24 abril, 2010

ESPÍRITO SANTO E OS OPERÁRIOS DO REINO

O Novo Testamento garante aos evangelizadores que a sua missão terá o mesmo sucesso da missão de Jesus, pois o Espírito que fortalecia Jesus é o mesmo que fortalece e capacita os seguidores do Senhor:

“No decurso de uma refeição que partilhava com os discípulos, Jesus ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem lá o prometido do Pai, do qual Jesus lhes falou por várias ocasiões.

João baptizava em água, mas vós sereis baptizados no Espírito Santo, disse-lhes Jesus” (Act 1, 4-5).

Podem estar seguros, pois o Espírito Santo será o guia e o mestre deles na tarefa da evangelização:

“Mas o Paráclito, o Espírito que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo e há-de recordar-vos tudo o que eu disse” (Jo 14, 16).

São Paulo diz que os evangelizadores são ministros da Nova Aliança, capacitados pelo Espírito Santo para o serviço do Evangelho:

“Não é que sejamos capazes de realizar algo como coisa vinda de nós. A nossa capacidade vem de Deus, pois é ele que nos torna aptos para sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito, porque a letra mata, mas o Espírito dá vida” (2 Cor 3, 6).

O trabalho evangelizador do Apóstolo será tanto mais eficaz quanto mais este acolher no seu coração a novidade da Palavra e do Espírito Santo.

O Apóstolo é uma mediação da qual Deus precisa, mas o protagonista da evangelização é o Espírito Santo.

A eficácia da evangelização não depende do Apóstolo. A sua missão é pôr Deus a falar, tornando-se o servidor da Palavra.

Tomando São Paulo como modelo, podíamos dizer que o evangelizador deve agir como se tudo dependesse dele, sabendo, no entanto, que o fundamental é obra de Deus.

Eis o testemunho da Primeira Carta aos Coríntios: “Mas quem é Apolo? Quem é Paulo? Simples servos por cujo intermédio abraçastes a fé.

Na verdade cada um de nós actua segundo a capacidade que Deus nos concedeu: Eu plantei. Apolo regou. Mas foi Deus quem deu o crescimento.
Isto quer dizer que nem o que planta nem o que rega é alguma coisa por si, pois só Deus é capaz de fazer crescer.

O que planta e o que rega formam uma união em Cristo e cada qual receberá o prémio do seu trabalho.

Nós somos, de facto, cooperadores de Deus e vós sois o campo de cultivo do Senhor” (1 Cor 3, 5-9).

Jesus tomou muito a sério a sua condição de consagrado pelo Espírito Santo. Eis as suas palavras no evangelho de São Lucas:

“Jesus veio a Nazaré onde se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler.

Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito:

“O Espírito do Senhor está sobre mim porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres.
Enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista. Enviou-me a libertar os oprimidos e a proclamar o ano da graça” (Lc 4, 18-19).

A fecundidade da nossa acção evangelizadora vem-nos do facto de estarmos unidos de modo orgânico a Jesus, diz o evangelho de São João:

“Permanecei em mim que eu permaneço em vós. Tal como o ramo da videira não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira. Vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

São Paulo não tinha quaisquer dúvidas de que o Espírito Santo nos dá os dons necessários para realizarmos a nossa missão de evangelizadores:

“Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de serviços, mas é o mesmo Senhor.

Há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum (1 Cor 12, 4-7).

O evangelizador deve ser uma pessoa humilde e reconhecer que os frutos da sua missão têm como origem a acção de Cristo ressuscitado.

Por outras palavras, a nossa acção evangelizadora é uma continuação da missão de Jesus Cristo.

O Apóstolo bem formado sabe que não leva Cristo às pessoas. Quando ele chega ao campo de missão, o Espírito Santo já lá está disposto a actuar pela mediação do mesmo Apóstolo.

Na verdade, o Senhor ressuscitado precede o apóstolo, mas temos de estar cientes de o Senhor precisa de mediações para realizar a obra do Evangelho.

É isto que São Paulo quer dizer quando afirma que nós somos o Corpo de Cristo, isto é, mediações de encontro de Cristo com o mundo:

“Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada qual na parte que lhe toca” (1 Cor 12, 27). O corpo de Cristo ressuscitado é espiritual, não físico, diz São Paulo.
É por esta razão que Jesus se une a nós de modo orgânico, a fim de comunicar com o mundo através de nós:

“Mas perguntam alguns: como ressuscitam os mortos? Com que corpo ressurgem? Insensatos! O que semeais não volta à vida se primeiro não morrer.

E o que semeais não é o corpo que há-de vir, mas um simples grão de trigo, por exemplo, ou de qualquer outra espécie.

É Deus que lhe dá o corpo, pois ele dá a cada semente o corpo que lhe corresponde (…). Assim também acontece com a ressurreição dos mortos:
semeado corruptível, ressuscita como corpo incorruptível. Semeado na desonra, ressuscita glorioso.

Semeado na fraqueza ressuscita cheio de força. Semeado corpo físico, ressuscita corpo espiritual.
Na verdade há corpos terrenos e corpos espirituais” (1 Cor 15, 35-44).

O raciocínio de São Paulo é o seguinte: como o corpo do Senhor ressuscitado é espiritual, ele precisa da mediação de um corpo físico para se encontrar com as pessoas.

É por esta razão que o Senhor se une de modo orgânica às comunidades cristãs, fazendo delas o seu corpo.

Evangelizar é, pois, ser mediação de encontro de Cristo com o mundo. É, também, pôr Cristo a falar para os homens de hoje.

É esta a maneira de os cristãos viverem o baptismo no Espírito que é a dimensão pentecostal da vida cristã.

Perante esta verdade importante, o evangelizador tem de ser uma pessoa humilde. Como Jesus disse aos discípulos, a grandeza e a autoridade do Apóstolo radica no serviço aos irmãos:

“Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: sabeis que os chefes das nações as governam como senhores e que os poderosos exercem sobre elas o seu poder.

Entre vós não deve ser assim. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo.

O Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela Humanidade” (Mt 20, 25-28).

Os evangelizadores têm qualidades diferentes. Ao consagrar estas qualidades para a missão, o Espírito Santo faz que elas se tornem carismas, isto é, dons em favor de todos.

Deste modo, como diz São Paulo, Deus torna fecunda a vida dos cristãos, servindo o Evangelho e fazendo que a acção de cada um seja incorporada de modo harmonioso na vida e no serviço evangelizador da comunidade (1 Cor 3, 5-9).

O Espírito Santo conduz e ilumina os evangelizadores de modo a que estes compreendam que o sucesso da sua missão está na cooperação e não na competição (1 Cor 3, 5-9).

Por outras palavras, o Espírito Santo conduz os apóstolos a trabalhar em comunhão com Cristo e os irmãos, a fim de a sua missão ser eficaz.

Através do evangelizador, o Espírito Santo ajuda as pessoas a saborear a Verdade de Deus e do Homem na sua profundidade máxima, ajudando-as a sentirem-se pessoas livres e felizes.

Na verdade, as pessoas que nada fazem para sair do erro, da mentira e da ignorância nunca chegarão ser pessoas profundamente livres.

No evangelho de São João, Jesus diz que o Espírito Santo possui a Verdade Plena e quer conduzir-nos para ela (Jo 16, 13).

A Carta aos Gálatas diz que o Espírito Santo é o Espírito da Verdade é também o Espírito da liberdade (Gal 5, 1-2).

A verdade é a compreensão e enunciação correcta e adequada da realidade de Deus, do Homem, da História e do Universo.

Quanto mais crescermos Verdade, mais capacitados estamos para avançar no processo da nossa humanização e facilitar aos irmãos o seu crescimento humano.

Na véspera da sua morte, Jesus disse aos discípulos que depois de ressuscitar lhes ia enviar o Espírito Santo, a fim de nos conduzir à Verdade Plena (Jo 16, 13).

Uma vez que a verdade tem como horizonte a compreensão e enunciação correcta e adequada da realidade de Deus, do Homem e da História, só Deus a pode possuir em plenitude.

É por esta razão que só o Espírito Santo nos pode conduzir com segurança à Plenitude da Verdade.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias


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