24 dezembro, 2006

Jesus, não preciso que voltes a ser menino!

Jesus, neste Natal não preciso que voltes a ser menino.
Foste-o uma vez, como todos os meninos,
e não voltas a sê-lo mais!

Neste Natal quero encher a Vida de gratidão
pela tua Fidelidade Incondicional ao Projecto de Deus.

Deus é uma Família de três Pessoas
plenas e perfeitas na reciprocidade amorosa:
Pai, Filho e Espírito Santo.

Por ser Amor verdadeiro, não Se fecha em Si próprio,
mas abre-se como Impulso de Vida Relacional
e torna-se Fonte Inesgotável de Possíveis…

O Amor gera sempre à sua imagem e semelhança.
Por isso o Ser Humano está talhado para o Amor e se realiza em relações!

O Amor gera, acompanha, dá e dá-se…
No entanto, o alcance máximo do Amor é a Assunção!

A Família Divina sonhou um Projecto de Amor Salvador
cujo alcance definitivo seria a Assunção
da Família Humana na Sua própria Família!

Em ti, Jesus de Nazaré,
acontece o que faltava para que o Projecto de Deus chegasse à plenitude:
a união do Divino com o Humano como interacção de Vida comum!
Porque a Salvação é um Dom,
isto não podia acontecer sem que da parte humana
houvesse uma fidelidade incondicional e livre à iniciativa de Deus.
Por isso foi tão importante a pré-história de Revelação e Esperança que te precedeu,
porque preparou progressivamente um Resto Fiel
no seio do qual tu pudesses emergir na história humana…

O Espírito Santo animava uma união perfeita
entre a tua interioridade pessoal humana
e a interioridade pessoal divina da segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
Por isso também falavas de Deus chamando-lhe “Pai”!

Quando percebemos o Mistério Familiar de Deus
como comunhão de pessoas na unidade do Espírito Santo,
sem fusão nem confusão,
percebemos claramente o Mistério da Encarnação
que acontece no teu íntimo com a mesma densidade:
comunhão de pessoas na unidade do Espírito Santo!

A Boa Nova da Encarnação
é que esta densidade relacional animada pelo Espírito
já não é apenas Divina, como a relação Pai-Filho no seio da Trindade,
mas é Humano-Divina!

A Encarnação não é a biologização de uma Pessoa Divina,
mas a Humanização de uma Relação Divina.

Até ao teu nascimento,
só a segunda Pessoa da Santíssima Trindade chamava Pai à primeira.
Pelo Mistério da Encarnação,
durante cerca de trinta e três anos, houve um homem
que também chamava a Deus seu “Pai”
na densidade relacional do Espírito Santo: tu!

Na tua morte-ressurreição,
ao entrares em comunhão com toda a Humanidade de todos os tempos
pela ultrapassagem das limitações espacio-temporais da história,
difundiste o Espírito Santo como Dom Universal
porque o introduziste no tecido relacional da Humanidade
como presença divinizante.

Deste modo,
a relação filial com Deus-Pai
que em toda a eternidade era uma relação intra-divina,
e que tinha sido durante cerca de trinta e três anos
uma relação humano-divina de um só homem,
tornou-se um dom para todos!

“Deus enviou-nos o Espírito do Seu Filho
que em nós clama: Abba! Papá!
Já somos filhos de Deus!” (Gal 4, 4-7)

Neste Natal quero encher-me de Gratidão
porque em ti foi inaugurada a “Plenitude dos Tempos”,
a fase da Assunção da Humanidade no Amor Familiar de Deus.

Um dia foste menino, como todos os meninos,
mas “cresceste em sabedoria, em estatura e em graça”,
e hoje és o Senhor Ressuscitado
que inaugurou a fase definitiva da História,
o Mediador entre Deus e os Homens,
o Dador do Espírito que de duas Famílias fez uma só!

Não, não preciso que voltes a ser menino…




FELIZ NATAL!

Tenho a certeza que este dia vai ser BOM!
Rui Santiago

12 dezembro, 2006

A DIMENSÃO INTERIOR DO REINO DE DEUS




Deus Santo,

Louvado sejas por Jesus Cristo e pelo acontecimento da Salvação.


Ao ressuscitar, Jesus passou da face exterior da realidade para a sua face interior, isto é, para a dimensão na qual acontece a Comunhão Universal que é a vossa Família!


A face interior é constituída pelas coordenadas da Divindade, isto é, a universalidade e a equidistância.


Com a sua ressurreição, Jesus Cristo venceu a morte para si e para nós, pois ele faz um todo orgânico e dinâmico com a Humanidade.


Na véspera da sua passagem para a face interior da realidade, Jesus prometeu-nos que nós habitaríamos para sempre com ele na Festa do Vosso Reino.


Por outras palavras, como temos parte na sua ressurreição, Jesus garantiu-nos que temos habitação garantida na Comunhão da Vossa Familia.


Eis as palavras da promessa de Jesus, pouco antes de partir para o Pai:

"Não vos deixarei órfãos, pois eu voltarei a vós (...). Nesse dia compreendereis que eu estou no meu Pai, vós em mim e eu em vós" (Jo 14, 18-20).


Esta maneira de falar de Jesus quer dizer que seremos assumidos de modo orgânico na Comunhão Divina.


A promessa de Jesus também nos dá a certeza de que os nossos seres queridos que, pelo parto da morte, nasceram para a plenitude da Vida Eterna estão perto de nós.


Com efeito, nas coordenadas da universalidade e da equidistância, já não há lonjura, mas sim omnipresença a tudo e a todos.
Esta omnipresença acontece para nós a partir de dentro, pois o vosso reino é a interioridade máxima da realidade.


Obrigado, Deus Santo, pois não há distância nem lonjura entre nós e a Comunhão Universal do vosso Reino!


Com efeito, no ponto onde termina a nossa interioridade espiritual limitada começa a interioridade espiritual ilimitada da Comunhão Universal Vossa Família.


O animador desta comunhão orgânica unuiversal é o Espírito Santo. Eis a razão pela qual ele está sempre à porta do nosso coração.


Sempre que, pela Fé e pelo Amor, abrimos a porta do Coração, o Espírito Santo introduz-nos na onda da Comunhão Universal do vosso Reino.


É esta a Nova Criação reconciliada com Deus em Cristo, como diz São Paulo (2 Cor 5, 17-19).
Este dom teve início com o mistério da Encaração e atingiu a plenitude com a ressurreição de Cristo.
Através da Encarnação o Divino enxertou-se no Humano, a fim de este ser divinizado.


No momento em que Jesus ressuscitou, a dinâmica do Natal que até então só habitava o coração de Jesus, passou a habitar o coração de todos os seres humanos que formam a união orgânica universal.


A Salvação, portanto, consiste na divinização da Humanhidade, a qual acontece pela incorporação das pessoas humanas na Comunhão Familiar das Pessoas Divinas.
Por outras palavras, somos assumidos na Família da Santíssima Trindade como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos em relação a Deus Filho.


Os dois pilares da dinâmica da Salvação são, portanto, o Natal e a Páscoa. A seiva que viivifica e robustece esta união humano-divina é o Espíiritoi Santo, o Sangue da Nova e Eterna Aliança.


É este mistério que os cristãos celebram na Eucaristia, de modo particular no rito da comunhão do Pão e do Vinho consagrados.


Nesse momento, os crentes exprimem e procuram reforçar esta união orgânica com Cristo, crescendo como Corpo de Cristo como diz São Paulo:
"Comemos do mesmo pão porque fazemos um só Corpo" (1 Cor 10, 17).
O Espírito Santo é a Carne e o Sangue de Jesus ressuscitado. É ele que alimenta a nossa união com o Cristo e faz de nós participantes da sua ressurreição.


Eis as palavras de Jesus a este respeito:

"Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele.
Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue viverá por mim" (Jo 6, 56-57).


Ao comerem o Pão e beberem o Vinho da Eucaristi, os cristãos estão a afirmar que é no interior da pessoa humana que acontece a união e a interacção que nos diviniza.

Louvado sejais, Trindade Santa, pelo mistério da Encarnação e da Ressurreição de Cristo!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

















04 dezembro, 2006

A SABEDORIA DE DEUS E A LOUCURA DO MUNDO

Deus Santo
Obrigado pelo dom da vossa Palavra, a qual nos vai ajudando a crescer espiritualmente naquilo a que São Paulo chama a Sabedoria do Alto.

São Paulo queria dizer que a nossa maneira de ver e valorizar as coisas e os acontecimentos se vai parecendo cada vez mais com a maneira de ver de Jesus Cristo.

Lembro-me da maneira como o Apóstolo São Paulo valorizava esta Sabedoria que vem da Vossa Palavra e nos capacita para sermos testemunhas do Evangelho no Mundo.

Eis as Palavras de São Paulo:
"Nós ensinamos a Sabedoria de Deus, mistério que antigamente estava escondido, mas que Deus providenciou de modo a que pudéssemos conhecer em tempo oportuno" (1 Cor 2, 7).

A Sabedoria que vem de Vós, Deus Santo, é muito diferente da sabedoria do Mundo.
Eis a razão pela qual o mundo não gosta dos Apóstolos que anunciam o Evangelho e persegue os profetas que denunciam as loucuras e injustiças dos senhores deste mundo.

Foi o que aconteceu com um homem a quem chamavam o Louco da Vila Grande.
Só um grupo de pessoas pertencentes aos pobres da periferia da Vila gostava de o ouvir, prestando atenção e ficando a meditar nas suas palavras.

Certo dia, ao passar na praça principal da Vila deparei com o Louco da Vila Grande que dirigia a Palavra a um pequeno grupo de pessoas.

Parei para escutar um pouco as palavras desse homem ao qual pouca gente prestava atenção.
Mal comecei a ouvi-lo logo me dei conta de que este homem era um apaixonado pela causa de Deus e do Homem.

O seu jeito de comunicar era o de um profeta animado pela Sabedoria que vem da Vossa Palavra, Deus Santo.
As multidões não gostam da Sabedoria, pois esta implica romper com a multidão que abafa a originalidade das pessoas.

Para crescer na Sabedoria que emerge da Vossa Palavra, as pessoas necessitam de saber parar, afastar-se conscientemente da multidão e no silêncio, como fazia Jesus, escutar o Espírito Santo que fala no nosso coração e meditar na vossa Palavra.

Os senhores deste mundo não gostam da Vossa Sabedoria, Deus Santo, pois ela torna patente a falsidade dos seus critérios e as mentiras de que se servem para matar e roubar.
A vossa Sabedoria põe a nu a falsidade e a desumanidade das suas decisões e projectos.

Tentei prestar atenção às palavras do Louco da Vila Grande da qual retive alguns aspectos que ainda conservo na memória e que reproduzo tal como ficaram na minha memória:

"Os seres humanos têm a possibilidade de criar um mundo melhor, humanizando as leis, as estrurutras e as relações entre as pessoas e os povos.
Deus é uma comunhão de Amor.

Ao criar-nos à sua imagem e semelhança, deu-nos a possibilidade de criarmos sociedades fraternas, onde as pessoas aprendam a viver a alegria do dom e da partilha, o único caminho para acontecer a abundância, pondo fim a um mundo cheio de carências.

As sociedades opressoras e injustas geram violência.
Os principais culpados desta violência são os causadores da opressão e da violência, os quais nem são livres e bloqueiam a emergência da liberdade nas pessoas.

Com efeito, a liberdade é a capacidade de se relacionar amorosamente com os outros e interagir criativamente com as coisas e os acontecimentos.

Por ser Amor, Deus deu aos homens a capacidade de se relacionarem fraternalmente e organizarem as sociedades segundo os princípios do amor.

Uma cidade regida pelos princípios do amor, dizia o Louco da Vila Grande, merece ser chamada de CIDADE NOVA E JARDIM DA PAZ"

Passados alguns tempos li nos jornais uma pequena notícia dizendo que o Louco da Vila Grande tinha sido espancado até à morte.


Deus Santo,
Nesse momento pensei:
o mundo não ama a Sabedoria de Deus e, por isso, opõe-se à criação da Paz, e da cooperação fraterna.

Dai-nos um coração capaz de acolher e agir de acordo com a vossa Sabedoria.
Amen


Com uma saudação muito amiga
Calmeiro Matias