30 novembro, 2008

SÃO PAULO E A REDENÇÃO EM JESUS CRISTO-I

I-JESUS CRISTO O NOVO ADÃO

A distorção humana operada pelo pecado de Adão foi reparada de modo definitivo por Jesus Cristo.

Adão foi infiel ao plano de Deus, colocando a Humanidade no caminho do malogro e do fracasso.
Jesus Cristo, pelo contrário, foi totalmente fiel e por isso se tornou a cabeça de uma Nova
Humanidade, diz São Paulo:

“Por isso, se alguém está em Cristo é uma Nova Criação. O que era velho passou. Eis que tudo se fez novo!

E isto vem de Deus que, em Jesus Cristo, nos reconciliou consigo, não levando mais em conta os pecados dos homens” (2 Cor 5, 17-18).

Jesus Cristo é, na verdade, o Novo Adão que restituiu ao Homem a possibilidade da comunhão com Deus e, portanto, de possuir a Vida Eterna.

Eis o que São Paulo diz na Carta aos Romanos: “De facto, se pela falta de um e por meio de um só homem reinou a morte, com muito mais razão, por meio de um só, Jesus Cristo, hão-de reinar na vida eterna aqueles que recebem em abundância a graça e o dom da justiça (…).

Tal como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um só todos foram justificados” (Rm 5, 17-19).

A Redenção, para São Paulo, significa a reconciliação da Humanidade com Deus, graças à fidelidade de Jesus Cristo.

Graças a esta fidelidade, Deus concede-nos o dom do perdão universal, não levando mais em conta os pecados dos homens (2 Cor 5, 17-19).

A carta aos Hebreus vai nesta mesma linha, afirmando que, onde há perdão do pecado, já não há necessidade de oferenda pelos pecados (Heb 10, 18).

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SÃO PAULO E A REDENÇÃO EM JESUS CRISTO-II

II-O HOMEM JESUS LIBERTA TODA A HUMANIDADE

Graças à ressurreição de Jesus Cristo, a força que o ressuscitou, isto é, o Espírito Santo, começa a actuar no coração dos seres humanos.

À medida que age em nós como força ressuscitadora também faz de nós filhos de Deus, ao ponto de Cristo se tornar o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).

São Paulo vê Jesus como o Servo sofredor por quem Deus toma partido conduzindo-o à vitória da ressurreição.

Graças ao facto de Jesus ser um homem connosco, todos nós fomos feitos participantes da vitória de Cristo.

Não foi fácil para São Paulo afirmar que Jesus era o Filho amado de Deus, uma vez que morrera como um criminoso.

Para os judeus, a morte de Jesus foi a prova clara de que ele é um maldito aos olhos de Deus.
Fazendo com que Jesus morresse daquela maneira, Deus demonstrou que não confirmava as suas pretensões messiânicas.

Por um lado, Jesus morreu sem subir ao trono como anunciam as profecias, a começar pela primeira profecia messiânica (2 Sam 7, 12-16).

Além disso morreu como um criminoso. Esta foi certamente uma das maiores dificuldades que os Apóstolos tiveram de enfrentar perante os judeus.

A solução encontrada pelo Novo Testamento, sobretudo pelo teólogo Paulo, foi recorrer aos textos bíblicos do justo sofredor (Is 52,13-53,12; Sal 21).

Estes textos foram escritos no período do exílio do povo judeu na Babilónia. O povo estava a sofrer a dura prova da servidão e escravatura devido na Babilónia.

Nesta situação, os justos, por quererem ser fiéis às leis do Senhor ainda sofrem mais que os pecadores, os quais se adaptam aos costumes dos pagãos.

Deus não pode ver os justos sofrer e por isso decide libertá-los. Tanto os justos como os pecadores formam o único povo de Deus, isto é, uma totalidade unida de modo orgânico e interactivo.

Eis a razão pela qual Deus, ao libertar os justos, liberta também os pecadores. E foi assim que o sofrimento dos justos se tornou redentor para os pecadores, como diz o profeta Isaías.

Com as suas infidelidades, os pecadores criaram esta situação de sofrimento. Graças à fidelidade dos justos os pecadores vão ser libertos.

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SÃO PAULO E A REDENÇÃO EM JESUS CRISTO-III

III-JESUS COMO SERVO SOFREDOR

O sofrimento do justo, portanto, não é inútil, pois Deus toma partido pelos justos quando estes estão em sofrimento.

Por ser um membro unido a todo o povo, o justo é solidário com o mesmo povo. Ao tomar partido pelo justo, Deus liberta-o e glorifica-o e com ele, todo o povo.

Deste modo o sofrimento do justo adquire um efeito redentor.O sofrimento do justo, portanto não é entendido como um sacrifício exigido por Deus para perdoar aos pecadores.

É o contrário, Deus não suporta o sofrimento do justo nem quer sacrifícios humanos. Quando Abraão pensou oferecer o seu filho em sacrifício para dar glória a Deus, o Senhor rejeitou a oferenda de Abraão:

“Abraão construiu um altar, dispôs a lenha, atou Isaac, seu filho, e colocou-o sobre o altar, por cima da lenha.

Depois, estendendo a mão, agarrou no cutelo para degolar o seu filho. Mas o mensageiro do Senhor gritou-lhe do Céu: “Abraão! Abraão!” Ele respondeu: “Aqui estou.”

O mensageiro disse: “Não levantes a mão contra o menino e não lhe faças qualquer mal” (Gn 22, 9-12).

Deus toma sempre partido pelo justo em sofrimento. Graças ao sofrimento do justo, Deus vai ressuscitar o povo, diz o profeta Ezequiel.

Utiliza a simbologia de um montão de ossos ressequidos que, pouco a pouco se vão cobrindo de carne.

Uma vez revestidos de carne, o Espírito Santo entra neles, fazendo que ganhem vida, tornando-se deste modo um Novo Povo de Deus (Ez 37, 1-14).

Ao tomar partido pelo justo sofredor, Deus ressuscita-o e glorifica-o. Ao mesmo tempo ressuscita e glorifica o povo, pois o justo faz uma união orgânica com ele.

Esta simbologia riquíssima é um terreno fértil para fazer uma leitura redentora dos sofrimentos e da morte de Jesus.

O profeta Isaías e o Salmo vinte e um afirmam que os pecadores, apesar das suas infidelidades, são redimidos, graças à fidelidade e à justiça do Servo sofredor (cf. Is 52, 13-53, 12; Sal 21).

Apoiados nestes textos, São Paulo e os evangelistas, defendem a autenticidade messiânica de Jesus, interpretando os seus sofrimentos e morte à luz do justo sofredor.

É nestes textos que se inspiram os relatos que nos apresentam a figura de Jesus como servo sofredor como vítima de expiação para salvar a Humanidade.

Esta interpretação fazia frente às acusações dos judeus, para quem os sofrimentos e a morte de Jesus eram o sinal de que ele tinha sido um amaldiçoado por Deus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

SÃO PAULO E A REDENÇÃO EM JESUS CRISTO-IV

IV-JESUS É A CABEÇA DA NOVA CRIAÇÃO

No entanto, para São Paulo e o Novo Testamento, Jesus é sobretudo o Filho amado do Pai que faz de nós membros da Família de Deus.

Ele é a cabeça da Nova criação. Cabe-lhe o papel de Senhor da Humanidade restaurada. Ele é o Novo Adão plenamente fiel, ao contrário do primeiro Adão que foi infiel.

É por esta razão que ele se torna a cabeça do Homem Novo e o princípio de uma Nova Criação (Col 1, 15-20).

Apesar de ser imagem perfeita de Deus, diz a Carta aos Filipenses, Jesus Cristo não reivindicou igual a Deus.

Pelo contrário, assumiu a sua condição de Servo fiel à missão que Deus lhe confiou. Por isso foi exaltado e constituído protótipo e modelo em vista do qual todas as coisas foram criadas e no qual todas encontram a própria plenitude (Flp 2, 6-11).

Assim como pelo Adão infiel veio a perdição, diz a Carta aos Romanos, pelo Adão fiel veio a Redenção do homem pecador (Rm 5, 17-19).

São Paulo diz que a paixão de Jesus obteve a salvação para a Humanidade, pois Deus, ao vê-lo sofrer tomou partido por ele ressuscitando-o.

Ao ressuscitar Jesus, todos nós tomámos parte na sua ressurreição, pois fazemos uma única Humanidade com ele:

“Se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de vós dizem que não há ressurreição dos mortos?

Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou” (1 Cor 15, 12-13).
Segundo São Paulo, em Jesus Cristo morto e ressuscitado os seres humanos tornaram-se filhos agradáveis a Deus (Rm 3, 25).

Como a Humanidade é uma unidade orgânica, São Paulo insiste que a distorção operada no Homem pelo primeiro Adão, é corrigida pelo segundo.

Do primeiro Adão, herdámos a morte. Do segundo herdámos a Vida Eterna através ressurreição.
A força ressuscitadora de Cristo a actuar em nós é o Espírito Santo.

É também o Espírito Santo que nos incorpora na família de Deus. Esta acção salvadora está a acontecer no coração das pessoas humanas (Rm 8, 14-17).

Devido ao pecado, a salvação tornou-se redenção, isto é, restauração do homem resgatado pelo pecado e reconciliado com Deus:

“Se alguém está em Cristo é uma nova criação. Passou o que era velho. Eis que tudo se fez novo.
Tudo isto vem de Deus que nos resgatou consigo em Cristo, não levando mais em conta os pecados doa homens (2 Cor 5, 17).

A Carta aos Hebreus diz que foi a fidelidade incondicional de Jesus que agradou a Deus Pai e não aquela morte brutal (cf. Heb 10, 5-7).

A expressão: “Redimidos pelo sangue de Cristo”, tão repetida pelo Novo Testamento, deve ser entendida redimidos pela fidelidade de Cristo, o qual decidiu ser incondicionalmente fiel até à morte.

A Carta aos Hebreus diz que os cultos do Antigo Testamento não tinham qualquer valor para agradar a Deus.

Com a sua fidelidade a Deus, Jesus inaugurou o culto que agrada a Deus, isto é, fazer a vontade de Deus.

Foi por este novo culto, acrescenta a Carta aos Hebreus, que nós fomos salvos (Heb 10, 8-10).
Jesus vai nesta mesma linha quando afirma à Samaritana que a Nova Aliança não assenta nos cultos do templo de Jerusalém.

O culto da Nova Aliança, disse Jesus à Samaritana não é uma questão de sacrificar animais, mas em comungar com Deus mediante o Espírito Santo (Jo 4, 21).

O Espírito Santo é a Água viva que, no nosso íntimo, faz brotar uma nascente de Vida Eterna que nunca se esgota (Jo 4, 14).

A Carta aos Efésio acentua que Deus fez um plano para redimir a Humanidade através de Cristo (Ef 1, 7).

Segundo este plano, acrescenta a mesma Carta, Deus conduziu os tempos à sua plenitude, fazendo de Cristo a cabeça da Humanidade restaurada (Ef 1, 9-10).

Graças a Cristo ressuscitado, continua a Carta aos Filipenses, fomos marcados com o selo do Espírito Santo, garantia da nossa Redenção.

É por este Espírito que tomamos parte na herança da vida eterna (Ef 1, 13-14).

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

25 novembro, 2008

A PESSOA VALE PELA QUALIDADE DO CORAÇÃO-I


I-A GRANDEZA DA PESSOA RADICA NO CORAÇÃO

Jesus disse que a qualidade de uma pessoa se mede pela qualidade do seu coração. Segundo a maneira bíblica de entender, o coração é o núcleo mais nobre da interioridade espiritual da pessoa.

É no coração que se decidem as decisões e opções da vida de uma pessoa. Todos conhecemos as palavras de Jesus sobre a questão da pureza interior de uma pessoa:

É do coração que procedem as más acções. E são estas que tornam a pessoa impura (cf. Mt 15, 19).

Numa outra passagem, Jesus disse: “A boca fala da abundância do coração” (Mt 12, 34). O evangelho de São Mateus diz que Jesus pediu aos discípulos para moldarem o seu coração em harmonia com o coração do mesmo Jesus.

Eis as palavras de Jesus: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).
O evangelho de São João diz que o diabo meteu no coração de Judas o projecto de trair o Mestre (Jo 13, 2).

Segundo a visão bíblica, o coração é a sede da sabedoria e o tesouro das coisas boas: Segundo o evangelho de São Lucas, Jesus, após a sua ressurreição, repreende os discípulos de Emaús, chamando-lhes lentos de coração para acolherem o que os profetas tinham anunciado acerca do Messias (Lc 24, 25).

Na Carta aos Gálatas, São Paulo diz que Deus enviou o Espírito Santo aos nossos corações.
É aí que o mesmo Espírito clama dizendo: “Abba” ó Pai (Gal 4, 6).

Na Carta aos Efésios, São Paulo pede a Deus que ilumine os olhos dos corações dos cristãos, a fim de estes compreenderem o plano salvador de Deus (Ef 1, 18).

Na verdade, o coração, na bíblia, ocupa um lugar central do ser e do agir da pessoa humana.
Isto significa que o valor da pessoa não se mede pelos quilos que esta pesa, nem pelos centímetros que ela tem de altura.

Do mesmo modo, o valor de uma pessoa não se mede pelas riquezas que possui. Podemos dizer que o valor da pessoa se mede, não pelo que ela diz, mas sim pelo que ela faz.

Por outro lado, as decisões e opções que fazem a pessoa agir, têm origem no seu coração.

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Calmeiro Matias

A PESSOA VALE PELA QUALIDADE DO CORAÇÃO-II

II-O CORAÇÃO COMO MORADA DE DEUS

Mas o coração não é um motor cego que nos faz agir sem critério. A bíblia não vê assim as coisas.

São Paulo explica muito bem a origem da luz e da sabedoria que brota no coração da pessoa e a conduzem no sentido de fazer o bem:

“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita nos vossos corações?” (1 Cor 316).

E na Segunda Carta aos Coríntios aclara ainda melhor a dinâmica fundamental do Espírito Santo nos nossos corações, quando afirma:

“Não é que sejamos capazes de conceber alguma coisa por nós mesmos. A nossa capacidade vem de Deus.

É ele que nos torna aptos para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito.

Na verdade, a letra mata, mas o Espírito dá vida (2 Cor 3, 5-6). Todos recordamos a passagem do Génesis que nos fala do momento em que o hálito de Deus passou para o interior do barro do qual saiu Adão (Gn 2, 7).

É isto mesmo que São Paulo quer dizer quando afirma que o Espírito santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Isto quer dizer que o Espírito Santo está em nós como uma presença que ilumina, interpela e nos convida a agir na linha do amor, condição essencial para o ser humano se humanizar.

Como sabemos, as notas musicais são sete. No entanto, um bom compositor, com apenas estas sete notas é capaz de fazer composições musicais que nos encantam e fazem vibrar.

Do mesmo modo, o Espírito Santo, com as nossas capacidades é capaz de compor sinfonias maravilhosas de Evangelho.

Para isso, basta que o deixemos trabalhar no mais íntimo do nosso coração. Nas bem-aventuranças, Jesus diz que os puros de coração verão a Deus (Mt 5, 8).

Isto quer dizer que o essencial das pessoas, sejam divinas ou humanas vê-se com o coração não com os olhos do rosto.

Mas esta declaração pressupõe que o homem é responsável pela qualidade do seu coração.
Puros de coração são as pessoas leais que não dão lugar a planos perversos cujo objectivo é fazer mal ao seu próximo.

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Calmeiro Matias

A PESSOA VALE PELA QUALIDADE DO CORAÇÃO-III

III-O CORAÇÃO COMO PONTO DE ENCONTRO

O Deus da revelação bíblica tem coração, pois o coração é o ponto de encontro de uma pessoa com as outras.

A bíblia afirma muitas vezes que Deus tem coração. Se o coração é o núcleo mais nobre da interioridade pessoal e o ponto de encontro com as outras, então temos de reconhecer que as pessoas divinas as pessoas divinas têm coração.

Jesus convidou os discípulos a amar ao jeito de Deus, a fim de o seu coração se moldar cada vez mais com o de Deus:

“Amai os vossos inimigos e o orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim tornar-vos eis filhos do vosso Pai que está no Céu, pois ele faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores” (Mt 5, 44-45).

Entendido como o núcleo espiritual a partir do qual emergem as decisões e opções do ser humano, temos de reconhecer que o coração é uma dimensão essencial da pessoa.

Neste sentido, os animais não têm coração, pois não são pessoas livres, conscientes e responsáveis.

A Palavra de Deus é acolhida e no coração, pois o coração é, realmente o ponto de encontro com Deus e os irmãos.

Agora já podemos compreender como a comunicação e aceitação da Palavra de Deus acontece no íntimo do nosso coração.

São Lucas, para sublinhar o modo fiel como Maria acolhia e meditava a Palavra de Deus, diz que ela guardava no seu coração o conjunto das experiências vividas com Deus (Lc 2, 51).

Podemos dizer que a comunicação da Palavra de Deus acontece de coração a coração entre nós e o Espírito Santo.

A Igreja, os evangelizadores e os sinais dos tempos são mediações para acontecer a revelação de Deus no nosso íntimo.

As pessoas divinas comunicam entre si de coração a coração. O mesmo acontece com as pessoas humanas quando estas comunicam em profundidade.

Estaremos tanto mais aptos a comungar com Deus de coração a coração quanto mais atentos estivermos à novidade de Deus.

O amor é uma fonte permanente de novidade. Deus é amor e, portanto, emerge constantemente como novidade amorosa.

Como vemos, Deus não é um ser estático. A Divindade não é uma essência eternamente imutável.

Por outras palavras, graças ao facto de ter coração e ser comunhão, a Divindade é novidade permanente.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

A PESSOA VALE PELA QUALIDADE DO CORAÇÃO-IV

IV-CORAÇÃO DE JESUS E SALVAÇÃO

Na visão bíblica, o coração é uma realidade profundamente dinâmica. No evangelho de São Mateus, Jesus pede aos discípulos para moldarem os seus corações, inspirando-se no próprio coração de Jesus:

“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). Podemos dizer que o coração de Jesus é a fonte do amor e da fidelidade incondicional a Deus.

Foi no coração de Jesus que se deu o encontro do melhor de Deus com o melhor do Homem.
Foi no coração de Jesus que a Palavra das Escrituras teve um eco mais pleno e profundo.

Isto era essencial, pois foi no coração de Jesus que o Reino de Deus, isto é, a comunhão humano-divina começou a emergir.

Durante o tempo em que Jesus viveu na história, o Reino de Deus estava no meio dos homens, pois Jesus estava no meio dos homens:

“Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demónios, então o Reino de Deus já chegou até vós” (Mt 12, 28).

Mas no momento da sua morte e ressurreição, o Reino de Deus tornou-se presente às pessoas a partir de dentro:

“A vinda do Reino de Deus não é observável. Não se poderá dizer ei-lo aqui ou acolá, pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17, 20-21).

Podemos dizer que foi no coração de Jesus que se fez a assinatura da Nova e Eterna Aliança.
Por parte da Divindade assina o Filho Eterno de Deus.

Por parte da Humanidade assina o Filho de Maria, Jesus de Nazaré, homem em tudo igual a nós excepto no pecado.

Foi no coração de Jesus que a Humanidade entrou na plenitude dos tempos, isto é, na fase da divinização.

Com efeito, a Encarnação aconteceu como enxerto do divino no humano, a fim de este ser divinizado.

É aqui que radica o fundamento da Nova e Eterna Aliança. Foi a partir do coração de Jesus que aconteceu a difusão do Espírito Santo.

No momento em que o soldado trespassa com a lança o peito de Jesus, saiu sangue e Água do seu coração, diz o evangelho de São João (Jo 19, 34).

A água é a Água Viva como Jesus tinha explicado. A Água Viva provoca uma nascente de Vida Eterna no coração dos seres humanos (Jo 7, 37-39).

As pessoas que beberem desta Água, disse Jesus à Samaritana, nunca mais terão sede (Jo 4, 14).
O sangue é o sangue da Nova e Eterna Aliança, isto é, o Espírito Santo enquanto princípio que nos comunica a Vida de Jesus ressuscitado.

Foi isto que Jesus disse aos judeus quando lhes explicou que a carne e sangue que nos alimenta são a dinâmica amorosa do Espírito Santo e não uma realidade de ordem biológica (Jo 6, 62-63).

Por outras palavras, o Espírito Santo é o sangue de Cristo ressuscitado, o qual é uma realidade de ordem espiritual (Jo 6, 62).

Os que são vivificados por este sangue recebem a vida eterna e ressuscitam com Jesus Cristo, como ele mesmo disse (Jo 6, 54-55).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

22 novembro, 2008

JESUS E O PERDÃO INCONDICIONAL DE DEUS-I

I-A FORÇA NEGATIVA DO PECADO

A história do pecado constitui a face negativa da Humanidade. Não nos é agradável olhar de frente a nossa face negativa.

Na verdade, olhar os nossos pecados é contemplar os nossos fracassos na linha da humanização.
O pecado é sempre uma opção no sentido da desumanização da pessoa.

Por outras palavras, pecar é a recusada pessoa a ser mais humana mediante o amor. Isto significa que o pecado é sempre uma oposição aos apelos do amor.

Do coração do Novo Testamento emerge um grito de gratidão pelo modo incondicional como Deus nos ama e perdoa e Jesus Cristo:

“Se alguém está Cristo, é uma Nova Criação. Passou o que era velho. Tudo isto vem de Deus que, em Jesus Cristo, nos reconciliou consigo, não levando mais em conta o pecado do Homem” (2 Cor 5, 17-19).

De entre os escritos do Novo Testamento o evangelho de São Lucas é conhecido como a Boa Nova da misericórdia de Deus.

Neste evangelho há uma série de textos que são exclusivos de São Lucas que são autênticos poemas sobre o amor misericordioso de Deus, bem como o seu jeito de perdoar sem condições prévias.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS E O PERDÃO INCONDICIONAL DE DEUS-II

II-JESUS E A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

Na parábola do Filho Pródigo São Lucas descreve de modo magnífico o jeito surpreendente de Deus se aproximar do pecador e de o libertar do seu pecado.

De modo genial, a parábola descreve em dois versículos a viragem fundamental do coração humano, quando este se dispõe a acolher o perdão de Deus:

“Levantar-me-ei, vou ter com meu Pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não sou digno de ser chamado teu filho, por isso trata-me como um dos teus servos” (Lc 15, 18-19).

Dizendo isto de si para consigo, o Filho Pródigo põe-se a caminho, dispondo-se a acolher a misericórdia de Deus.

Com grande espanto, o filho pecador apercebe-se de que, afinal, quem toma a iniciativa do perdão e da comunhão é o Pai que o estava esperando de braços abertos (Lc 15, 20-21).

Nesta parábola, Deus Pai aparece como o Pai bondoso que nos propõe o seu amor incondicional.
Todos os dias aquele Pai subia à colina para ver se o filho que ele amava de modo incondicional estaria procurando o lar paterno.

E as intuições do amor concretizaram-se, diz São Lucas: “Quando ainda vinha longe, o Pai viu-o e enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos (Lc 15, 20).

São Lucas diz que a missão de Jesus é um serviço ao amor incondicional de Deus Pai. Eis a maneira como ele descreve a descoberta que Jesus fez desta sua missão:

“Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler.

Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito:

“ O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista.

Enviou-me a libertar os oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor”. Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se.

Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Começou então a dizer-lhes: “Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4, 16-21).

Jesus compreendeu que a sua missão era destruir o pecado, não os pecadores.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

JESUS E O PERDÃO INCONDICIONAL DE DEUS-III

III-ESPÍRITO SANTO E A DESTRUIÇÃO DO PECADO

A destruição do pecado acontece no coração da pessoa pela acção do Espírito Santo que nos faz passar do egoísmo para o amor.

À medida que o Espírito Santo opera esta mudança nos nossos corações nós passamos a ser capazes de tomar atitudes e fazer coisas que, antes, nos era totalmente impossível realizar.

Consciente da missão que o Pai lhe confiara, Jesus começa a tomar a defesa dos pecadores quando se apercebia de que os fariseus e os doutores os queriam destruir.

Certo dia, Jesus escandalizou os fariseus, pois foi hospedar-se em casa de um pecador famoso chamado Zaqueu.

Esta atitude de Jesus operou uma profunda modificação em Zaqueu, predispondo-o para a partilha fraterna (Lc 19, 1-10).

Numa outra ocasião, Jesus tomou partido pela mulher adúltera, apesar de ser contra o adultério.
Preparados para matar esta mulher, os fariseus e os doutores da lei aproveitam a ocasião para pôr Jesus à prova.

Será que ele tem a coragem de se opor à Lei de Moisés que manda matar as adúlteras? Face à provocação, Jesus cala-se e começa a escrever com o dedo no chão.

Quando Moisés subiu ao monte Sinai para se encontrar com Deus, o Senhor escreveu com o seu dedo as tábuas da Lei e entregou-as a Moisés.

Agora Jesus escreve com o seu dedo a Lei da Nova Aliança cujo princípio fundamental é o amor e o perdão.

Jesus tinha consciência de ter sido enviado pelo Pai para destruir o pecado e introduzir o pecador na Família de Deus.

Jesus dizia que este seu modo de proceder correspondia ao querer de Deus. Eis algumas das suas afirmações a este respeito: “Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou” (Jo 5, 30).

Ou então: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34)

E ainda: “Eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

E a vontade daquele que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas o ressuscite no último dia” (Jo 6, 38).

O evangelho de São João diz que o modo de agir de Jesus de tal modo se identificava com o querer do Pai que ele podia dizer: “Quem me vê o Pai”.

Com uma frase que indica o início de uma mudança radical, São Lucas indica-nos o caminho que os pecadores devem tomar para acolher o amor incondicional de Deus:

“Levantar-me-ei e vou ter com o meu Pai” (Lc 15, 18). Como portador do Espírito Santo, Jesus entendia-se como o portador do perdão de Deus.

Na verdade, o perdão do pecado não tem nada a ver com um acto jurídico, mas com uma transformação operada pelo Espírito Santo no coração do Homem.

Eis o que diz a Carta aos Hebreus: “De facto, com uma só oferenda Jesus tornou perfeitos para sempre aqueles que santificou.

É isto mesmo que nos diz o Espírito Santo quando afirmou através do profeta Jeremias: “Esta é a aliança que estabelecerei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor:

Porei as minhas leis nos seus corações e gravá-las-ei nas suas mentes. Não me lembrarei mais dos seus pecados e iniquidades”

Ora onde há perdão dos pecados, já não há necessidade de oferenda pelos pecados” (Heb 10, 14-18).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

18 novembro, 2008

O CANTO HEROICO DO PROJECTO HUMANO-I

I-O HOMEM COMO PROJECTO HISTÓRICO

Chamamos-te Homem em construção, pois és um projecto histórico ainda não acabado.

És uma fonte permanente de novidade a acontecer. Emerges de modo único e irrepetível no concreto de cada pessoa.

Emerges como um rosto com duas faces: Masculinidade e feminilidade. À medida que emerges concretizas-te em pessoas livres, conscientes e responsáveis.

És a imagem perfeita da Divindade, três pessoas em comunhão amorosa. Como imagem de Deus Levas em ti as impressões digitais do Criador.

Surgiste na marcha da Criação como expressão de um desejo expresso de Deus. Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo imprimiu em ti uma fome infinita de amor e comunhão.

Antes de te criar, o Criador fez aparecer tudo aquilo que era essencial para existires e te realizares.

Isto quer dizer que Deus te amou ainda antes de existires. Por outras palavras, Deus não esteve à espera que fosses bom para gostar de ti.

Ainda antes de seres uma Humanidade acabada e perfeita Deus fez uma aliança de amizade contigo.

O teu aparecimento nesta Terra bonita, generosa e fecunda representa o cume da evolução da vida.

Antes de apareceres já havia cores, sons, ritmos, pios, urros e cacarejos. Mas Deus ainda não tinha seres com densidade pessoal capazes de fazer uma aliança e comungar com o Criador.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O CANTO HEROICO DO PROJECTO HUMANO-II

II-DO BARRO PRIMORDIAL À MARCHA DA HUMANIZAÇÃO

Mas quando a evolução atingiu o limiar da humanização, o Espírito Santo, com sua ternura maternal, entrou no interior do barro e dá início ao processo da humanização.

E foi assim que o barro primordial do qual saiu Adão se tornou barro com coração. Barro com coração é o ser humano capaz de eleger o outro como alvo de bem-querer, aceitá-lo como é e iniciar a marcha da fraternidade universal.

O barro com coração torna-se Humanidade, comunhão orgânica de pessoas em tudo semelhante à Divindade.

Como a Humanidade é pessoas e a Humanidade também, já pode acontecer comunhão humano-divina!

Antes de a vida atingir o limiar da humanização, ainda não havia pessoas capazes de amar e fazer poesia.

Quando Deus pensou criar-te logo pensou fazer-te à sua imagem e semelhança. Eis a razão pela qual, Deus parou a marcha da criação, a fim de sonhar o teu projecto de pessoas com interioridade espiritual.

Tu és, na verdade, a única imagem que Deus fez de si, pois tal como acontece com as pessoas divinas.

Humanidade: Por agora, ainda és o Homem em construção. Mas quando chegar a plenitude farás parte da Comunhão Universal cujo centro é a comunhão familiar da Santíssima Trindade.

Deus sonhou-te a reciprocidade e a comunhão. É por esta razão que a pessoa plenamente na comunhão com os outros.

Apesar de ainda seres o Homem em construção, já fazes parte da Família Divina. Com efeito, pelo mistério da Encarnação o divino enxertou-se no humano, a fim de este ser divinizado.

Eis a razão desta fome infinita de plenitude que nos habita e que só o amor pode preencher.
Enquanto vives na História, és o Homem em construção:

A criança é uma pessoa iniciada, mas longe de estar concluída. O jovem ainda não teve tempo para chegar longe na densidade da sua realização.

Nem o adulto se pode arrogar o título de homem plenamente construído.

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O CANTO HEROICO DO PROJECTO HUMANO-II

O CANTO HEROICO DO PROJECTO HUMANO-III

III-A GALÁXIA DA VIDA PERSONALIZADA


Apesar de seres ainda um Homem em construção, já pertences à cúpula personalizada da criação, pois és milhões de pessoas, formando uma comunhão universal.

A tua vida pessoal unida às pessoas humanas e divinas, formam a Nova Galáxia da Vida Personalizada.

Eis razão pela qual pertences à esfera da transcendência: Com efeito, transcendes o Universo, tecido infinito de dinamismos e interacções, mas que não são pessoas em relações amorosas.

És proporcional a Deus. Por isso já fazes parte do grande Oceano da Comunhão Universal.
Começas por ser um leque de possibilidades. Depois, tornas-te realidade na medida em que te vais construindo.

Fazes-te, fazendo; realizas-te, realizando. Não és igual ao que dizes, mas sim igual ao que fazes.
Começaste com o homem primordial e continuas como Humanidade única a acontecer.

Em cada pessoa és uma novidade a emergir. Mas como pessoa, a tua plenitude só se encontra e possuir-se em comunhão.

Fora da Comunhão do Reino de Deus apenas existe a perdição. Perder-se significa ficar fora da galáxia da Comunhão Universal.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O CANTO HEROICO DO PROJECTO HUMANO-IV

IV-ÉS VIDA COM MAIÚSCULA

Apesar de ainda estares em construção, a tua vida é já vida maiúscula, pois emerges como interioridade pessoal-espiritual a convergir para o face a face da comunhão com Deus.

Quem não facilita a tua génese não está em sintonia com a acção de Deus Criador e Salvador.
O ponto mais alto da tua emergência pessoal é Jesus de Nazaré.

A tua cúpula é Jesus de Nazaré, o fruto mais amadurecido em humanidade. O seu íntimo o Humano e o Divino formam uma união orgânica e dinâmica, fazendo um, mas sem se confundirem nem fundirem.

És o Homem em construção. Isto quer dizer que és um poema ainda não plenamente declamado.
Em Cristo ressuscitado entraste na plenitude dos tempos, isto é, na fase dos acabamentos.

Na verdade já levas em ti a Água Viva, isto é, o Espírito Santo que faz emergir uma torrente de Vida Eterna no teu íntimo (Jo 7, 37-39).

Tu és a menina dos olhos de Deus. Com a marcha da humanização começou a emergir no teu íntimo a vida espiritual.

Por seres Homem em construção não nasceste feito nem te fazes de uma só vez. Nasceste para renascer, através do Espírito Santo!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

01 novembro, 2008

IDENTIDADE PESSOAL E COMUNHÃO DO REINO-I

I-INTERIORIDADE ESPIRITUAL E COMUNHÃO COM DEUS

O nosso ser espiritual emerge de modo gradual e progressivo como feixe de energias que se configuram de modo pessoal.

O feixe das energias espirituais abre-se no sentido da interioridade e estrutura-se como interioridade pessoal livre, consciente, responsável e capaz de amar.

Por outras palavras, quanto mais o nosso ser interior se robustece, mais se afirma como realidade única, original, irrepetível e capaz de comunhão amorosa.

Além disso, por emergir no sentido da interioridade vai criando condições para o encontro com Deus que é a interioridade máxima de toda a realidade.

Isto quer dizer que os encontros com Deus acontecem sempre no nosso interior e pela mediação do Espírito Santo.

Eis o que diz São Paulo na Carta aos Romanos: “O Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

E na Primeira Carta aos Coríntios afirma: “Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

Depois acrescenta: “O templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 17). À medida que a pessoa humana se robustece como interioridade espiritual, cresce a sua capacidade de comungar e interagir com a transcendência no seu próprio interior.

No evangelho de São Lucas, Jesus afirma expressamente que o Reino de Deus é uma realidade interior à pessoa humana:

“Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, Jesus respondeu-lhes: “O Reino de Deus não vem de maneira ostensiva.

Ninguém poderá afirmar: “Ei-lo aqui” ou “Ei-lo ali, pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17, 20-21).

“O Reino de Deus diz São Paulo, não consiste em comida e bebida, mas em justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14, 17).

Podemos dizer que quanto mais cresce a nossa interioridade espiritual maior é a nossa capacidade de comungarmos com as pessoas que constituem a comunhão do Reino de Deus.

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Calmeiro Matias

IDENTIDADE PESSOAL E COMUNHÃO DO REINO-II

II-A PESSOA E A SUA IDENTIDADE ESPIRITUAL

O Reino de Deus é a comunhão das pessoas divinas com todas as pessoas humanas ressuscitadas com Cristo.

Não devemos entender a ressurreição como um regresso à vida que o ser humano tinha antes de morrer.

O evangelho de Mateus tem um ensinamento importante de Jesus sobre a condição espiritual dos ressuscitados:

“Estais enganados, pois desconheceis as Escrituras e o poder de Deus. Na ressurreição nem os homens terão mulheres, nem as mulheres, maridos. Serão como anjos no Céu” (Mt 22, 29-30).

Como seres em construção histórica, as pessoas humanas estão a emergir como realidade espiritual no íntimo do nosso ser exterior.

Podemos dizer que o nosso ser espiritual emerge dentro do nosso ser exterior como o pintainho dentro do ovo.

A morte é o momento em que nasce o pintainho. O ser exterior entra nos circuitos físico-químicos da natureza.

Mas o nosso ser pessoal é assumido na comunhão da Família de Deus com a sua identidade espiritual e eterna.

Eis as palavras de São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios: Semeia-se corpo natural, diz São Paulo, e ressuscita-se corpo espiritual (1 Cor 15, 44).

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Calmeiro Matias

IDENTIDADE PESSOAL E COMUNHÃO DO REINO-III

III-IDENTIDADE HISTÓRICA E COMUNHÃO DO REINO

A nossa incorporação em Deus acontece porque fazemos uma unidade orgânica com Cristo: “Os que comem a minha carne e bebem o meu sangue vivem em mim e eu neles.

Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo por ele, do mesmo modo os que comem a minha carne e bebem o meu sangue viverão por mim” (Jo 6, 56-57).

Para indicar a união orgânica que nos liga a Jesus Cristo, o evangelho de São João que Jesus é a cepa da videira e nós os ramos.

Os ramos apenas podem dar fruto se estiverem unidos à videira. Eis as palavras de Jesus: Permanecei em mim que eu permaneço em vós.

Assim como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer (Jo 15, 4-5).

A tradição chama corpo glorioso à configuração espiritual da pessoa humana, a qual é uma configuração histórica, pois emergiu na História.

Ao falar do corpo glorioso, a tradição afirma que o corpo dos ressuscitados não é uma realidade biológica, mas uma realidade espiritual.

Podemos dizer que o corpo glorioso é a configuração do nosso ser espiritual, tal como ele emergiu e se configurou na história.

Por outras palavras, a identidade espiritual da pessoa humana no Reino de Deus é o modo de a pessoa interagir e comungar com os outros.

Podemos dizer que, no Reino de Deus todos os eleitos dançam o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito que foi treinando na História.

Isto significa que o jeito de dançar o ritmo do amor no Reino de Deus foi treinado e adquirido enquanto a pessoa esteve em realização na História.

Na comunhão Universal do Reino, a pessoa encontra-se e possui-se na reciprocidade do amor.
Por outras palavras, fora da comunhão a pessoa não encontra de modo pleno a sua identidade.

De facto, a pessoa apenas se possui dando-se. Só se encontra plenamente na reciprocidade da comunhão.

A nossa realização pessoal assenta sobre uma cadeia enorme de decisões, opções, escolhas e acções marcadas pelo amor.

A pessoa não é igual ao que diz, mas sim ao que faz. Ninguém nos pode substituir na tarefa da nossa realização pessoal.

Mas também ninguém se pode realizar sozinho. É este o núcleo da nossa identidade pessoal.
À medida que o ser humano se realiza como pessoa constitui-se como um ser com os demais.

Os outros são mediações para nos realizarmos, ao mesmo tempo, mediações para nos possuirmos plenamente.

É este o mistério da reciprocidade e da comunhão amorosa.

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Calmeiro Matias

IDENTIDADE PESSOAL E COMUNHÃO DO REINO-IV

IV-HUMANIZAÇÃO E IDENTIDADE ESPIRITUAL

Os outros podem favorecer ou condicionar a nossa realização pessoal, mas a última palavra é sempre nossa.

Aqui radica o fundamento da nossa dignidade e também da nossa responsabilidade. É a nossa realização pessoal e espiritual que configura a nossa identidade histórica.

Seremos eternamente a pessoa que construímos enquanto estivemos em realização histórica.
Isto significa que Deus só diviniza o que nós humanizamos.

A humanização é uma tarefa que temos de realizar, pois ninguém o pode fazer por nós. A divinização, pelo contrário, é um dom gratuito que acontece mediante a assunção da pessoa humana na comunhão da Santíssima Trindade.

Isto quer dizer que será eternamente mais divino quem mais se humanizar na história! Ser mais divino, aqui, significa interagir mais densamente com as pessoas divinas.

A nossa dignidade, portanto, consiste no facto de sermos responsáveis pela nossa realização. Deus criou-nos inacabados e deu-nos a missão histórica de nos criarmos a partir do que recebemos dos outros.

Mas a nossa plenitude não pode acontecer sem a acção do Espírito Santo no nosso íntimo. O evangelho de São João diz que todos os que bebem a Água Viva, isto é, o Espírito Santo, participam da plenitude da ressurreição (Jo 4, 21-23; 7, 37-39).

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Calmeiro Matias

IDENTIDADE PESSOAL E COMUNHÃO DO REINO-V

V-A PESSOA E A ÁRVORE DA VIDA

O fruto da Árvore da Vida que estava no centro do Paraíso era a garantia da Vida eterna. Devido ao pecado de Adão, a Humanidade ficou sem acesso ao fruto da Vida Eterna, diz o Livro do Génesis:

“O Senhor Deus disse: “Eis que o Homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós.

Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da Árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre.

Então, o Senhor Deus expulsou o Homem do Jardim do Éden, a fim de cultivar a terra da qual fora tirado.

Depois de ter expulsado o Homem, Deus colocou a oriente do Jardim do Éden dois querubins com uma espada flamejante, a fim de guardarem o caminho da Árvore da Vida” (Gn 3, 22-24).

São Paulo diz que Jesus Cristo veio como o Novo Adão (Rm 5, 17-19). O evangelho de São Lucas diz que o Novo Adão, no momento da sua morte e ressurreição, abriu as portas do Paraíso fechadas por Adão.

Nesse momento, o fruto da Árvore da Vida ficou de novo ao alcance da e a Humanidade. No momento da sua morte e ressurreição, Jesus garantiu ao Bom Ladrão que o Paraíso seria aberto nesse mesmo dia:

“Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43). Jesus ressuscitado mostrou ser não apenas o Novo Adão, mas também a Árvore da Vida.

Ao ressuscitar, Jesus deu-nos a Água Viva que faz emergir no nosso íntimo uma nascente de Vida Eterna.

O Espírito Santo é, pois o fruto da Árvore da Vida e Jesus Cristo é a própria Árvore da Vida: “No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: “Se alguém tem sede, venha a mim e quem crê em mim que sacie a sua sede!

Como diz a Escritura, hão-de correr rios de Água Viva do seu coração. Jesus disse isto referindo-se ao Espírito santo que iam receber os que acreditassem nele (Jo 7, 37-39).

Com efeito, o Espírito ainda não tinha vindo, pois Cristo ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 37-39).

É o Espírito Santo, diz São Paulo, que nos incorpora na Família de Deus como filhos em relação a Deus pai e como irmãos em relação ao Filho de Deus (Rm 8, 14-16; Gal 4, 4-7).

A Vida Eterna que nos vem de Cristo é a participação na sua ressurreição. A ressurreição em Cristo leva consigo a assunção, ou seja, a plena incorporação na Comunhão da santíssima Trindade.

À luz da ressurreição, a morte surge como o parto final, isto é, a derradeira possibilidade de renascer para a plenitude.

Por outras palavras, a morte é o acontecimento que possibilita o nascimento total. Nesta perspectiva, o amor surge como a única razão válida para construir a vida.

O amor é, na verdade, uma razão que vale tanto para viver como para morrer. Isto quer dizer que o nosso ser espiritual não é atingido pela morte natural.

Pelo contrário, fica liberto dos condicionamentos do nosso ser exterior.

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Calmeiro Matias