pelo contrário, recebestes o Espírito Santo que faz de vós filhos adoptivos.
É por este Espírito que clamamos “Abba”, ó pai.
O próprio Espírito Santo dá testemunho no mais íntimo do nosso espírito
de que somos realmente filhos de Deus.
Ora, se somos filhos de Deus, somos também herdeiros:
herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8, 14.17).

Louvado sejais, Deus Santo, pelo bem que nos quereis!


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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