29 dezembro, 2008

O CORAÇÃO COMO MORADA DA SABEDORIA-I

I-SABEDORIA E CONHECIMENTO DE DEUS

A Sabedoria que vem do Espírito Santo capacita-nos para conhecermos e saborearmos o mistério de Deus e do Homem.

Eis o que diz a Carta aos Efésios: “Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, vos dê o Espírito da Sabedoria, a fim de bem o conhecerdes” (Ef 1, 17).

Na verdade, a Sabedoria emerge no nosso coração pela Palavra de Deus e a acção do Espírito Santo.

Jesus Cristo garantiu aos discípulos que nos momentos de dificuldades e perseguições o Espírito Santo lhes dará palavras de sabedoria às quais não poderão resistir os inimigos da Fé (Lc 21, 15).

A Sabedoria que brota do Espírito Santo e da Palavra capacita-nos para sermos portadores da Boa Nova do Evangelho, como diz São Paulo:

“E no entanto, é de Sabedoria que nós falamos entre os crentes. No entanto, esta Sabedoria não se confunde com a Sabedoria do mundo nem com a sabedoria dos grandes deste mundo, os quais estão votados ao fracasso” (1 Cor 2, 6).

Jesus dizia aos discípulos para acolherem a sabedoria que brota da Palavra e do Espírito Santo, a fim de possuírem a paz do coração:

“Quem de entre vós, com as suas preocupações, pode prolongar a duração da sua vida?” (Mt 6, 25-27).

No evangelho de São Lucas Jesus é ainda mais explícito quando afirma: “Tende cuidado para que as vossas vidas não fiquem pesadas devido ao excesso de preocupações” (Lc.21,34).

Graças à presença permanente do Espírito Santo no nosso coração nós podemos dispor da própria força de Deus e, deste modo, fazer maravilhas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O CORAÇÃO COMO MORADA DA SABEDORIA-II

II-SABEDORIA E A PAZ DE CORAÇÃO

São Paulo diz que a Paz é um dos frutos do Espírito Santo (Gal 5,22). A pessoa dominada pelo stress fica empobrecida e bloqueada nas suas capacidades físicas e mentais.

Além de se sentir cansada, a pessoa dominada pelo stress vive frustrada por não ser capaz de se concentrar e produzir.

Na véspera de partir para o Pai, Jesus Cristo deixou-nos a paz interior como o grande dom do Espírito Santo:

“Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou” (Jo.14,27). São Paulo, depois de ter experimentado a riqueza da vida dinamizada pelo Espírito Santo, escreve aos Colossenses:

“Reine em vossos corações a paz de Cristo à qual fostes devido ao facto de formardes um só corpo” (Col 3,15).

Isto é tanto mais importante quanto é verdade que não se trata de meras afirmações fundamentadas em qualquer teoria, mas sim na revelação de Deus.

O Espírito Santo, no nosso íntimo, é o manancial que faz jorrar a confiança que fundamenta a paz e a felicidade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O CORAÇÃO COMO MORADA DA SABEDORIA-III

III-SABER CULTIVAR A PAZ INTERIOR

Quando a Palavra de Deus encontra eco no nosso coração podemos ter a certeza de que estamos a ouvir a voz do Espírito Santo.

Segundo o ensinamento de Jesus, as coisas mais importantes acontecem no interior das pessoas.
Por isso ele aconselha os discípulos a procurarem a força do Espírito Santo no silêncio do deserto, isto é, fora dos ruídos do mundo:

“Retiremo-nos para um lugar deserto, disse-lhes Jesus, e fiquemos ali por algum tempo” (Mc.6,31).

Traduzindo esta proposta de Jesus para os nossos dias tenhamos a certeza de que quinze ou vinte minutos de concentração e meditação diária são muito importantes para realizarmos a “higiene” da mente e do coração.

Deste modo podemos encontrar o equilíbrio pessoal e a força para sermos sal, luz e fermento no meio do mundo, como diz Jesus (Mt 5, 13-16).

Quando sentirmos o nervosismo a progredir e a agitar o nosso coração ponhamos um travão e procuremos a paz interior que é esse fruto especial do Espírito Santo.

Jesus convida-nos a pormos as nossas dificuldades nas mãos de Deus, sabendo que Deus está connosco e por nós.

Eis o que São Mateus diz a este propósito: “Não andeis preocupados, dizendo: “que iremos comer, beber ou vestir? (...).

Procurai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas as demais coisas vos serão dadas por acréscimo.

Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta viver a dificuldade do dia-a-dia” (Mt 6, 31-34).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

20 dezembro, 2008

MEDITANDO O MISTÉRIO DE DEUS-I

I-O DEUS QUE SE REVELA

Deus não é uma fórmula matemática para ser teoricamente equacionada. Também não é uma espécie de tabuada que possamos memorizar para repetir mais tarde.

O Deus bíblico define-se como aquele que é, isto é, Alguém que está sempre a ser: “Deus disse a Moisés:

“Eu sou aquele que sou”. E acrescentou: “Dirás aos filhos de Israel: “ O Eu Sou manda-me a vós!” (Ex 3, 14).

Se Deus é um “Eu Sou”, isto quer dizer que é um Deus que está sempre a ser. Isto quer dizer que Deus é “um sempre presente” e nunca foi ou será “um passado”.

Olhando Deus a partir do ponto mais alto da revelação verificamos que Deus é não apenas um sujeito infinito, mas também uma comunidade familiar de três pessoas.

Podemos dizer que a Divindade é uma emergência permanente de três pessoas de perfeição infinita em convergência total de comunhão amorosa.

Na História da revelação, a Santíssima Trindade é, na verdade, o ponto de chegada, não o ponto de partida.

Deus revelou primeiro a sua unicidade de natureza: Há um só Deus. Mas à medida que o seu rosto ia definindo melhor, a realidade de Deus revela-se como comunhão de amor.

Isto quer dizer que o Deus da revelação não é um sujeito isolado, mas uma comunhão de pessoas.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

MEDITANDO O MISTÉRIO DE DEUS-II

II-O MISTÉRIO DO DEUS COMUNHÃO

Há um só Deus, mas Deus não é um sozinho. O Uno na Divindade é a comunhão, o plural são as pessoas.

No mistério da Trindade Divina, nenhuma das pessoas precede a outra. Deus Pai encontra-se como Pai porque ao estabelecer uma reciprocidade amorosa com o Seu Filho.

O Filho é gerado nesta mesma relação que constitui a primeira pessoa da Santíssima Trindade como Pai.

Na verdade não pode existir um pai sem existir simultaneamente um filho. O Filho de Deus é gerado, mas não procriado. Na verdade, em Deus há geração eterna, mas não procriação.

Eis o que significa dizer que Deus é uma emergência permanente e eterna de três pessoas de perfeição infinita em total convergência de comunhão amorosa.

Nesta reciprocidade amorosa do Pai com o Filho, as duas pessoas são gerados em simultâneo com dois jeitos diferentes de amar: amor paternal e amor filial.

O Espírito Santo é a ternura maternal de Deus. Encontra-se nesta interacção amorosa inspirando, e sugerindo sempre novos matizes de comunhão amorosa nesta reciprocidade do amor do Pai e do Filho.

Isto quer dizer que o Espírito Santo tem como jeito de ser animar relações de amor e ser vínculo de comunhão amorosa.

Como o amor de Deus Pai é uma novidade constante, o Filho de Deus está constantemente a ser gerado.

Deus não é nem será nunca um passado. É uma novidade permanente a acontecer num presente eterno.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

MEDITANDO O MISTÉRIO DE DEUS-III

III-DEUS COMO NOVIDADE PERMANENTE

Isto quer dizer que o Filho está eternamente a ser gerado nesta reciprocidade em que o Pai se encontra como Pai e o Filho como Filho.

Face à novidade constante do amor de Deus Pai, o Filho Eterno de Deus exprime o seu amor filial de maneira sempre nova.

Deus Pai ama com amor ágape, isto é, como doação incondicional, a qual não é motivada por qualquer outra doação prévia.

Por outras palavras, o amor paternal de Deus Pai não é precedido de qualquer outro estímulo amoroso.

Por seu lado, o Espírito Santo, com seu jeito maternal de amar, encontra-se no coração da comunhão trinitária.

Na verdade, se Deus é uma comunhão trinitária, então o coração de Deus é um dinamismo relacional.

Por isso o modo de ser do Espírito Santo é inspirar novidade permanente na comunhão do Pai e do Filho.

O mesmo acontece na comunhão entre Deus e o Homem. É isto que São Paulo quer dizer quando afirma que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

A bíblia diz que Deus é amor e que o modo de o conhecermos em profundidade é começarmos a amar (1 Jo 4, 7-8).

Agora podemos compreender melhor com a oração ao jeito de Cristo tem de ser sempre uma oração feita no Espírito Santo.

Isto significa que o conhecimento de Deus implica oração e comunhão com Deus e os irmãos. Eis o que a este propósito diz a primeira carta de São João:

“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. Quem não ama não pode conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4, 7-8).

O conhecimento de Deus é acima de tudo uma actividade do coração.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

MEDITANDO O MISTÉRIO DE DEUS-IV

IV-A FIDELIDADE E O PODER DE DEUS

São Paulo garante aos Coríntios que o Deus que os chamou para a salvação é fiel: “Não sofrestes nenhuma tentação além das que são comuns aos mortais.

Deus, que é fiel, não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças. Quando fores tentado, Deus suscitará um modo de sair da tentação, a fim de a venceres” (1 Cor 10, 13).

Na segunda carta aos Tessalonicenses São Paulo volta a insistir neste ponto: “Deus é fiel e, portanto, podes confiar que ele te fortalecerá e te protegerá do mal” (2 Tes 3, 3).

Ser fiel, na bíblia, significa manter-se firme, ser digno de confiança. O homem que se mantém fiel à aliança de Deus receberá como prémio as bênçãos de Deus e a plenitude da vida:

“O Senhor respondeu: muito bem, servo bom e fiel! Uma vez que foste fiel em pequenas coisas, vou conceder-te domínio sobre coisas grandes.

Vem e partilha a felicidade do teu Senhor” (Mt 25, 23). A fidelidade de Deus, diz a Carta aos Hebreus, manifesta-se no facto de ele manter inalterável a sua aliança e o seu amor para connosco.

“Conservemo-nos firmes na esperança, pois aquele que fez a promessa é fiel” (Heb 10, 23). A fidelidade de Deus é maior que o nosso pecado. Por outras palavras, nem o pecado dos homens consegue anular a fidelidade de Deus, como diz o profeta Jeremias:

“Israel e Judá não foram esquecidos pelo Deus Altíssimo, apesar de a sua terra estar cheia de culpa e iniquidade diante do Santo de Israel” (Jer 51, 5).

A Segunda Carta a Timóteo diz que, apesar das nossas infidelidades, Deus continuará a ser fiel, pois não pode negar-se a si mesmo (2 Tim 2, 13).

É por este mesmo Espírito que somos incorporados na família de Deus como filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus (Rm 8, 14-17).

É por esta a razão que temos de nascer de novo como diz o evangelho de São João (Jo 3, 3).
O novo nascimento acontece pelo Espírito Santo, condição para fazermos parte da família de Deus (Jo 3, 6).

São Paulo não se cansa de afirmar a fidelidade de Deus graças à qual estamos salvos: “Aquele que nos confirma juntamente convosco em Cristo é Deus.

Foi ele que nos marcou com o seu selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito Santo” (2 Cor 1, 21-22).

O profeta Jeremias, chocado com a infidelidade do Povo, anuncia uma Nova Aliança, a qual não assenta em leis ou preceitos, mas na comunicação do Espírito Santo:

Não será como a aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para ao fazer sair da terra do Egipto, Aliança que eles não cumpriram, apesar de eu ser o seu Deus, oráculo do Senhor.

Esta será a Aliança que vou estabelecer naqueles dias com a casa de Israel, oráculo do Senhor: imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo.

Ninguém precisará de ensinar o seu próximo dizendo: conhece o Senhor, pois todos me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno.

A todos perdoarei as suas faltas e não mais lembrarei os seus pecados” (Jer 31, 31-34).

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Calmeiro Matias

MEDITANDO O MISTÉRIO DE DEUS-V

V-A VONTADE DE DEUS PARA NÓS

A vontade de Deus para nós varia, não porque Deus seja inconstante ou arbitrário, mas porque nós somos seres em construção.

Por outras palavras, Deus relaciona-se com cada pessoa de modo adequado à sua realização e crescimento.

Eis a razão pela qual podemos dizer que a vontade de Deus em relação a nós varia, pois coincide sempre com o que é melhor para nós em cada circunstância da nossa vida.

É muito perigoso não tomar Deus a sério, pois este é o sinal indubitável de que a pessoa já entrou no caminho do malogro e do fracasso.

A vontade de Deus a nosso respeito varia, mas não é nunca arbitrária, pois Deus concorre em tudo para o bem dos que o amam, diz São Paulo (Rm 8, 28).

O Novo Testamento dá testemunho de que Jesus estava permanente em sintonia com a vontade do Pai:

“O meu alimento, diz ele no evangelho de São João, é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34).

E ainda: “Desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou.
E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas que os ressuscite no último dia.

Sim, esta é a vontade de meu Pai: quem vê o filho e acredita nele tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 38-40).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

13 dezembro, 2008

MARIA TEVE UM MENINO-I

I-UM MENINO BEM AMADO

Maria Teve Um Menino!

A Notícia circulou veloz entre as gentes de Nazaré. As amigas de Maria comunicavam o acontecimento com a força de uma exultação que vem do fundo do coração.

Faziam-no com um contentamento parecido à alegria dos que anunciam o Evangelho. O Menino de Maria nasceu e cresceu no meio de muito amor.

Era um Menino encantador como acontece com todas as crianças. O seu olhar transparente cativava a ternura dos adultos.

Era uma criança traquina e encantadora, como as outras crianças! Chorava, tinha fome de felicidade, e alimentava sonhos e esperanças.

Como acontece com os meninos bem-amados, o Menino de Maria crescia feliz. Pelo facto de ter recebido muita ternura, o menino de Maria tinha uma capacidade enorme para ser dom.

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Calmeiro Matias

MARIA TEVE UM MENINO-II

II-O MISTÉRIO DO MENINO DE MARIA

Em Nazaré, as pessoas diziam que o filho de Maria e José era um menino encantador. Mas ninguém podia imaginar o alcance salvador daquele Menino a crescer.

Cativava os que o tomavam ao colo. O seu sorriso transparente parecia transmitir algo que prolongava e optimizava o sorriso das demais crianças.

Mas ninguém suspeitava que aquele Menino havia de chamar pai ao próprio Deus! No seu coração aconteceu o encontro definitivo do Homem com Deus:

O Divino enxertou-se no Humano, a fim de este ser divinizado. Por outras palavras, no coração deste menino aconteceu o mistério da Encarnação:

O melhor de Deus encontrou-se com o melhor da Homem. Apesar de ninguém suspeitar, o Menino de Maria era o Salvador da Humanidade.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

MARIA TEVE UM MENINO-III

III-ELE É O NOSSO SALVADOR

No coração deste menino, a sua interioridade humana interagia de modo directo com a interioridade divina da segunda pessoa da Santíssima Trindade.

Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo animava esta interacção humano-divina, tornando-a fecunda.

As pessoas que acariciavam o Menino de Maria não podiam imaginar que, no encanto desta criança se exprimia em grandeza humana, a ternura do próprio Deus!

Como os outros seres humanos, o Menino de Maria era uma concretização única, original e irrepetível de Humanidade.

Mas, além disso, levava em si o mistério do Deus que veio habitar com o Homem. A sua interioridade humano-divina era constituída por uma unidade orgânica e dinâmica de um ser humano com a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

No menino de Maria, o Humano e o Divino, estão unidos sem fusão nem confusão, pois esta união orgânica acontece como perfeita interacção entre o melhor de Deus e do Homem.

O Filho de Maria é homem com todos os homens que nasceram de Adão. Mas também é Deus, com o Pai e o Espírito Santo.

Este enxerto do Divino no Humano é possível graças ao facto de a Divindade ser constituída por pessoas e Humanidade também.

Em comunhão Convosco
Calmeiro Matias

MARIA TEVE UM MENINO-IV

IV-DEU-NOS O PODER DE SERMOS FILHOS DE DEUS

Pelo facto deste menino ser homem connosco, todos nós fomos assumidos e incorporados na família de Deus.

Ele é como que a cepa da videira da qual nós somos os ramos. A seiva que vem da cepa para os ramos e os torna fecundos é o Espírito Santo.

Eis o que ele disse um dia: “Permanecei em mim, que eu permaneço em vós. Tal como os ramos não podem dar frutos por si mesmos, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer (Jo 15, 4-5).

Na verdade, o menino de Maria é o portador da vida eterna para todos nós. Eis o mistério profundo que se habita o coração do Menino de Maria.

Ele é, de facto, a Cabeça da Nova Humanidade recriada pelo Espírito Santo e reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19).

Este menino crescia como outra criança qualquer. Chamava pai a um homem e mãe a uma mulher.

Quando o Menino de Maria brincava com os outros meninos, ninguém podia imaginar o mistério que se ocultava no coração daquela criança.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

MARIA TEVE UM MENINO-V

V-ELE É A ÁRVORE DA VIDA

Este menino é a expressão máxima da fecundidade de Maria e a garantia da nossa salvação.
Foi nele que a vida eterna ficou ao alcance de todos nós.

Ele é a Árvore da Vida colocada por Deus no centro do Paraíso, da qual Adão não foi digno, como diz o livro do Génesis:

“O Senhor Deus disse, então: “Eis que o Homem, Quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós.

Agora é preciso impedi-lo de estender mão e colher o fruto da arvore da vida, pois comendo dele, viveria para sempre”.

O Senhor Deus expulsou Adão do Jardim do Éden, a fim de cultivar a terra da qual fora tirado” (Gn 3, 22-24).

No momento da sua morte e ressurreição, o menino de Maria abriu o Paraíso que Adão tinha fechado:

“Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso, disse ele ao Bom Ladrão” (Lc 23, 42-43).

O Menino de Maria é o Novo Adão. É também a Arvora da vida que nos dá o fruto da Vida Eterna:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia.

De facto,
A minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue é uma verdadeira comida e o meu sangue é uma verdadeira bebida.

Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai,

Também aquele que me come viverá por mim” (Jo 6, 54-57). Ditosa és tu Maria, pelo Filho que acolheste nos teus braços!

Em Comunhão convosco
Calmeiro Matias

09 dezembro, 2008

DIÁLOGO COM A SANTÍSSIMA TRINDADE-I

I-VÓS SOIS O DEUS VIVO

Trindade Santa, Vós sois o Deus da comunicação e do diálogo. Desde toda a eternidade, sois uma Família na qual acontecem relações perfeitas de amor.
Vós sois Vida ao ritmo da comunhão. A nossa fé diz-nos que não sois uma essência estática. Deus Santo, Vós não sois uma estátua sem vida, como os ídolos dos pagãos que não comunicam, apesar de terem boca, olhos e nariz talhados pelo escultor.

Por serdes uma comunidade familiar de três pessoas, nós sabemos que no coração da Divindade existe um diálogo permanente de amor.

Por serdes Amor, Deus Santo, vós quereis bem a toda a gente, pois sois uma comunidade acolhedora.

Foi por esta razão que nos enviastes, Pai Santo, o teu Filho, a fim de nos introduzir na vossa própria Família.

Trindade Santa, vós sois o Deus da alegria. A vossa comunicação connosco tem sabor a festa e a música.

Tal como uma mãe canta para serenar o filhinho que tem ao colo, assim a vossa ternura se difunde para nós em ondas de carinho e harmonia.

O Espírito Santo, no íntimo do nosso coração, provoca o eco maravilhoso da vossa canção de amor, a qual nos serena e dá segurança.

São Paulo, falando dos frutos que a presença do Espírito Santo provoca no nosso coração, diz o seguinte:

“Por seu lado é este o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, bondade, mansidão e auto-domínio” (Gal 5, 22-23).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DIÁLOGO COM A SANTÍSSIMA TRINDADE-II

II-VÓS SOIS UM DEUS SEMPRE NOVO

Vós sois um Deus que nunca se repete. A Humanidade está a emergir e a crescer de modo único, original e irrepetível em cada um de nós.

Pelo facto de as pessoas serem únicas, originais e irrepetíveis, ninguém está a mais, pois nenhum ser humano é uma cópia de outra pessoa qualquer.

A força criadora das vossas relações de Pai, Filho e Espírito Santo exprime-se na novidade permanente do amor humano a acontecer.

A Criação fala-nos da inteligência do seu Criador. De facto, a inteligência do Criador torna-se visível de modo especial na finalidade e sentido que as coisas têm.

Trindade Santa, obrigado porque nos estais criando à vossa imagem e semelhança. Isto quer dizer que no nosso íntimo o Espírito Santo está a esculpir uma imagem perfeita do próprio Deus.

Trindade Santa, Jesus ensinou-nos que o Homem está chamado à festa da comunhão familiar convosco.

Obrigado, Deus Santo, por este Universo que medimos em anos-luz. Vós sois o centro deste Universo quase infinito.

Isto quer dizer que o amor está no coração da Criação.Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo vai-nos conduzindo para este ponto de encontro e convergência do amor.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

DIÁLOGO COM A SANTÍSSIMA TRINDADE-III

III-VÓS SOIS O CORAÇÃO DO UNIVERSO

Na verdade, vós sois a interioridade máxima do Universo. Deus Santo, Jesus gostava de vos anunciar como o Deus da Festa!

Ele falava de vós como de uma Família que realiza um Banquete onde todos dançam o ritmo do amor.

Quando falava do vosso Reino, Jesus gostava de o comparar às Bodas Eternas do Filho de Deus.
Depois convidou-nos a anunciar a salvação, falando da paixão de Deus pela Humanidade.

Obrigado, Trindade Bendita, por nos revelardes o sentido da vida e a meta para a qual está a caminhar o Homem em construção.

Pai Santo, obrigado por nos teres enviado o teu Filho o qual no ensinou que não estamos perdidos no Universo Vazio e sem sentido.

Estamos a caminhar para o encontro e a comunhão da Humanidade com a Divindade. Nessa Festa Universal da Comunhão cada ser humano mantém a identidade pessoal com que se estruturou na História.

Isto que dizer que é no tempo presente que construímos que somos chamados a construir a pessoa que seremos para sempre.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

04 dezembro, 2008

MARIA NO NOVO TESTAMENTO-I

I-JESUS E A SUA FAMÍLIA

As referências a Maria nos evangelhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas deixam claro este princípio:

A realidade de Jesus Cristo enquanto Messias é obra do Espírito Santo, não de Maria: “Enquanto ele falava, uma mulher, levantando a voz do meio da multidão, disse:

“Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!” Ele, porém, retorquiu: “Felizes antes os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11, 27-28).

Jesus tinha uma consciência muito clara sobre a sua missão: Deus enviou-o para construir a Família de Deus, a qual não assenta nos laços do sangue, mas nos vínculos do Espírito Santo.

Eis a razão pela qual Jesus rejeita certas afirmações que parecem opor-se a esta verdade: “Estava ele a falar à multidão, quando apareceram sua mãe e seus irmãos que, do lado de fora, procuravam falar-lhe:

Disse-lhe alguém: “A tua mãe e os teus irmãos estão lá fora e querem falar-te”.Jesus respondeu ao que lhe fez a comunicação: “Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?”

E indicando com a mão os discípulos, acrescentou: “Aí estão minha mãe e meus irmãos, pois todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12, 46-50).

São Lucas e São Marcos substituem a expressão “fazer a vontade do Pai” por “Escutar a Palavra de Deus e pô-la em prática” (Lc 8, 20; cf. Mc 3, 31-35).

Em Nazaré, os conterrâneos de Jesus espantavam-se com a sua sabedoria e com os milagres que fazia, pois eles conheciam-no muito bem e à sua família:

“Chegado o sábado, Jesus começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam:

“De onde lhe vem tudo isto e que sabedoria é esta? Como é possível realizar tais milagres? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?

E as suas irmãs não estão aqui entre nós?” E isto chocava-os” (Mc 6, 2-4).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

MARIA NO NOVO TESTAMENTO-II

II-MARIA COMO MEDIAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

No relato da visita de Maria a sua prima Isabel, São Lucas apresenta Maria como mediação da obra messiânica, pois levava no seu ventre Jesus, o Messias, o qual comunicou o Espírito Santo a João Baptista.

O relato tem um grande significado simbólico. Em primeiro lugar afirma que não foi João que comunicou o Espírito Santo a Jesus, mas foi Jesus que comunicou o Espírito Santo a João.

Depois aparece a figura de Maria como a grande mediação do Espírito. Na verdade, foi Maria que levou Cristo, o portador do Espírito Santo, até João Baptista.

Eis o relato de São Lucas: “Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se pressadamente para as montanhas, a uma cidade da Judeia.

Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.

Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.

E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? De facto, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio” (Lc 1, 39-44).

É um texto bonito para fazer a ligação entre João Baptista e Jesus. Naturalmente que se trata do “midrash”, isto é, um texto elaborado em forma de relato histórico, mas que é apenas uma elaboração teológica.

No que se refere à figura de Maria, São Lucas aprofunda toda a riqueza teológica associada a Maria, a mãe do Messias:

Maria aparece neste relato como uma mulher de Fé: “Feliz de ti que acreditaste”, diz-lhe Isabel (Lc 1, 45).

Tal como Abraão, Maria acreditou. Graças à sua fé, Abraão tornou-se o medianeiro das bênçãos da salvação para a Humanidade:

“Disse o Senhor a Abraão: “Farei de ti um grande povo. Abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos.

Abençoarei aqueles que te abençoarem e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E na tua descendência todas as famílias da terra serão abençoadas” (Gn 12, 2-3).

Por ser uma mulher de Fé, Maria recebeu a missão de ser a mãe do portador das bênçãos prometidas a Abraão para toda a Humanidade.

A grande bênção que o Filho de Maria traz para a Humanidade é o Espírito Santo que faz dos seres humanos membros da Família de Deus:

São Paulo entendeu muito bem esta verdade fundamental e por isso escreveu: “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus.

Vós não recebestes um espírito de escravidão, mas um Espírito de adopção, graças ao qual clamais: “Abba, Papá!” (Rm 8, 14-15).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

MARIA NO NOVO TESTAMENTO-III

III-MARIA NO TEMPLO

Os evangelhos da infância, isto é, os dois primeiros capítulos dos evangelhos de São Lucas e São Mateus, não são relatos históricos.

Se os compararmos vemos como são totalmente diferentes e até contraditórios. Trata-se de um procedimento corrente no mundo bíblico chamado “midrash”.

O “midrash” é um texto com uma intenção teológica bem definida: Elaborar o retrato do personagem em causa e da missão que Deus lhe vai confiar.

As maravilhas ligadas ao nascimento ou infância do personagem em causa indicam os planos que Deus tem para ele.

Os evangelhos da infância são um midrash. Isto quer dizer que a sua elaboração tem a função pedagógica de apresentar de Jesus e a missão que Deus lhe vai confiar.

Vejamos o encontro com o velho Simeão: Maria foi ao templo para fazer a apresentação do seu filho ao Senhor.

Nesse momento aparece um ancião chamado Simeão, homem justo e piedoso, o qual esperava a consolação de Israel.

Simeão estava cheio do Espírito Santo (Lc 1, 25). Inspirado pelo Espírito Santo, toma o menino nos braços e exclama:

“Agora, Senhor, tal como me disseste, deixa partir este teu servo em paz. Os meus olhos viram a salvação que ofereces a todos os povos e que é a luz que se vai revelar às nações. Ele é a glória de Israel teu povo”.

Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. Simeão abençoou-os e disse a Maria sua mãe:

“Este menino será um sinal de contradição. Será causa de queda e ressurgimento de muitos em Israel.

Uma espada trespassará o teu coração e assim se revelarão os pensamentos de muitos corações” (Lc 2, 29-35).

Naturalmente que um texto destes foi escrito depois da vida, morte e ressurreição de Jesus.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

MARIA NO NOVO TESTAMENTO-IV

IV-MARIA E O MISTÉRIO DE CRISTO

Este midrash, como todos os outros que aparecem na bíblia eram elaborados após a morte do personagem em causa.

A anunciação do anjo a Maria faz igualmente parte do evangelho da infância de Lucas. São Lucas põe na boca do anjo uma síntese da primeira profecia messiânica da história: o oráculo do profeta Natã a David, cerca de mil anos antes de Cristo (2 Sam 7, 12-16).

Esta profecia marcou toda a história bíblica, pois é a matriz da esperança messiânica em Israel.
Agora, o Anjo da Anunciação sintetiza a profecia, apresentando-a em forma de anúncio do nascimento maravilhoso do Messias esperado.

Eis o que diz o evangelho de São Lucas: “Ao entrar em casa de Maria, o anjo disse-lhe: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo”. Ao ouvir estas palavras, Maria perturbou-se e perguntava-se sobre o significado de tal saudação.

Disse-lhe o anjo: “Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar á luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus.

Ele será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David.

Reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim”. Maria disse ao anjo: “Como será isso, se eu não conheço homem?”

O anjo respondeu-lhe: “O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra.

Por isso, aquele que vai nascer é santo e será chamado Filho de Deus” (Lc 1, 28-35). O que Jesus é como Messias é obra do Espírito Santo.

Para acentuar este aspecto, São Lucas põe na boca de Maria a seguinte questão: “Como será isso, visto eu não conhecer varão?” (Lc 1, 34).

O grande protagonista deste mistério é o Espírito Santo. Como ternura maternal de Deus, o Espírito Santo vai optimizar o amor maternal de Maria, a fim de ela amar o Filho de Deus com um amor maternal optimizado pelo próprio Deus.

Nesta passagem, Maria aparece como a grande mediação do Espírito Santo para que se concretize o mistério de Cristo.

Foi o Espírito Santo que consagrou Jesus para ele realizar a sua missão, diz São Lucas mais à frente (Lc 4, 18-21).

Na verdade, Maria apenas compreendeu de modo perfeito o mistério de Cristo com o Pentecostes.

Como diz o Livro dos Actos dos Apóstolos, Maria só compreendeu de modo perfeito o mistério de Cristo após a ressurreição do Senhor (cf. Act 1, 14).

É muito interessante ver como o evangelho de São João, com seu simbolismo tão rico, diz que a festa das Bodas de Caná teve lugar três dias depois.

Não é difícil ver aqui uma alusão à experiência pascal de Maria e dos irmãos de Jesus (Jo 2, 1-2).
No evangelho de João Maria é mencionada apenas duas vezes: nas Bodas de Caná (Jo 2, 1-12) e junto à cruz (Jo 19, 25-27).

Maria não é nunca mencionada pelo seu nome. São João chama-lhe sempre a mãe de Jesus.
Mesmo quando os judeus falam dos pais de Jesus, mencionam Jesus pelo seu nome, mas para Maria utilizam a designação de Mãe de Jesus:

“Os judeus puseram-se, então a murmurar contra Jesus pelo facto de ele ter dito: “Eu sou o pão que desceu do Céu” e diziam: “Não é ele Jesus, o filho de José, de quem nós conhecemos o pai e a Mãe?”

Como se atreve a dizer agora: “Eu desci do Céu?” (Jo 6, 41-42). Quando Jesus a fala com Maria, este chama-lhe sempre mulher.

Deste modo, Deste modo, São João pretende acentuar que Jesus, enquanto Messias, não é obra de Maria, mas sim do Espírito Santo.

Eis o testemunho de João Baptista: “Eu não o conhecia, mas foi para ele se manifestar a Israel que eu vim baptizar com água.

“Eu vi o Espírito Santo que descia do Céu como uma pomba e permanecia sobre ele. Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a baptizar é que me disse:

“Aquele sobre quem vires descer o Espírito e poisar sobre ele é o que baptiza com o Espírito Santo.

Pois bem: eu vi e dou testemunho de que este é o filho de Deus” (Jo 1, 31-34). Ao pôr na boca de Maria o cântico do Magnificat, Lucas entendia que uma proclamação desta força e profundidade se adequava perfeitamente à mãe de Jesus.

No evangelho de Mateus Jesus convida os discípulos a aprenderem dele que é manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).

Jesus tem um coração manso e humilde. Este coração de Jesus foi em grande parte pela acção maternal de Maria.

De facto, os meninos judeus, no tempo de Jesus, ficavam ao cuidado exclusivo das mães até aos cinco anos de idade.

É o período básico para a estruturação das linhas mestras da personalidade humana!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

MARIA NO NOVO TESTAMENTO-V

V-A PERDA DO MENINO JESUS NO TEMPLO

No relato da perda do Menino Jesus no Templo, ao falar do reencontro de Jesus com os seus pais, São Lucas, como fez São João no relato das bodas de Caná, utiliza a simbologia dos três dias.

Depois de muita aflição, os pais de Jesus encontram-no três dias de pois na casa do Pai. Naturalmente que também há uma alusão à experiência pascal de Maria.

Eis o relato: “Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa.
Quando Jesus atingiu os doze anos, subiram até lá, segundo o seu costume.

Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem.

Pensando que ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos.

Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Três dias depois encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas (…).

Ao vê-lo, os seus pais ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: “Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!”

Ele respondeu-lhes: “Porque me procuráveis?” Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?
Mas eles não compreenderam as palavras que Jesus lhes disse” (Lc 2, 41-49).

Nas entrelinhas deste texto do “midrash” de São Lucas está uma alusão muito significativa sobre a descoberta que Maria faz do seu Filho no momento da sua experiência pascal.

A experiência pascal de Maria e dos irmãos de Jesus é afirmada de modo solene por São Paulo quando descreve em síntese as aparições do Senhor ressuscitado (1 Cor 15, 7).

São Paulo nomeia Tiago em vez de Maria, mas isso deve-se ao facto de Maria ser uma mulher e as mulheres, no mundo judaico daquela época, não poderem servir como testemunha.

Pôr uma mulher a testemunhar a ressurreição de Jesus, seria tirar credibilidade ao facto. É por esta mesma razão que, no evangelho da infância de São Mateus, o anjo só fala com José.

São Mateus escreve o seu evangelho a pensar nos judeus. Como a mulher não era considerada uma testemunha credível o anjo da anunciação nunca fala com Maria, mas apenas com José (Mt 1, 20; 2, 13).

Por outras palavras, no evangelho de São Lucas, o anjo da anunciação só fala com Maria.
No evangelho de São Mateus, o anjo só fala com José:

“Andando José a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse:
“José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo.

Ela dará à luz um filho ao qual darás o nome de Jesus, pois ele salvará o povo dos seus pecados.
Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor disse pelo profeta:

“Eis que a virgem conceberá e dará á luz um filho, e há chamá-lo Emanuel, que quer dizer Deus connosco” (Mt 1, 22).

O anjo falou várias vezes em sonhos com José: Na fuga para o Egipto (Mt 2, 13-15). No regresso do Egipto para a terra de Judá (Mt 2, 19-21). Na mudança para Nazaré (Mt 2, 22-23).

Podemos dizer que noutro contexto cultural a figura de Maria seria mais realçada.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias