29 maio, 2010

RELAÇÕES HUMANAS E EMERGÊNCIA PESSOAL

I-A FORÇA ESTRUTURANTE DAS RELAÇÕES

Ninguém se pode realizar sozinho, embora os outros não possam substituir-nos na nossa realização pessoal.

Os que caminham ao nosso lado são dons de Deus para nós, pois são mediações fundamentais para nos podermos realizar.

A qualidade das nossas relações está condicionada pela qualidade das relações que os outros tiveram connosco na primeira etapa da vida.

É por isso que o bem-amado está capacitado para amar bem, pois vive intimamente equilibrado.
Isto quer dizer que o bem-amada está mais possibilitado para se realizar como pessoa do que o mal-amado.

A pessoa comunica-se na medida em que se possui. Nessa mesma medida acolhe a comunicação do outro, aceitando-o e facilitando a sua comunicação.

É nesta interacção que a pessoa se vai estruturando e fazendo emergir o seu ser espiritual e capaz de reciprocidade amorosa.

A criança precisa tanto da ternura para se estruturar na sua afectividade como do pão para viver e crescer.

Daí a sua arte para cativar os adultos e obter a ternura fundamental para obter um crescimento psicológico equilibrado.

É através das relações com os outros que a pessoa vai sendo capaz de se possuir, de se conhecer em profundidade e ser capaz de gostar de si.

A pessoa não é capaz de gostar de si antes de alguém a ter valorizado e apreciado. Esta fome de realização e reconhecimento social que leva as pessoas a criar grupos, associações e outros espaços fundamentais para se conhecerem e realizarem.

À medida que a pessoa amadurece socialmente começa a ser capaz de sair de si, para ir ao encontro dos outros e descobrir as suas diferenças e qualidades.

Deste modo cresce em si o sentido da solidariedade, do trabalho em equipa, do companheirismo, da generosidade e a capacidade de ser dom para os demais.

II-CULTIVAR RELAÇÕES COM QUALIDADE

A construção da pessoa é tarefa que dura a vida toda e implica a dinâmica das relações. Só as relações interpessoais de cooperação e aceitação mútua são verdadeiramente humanizantes.

Vivemos num mundo onde se multiplicam enormemente as relações meramente funcionais:
De tipo comercial, marcadas pelo sentido da produção e do consumo.

Infelizmente, as relações de fraternidade não aumentam nesta mesma proporção. Eis a razão de tantos dramas de solidão que se manifestam através de comportamentos estranhos, tais como:
Pessoas a falar sozinhas nas ruas. Fugas no álcool ou na droga.

Fugas no sexo sem qualidade amorosa ou no atordoamento de espectáculos sem qualidade. Tudo isto quer dizer que vivemos uma crise de qualidade nas nossas relações.

A própria família tem enormes dificuldades para realizar a missão de espaço privilegiado para as relações e a comunhão amorosa.

É preocupante o aumento de casos de neuroses e depressões provocados pela solidão e a descompensação afectiva.

As crianças e os jovens não encontram modelos de doação generosa. Os jovens são impiedosamente empurrados para um mundo de concorrência feroz, acabando por truncar a sua capacidade de solidariedade.

Isto é preocupante, pois a pessoa leva consigo o estilo de relações que a modelou no início da sua estruturação pessoal.

Somos seres históricos. Todas as experiências e relações que nos estruturaram formam um entretecido que nos acompanha ao longo da vida.

Na verdade, começámos por ser o que os outros fizeram de nós. Isto quer dizer que a qualidade das relações e experiências primordiais nos possibilitam e condicionam ao longo da vida.
Ao mesmo tempo levam-nos a possibilitar ou condicionar os que se cruzaram connosco na vida.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


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